sábado, 4 de maio de 2013

Jardim das palavras

       Jardim dissociado da grama espera o pequeno joão-de-barro descer do alto da árvore no mesmo dia em que espero que um bom espírito ilumine o meu caminho, mas aí me lembro de que sou ateu e não acredito em espiritismo.

       Volta e meia alguém passa pelo corredor, da última vez foi uma menina de vermelho que roubou meus olhares com sua beleza mediterrânea. As pessoas acham estranho eu estar parado, em pé, do lado dessa pilastra que se prolonga junto ao corredor das rimas, escrevinhando no meu pequeno caderninho tudo o que sinto e penso.
 
           Decido então procurar um banco onde eu possa me sentar quando sou arrebatado por outra moça que fala ao telefone, ela veste uma roupa comportada e um tanto simples, ao contrário da minha costume que chama muita atenção (modéstia à parte, eu estava muito bonito naquele dia). Ela parecia meio perdida assim como eu ainda estou para a vida.
 
         — Eu já tô indo aí — Disse de maneira meio vulgar a plena voz.

          Para aí onde? Para tão longe que não chega a ser distante, para perto do horizonte e longe do pôr do sol. Tão longe que chega a ser perto de mim. Claro que não, tais ideias são terradoras e não trazem nada nenhum lucro para quem tenta ser científico. Obviamente ela estava conversando com o namorado ou com a mãe sobre algum assunto trivial. Deveras, também não era muito importante para a narrativa.

        Outra vez ouço um pássaro cantando próximo às trepadeiras que se prolongam em torno do edifício, será um sabiá? Seu grito é frio e meio melancólico, como se temesse o fio de sua própria extinção, era tão assuntador ouvi-lo que sua voz ecoou um teor tenebroso no meu ouvido. Censurou-me de certo: "Vês isso aqui, nada terá para ti".

         É divertido pensar que logo a isso, olho para o céu e observo que a despeito de não haver muitas nuvens, ele é tomado por um tom angustiado de cinza de tal forma que é tão sóbrio quanto o meu paletó. Isso é sombrio, na verdade.

          As palmeiras, dez ao todo, se prolongam em formas diferentes ao céu, demonstrando assim a sua envergadura frente ao olhar agressivo do céu.
 
         Não creio que me entenda, caro caderninho, mas eu sonho de olhos abertos, porque já não consigo dormir à noite de tanta angustia. Sinto meu coração bater devagar outra vez e tenho meus olhos bem alertas. Fiz meu exame de vista de novo e descobri que fiquei míope de amor, mas voltei a ser crítico de novo.

        Agora que deixei de ser cego, queria ser surdo, para não ouvir as besteiras que as pessoas contam, mas se o fosse, estaria me privado do maior de todos os meus prazeres que ouvir música nas tardes de luar.

        Pelo menos os meus olhos estão aberto de novo e posso me apaixonar outra vez pelas belas formas da natureza, obtusas e delicadas que se desenham nas curvas de belas mulheres. Posso apreciar essa beleza sem me sentir muito culpado e me divertir um pouco esquecendo o passado.

        Queria terminar tudo isso com um relato melhor do que essa simples nota de rodapé nesse meu caderninho pessoal, mas hoje eu desejo sonhar de olhos bem abertos, acostumar os meus olhos para escreverem de outra forma. A delicadeza com que tentei tecer esse manto de palavras, esse cobertor azul-púrpura não chega nem perto daquilo que tanto senti e tanto me faltou: saudade e amor. Tudo é tão triste quando acabou e finalmente acabou.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Finis?

      Você que sequestrou o meu coração e não teve vergonha de pedir resgate, que o levou para longe e não fez questão de me devolvê-lo; Roubou meus sorrisos e levou meus suspiros, deixou-me sem palavras e brincou com esses ditos românticos sem graça.

