Joguei uma flor hoje em reverência ao menino que morreu ontem.
Vi com amargura jogarem pelas minhas costas a flor fora por tê-la deixado no corredor que ele morreu. Falta de tato. Ele morreu bem na minha frente.
Não que eu seja sensível, não sou. A sensibilidade deixou-me em maus lençóis cada vez mais nesses dias. Mas foi a primeira vez que eu vi uma pessoa sucumbir diante dos meus olhos, chorar, implorar pela mãe e perdão. Ele chorou, pediu ajuda e uma ambulância; Não pude fazer nada, ninguém pode.
Nós não sabíamos o que fazer e eu vi ele definhar sobre o mar de sangue que se formava no piso daquele corredor, pelo menos cem pessoas viram o que eu vi. Mas foi a primeira vez que eu vi alguém morrer, isso foi algo que até hoje me choca quando paro pra pensar; Meus problemas pareceram pequenos perto dos dele, os gritos de dor e de amargura. O choro da mãe inconsolável, e tudo porque não sabíamos o que fazer, ninguém sabia.
Disseram que ele caiu do mezanino, mas não foi verdade, ele deu ataque epilético e bateu com a cabeça no chão; Esperamos que alguém soubesse o que fazer, só um homem soube na hora. A ambulância demorou, os paramédicos não sabiam fazer nada. Nem mesmo eles; Ficou com dificuldade de respirar e morreu ali, ataque cardíaco. Eu estou tremendo até hoje quando lembro disso.
Estou insensível talvez com a minha amada, ela não entende tudo o que eu vi. Talvez ela esteja preocupada, talvez ela ache que eu faça algo errado; Não farei, não é minha natureza. Ele morreu diante dos meus olhos e não houve nada de lindo nessa sensação... Estou calado, fechado no mar.
Quis prestar meus tributos para quem morreu naquela manhã infatigável, um menino, um pouco mais velho que eu. Calouro ainda nessa universidade melancólica e impessoal, que ainda tinha sonhos pela frente que se apagaram quando o seu sangue escorria pelas laterais do seu corpo. Sinto medo quando lembro do modo como suas forças se definhavam, e sua alma se esvaía diante dos meus olhos.
Ontem eu vi a dor e o desespero, minha boca ainda mantém o gosto ferruginoso do odor mórbido daquele corpo que definhou na minha frente. A sorte dessa vida pregou-me mais uma peça, e principalmente sobre ele, eu o vi definhar justamente quando eu estava feliz. Quando cheguei em casa, tomei um banho e me preparei para um novo dia.
Eu queria não ter ido para a aula e ter ajudado aquele menino. Queria poder pedir desculpas pela minha imbecilidade de ter sido grosseiro com menina que eu gostava, queria reparar tantas coisas, mas não posso. Assim como ele definhou, o tempo passou e não posso fazer nada.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Prosa namorada
Ela está do meu lado;
Ela respira tão devagar
E brinca de se aninhar
Meu braço
a cerca com respeito
e carinho
Sinto
meu peito
bater de levinho
Estou apaixonado
Sou levado
Ela cochila junto
de mim
E não há assunto
Aqui
A música toca
Qual a banda?
Nem sei dizer
Penso que roca
A voz enamorada
Ela me beijou
Tocou-me os lábios
E minha alma
Pena que eu
Beije mal
Banal
Eu amo ela
E a desejo
Isso é como uma flor no Tejo
Lágrimas de Portugal
Ela respira tão devagar
E brinca de se aninhar
Meu braço
a cerca com respeito
e carinho
Sinto
meu peito
bater de levinho
Estou apaixonado
Sou levado
Ela cochila junto
de mim
E não há assunto
Aqui
A música toca
Qual a banda?
Nem sei dizer
Penso que roca
A voz enamorada
Ela me beijou
Tocou-me os lábios
E minha alma
Pena que eu
Beije mal
Banal
Eu amo ela
E a desejo
Isso é como uma flor no Tejo
Lágrimas de Portugal
Aurea cinza
Hoje te encontrei a distância, sozinha e abandonada. Triste e solitária, queria te dizer algo, mas estava ocupado. Hoje você chorava sem sentir e isso me entristeceu, me entristeceu saber que você estava triste e amargurada. Logo você que me ajudou naquela época!
