sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Uma cadeira





        Era uma singela cadeira, revestida pela sombra do cômodo escuro... Era uma cadeira logo ali no centro, sozinha, desolada, no piso de madeira.

          Na escrivaninha havia um bilhete, escrito em letra cursiva às pressas e ilegível, com a caneta-tinteiro repousada no frasco de tinta.

           À luz fraca e sinuosa de uma vela, uma única vela apenas, a garrafa de vinho tomava colorações interessantes, já que estava meio vazia.

            Afinal, o que pensar sobre tudo aquilo? O rapaz estava sentado junto à cama, no chão, admirando a tremenda estupidez que ia fazer... Via com assombro o nó da corda balançar sob a corrente de ar fria que entrava pela janela, e chorava com isso.



          Tinha nas mãos uma faca, cuja lâmina tão prateada era sedutora aos olhos de qualquer um, mas não àquele rapaz de se afogava nas suas próprias lágrimas. Bebera demais? Certamente sim, mas com certeza via-se nele um espírito de tamanha depressão e falta de amor próprio que nenhuma criatura desejaria.

          Ele bebera um pouco mais de seu vinho, e admirava o modo como a luz da noite, da lua refletiva, entrava pela janela do seu quarto escuro. Na parede, via um quadro qualquer de um violino sobre a mesa, numa parede tão rebocada e trincada que dava pena de se ver.

        No criado mudo, o telefone piscava uma seta vermelha, de várias ligações não atendidas, colorindo assim a capa daquele novo livro de bolso que o fazia dormir todas as noites. Era alguma coisa sobre o sofrimento de um jovem alemão desiludido pelo amor, uma obra qualquer de Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther.

          Então era isso, então era por amor que o rapaz chorava, era por amor que o rapaz estivera tão disposto a acabar com aquela amarga sinfonia que é a vida... Que vergonha! Que franqueza! Que coisa ínfima!

           Sentia culpa de si mesmo, olhava para frente decidido que não saltaria naquela cadeira mais uma vez, não se seduziria pelo nó daquela gravata rude de corda que pendia sobre o teto... Não, ele não faria isso! Não dessa vez!

          Jogou para longe a faca e com os olhos fixos, observava na parede retalhada do quarto a única vela ali presente se consumir em chamas coloridas.... Passou a noite inteira assim, sob o gole de vinho, acordado,  enquanto o fogo desaparecia com o frio e ficou assim até mesmo quanto ficou escuro outra vez, e o sol se despontou no céu.

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