     Depois, você pode ter sentido um pouco de culpa por ter escapado dessa ciranda ou mesmo feliz por ter  fugido do meu romantismo meloso de fundo de quintal. Roubou meus sorrisos e nem se deu ao trabalho em devolvê-los. Tanto faz, tanto fez.

      Você que me deixou pensando em você, que me fazia pronunciar o seu nome junto ao meu travesseiro no frio da noite, quando estava totalmente vulnerável e desprotegido. Você trouxe um estrago que me corroeu por dentro, mas sabia que isso uma hora tinha que acontecer.

       A parte boa desse processo é que me tornei bastante crítico com relação às coisas, a parte infeliz é que agora não posso confiar em você. Eu estou de pé novamente e não penso mais em você, nem mesmo nos porquês. Isso é algo que me deixa feliz até, não preciso mais me preocupar em andar conforme a corda e posso me deixar cair sem me preocupar com o picadeiro.

      Não olho para você com o mesmo carinho que sentia antes, mas também não com o mesmo ódio que um dia senti, foi algo importante, parando pra pensar, mas isso não me diverte nem um pouco. Você me trouxe inúmeros dessabores que não desejo mais sentir.

     Agora que tudo está terminado, pode devolver o meu coração? É sério, posso querer usá-lo para outros fins. Para virar um cinzeiro qualquer, apoio para a mesa ou mesmo terminar de fragmentá-lo com outra paixão superficial, os sorrisos nem cobro mais, eles voltaram naturalmente: Ficam melhores no meu rosto do que admirando sua foto do Facebook, que por sinal está bem bonita agora, onde foi que arranjou esse cabelo?  Eu lembro que você usava o cabelo curtinho.

       Não me importa, as palavras não tiveram vergonha em reaparecer, assim como o orgulho que nem um amor inconsequente como desses pode rachar o escudo de aço que rege toda a minha honra. Em todo o caso, tendo em vista que não sentimos nada um pelo o outro e que tudo passou, que tal me devolver o meu coração, tal como um livro que emprestamos a um amigo pilantra que nunca termina de ler, peço de volta aquilo que confiei a você.

      Não que você não tenha cuidado o quanto pode, mas eu decidi que eu prefiro cuidar de mim mesmo do que confiar algo tão precioso às outras pessoas. Como eu disse, eu não confio mais em você, o que me deixa muito triste, mas ao mesmo tempo muito vivo. Sempre aprendi que a confiança é tão prodigiosa que tem que ser merecida, como na hora que um amigo me empresta dinheiro quando estou com dificuldades (por sinal, eu disse a ele que pagarei na segunda e ele confia em mim por esse compromisso), ou outro companheiro que percebendo que não pude comer nada, retribui-me um gesto de boa fé ao pagar uma refeição para mim (te devo uma pizza, meu caro David).

      Esses que me ouviram quando eu me senti triste quando você me dispensou, que não se importaram com a minha chatice e me fizeram rir de novo, com sua simplicidade e bom humor. Eles que confiaram em mim, pediram meus conselhos ("aja mais Rodolfo"), leram meus textos quando não tinham muito o que fazer e me trataram como um dos seus. Esses têm a minha confiança.

     Essas pessoas me salvaram quando você levou o meu coração me fizeram viver quando eu mais precisei e substituíram as amizades plásticas que havia construído com outras pessoas. (Miojo, você sabe que eu te respeito e que você virou o meu amigo com o passar dos anos, e isso não se aplica a você). 

     Não estou mais triste e não penso tanto no pior. O que já representa uma melhora frente tudo o que eu enfrentei. Não te amo mais, é verdade, como não amo mais a Bia que me tratou como um animal e nem as outras que não se dignaram a ser sinceras comigo.

     Em todo o caso, preciso do meu coração de volta. Preciso viver novamente e desejar outras mulheres, amar mais umas vezes, me decepcionar, até me revoltar de tudo de uma vez, e me tornar um emerita. Pode ser que tudo seja efémero e transitório, que nunca mais possa escrever tais palavras e que tudo isso se apague nas areias do tempo.

