sexta-feira, 5 de julho de 2013

A gentil moça dos lábios de mel

      De cabeça baixa numa posição tão inocente e pueril, ela descansa ao meu lado, não tinha nenhum papo que nos conectasse, nenhuma voz que nos trouxesse contato; mesmo assim sinto algo por essa pequena criatura tão singela aqui do meu lado. Ela está dormindo, será cansaço? Talvez.

      Tão bem aquecida envolta num justo colete verde-musgo, tão bem ornamentado de maneira graciosa com o tom xadrez de sua camisa, que até ouço bater um pequeno coraçãozinho tão rápido e tão vigorosamente nesse frio troglodita que faz hoje. Hoje está tão frio quanto os seus olhos, os mesmos olhos que assustam quando surgem da noite.

      Tão pequena e tão delicada! Nessas horas ela parece tão amável! Singela e meiga também, que me culpo por não poder falar com ela sobre coisas que concernem o coração. Será um medo? Com certeza que sim, tenho medo daqueles olhos verdes frios e do que pode vir a seguir de palavras desengonçadas e desencontradas de uma moça que é bombardeada pelo choque de tal revelação.

       Verdade seja dita, ela continua imóvel do meu lado. De cabeça baixa e olhos pesados, nem parece se importar com as minhas próprias dúvidas; Esses olhos glaucos que irrompiam coragem sobre  Telêmaco não têm o mesmo efeito sobre mim, sempre tenho a impressão que sua beleza conduziria uma legião de homens a se digladiar nessa nova Tróia que se chama Brasília. Assim eu vejo e pensando agora, acho que estou ficando cego.

       Cego de amor? Não sei dizer, afinal, confesso que o papo que tivemos não foi tão estimulante quanto eu esperava e eu continuo tendo medo de você, um medo sedutor que faz bater o meu coração mais rápido. É perigoso, eu sei que é perigoso pensar em você, mas é divertido ainda mais pensar que quando você acordar, terei que esconder tudo isso. Esconderei e ainda negarei ter pensado em você. Quando eu acordar, ficarei com raiva de ter dormido sem querer.

        Queria dizer hoje que eu te amo, mas tenho medo de sentir dor mais uma vez. Dia novo, vida nova. Fecham-se os versos e os amores, acabou o tempo do amor sincero. Você acordou e saiu com outro homem.

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