sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Por que culpas os jogos?



         Nós últimos dias um crime de grande repercussão pintou as páginas de jornais e trouxe audiência às televisões. O caso Pesseghini.


            Nesse caso, supostamente (ainda está sob averiguação pela polícia) o filho de 12 anos teria matado a sangue frio o pai, enquanto estava dormindo, a mãe, a avó e a tia avó. Teria ido no mais cumulo ato de frieza para escola e quando voltou para casa, teria se matado perto da cama dos pais.

           Como não se bastasse o crime ser chocante pela própria natureza, a imprensa deu maior destaque porque o casal em questão (pai e mãe) faziam parte da Polícia Militar de São Paulo, de modo que para alguns aquilo era uma notícia que teria alto retorno. Verdade seja dita, quando foi divulgado o assassinato, a mídia metralhou a todos com notícias.

           A mim não confere o papel de julgar os métodos utilizados pela polícia para chegar as provas, a mim confere criticar o papel criminoso da imprensa frente a divulgação escandalosa do caso: Culpar os jogos como autores do crime.

  
          Pelo comentário logo a cima o jornalista Marcelo Rezende dá a entender que o jogo Assassin's Creed é o motivador do crime,  que o jogo era deveras violento e que teria dado por isso feito o menino cometer tal crime, esse não é o caso. Um simples videogame não faz uma criança disparar uma arma, se fosse assim estamos considerando todas as crianças débeis mentais e que os jogos acabariam pautando a vida das crianças.

             Mas fica a pergunta: 

           Até quando a mídia tentará colocar os jogos como responsáveis pela violência, como ocasionadores do ódio e da discórdia? Até quando continuar-se-á essa mentira insolente devido ao total desconhecimento sobre a importância dos jogos no processo cognitivo e de aprendizado das crianças, ou a total falta de honestidade das redes de televisão que veem sua audiência ser suplantada pelo domínio real dos jogos frente a sua programação infantil chata e obsoleta.

            Não são os jogos que causam a violência, na verdade, eles são um meio de extravasar a violência da nossa vida cotidiana, do estupro que a cada dia somos submetidos quando nossas liberdades individuais são violadas em nome da raison d'état; São os jogos que educam, e coisas mais interessantes que o sistema educacional ultrapassado.
  
              Culpar os jogos é igual fazer o que nossos avós diziam sobre o cinema, que incitava a violência, ou nossos pais que culpavam os desenhos por serem violentíssimos, nada disso é tão verdade assim. Esse pensamento de puro maniqueísmo não levará a nada a não ser uma hecatombe, um surto de aversão aos jogos, e o papel que a imprensa teria de informar, seria só de gerar a desinformação.

             Sim, é desinformação partir para um estilo de jornalismo agressivo onde tenta-se impor aspectos emocionais do ouvinte e pela falta de investigação dos próprios fatos, a associação do jogo com o crime mostra que existe um total desconhecimento dos veículos de imprensa com relação aos jogos. Afinal de contas, pela teoria apresentada pelo Marcelo Resende, todo mundo que joga Banco Imobiliário se tornará um milionário quando adulto. O Eike Batista deve ter traumas da infância então.

           As crianças podem aprender com os jogos, podem aprender novas línguas dependendo da linguagem do jogo, bem como dos processos cognitivos relacionados de conhecimento tangencial, como muito bem Vigotsky apresentava em seus estudos, as crianças podem aprender história (afinal eu sei até hoje o que significou a Batalha de St. Lô e Chambois no esforço de guerra aliado a partir do Call of Duty e a participação de soldados poloneses na guerra), matemática e geometria (Angry Birds tá aí pra isso, aqui ali é física aplicada). Os jogos ensinam bem mais do que podemos imaginar, mas não ensinam as crianças a serem assassinas, não ensinam como as crianças a atirar armas, adultos ensinam.

             
          O pai do garoto ensinou o filho de 12 anos a atirar uma arma[1]. Isso sim é mostra de responsabilidade, o que é mais perigoso, jogar um jogo ou ensinar o seu filho a atirar com uma pistola? Não tenho motivos para julgar o pai em questão, ele deve ter tido os seus motivos para ensinar o filho a utilizar-se de uma arma, agora dizer que em razão dos jogos o menino foi levado a matar os pais é ser bastante reducionista. Reducionismo até escolástico, porque no final das contas, não explica nada praticamente, só é doutrinatório.

           Os jogos ensinam a matar as pessoas?   Jogo numerosos jogos de guerra, mas não teria mesmo a coragem de matar uma pessoa a sangue frio, existem fatores conjugados que levaram a criança a cometer esse crime (se cometeu), desde falta de atenção, dificuldade de aprendizado, isolamento até o velho e clássico bullying na escola (parece que todo mundo esqueceu de Realengo).

        Agora vem-se psicólogos ou pseudo-psicólogos admitir que o menino talvez tivesse distúrbios mentais, alienação  e psicopatia. O problema dessas avaliações é que é muito fácil julgar alguém de louco quando se está morto, mas fazer o trabalho de observar, medicar e conversar é bem mais complicado e esse trabalho tais profissionais não fizeram.[2] 

            A história ainda está muito mal explicada, confere que se investigue mais antes que se inicie as acusações, mas uma coisa é certa:

       O convívio social, o ensino e até mesmo o seio da família burguesa falharam com esse menino, falharam por terem se direcionado demais e esquecido tudo o que poderia ser a essência da vida. O menino não é culpado simplesmente por ter matado, o menino é culpado por ter esquecido o que era a vida e o que representava o convívio social, esse é o crime que a sociedade e a opinião pública o imputam. Mas molesta-se também os direitos do indivíduo quando somos bombardeados com a crescente impessoalidade da nossa própria sociedade e com o caráter cada mais individual do nosso convívio humano, onde a figura do eu é destacada como o ponto elevado dessa cadeia produtiva.

       Assim fica a pergunta, antes de culpar os jogos por terem cometido o crime (na verdade eles são unicamente culpados de socializar as pessoas), qual foi a última vez que você conversou com o seu filho?

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