     Não quero pensar mais nessas coisas. Fique você com o seu mundo, craquejando folhas secas em outubro, se divertindo com bobagens, bebendo um pouco de rum (nunca entendi muito bem isso), puxando o saco de seu "ursinho fofinho", e amando outras pessoas com as quais você se sente bem. Em verdade, tudo passou e é por isso que eu fiz esse pedido: Me devolva meu coração, pelo menos por uma questão simbólica.

     Meu plano para ele ainda não está definido, talvez eu o enterre na curva do rio, use-o mais um pouco para me sentir feliz flertando, ou coisas desse gênero. Como você sabe, sou meio desastrado em coisas relativas ao amor.

     Entendo agora o porquê de alguns serem tentem ser tão castos em pensamento (não deve ser fácil, meu caro amigo Ayub). Não estou mais tão desamparado, mas também não sou tolo em conviver com pessoas que atrasam minha vida. Você nunca foi um atraso e nunca será, mas amá-la foi sim um retrocesso, pois revelou que eu não tinha aprendido com os meus erros e que teimei a encará-los mais uma vez. Não peço mais desculpas em nada, na verdade, quero meus pedidos de desculpas de volta, a culpa não era minha mesmo.

    Mande-me em anexo também os poemas que eu escrevi pra você, eles merecem ser incinerados. Niilista como sou eu, não posso admitir que qualquer coisa me atrapalhe a pensar. Agora que você sabe tudo o que eu penso; saiba também que estou vivendo sem você, dando um passo de cada vez, tendo novos contatos e novas companhias.

    As novas fundações se erguem num novo panteão de concreto e a ele se constroem essas experiências de vida, as meninas a quem amei, os amigos que eu perdi, os projetos frustrados (outras vezes, roubados). O titânio dessas fundações ainda é volátil e maleável, mas o resultado será um só: Uma muralha que separa os meus olhos de seu sorriso. Prefiro ficar cego a ver tudo aquilo se repetir.

    Os novos cursos se formaram no passado e eu não percebi tão rápido quanto deveria, mas sigo esse caminho tempestuosos de caiaque e não vejo porque querer a sua ajuda para resolver os meus dilemas do dia-a-dia. Na verdade, sempre quis estabelecer um companheirismo com você, algo mais forte do que simples beijos e alguns amassos, mas isso foi tão desprezado que nem quis falar de novo.

    Aqueles que acham que possuem a intimidade de serem meus amigos por terem vivido aventuras comigo se enganam, meus amigos de verdade me ajudaram quando eu mais precisei, não me abandonaram em festas e não me trataram de forma diferente por simples comodismo. Não foram traiçoeiros ao ponto de se venderem, não me viraram a cara quando precisei de ajuda, nunca puxaram o meu ego, mas não questionavam minha arrogância. Souberam conversar comigo quando precisei, me deram conselhos que tanto ponderei, não tiveram a coragem de me omitir os fatos, não trataram nossos conhecidos com desprezo, tal como alguns fizeram com um amigo nosso. Estes foram mais os meus amigos do que um dia vocês tentaram ser (de novo Miojo, eu sei que discutíamos muito, mas isso não se aplica a você). Fiquem agora com os seus grupinhos fechados, suas sociedades de cortes e com a arrogância de pensar que tudo terminará bem enquanto vocês se automasturbam intelectualmente. Isso é ver o mundo de uma forma muito pequena e até deturpada.

     Dir-se-á que me fechei, que me autoexclui de vocês. Na verdade, eu não me fechei e tampouco me autoexclui, só não quis conviver mais com aquilo que mais repudiava, que frustrava a minha essência e limitava a minha visão. Não valia mais a pena viver com vocês, dividir suas mesas, ou mesmo ouvir suas narrativas triviais e sem muito sentido.