Estava pois com um fone de ouvido e me acompanhou a andar de mãos dadas com ela, eu senti a tristeza de seus olhos escuros; Será que você me amava? Eu nem sei dizer, não tivemos tempo para isso; Tudo correu tão depressa e eu senti um receio em te perguntar.
Você estava com fones de ouvido a plena voz, com o rosto pálido e sem nenhum sorriso. Me assistiu estar apaixonado por outra, e eu senti a sua solidão reverberar pelos seus olhos. Senti uma pena que me corroeu de alguma forma, mas eu estava tão feliz naquela hora que nada pude dizer. Triste, justo você que parecia uma boneca de pano de tão meiga agora está sozinha e se sente meio largada.
Eu não pude pagar o café, nem pude te fazer o bolo de cenoura como você queria; Me apaixonei por outra pessoa que também é meiga e bastante legal, que me faz sentir completo e realizado; Sim, eu sei que tudo isso não é engraçado, mas o que posso fazer se esse mundo é levado?
Estava pois com um fone de ouvido e me acompanhou a andar de mãos dadas com ela, eu senti a tristeza de seus olhos escuros; Será que você me amava? Eu nem sei dizer, não tivemos tempo para isso; Tudo correu tão depressa e eu senti um receio em te perguntar.
Você estava com fones de ouvido a plena voz, com o rosto pálido e sem nenhum sorriso. Me assistiu estar apaixonado por outra, e eu senti a sua solidão reverberar pelos seus olhos. Senti uma pena que me corroeu de alguma forma, mas eu estava tão feliz naquela hora que nada pude dizer. Triste, justo você que parecia uma boneca de pano de tão meiga agora está sozinha e se sente meio largada.
Eu não pude pagar o café, nem pude te fazer o bolo de cenoura como você queria; Me apaixonei por outra pessoa que também é meiga e bastante legal, que me faz sentir completo e realizado; Sim, eu sei que tudo isso não é engraçado, mas o que posso fazer se esse mundo é levado?
sábado, 17 de agosto de 2013
Prosa amada
Há palavras a serem ditas? Há versos a serem pronunciados? O que dizer quando se está apaixonado? Não há o que dizer essa é a verdade, tudo parece ser pequeno frente a força desse sentimento que prevalece no nosso peito e modifica nossos olhos; O monolítico traçado da vida de repente ganha cor e as palavras fogem de sua língua e você fica confortável com isso.
Por vezes você esquece o que dizer por causa de um sorriso, mesmo que seja só amigável, afinal a piada não foi tão boa. Às vezes a gente esquece o que diz, mas nunca o que pensa, o que realmente sente. Isso fica nos olhares, nas mostras de carinho e afeto. E você percebe que isso é poema por si só.
É um poema você ficar parado num banco depois de uma noite mal dormida refletindo sobre a vida e de repente aparece aquela pessoa que você gosta para conversar com você; Não há como ficar triste com isso, havia algo mais a se desejar? Creio que não. Os dias são mais incomuns e inconstantes quando você não ouve a voz dela e fica na exasperação e na procura monolitica em achá-la. E você a acha quando olha para si mesmo, porque ela está no seu peito.
Eu queria na verdade escrever um poema, não um ensaio, mas eu não consigo encontrar as palavras certas para esse fino sentimento; Engraçado, um poeta que esquece as palavras, no fim vou ficar desempregado.
