sábado, 13 de julho de 2013

Como deixar de ser feliz em três das (Tratado sobre a infelicidade)

        Victor Hugo dizia que é possível privar o homem de todas as pobrezas, mas não de suas tristezas. Hoje em termos contemporâneos isso parece ser mais verdade do que imaginamos, de maneira que se é possível ser rico, bem sucedido, ter todas as glórias possíveis em uma vida, mas mesmo assim não ter a devida felicidade, enquanto se é possível ser feliz com poucas coisas. Esse estudo é justamente uma tentativa de se compreender a arte de ser triste.


       1. A arte de cometer erros


       Às mentes mais leigas é  conveniente pensar que o exercício da infelicidade é uma coisa fácil, de fato, sem muito esforço prático é possível desfrutar desse subproduto de amargura que acaba se amalgamando à alma após um longo e elaborado exercício de erros demonstrados pelos matizes da culpa, timidez e ostracismo.

       Convém então estudar os erros que nós cometemos para compreender melhor as virtudes de nossa infelicidade e observar os equívocos de outros, tendo em vista que a infelicidade é um fator social.

        Primeiramente, parece ser consenso que para todo o início de qualquer relação inter-pessoal (refiro-me a relacionamentos de cunho amoroso) é preciso que aja uma afinidade, de maneira que qualquer mostra de afeto é valiosa, se não houver nenhuma dessas coisas, eis aí um primeiro erro.

        Não é conveniente se envolver com uma pessoa pela qual não se tem amor ou qualquer estirpe de sentimento sincero, afinal de contas não é a lógica que rege tais assuntos (quão menos um exercício da "ética" darwinista de selecionar a melhor companhia). O Exercício dogmático do amor estrangula a própria essência desse sentimento, tal como um nó de gravata.

        O relacionamento motivado por funções financeiras sequer deve ser mencionado como um relacionamento, pois se tomarmos resquícios de Locke por exemplo, configura-se uma modalidade de contrato social, diferente é claro entre o indivíduo e o Estado, mas uma relação de superioridade de um indivíduo por outro. De maneira que tal interação é danosa e autodestrutiva, pois ambas as partes tenderam ao papel de exploração e desgaste.

       Não existe felicidade sincera em ambos os casos.

       O segundo erro possível de acontecer (e não menos danoso) é o erro de se apaixonar pela pessoa errada. Nesse tópico até eu tenho uma experiência deveras expressiva, de maneira que tal equívoco tende a ser dificilmente identificado, já que imbuídos de licor passionatis, tende-se ao ensaio sobre a cegueira do qual não temos muito controle.

       A única maneira que se revelou verdadeiramente eficaz ao combate dessa mazela é o total realismo nas relações amorosas, o pragmatismo é sempre desvencilhado das paixões, mas é conveniente que se tenha plena consciência de que existem motivos para que a pessoa escolhida possa não ser necessariamente a mais indicada. Se julgando as variáveis  e contabilizando bem as possibilidades de afinidade, ainda pode-se estar errado.

       O terceiro erro mais comum é não saber o que é amor. Amor não é uma simples afinidade química traduzida em termos biológicos, essa explicação cientificista das coisas, como eu disse, não explica a totalidade do que vem ser o amor. Amor sequer é um conceito que pode ser explicado em termos gramáticos, o amor é algo que foi feito para ser sentido, algo que acontece e que você não sabe o que falar. É quando você treme ao falar com a sua amada  (ou amado, pluralidade de ideias sempre), gagueja, quer vê-la todos os dias. "É quando o seu coração bate mais forte e você não se importa".

       Não é porque a pessoa é rica ou pobre, ou porque você acha ela bonita ou não que você se apaixona. É apenas aquilo que você sente que acha que nenhuma pessoa pode sentir, isso é amor.

       Um verdadeiro romântico sabe de todos esses parâmetros e ainda assim comete erros. Mesmo rejeitando para si a vulgaridade, o pensamento cientificista, ele está fadado a ser triste por idealizar demais a pessoa amada.


    2. Exercício da timidez


       Dizem que é terrivelmente sedutora a timidez, em alguns caso sim, mas para um romântico, constitui um dos erros mais carros na vida amorosa.