       Penso que isso representa tudo o que acho e que o que sempre achei, de tal forma que especulo que não queira mais vontade de publicar algo nesse blog, em todo caso, prefiro deixar tudo em aberto do que dar promessas.

        Em todo caso, volto à minha antiga reivindicação  que você devolva meu coração e talvez nunca mais fale comigo. Assim termino com o meu discurso e me despeço. Finis 

terça-feira, 30 de abril de 2013

A graça de haver discussões racionais

       Numa discussão dessas de diletantes prosaicos, tomei nota de discussões deveras relevantes para trejeitos acadêmicos. Vi com meus próprios olhos discussões sobre modelos políticos que resultavam na defesa da Monarquia como forma de governo.

     Nunca fui favorável a um modelo monárquico de governo e sinto que a despeito de suas falhas, a própria noção de República é algo um pouco mais articulado sobre a questão do poder; Entretanto a discussão demonstrou-se produtiva, pois, afinal de contas, apesar das recusas sobre esse tema, existem pontos relevantes para os que defendem a monarquia e até são argumentos que merecem ser levados em consideração.

     Contudo, não imagino um governo onde o povo seja deixado a parte do processo político, e mesmo que integre o processo político, que perdure o direito de hereditariedade do controle de uma nação. É interessante pensar nessas coisas, enfim, a despeito do calor da discussão que chegou a uma crítica total da Revolução Russa de 1917 ( que ao meu ver foi desmedida, afinal de contas, apesar dos eventos radicais associados a Outubro, não se pode esquecer que a Revolução mostrou ao Mundo que questões sociais não podem ser negligenciadas de nenhuma forma da  própria visão política). Vi-me solitário defender pensadores como Bukharin, Vigotsky, Eisenstein, Tsiolkovsky e Maximo Gorky que não mereciam ser totalmente desprezados da História.

       É relevante ressaltar que a despeito dessa discussão, depois todos saíram da sala e foram tomar um café juntos e isso me divertiu, onde mais haveria lugar para uma discussão saudável onde os dois lados se respeitam mutuamente? Diverti-me com isso e deixei meus colegas continuarem o papo e segui dessa forma outros rumos.

      Querendo ou não, é assim que o pensamento crítico se desenvolve.

A malícia dos seus olhos

      Você continua tentando me seduzir com esses olhos glaucos cor de menta. Eu sei bem disso, mas continuo resistindo. Não sou bobo de acreditar que algo surgirá entre nós, afinal somos tão diferentes, contudo eu sei que você quer brincar com mais um coração desafortunado; Seus olhos são tão felinos que chegam a arranhar a alma.

      Sei bem que você tem um namorado e que ele não é lá muito fã de poetas, mas você continua me seduzindo, como se estivesse brincando com um novelo de lã. Mas que malícia! Quem disse que você irá tomar esse coração destroçado? Afinal, de que serviria tudo isso? Qual é o valor em brincar com  os sentimentos das pessoas?

     Você não me conquista e eu sou bem consciente disso. Não adianta tentar, eu sei que você vai me trazer problemas, eu sinto isso, porém você faz parecer tudo muito tentador. Pare de me surrupiar olhares toda a vez que aparece na minha frente e pare de olhar para mim quando não estou reparando, isso me dá até um pouco de medo.

     Seus olhos em verdade não são felinos, são realmente de uma leoa, e você está tentando atrair essa presa descuidada. Você está se divertindo com isso, todos que observam sabem disso, entretanto, não gosto desse tipo de brincadeira, onde eu sou um mero brinquedinho que você  a qualquer hora pode guardar no fundo do baú.

      Ha, prefiro viver brincando de fazer rimas do que cair nesse seu joguete. Largue isso de mim, não me devore com os seus olhares maldosos e não me conquiste com a timidez de suas palavras, isso não tem graça.