Pushkin dizia que a palavra de um poeta é a essência do seu ser. Engana-se, por que não encontro uma rima que seja boa para descrever esse sentimento
Nas colinas da vida
No longo alvoroço
Capadócio
Não há quem me diga
Que o verso
Se perde no amor
E se ganha na rinha
Porque quem foi amado
Sabe que a lira vende
Apenas uma parte
da razão
A emoção dessa voz
Tremula alto
no verso
Que tudo que
quero dizer é
Eu amo você
Amar e ser amada
Nessa prosa levada
Sem métrica e rima
Dialética e prima
Da própria paixão
Acalanto para mente
Nada e somente
Eu amo você
Um anjo acolheu meus braços
E disse que queria conversar
Disse que estava triste
Mas foi ela que veio me salvar
Tinha um sorriso inocente
Uma risada de lente
E um brilho de estrela
Foi se a rima e isso me deixa contente, porque tudo que eu tenho na mente é dizer que eu te amo, porque como eu disse no início da prosa as palavras não abarcam tudo o que eu disse, tudo o que faço, quando estou perto de você. Hoje, amanhã e sempre. O passado fica para trás, porque tudo que me importa é construir um novo futuro, um futuro com você do meu lado.
domingo, 11 de agosto de 2013
Grito de socorro
Tem dias que não nos sentimos bem, que não desejamos sorrir, nem mesmo levantar da cama; Tem dias que tudo que queríamos fazer é ficar calados, observando a triste vastidão sem fim que abre sobre nossos olhos, onde a desolação e o medo criam-se traiçoeiramente sobre as sombras da noite.
A escrita é indomavelmente difícil quando você percebe que está sendo envenenado por ideias tão perniciosas que nem sente mais vontade de levantar da cama, e tudo o que você quer fazer é ficar calado; Calado sim, pois bem calado. Não quer mais ouvir os outros falarem de sua vida, nem escutar as baboseiras que eles têm a dizer; A vida se torna bem sombria, tão acinzentada que tudo ao seu redor parece perder cor.
As flores não cheiram mais como antes, as frutas não têm mais o mesmo gosto, as músicas não têm mais o mesmo tom; Tudo é tão sombrio que chega a uma hora que você pensa em desistir de tudo e abandonar. O fardo é alto, e o custo também.
Os livros não mais divertem, as piadas tornam-se lições da vida, e tudo termina com um triste comentário de Natal; O cômodo fica bagunçado, seu coração fica sujo, sua mente vazia e os olhos úmidos. Sim isso é depressão.
A depressão é aquele fardo que você tenta se livrar, mas não se livra; É aquele seu tio chato que te molesta com pensamentos ruins. A depressão é um câncer que consome sua alma, noite e dia, devagar, devagarinho. Cada vez, cada vez mais. O frio se enevoa, a lágrima se embaça, o amor se tritura e tudo que sobra é apenas um peso na alma.
A praia parece mais turva agora, o sol molesta e agride nosso corpo. Bem a vida quem sabe viver, queria não ter acordado hoje, não com essa sensação de insegurança e medo, com esse pesar de inutilidade que incaí sobre os meus ombros. A dor da culpa de um amor passado, o sofrimento de um peito amargurado, nada disso é mais frustrante que um cérebro consciente de que as ilusões não trazem nada.
Agora saí da frente, sinta o que tem que sentir, porque no meio do meu peito tenho uma sangria que não estanca, um medo, e uma forte vontade de chorar. Mas a lágrima não caí, porque já se secou a muito tempo, e percebo que perdi minhas emoções, as expressões e os carinhos. Tenho vontade de chorar, de fugir dessa sensação de medo e solidão, mas não há quem possa me ouvir... O vento repudia do meu corpo, agride meus cabelos e me dá lição de moral, puxa minhas roupas tão violentamente que tudo o que sinto é medo.
As costas pesam-me cada vez mais, sinto minha perna falhar de novo, o ouvido fica tampado com a fúria do torrão de ar que me agride cada vez mais. Penso em me jogar na água, esquecer dos meus problemas e simplesmente afundar. Afundar para sempre até que todos os meus problemas desapareçam, mas não desapareceriam, só estariam alocados em outro caminho. O ar me agride, mas me dá vida, engraçado isso. A correnteza da vida é que me traí.
Sinto vontade de voltar a acreditar na vida, mas isso é uma grave mentira, um grande desvio. A vida não é doce, nem é para ser admirada, só ser vivida. Não há paixões, não há amores que mudem isso, eu os perdi bem lá trás quando deixei minha maleta emocional com a pessoa errada; Para variar, de novo, deixei me enganar pelas arapucas da vida.
