domingo, 11 de agosto de 2013

Grito de socorro



            Tem dias que não nos sentimos bem, que não desejamos sorrir, nem mesmo levantar da cama; Tem dias que tudo que queríamos fazer é ficar calados, observando a triste vastidão sem fim que abre sobre nossos olhos, onde a desolação e o medo criam-se traiçoeiramente sobre as sombras da noite.

           A escrita é indomavelmente difícil quando você percebe que está sendo envenenado por ideias tão perniciosas que nem sente mais vontade de levantar da cama, e tudo o que você quer fazer é ficar calado; Calado sim, pois bem calado. Não quer mais ouvir os outros falarem de sua vida, nem escutar as baboseiras que eles têm a dizer; A vida se torna bem sombria, tão acinzentada que tudo ao seu redor parece perder cor.

        As flores não cheiram mais como antes, as frutas não têm mais o mesmo gosto, as músicas não têm mais o mesmo tom; Tudo é tão sombrio que chega a uma hora que você pensa em desistir de tudo e abandonar. O fardo é alto, e o custo também.

       Os livros não mais divertem, as piadas tornam-se lições da vida, e tudo termina com um triste comentário de Natal; O cômodo fica bagunçado, seu coração fica sujo, sua mente vazia e os olhos úmidos. Sim isso é depressão.

      A depressão é aquele fardo que você tenta se livrar, mas não se livra; É aquele seu tio chato que te molesta com pensamentos ruins. A depressão é um câncer que consome sua alma, noite e dia, devagar, devagarinho. Cada vez, cada vez mais. O frio se enevoa, a lágrima se embaça, o amor  se tritura e tudo que sobra é apenas um peso na alma.

     A praia parece mais turva agora, o sol molesta e agride nosso corpo. Bem a vida quem sabe viver, queria não ter acordado hoje, não com essa sensação de insegurança e medo, com esse pesar de inutilidade que incaí sobre os meus ombros. A dor da culpa de um amor passado, o sofrimento de um peito amargurado, nada disso é mais frustrante que um cérebro consciente de que as ilusões não trazem nada.

     Agora saí da frente, sinta o que tem que sentir, porque no meio do meu peito tenho uma sangria que não estanca, um medo, e uma forte vontade de chorar. Mas a lágrima não caí, porque já se secou a muito tempo, e percebo que perdi minhas emoções, as expressões e os carinhos. Tenho vontade de chorar, de fugir dessa sensação de medo e solidão, mas não há quem possa me ouvir... O vento repudia do meu corpo, agride meus cabelos e me dá lição de moral, puxa minhas roupas tão violentamente que tudo o que sinto é medo.

     As costas pesam-me cada vez mais, sinto minha perna falhar de novo, o ouvido fica tampado com a fúria do torrão de ar que me agride cada vez mais. Penso em me jogar na água, esquecer dos meus problemas e simplesmente afundar. Afundar para sempre até que todos os meus problemas desapareçam, mas não desapareceriam, só estariam alocados em outro caminho. O ar me agride, mas me dá vida, engraçado isso. A correnteza da vida é que me traí.

       Sinto vontade de voltar a acreditar na vida, mas isso é uma grave mentira, um grande desvio. A vida não é doce, nem é para ser admirada, só ser vivida. Não há paixões, não há amores que mudem isso, eu os perdi bem lá trás quando deixei minha maleta emocional com a pessoa errada; Para variar, de novo, deixei me enganar pelas arapucas da vida.

      Tenho vontade de escrever tudo isso no papel, mas falta-me estímulo e inspiração; Por isso estou tão deprimido, pois não acredito na música, na poesia e no amor tanto quanto queria. Acredito na matemática insensível e na função dialética de total negação para com isso. É conflituoso de fato sentir que não se pode amar e no fim acabar se apaixonando de novo, mas sempre com o crescente medo que abate o semblante.

      Os vícios não escondem o medo, o silêncio sim. Estou dopado de silêncio, minha vida sempre foi um grande silêncio taciturno pensativo, talvez seja por isso que sou tão melancólico e às vezes depressivo. Talvez seja por isso que eu seja tão sensível às palavras e aos sentimentos e não demonstre nada quando tudo vier à minha língua.  Eu sou uma tragédia anunciada, por isso que tenho medo de pedir socorro.

      Mas hoje eu peço, peço às palavras e aos versos que me deem mais uma chance de viver, que me deem ideias e novos amores que hoje não mais tenho, que me expurguem dos sentimentos ruins  e da triste melancólica que me abate há meses, senão anos por essa vida. Sofri e sofro, mas garanto que o meu sofrimento não é maior do que o dos outros: Das crianças que morrem de fome no braço das mães desesperadas, dos pais que enterram seus filhos que vão para o moedor de carne que é a guerra, dos jovens como eu que estão desempregados e também deprimidos com esse futuro sem perspectivas.

      Tudo que eu vejo é dor e sofrimento, tudo que eu vejo é incrivelmente cinza e monocromático; A felicidade das cores não me atinge, mas apenas o desespero do grito dos desafortunados. É tão duro ser escritor e poeta quando se sabe que se tem tudo a perder. É esse o real martírio do poeta ou intelectual em formação (ou talvez intelectualóide, afinal é muita presunção minha me chamar de intelectual) viver para sempre solitário e excluído da sociedade. Por isso peço socorro, porque eu acho que estou deprimido.

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