Uma sensação de perseguição

      Um dia desse eu  achei que você estivesse me perseguindo, encontrei você umas duas ou três vezes nas minhas caminhadas nos corredores da vida, o que é  algo muito estranho, afinal quem diria que eu gravei o seu rosto no anonimato de toda uma multidão: Sim, eu gravei sem querer.

      É mais estranho ainda pensar que você estava olhando para mim quando eu estava distraindo redigindo algum ensaio que não teria fim, você me pegou desprotegido com o seu olhar de serpente; O que você estaria pensando de mim afinal? Eu realmente não sei e conjecturo não querer saber, afinal de contas a ignorância às vezes é uma benção.

      Entrei numa sala e encontrei meus amigos à porta cantarolando músicas bregas e sorrindo com as maiores trivialidades da vida; A cortina de fumaça do cigarro irritou minhas narinas e decidi tomar um pouco de ar, foi aí que você apareceu de novo: Com sua sandália rasteirinha, uma pulseira no braço esquerdo meio tribal e os cabelos meio à la hippie. Achei meio estranho, não esperava encontrá-la naquele digníssimo antro,  mas fora deveras compreensível pensar que você fora arrastada pelos amigos.

      Fui para a minha aula e conversei com alguns colegas sobre isso; Quando estava indo para casa, vi você correr em direção ao mesmo ônibus do que o meu. Eu estava meio desligado e entrei na frente de maneira um tanto grosseira, não era de se esperar cortesia de alguém que tivera aula o dia todo, mas foi então que ao ir para o meu lugar, você disse com voz angelical um "Boa Noite" bem tímido; Não lembrava que houvesse ainda educação nas palavras das pessoas no cotidiano, mas realmente você foi bem educada.
   
       Fingi não me importar com isso e me sentei junto à janela, foi então que você sentou do meu lado. Só podia ser uma conspiração cósmica, pois aparentemente não havia lugares melhores do que aquele ali; Perguntei a mim mesmo se estava sendo bem galante naquele dia e sorri com a tolice que essa ideia trazia. Coloquei meus fones de ouvido e fechei meus olhos, adormeci com você ao lado admirando as obras do Niemeyer da janela do coletivo.

       Alguns teriam dito que eu devia ter puxado alguma conversa com você, mas a vida é tão cheia de singularidades que meras coincidências não são lá muito aproveitadas por nós, pessoas descuidadas, e afinal de contas, que conversa teríamos nós em comum? Dormi tranquilamente e quando acordei você já tinha saído, nem me importo com isso.

      Calibrei meus olhos à claridade da iluminação pública, retirei o meu fone de ouvido depois de duas músicas, e desci na minha quadra como sempre fiz. Nunca mais te vi, é verdade, e é possível que nunca mais te verei, mas não sinto qualquer coisa sobre isso; É tolice acreditar que existe algo além em meras coincidências.

sábado, 27 de abril de 2013

Cotação de Histórias

      Toda vez que se lança um livro novo, seja do Mário Quintana ou da Bela Adormecida uma árvore de poesia cresce no vendaval obscuro das narrativas literárias, uma conspiração de leitura e escrita na cidade dos sonhos de Carnaval.

        As histórias de pescador tomam forma, são tingidas com cores de amor e no esconde-esconde dos palhaços, o circo filosófico ilumina o rio sereno da cidade dos homens. Quem conta um conto, deve saber brincar, fazer máscaras na Páscoa e de vez em quando brincar de inventar coisas. O picadeiro das palavras mostra a vontade de nossas vidas de tornar o pateta em poeta e no caldeirão de poesias, a mais magricela de todas as palavras, Amor, aventura-se em meio à floresta travessa da confusão sentimental.

      Minha carta literária consulta o limoeiro de narrativas empíricas estruturadas no espírito de liderança das palavras frente ao objeto, uma denúncia à individualidade das palavras sem sentido na Feira Mundial de versos, onde amor, ódio e sabor se autoexplicam no condensado semático de uma palavra.