Tenho vontade de escrever tudo isso no papel, mas falta-me estímulo e inspiração; Por isso estou tão deprimido, pois não acredito na música, na poesia e no amor tanto quanto queria. Acredito na matemática insensível e na função dialética de total negação para com isso. É conflituoso de fato sentir que não se pode amar e no fim acabar se apaixonando de novo, mas sempre com o crescente medo que abate o semblante.
Os vícios não escondem o medo, o silêncio sim. Estou dopado de silêncio, minha vida sempre foi um grande silêncio taciturno pensativo, talvez seja por isso que sou tão melancólico e às vezes depressivo. Talvez seja por isso que eu seja tão sensível às palavras e aos sentimentos e não demonstre nada quando tudo vier à minha língua. Eu sou uma tragédia anunciada, por isso que tenho medo de pedir socorro.
Mas hoje eu peço, peço às palavras e aos versos que me deem mais uma chance de viver, que me deem ideias e novos amores que hoje não mais tenho, que me expurguem dos sentimentos ruins e da triste melancólica que me abate há meses, senão anos por essa vida. Sofri e sofro, mas garanto que o meu sofrimento não é maior do que o dos outros: Das crianças que morrem de fome no braço das mães desesperadas, dos pais que enterram seus filhos que vão para o moedor de carne que é a guerra, dos jovens como eu que estão desempregados e também deprimidos com esse futuro sem perspectivas.
Tudo que eu vejo é dor e sofrimento, tudo que eu vejo é incrivelmente cinza e monocromático; A felicidade das cores não me atinge, mas apenas o desespero do grito dos desafortunados. É tão duro ser escritor e poeta quando se sabe que se tem tudo a perder. É esse o real martírio do poeta ou intelectual em formação (ou talvez intelectualóide, afinal é muita presunção minha me chamar de intelectual) viver para sempre solitário e excluído da sociedade. Por isso peço socorro, porque eu acho que estou deprimido.
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Por que culpas os jogos?
Nós últimos dias um crime de grande repercussão
pintou as páginas de jornais e trouxe audiência às televisões. O caso
Pesseghini.
Nesse
caso, supostamente (ainda está sob averiguação pela polícia) o filho de 12 anos
teria matado a sangue frio o pai, enquanto estava dormindo, a mãe, a avó e a
tia avó. Teria ido no mais cumulo ato de frieza para escola e quando voltou
para casa, teria se matado perto da cama dos pais.
Como não
se bastasse o crime ser chocante pela própria natureza, a imprensa deu maior
destaque porque o casal em questão (pai e mãe) faziam parte da Polícia Militar
de São Paulo, de modo que para alguns aquilo era uma notícia que teria alto
retorno. Verdade seja dita, quando foi divulgado o assassinato, a mídia
metralhou a todos com notícias.
A mim não
confere o papel de julgar os métodos utilizados pela polícia para chegar as
provas, a mim confere criticar o papel criminoso da imprensa frente a
divulgação escandalosa do caso: Culpar os jogos como autores do crime.
Pelo comentário
logo a cima o jornalista Marcelo Rezende dá a entender que o jogo Assassin's
Creed é o motivador do crime, que o jogo era deveras violento e que teria
dado por isso feito o menino cometer tal crime, esse não é o caso. Um simples
videogame não faz uma criança disparar uma arma, se fosse assim estamos
considerando todas as crianças débeis mentais e que os jogos acabariam pautando
a vida das crianças.
Mas
fica a pergunta:
Até quando
a mídia tentará colocar os jogos como responsáveis pela violência, como
ocasionadores do ódio e da discórdia? Até quando continuar-se-á essa mentira
insolente devido ao total desconhecimento sobre a importância dos jogos no
processo cognitivo e de aprendizado das crianças, ou a total falta de
honestidade das redes de televisão que veem sua audiência ser suplantada pelo
domínio real dos jogos frente a sua programação infantil chata e obsoleta.
