Sinto sua falta toda vez que eu levanto pela manhã e vou me
arrumar. Quando vou escovar meus dentes olho com amargura o rosto sem cor,
magro e esquálido que percorre toda a minha tez, a tristeza me corrompe,
termino de enxaguar a roupa e vou para o meu banho.
Deixo os pensamentos ruins caírem sobre o ombro e escorrerem pelo
ralo, mas nem todos saem. Sinto sua falta enquanto enxugo meu corpo e tento
enxugar minha alma.
Escolho minha melhor roupa pensando em você, pensando que talvez
hoje eu te encontre de novo. Que tal essa camisa? Ela é bonita e não chama
muita atenção. Será que devo ir de paletó? Sim talvez nunca mais eu te veja,
mas sempre conservo essa vil esperança. Por quê? O porque eu não sei, mas
espero um dia encontrá-la de novo.
Confúcio dizia que nada era mais danoso que uma dúvida no espírito,
talvez ele estivesse certo, nada é mais danoso não saber se irei te encontrar
de novo ou não. Devo-lhe um café e sinto falta das nossas conversas, de
verdade, nunca mais a vi, nem acho que verei, por isso ando triste, bastante
triste.
É verdade que tudo é efêmero e transitório, que a sociedade
individualizada, que tanto Zygmunt Bauman fala, nada mais é uma sociedade de
consumo onde tudo é passageiro e cultua uma beleza plástica. Mas você não
constitui em nada esse modelo de beleza plástica, você é bela em essência, de
maneira que toda a vez que eu te encontrava tinha desejo em abraçá-la, mas o
tempo passou e a vida levou de novos essas esperanças.
Sim, talvez não devesse escrever sobre isso de novo, talvez fosse
melhor guardar a minha tinta e andar um pouco, mas não consigo. Realmente é
triste tentar te procurar em todos os
meus olhares, em todos os vagões de trem que eu pego, ônibus e todos esses
corredores dessa melancólica universidade. Procuro você nos olhares de outras
mulheres, mas não encontro, pois afinal de contas, acho que elas não são como
você era; Você me surpreendeu de verdade, e de um jeito positivo, mas
desapareceu tão rapidamente que nada mais sei de você. Não me deu o telefone, o
email, ou qualquer referência.
Onde andarás eu não sei, e estou vagando a sua procura. Procuro-te
todos os dias para pagar aquele café que eu te devo, e conversar mais com você,
conhecê-la melhor, mas temo que isso seja impossível. É triste pensar em tudo
isso, mas eu já me acostumei a tanta coisa!
A plasticidade dessa vida sufoca-me, acabou a vontade de escrever
mais. Nessa ode de pedra e concreto armado no pequeno quadrilátero nesse imenso
quadrado no Planalto Central tento inutilmente encontrá-la mais uma vez e dizer: “Olá, como
vai você? Sabe que cada vez mais sinto a sua falta”.
É melhor eu pegar a minha capa e o meu chapéu, não quero que vejam o que sinto por
dentro.
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