      É por isso que toda a vez que se  lança um livro sinto como se germinasse uma árvore dos versos narrados e escritos, um espectro fiel às  emoções que carregam o caldo filosófico do qual todos os eruditos deviam beber pelo menos uma vez na semana.

     O que me levou a escrever isso? Uma natureza selvagem com a qual as palavras me conduziram até aqui.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Reflexões sobre dilemas políticos atuais

       A atual postura do congresso em cercear os limites próprios do sistema democrático brasileiro é apenas um passo para uma medida conjectural da própria apropriação do poder ilimitado por alguns grupos partidários.

       Ultimamente os senadores vêm tomando com maior força a ideia de que o poder legislativo poderia revogar as instâncias julgadas pelo Supremo Tribunal Federal, que até o presente momento é o órgão máximo do sistema judiciário brasileiro.

       Não que eu supervalorize os ministros do STF (na verdade eu tenho reticências com um em especial de sobrenome polaco, a que não deva citá-lo), há algumas arbitrariedades na corte assim como em outros organismos sociais; Entretanto o que alguns senadores de bancadas proeminentes no Senado desejam fazer é desestabilizar o equilíbrio (que já não primava tal como uma balança) entre os três poderes, tomando de maneira despótica o poder judiciário.

        Isso é possível em virtude de que de sete ou oito anos atrás o cenário  político nacional anda presenciando uma pauperização crescente, que se inicia com o escândalo do Mensalão, a posse de Severino Cavalcanti no Senado, o escândalo de Renan Calheiros (que usou sua influência junto a lobistas para pagar a pensão alimentar que devia à sua ex-mulher), posteriormente a posse de José Sarney e agora novamente Renan Calheiros.

        A base governista, para ser sincero, é uma piada, embora já tenha sido uma piada muito maior em tempos passados, e a oposição devia ser intitulada de "os fracassados sem causa", porque é realmente o que todo mundo enxerga quando pensa na oposição.

        O fato é que, por métodos democráticos de persuasão, tentou-se desfazer todo o embrolho da problemática do julgamento do Mensalão, e tendo em vista que muitos políticos (lideranças do PT, partido que está no poder) foram condenados por corrupção, muitos se refugiaram na tutela da jurisdição da Câmara e do Senado, como José Genoíno (cuja história ainda não foi bem explicada na Guerrilha do Araguaia), tal fato foi sacramentado pela declaração do presidente da Câmara Marco Maia sobre esse acontecimento dando parecer favorável à posse dos ditos réus do Mensalão à legislatura (isso não tem nem um ou dois meses e eu tinha profundo respeito pelo Marco Maia).

         Em todo o caso, por revanchismo, tendo em vista que os juízes do STF se mostraram impassíveis frente a meios de persuasão referentes ao seu julgamento e tendo o ministro Barbosa uma excelente atuação na conjectura do andamento dos processos, algumas lideranças da Câmara, frustradas, decidiram que o Supremo Tribunal tinha poder demais e isso explica a atual ação política desses grupos.

         A tentativa de cerceamento das próprias ações do STF e o questionamento de seus julgamentos fere os princípios democráticos que estabelece que nenhum dos três poderes pode interferir em outro sob nenhuma razão; mas o que se observa é justamente o contrário, o Legislativo desde um pouco antes da Crise do Mensalão, vem se submetendo aos desígnios do Poder Executivo (não que isso fira os interesses de alguns grupos que não ficam sem ter algum ganho nessas relações de poder), e agora o Poder Legislativo quer submeter o Poder Judiciário aos seus desígnios. Está tudo errado.

         Medidas assim dão amparo a regimes autoritários, que pelo o que eu saiba, o brasileiro construiu aversão desde os sangrentos tempos ditatoriais. A questão é que a influência de outros regimes latino-americanos na própria conjectura política nacional associada à popularidade dos próprios líderes (a despeito da máquina de Estado) vem abrindo espaço para esse tipo de coisa.