Não são
os jogos que causam a violência, na verdade, eles são um meio de extravasar a
violência da nossa vida cotidiana, do estupro que a cada dia somos submetidos
quando nossas liberdades individuais são violadas em nome da raison d'état; São
os jogos que educam, e coisas mais interessantes que o sistema educacional
ultrapassado.
Culpar os jogos é igual fazer o que nossos avós diziam sobre o cinema, que
incitava a violência, ou nossos pais que culpavam os desenhos por serem
violentíssimos, nada disso é tão verdade assim. Esse pensamento de puro
maniqueísmo não levará a nada a não ser uma hecatombe, um surto de aversão aos
jogos, e o papel que a imprensa teria de informar, seria só de gerar a
desinformação.
Sim, é desinformação partir para um estilo de jornalismo agressivo onde
tenta-se impor aspectos emocionais do ouvinte e pela falta de investigação dos
próprios fatos, a associação do jogo com o crime mostra que existe um total
desconhecimento dos veículos de imprensa com relação aos jogos. Afinal de
contas, pela teoria apresentada pelo Marcelo Resende, todo mundo que joga Banco
Imobiliário se tornará um milionário quando adulto. O Eike Batista deve ter
traumas da infância então.
As
crianças podem aprender com os jogos, podem aprender novas línguas dependendo
da linguagem do jogo, bem como dos processos cognitivos relacionados de
conhecimento tangencial, como muito bem Vigotsky apresentava em seus estudos,
as crianças podem aprender história (afinal eu sei até hoje o que significou a
Batalha de St. Lô e Chambois no esforço de guerra aliado a partir do Call of
Duty e a participação de soldados poloneses na guerra), matemática e geometria
(Angry Birds tá aí pra isso, aqui ali é física aplicada). Os jogos ensinam bem
mais do que podemos imaginar, mas não ensinam as crianças a serem assassinas,
não ensinam como as crianças a atirar armas, adultos ensinam.
O pai do garoto
ensinou o filho de 12 anos a atirar uma arma[1]. Isso sim é mostra de
responsabilidade, o que é mais perigoso, jogar um jogo ou ensinar o seu filho a
atirar com uma pistola? Não tenho motivos para julgar o pai em questão, ele
deve ter tido os seus motivos para ensinar o filho a utilizar-se de uma arma,
agora dizer que em razão dos jogos o menino foi levado a matar os pais é ser
bastante reducionista. Reducionismo até escolástico, porque no final das
contas, não explica nada praticamente, só é doutrinatório.
Os jogos
ensinam a matar as pessoas? Jogo numerosos jogos de guerra, mas não
teria mesmo a coragem de matar uma pessoa a sangue frio, existem fatores
conjugados que levaram a criança a cometer esse crime (se cometeu), desde falta
de atenção, dificuldade de aprendizado, isolamento até o velho e clássico
bullying na escola (parece que todo mundo esqueceu de Realengo).
Agora vem-se psicólogos
ou pseudo-psicólogos admitir que o menino talvez tivesse distúrbios mentais,
alienação e psicopatia. O problema dessas avaliações é que é muito fácil
julgar alguém de louco quando se está morto, mas fazer o trabalho de observar,
medicar e conversar é bem mais complicado e esse trabalho tais profissionais
não fizeram.[2]
A
história ainda está muito mal explicada, confere que se investigue mais antes
que se inicie as acusações, mas uma coisa é certa:
O convívio social, o
ensino e até mesmo o seio da família burguesa falharam com esse menino,
falharam por terem se direcionado demais e esquecido tudo o que poderia ser a
essência da vida. O menino não é culpado simplesmente por ter matado, o menino
é culpado por ter esquecido o que era a vida e o que representava o convívio
social, esse é o crime que a sociedade e a opinião pública o imputam. Mas
molesta-se também os direitos do indivíduo quando somos bombardeados com a
crescente impessoalidade da nossa própria sociedade e com o caráter cada mais
individual do nosso convívio humano, onde a figura do eu é destacada como o
ponto elevado dessa cadeia produtiva.