       Tenho para mim a teoria que todos nós, desde quando nascemos, não tendemos a timidez. Não temos vergonha em nos esgoelar quando sentimos fome, de chorar quando estamos tristes e de falarmos besteiras. O fator da timidez se constrói nos primeiros anos da escola para cá

       O convívio social molda-nos a tomar tais medidas, desde a depressão que sentimos quando alguns de nossos colegas maldosos trazem traumas a nossas vidas, até mesmo à falta de paciência com que alguns dos nossos educadores têm para conosco. Esses são fatores que nos levam a timidez.

       Mais e mais temos medo de estarmos errados, pois no convívio social "estar errado" é uma coisa disforme e suja, tal como o chorume que putrefa sobre o ar livre. Nessa altura adquirimos o medo de falar em público.

      Quando temos medo de falar, perdemos justamente uma das nossas melhores qualidades: a fala. Não obstante, a oratória e a retórica são as melhores artes e conhecimentos que a humanidade pôde construir, de maneira que não precisamos  ter amplo conhecimento se  queremos nos expressar. Podemos estar errados, mas ainda assim poderemos convencer os outros, e não há maior felicidade do que isso.

       O maior saber da Humanidade é a Fala, pois dela conseguimos repassar nossas ideias para outras pessoas. Quando temos problemas com a fala, acabamos por ceifar um leque de possibilidades, no amor, é um veneno nefasto não saber falar. Quando temos medo de falar tudo o que sentimos não nos apercebemos de quão constrangedor é cada minuto de silêncio. É por isso que avalio como danoso o exercício da timidez.



         3. O antro da Mentira

         Sim, escusado será dizer que existem várias definições e concepções de verdade; Mas mentira se construiu como a não-verdade. A não-verdade pode ser útil no início, um fertilizante para o terreno do relacionamento, mas cresce de tal forma que no fim acaba se tornando uma erva-daninha.

         Não digo que devemos ser castos e nunca mentirmos na vida, mas deve-se ter consciência que nenhuma não-verdade é promissora ao longo prazo ao amor, quando a pessoa amada descobre essa sua falha, dificilmente terás a oportunidade de remediá-la.

         O antro da Mentira é o mais nefasto antro da corrupção e por isso avalio-o como catalizador de todas as infelicidades.


         4. Cisterna da culpa

         A culpa é uma dor surda que nos ataca quando menos esperamos, é crônica e recorrente. É quando percebemos que agimos de forma equivocada e que não poderemos de maneira alguma recuperar-nos de nosso próprio erros. É pior nos homens que nas mulheres, acredito, pois dilacera para sempre a vida do indivíduo.

         Sob o aspecto amoroso, a culpa pode vir de dois meios: Pelo que foi feito ou pelo que não foi feito.

        A culpa pelo que foi feito é mais anunciável ao curto prazo; Nós temos vergonha do que dizemos à noite anterior, do que fizemos outro dia e essa vergonha tão implacável tira-nos a cor dos olhos e da alma.

        Pior que isso é lembrar-no-mos do que não não fizemos, seja uma palavra que poderia ter sido dita, um gesto amoroso que poderia ter sido feito, ou uma falta de coragem de ter agido como deveria. Essa culpa não é imediata, mas é crônica; Demora a aparecer, mas quando aparece é tão mais intensa  e tão constante que perturba-nos a cada passo.

       
          ....

          Esses pilares, acredito eu  fundamentam boa parte das infelicidades, afinal a maior parte delas é relacionada ao amor. Não creio ter sido claro em como se pode deixar se infeliz em três dias, mas sigam nessa trilha de erros que certamente se chegará lá.

         A vida proporciona vivências que não devem ser desconsideradas, mas acredito que boa parte dessas infelicidades é tratável se deixarmos de pensar em nosso antro de infelicidade e após dias matutando, sairmos das sombras para mais um dia. Esquecer dos erros que cometemos, tomar coragem para agir da forma que queremos e lembrar-nos de evitar equívocos de interpretação. Assim acredito que a infelicidade passará, ou eu posso estar errado também. (Já aceitei que a vida é uma merda mesmo, mas que não existe coisa melhor que ela não)

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