         Contudo, a popularidade do STF é alta demais para que algo assim ocorra, afinal de contas, não foi o povo mesmo que elegeu o ministro Barbosa herói nacional? Que saía no Carnaval com máscaras com o seu rosto? É complicado, mas se a questão se prolongar resultará em mais um desgaste das instituições democráticas que  vem se arrastando por alguns anos e toda vez que paro para pensar, me pergunto: "Isso é democracia? Não será uma oligarquia escancarada ou mesmo um nascimento de outra ditadura", sou tentado a pensar que a última situação não chega a ser verídica, mesmo assim fico espantado com tudo isso.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Résistance aos seus olhos

     Acho covardia o modo como me olhas com seus olhos glaucos cor de espinafre, por meio dos óculos e da fumaça do cigarro. Olha-me com curiosidade ao mesmo tempo que desprezo, cuidando para moderar suas palavras, mas tentando sem querer conquistar esse coração desvalido.

     Acho uma grande covardia na verdade e serei forte para resistir a ela. Sempre fui a favor da Résistance e resistirei a você nessa  hora, não será olhos lívidos que me conquistarão fácil, nem  sua timidez camuflada nas conversas, nada disso me intimida; Apaixono-me mais por ideias e palavras do que por belos pares de olhos  e um sorriso meio discreto.

      Você tenta ser encantadora e eu fujo de você com toda a vivacidade que eu consigo ter, das situações casuais e cotidianas; Não quero me prender a você, garota, tal como prendi a outras antes de você. Não me conquistará com os seus belos óculos e o seu jeito meio desengonçado a que acho sedutor. Não vou cair nos seus braços como um paraquedas filosófico.

      Não quero você e não me seduza com os seus olhos, "sou bravo, sou forte, sou filho do Norte". Bela vida a ti, querida Evita, ( brincadeirinha) mas puxe seus olhares aos outros que tentam se esconder nas  fracas armaduras de palavras e discursos; São discursos vazios e nada como um tracejar de cabelos, como você bem sabe fazer, para arrebatar vários corações.

     Prefiro que outra mão brinque com suas covinhas nas bochechas do que as minhas, sei que você me causará problemas justo numa hora que os problemas se tornam tão sedutores. Puxe mais uma baforada de seu cigarro, entupa seus pulmões de fumaça, mas não me venha com esse olhar tão desinteressado que chega a ser apaixonante. Tire-me desse olhar, cara M., que não consigo completar o seu nome pois o esqueço quando a vejo olhar a minha maneira de portar: Um tanto desengonçada e arrogante, bem como eu gosto de ser.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Porque eu te amava

      Um dia você me perguntou: "Por que você me ama?". Por que você faz tantas perguntas? Não tinha uma resposta no momento, brinquei com o meu cabelo, como toda a vez faço quando me sinto desconfortável (você entende o porquê), e tentei esboçar uma resposta. Na verdade, a gente não sabe porque ama.

      Amar é deixar de ser lógico, é negar sua própria arrogância e o seu amor próprio, é se rastejar pelos cantos. Não há nada de belo em amar, tudo isso é mentira. Não é conveniente responder todas as perguntas, mas também não gosto de deixar dúvidas suspensas no ar.
  
      Nada mais de amar, o amor é o ópio dos apaixonados, o carvão da inconsequência e a opulenta voz do coração. Retira toda a graça de viver, retira-nos o humor com belas histórias, e tudo o que eu pensei era o amor. Tolice, nada mais amargo do que borra de café.

      O estresse é alto demais, traz fios brancos à cabeça e um pesar no peito. O álcool não é o mais santo dos remédios mas cura a maior parte das doenças. Eu estava  doente da cabeça quando decidi me apaixonar; Isso simplifica muito as coisas, anárquico como eu sou, devia saber que não sirvo para viver sob padrões, eu amo ser independente e nada há de mal em ter esse amor.