Assim fica a pergunta,
antes de culpar os jogos por terem cometido o crime (na verdade eles são
unicamente culpados de socializar as pessoas), qual foi a última vez que você
conversou com o seu filho?
[1]
O pai ensinou o filho a atirar com uma
arma: http://www.correiodoestado.com.br/noticias/pai-ensinou-garoto-suspeito-de-matar-familia-a-atirar-diz-po_190356/
[2] Acusações
de o menino ser psicopata: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2013-08-08/alienacao-mental-e-patologia-social-podem-explicar-tragedia-familiar-em-sp.html
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
rimas
Sinto um gosto amargo
Toda vez que vejo
Com olhar vago
O licor de percevejo
Falta-me o abraço
Quando o vento
Muda meu cabelo
E me joga de lado
Esse sol levado
Pinta o freixo
De alaranjado
Que fica sem jeito
Nada é agrado
maior que o beijo
de amor sincero
escondido seixo
Tom azulado
do cimento
pintado
escode o ciumento
céu estrelado
de onde o
coração partiu
Toda vez que vejo
Com olhar vago
O licor de percevejo
Falta-me o abraço
Quando o vento
Muda meu cabelo
E me joga de lado
Esse sol levado
Pinta o freixo
De alaranjado
Que fica sem jeito
Nada é agrado
maior que o beijo
de amor sincero
escondido seixo
Tom azulado
do cimento
pintado
escode o ciumento
céu estrelado
de onde o
coração partiu
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Pensamentos ruins
Senti hoje uma imensa vontade de me matar...
De esquecer tudo que eu vi, tudo que eu presenciei. O modo como as pessoas mudaram, mudaram completamente, meus amigos ontem hoje agem como canalhas enquanto eu me sinto na berlinda entre o saber e o conhecer.
Sinto vontade de esquecer tudo que eu senti e existir, as fragmentações que tão bem me mutilaram e me deixaram desse jeito, desconfiado e melancólico. Hoje agi mal com uma criatura, um pequeno cachorrinho que corria em minha direção, que num susto pensei que fosse me morder, gritei com ele, fui extremamente grosseiro e hoje me sinto mal por ter tratado tão mal o bichinho. Sentiu medo de mim, eu confesso que depois eu senti. Realmente senti, pobre cachorrinho.
Estou com medo, realmente estou com muito medo do que eu posso estar me tornando. Incorruptível sempre serei, isso vem do meu avô para cá, mas mesmo assim tenho medo de me ver daqui alguns anos e perceber o quanto mudei. Os meus sonhos foram embora diluídos no dia-a-dia nessa repetição de casos e situações. Foram se fragmentando de tantas formas que hoje não vejo mais porquê sonhar, meus sonhos desapareceram, simplesmente.
Ainda sinto essa vontade de me matar...
Desaparecer desse mundo, esquecer de uma vez minhas dores de cabeça e algumas pessoas que sou obrigado a lidar. Sinceramente, não quero viver num mundo onde eu não possa mais sonhar, são os sonhos que me fazem acordar todos os dias para ir trabalhar, não é o dinheiro, não são os estímulos, eram os sonhos. Sonhos que se apagam ao final de uma peça, que se encerram no final desse ato onde não há aplausos nem mesmo espectadores que queiram ver.
Eu vou sair um pouco da vida. Desejo isso do fundo do coração, quero desaparecer da vida. Sumir e deixar esses pensamentos pesados para trás, mas não posso, tenho responsabilidades que ainda me atam a esse plano. As responsabilidades crescem, o medo também, e não tenho mais um porto seguro onde me segurar. O porto seguro não existe quando você sabe que tudo que você acreditava antes eram apenas ilusões. Deuses não existem, amor também não e estou cada vez mais desconfiado que sentimentos fraternais que tanto o socialismo pregava sejam apenas fantasias.
O fim aproxima-se, eu sinto-no nesse palco de representações que é a vida. Não sinto ter tantas forças quanto antes e começo a invejar aqueles que partiram; Fugiram para longe, que nunca mais voltarão, aqueles que se foram e nunca serão vistos. Os últimos grãos da balança da vida tecem sobre meus olhos escolhas que não desejo fazer;
As desilusões crescem, os cabelos começam a cair e aquilo que eu era mais grato se foi, que era poder me apaixonar de vez em quando. Sempre soube que isso me trazia mal e que seria o meu fim. E foi o meu fim, hoje, sentado nesse quarto, sozinho escrevendo essas palavras, meu âmago de ser deseja partir. Mas para onde? Não existe outro lado onde eu possa ser feliz, a morte parece sedutora aos despreparados, mas não traz maior consolo do que a vida.
Vi no espelho os anos passarem e as minhas realizações se forem. Nada mais importa senão esse desejo de acabar com tudo... Cortar meus pulsos, não, daria muito sangue, dor e pouco retorno. Enforcamento? Não tenho a corda apropriada e para piorar iria me dar uma imagem ruim no velório. Um tiro na testa? Onde arranjaria um revolver? E o estampido seria tamanho que ninguém conseguiria dormir à noite. Envenenamento? Isso não chega a ser uma morte honrosa.
Prefiro deixar a vida me conduzir vagarosamente ao meu fim, esse vagaroso fim que eu não sei onde irá chegar. O teatro começa a se esvaziar, as chances também, o ato se encerra e as cortinas começam a se fechar de novo. Não há uma orquestra que me acompanhe dessa vez e essa peça de improviso parece se encerrar de vez.
Acredite em mim quando digo, eu quero morrer, mas não quero me matar. E não espero que ninguém na minha condição leia isso sem souber que eu não desejo isso a ninguém, nem a mim mesmo. Sinto culpa de me sentir um substrato de pó de bosta que não se vê mais importante como antes.
O aspecto impessoal dessa cidade acentua isso, deixa-nos cada vez mais depressivos, ao separar as pessoas e classificá-las em torno dos bairros. a arquitetura monumental nos faz parecer pequenos e embora digam ser o âmago da beleza contemporânea, ela esconde os mais tenebrosos sussurros nas suas plantas de concreto armado.
Eu nunca me senti tão só quanto hoje, tão perdido e tão amargurado. A desolação é tamanha que julgo ser eu produto de uma mediocridade intelectualizada, um fio de incompetência organizado; Os resquícios do passado se vão, os resquícios dos tempos em que era bem feliz e sorria bem mais do que hoje, não tinha que me preocupar com essa solidão que me abate e perturba cada vez mais o seio da minha alma. A consciência traz um cenário de lutas, entre o passado e o presente. A racionalidade nos oprime, e sentimo-nos cada vez mais oprimidos quando sabemos que tudo vive sem nenhum propósito. Nada é mais frustrante do que saber que se é livre e não ter ideia de como agir.
Estou tão deprimido que não quero mais sair de casa, quero me prender nesse mundo, nesse quarto escuro, nessa fortaleza cinzenta onde se esconde o meu coração, e tento esconder todos os dias esse sentimento. Não quero que me vejam assim e nem demonstrar a mais pura fraqueza, mas falando francamente, eu queria poder ter a chance de desistir da vida. Abandonar essa caneta e essa tinta, por fim a esses graves sentimentos; Não posso, não vou. Isso me oprime e urtiga meu coração.
Talvez digam que eu só estou cansado, tomara que eu só esteja mesmo, porque esse cansaço crônico não é de nada, sinceramente. O cansaço dessa existência é produto da soma das animosidades e barbaridades do ser humano com a crescente decepção em observar a crescente materialidade funcional de nossas vidas. Isso traz um sentimento de deslocamento tão grande que atraí os mais sinceros sentimentos negativos, introjetam-se forças profundas cuja elasticidade se aproveita até que há o momento de ruptura, entre a própria função do indivíduo numa sociedade tão utilitarista quanto a nossa.