       Nada mais dessas coisas, uma garrafa de vodka e um bando de jovens senhoras ao meu lado. Nada mais me importa. Nem mesmo as noites frias, das quais sinto falta de companhia, os rigores da vida, nada devo sentir senão o próprio desconforto de viver com tamanha calmaria. Eu tentei te dizer porque eu te amava, mas a verdade é que passado esse dia, hoje eu não sei e se eu souber, me apaixonarei de novo, mas em todo caso, não nego que te amava, assim como como nego hoje que o amor é uma poça de água no meio do deserto.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Suave narrativa

       Você que me olha toda subversiva,  brincando de anarquista nas ruas da vida, caminha tão maldosamente em minha direção e não arrebata não menos do que cinco corações. Poderosa como é, és tão perversa que acaba com todos a que tem direito. Decidida, faz tudo o que deseja e o que não deseja também e isso é engraçado.

       Você que anda de bicicleta com um vestido de bolinhas superapertado, com os cabelos ao vento e óculos quadrados, manipula a todos com sua voz tão doce quanto fragrância de jasmim, sua favorita, pelo que me lembro, mas na correria do dia a dia, esquece-se de passa-la. Não importa, eu gosto de você desse jeito, rebelde e feminina.

         Conversa sobre tudo e nada ao mesmo tempo, é a mais taciturna das sábias e a mais falante das bobas, e você que me olha com esses olhos de sábado chuvoso tenta convencer a todos que você tem voz, que não quer ser deixada de lado e que nada pode mudar o que você quer. Bonita do jeito que é, irá bem longe, mas não se importa muito com isso, afinal é bastante inteligente.

        Inteligência é a mais afrodisíaca das poções, não vi até hoje quem discutisse Bakunin e Teoria da Relatividade tão bem quanto você, e isso faz a todos sorrir, mesmo que mantenha-se tão séria quanto lhe cabe. Erudita, apresenta-se de forma tão despojada, tão depreendida que difícil esquecer alguém como você. Me sinto meio anárquico esses dias, você deve saber o porquê.

Prosa lápis-lazúli

      Com o gosto de damasco na boca e um último beijo nos lábios, lembro-me daquela noite que te vi partir  naquela profusão de pessoas de todas as cores, credos e gêneros. Era uma noite sem muito destino, mas uma noite que certamente me marcou principalmente por você ter pensado em mim.

      Sorrio pensando naquele dia, você que tanto sorria e me imitava como uma menina sapeca tão bem-humorada, mas que não queria se envolver com a vida e nem comigo. Adoro ver as coisas desse modo, é tão mais divertido! Você de cabelos cor de anil que irradia meus dias quando ouço sua voz e me beija com o seu olhar.

      Não quero mais nada além disso, nem prosa, nem lira, nem namoro, nada. Sinto-me bastante feliz dessa forma, diferente, é claro, de tudo o que eu fiz. Cantarolo pelos cantos, mas hoje não é uma canção de amor, é uma canção de alegria, com um maior vigor na fala, sem medo, sem temer. Adoro tudo isso, realmente adoro, é tão despreocupado.

      Toda vez que você mexe os seus cabelos, mexe comigo, de uma forma positiva, é claro. Não entendo porquê e prefiro não entender; quando me esforço a entender tais coisas, tudo que me resta são apenas decepções. Na vida coletamos tantas decepções que devíamos vendê-las a atacado, mas hoje não vendo nada além desta prosa.

     Você que me tirou o fôlego quando beijou meus lábios com o seu olhar, e agora partiu tão despreocupada para algum canto da cidade, bem longe de onde escrevo tais palavras, e deve ser mesmo assim. Não me apaixono tanto quanto antes, mas um burburinho surge quando lembro daquele gosto de damasco que adentra no meu coração. Sou tão romântico quanto um contador de palavras, suave e tolo, e nada mais me abala tanto quanto antes. Licor de damasco e cabelo cor de lápis-lazúli, que bela combinação! 

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...