O caráter utilitário da nossa sociedade corrompe nossa essência, na medida que pedimos cada vez mais por um pouco mais de dinheiro e menos por carinho e afeto, procuramos nosso consolo e contato com a vida através do apego do dinheiro, sem sequer compreendermos que nem passamos da primeira fase do desenvolvimento infantil de Freud. O condicionamento de nossas vidas traz a crescente dicotomia entre vencedores e perdedores, onde aos vencedores se prediz a glória e as mostras máximas de carinho e afeto, enquanto aos perdedores a humilhação. Esse utilitarismo todo é a essência do nosso próprio individualismo, de maneira que traz não apenas sentimentos de rejeição, mas a pura vontade de nos retirar dessa sociedade.
Muitos não aguentam esse deslocamento, eu o suporto como um calvário todos os dias, mesmo sabendo que um dia posso terminar cedendo. Os pensamentos suicidas não são culpa do próprio suicida, mas da própria sociedade que não percebe o papel maléfico da sua crescente impessoalidade e utilitarismo, de maneira que muitos que não são amparados por uma alma caridosa, desistem da vida simplesmente porque não vêem mais lógica nesse exercício sado-masoquista que é viver.
O suicídio não é só um crime do suicida contra si próprio, mas é um crime de toda a sociedade contra um indivíduo que é esquecido propositalmente do corpo social. Às vezes não é culpa dos pais ou amigos que hoje lamentam a dor de perder alguém querido, às vezes foi culpa de você mesmo que não teve coragem de conversar com ele no metrô, ou de você moça que o tratou mal quando ele só queria falar com você naquela balada, só porque achou ser melhor que ele. A culpa é das situações rotineiras e de como as pessoas reagem a elas.
A opressão do Estado é o que acaba também saturando a bolha de problemas do cidadão comum, onde antigamente ele deveria ser o livre garantidor das liberdades individuais e da felicidade do cidadão, hoje ele muitas vezes viola esse papel em prol de sua própria segurança. O que se esquece é que apesar de querer torná-lo magnânimo, o Estado é feito de pessoas que se esquecem que governam para pessoas.
O crime maior é culpar o suicida por ser um suicida, ele não tem culpa senão por ter cedido à coerção exaurível da impessoalidade da sociedade e da opressão do Estado, muito pelo contrário, ele é também vítima do processo, só não a maior, em virtude de os seus parentes e amigos conviverem diariamente com a dor de perdê-lo de tal forma tão trágica.
Culpar a ciência também é outro equívoco, porque a ciência não é a causa dos problemas do indivíduo, tendo em vista que o suicídio não é uma questão dada geneticamente, mas socialmente. E a crescente recusa dos organismos da sociedade civil em debater esse tema é tão interessante que demonstra no final das contas o acobertamento da culpa existente da própria sociedade.
O suicídio pode ser como a prova cabal da tentativa desesperada da noção libertária do indivíduo ou da maior fraqueza dele frente à opressão coercitiva da própria impessoalidade da sociedade individualizada. A vida não se insere em nenhum dos parâmetros, o suicídio é uma manifestação do próprio desespero do indivíduo que é criminosamente ignorado pela irresponsabilidade da sociedade capitalista, onde ignora-se o indivíduo como ser e o eleva o capital como principal meta. É essa reificação do Homem que abre caminho a isso tudo.
É por isso que tenho a vontade escondida de querer me matar, mas como sou bem consciente que pelo o meu ateísmo não há outro lugar para onde eu possa ir, prefiro viver sobre a crescente pressão da sociedade que ignora a minha existência e ainda assim me pressiona a tomar do aspecto utilitário de sua formação, à ceder aos meus mais desesperados impulsos. Até agora tenho tendo algum sucesso, tanto que eu consegui terminar esse texto sem dar um tiro na minha cabeça, resta saber se no futuro continuarei com a mesma força de vontade.
Assinar:
Postagens (Atom)
Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"
A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...
-
Ao mar aberto um gigante cruzador traçava as águas escuras do Mar Negro rumo à Terra Natal, podia-se ver de longe o longo rast...
-
Эй, ухнем! Эй, ухнем! Ещё разик, ещё да раз! Эй, ухнем! Эй, ухнем! Ещё разик, ещё да раз! Разовьём мы берёзу, Разовьём мы кудряву! Ай-да,...