Subia ao sótão um jovem rapaz, procurando algumas tábuas, algumas peças de madeira, um pouco de tinta e inspiração para consertar uma mobília qualquer.
Sabia ele que não era fácil descer com tudo aquilo, mas mesmo assim decidiu arriscar, afinal de contas, não queria fazer duas viagens. Atou as peças de madeira com cordas às suas costas, prendeu com fita porções generosas de pregos no peito e levava os baldes de tinta presos aos seus braços pelas argolas.
Quando descia, calmamente, sentia que não estavam muito seguros os baldes de tinta, e sem querer, desastrou-se e quase deixou a tinta branca cair ao chão num desastre irremediável a casa, já que aquela escada na parede, estava suspensa em outra em caracol.
Conseguiu segurar aquilo, mas nervoso, esqueceu bem o perigo que a situação impunha e acelerou cada vez mais a sua descida.
Num dado momento, as tábuas de madeira o fizeram tropeçar em seus próprios pés, e ele não pode fixar os pés nos degraus, ficando suspenso apenas pelos braços...
Não, o garoto não era forte, era peso pena por excelência, mesmo assim agarrou-se à vida com tudo que podia, se caísse ali, cairia com certeza na escada em caracol e iria na melhor da hipóteses sair rolando como uma bola de futebol, seriamente machucado, na pior, ficaria paralítico.
Agarrou-se como pôde no corrimão e estava prestes a fincar os pés no degrau. Foi quando algo desastroso ocorreu: A tinta branca, que tanto lhe causara problemas na descida, estava meio destampada e não custou muito para que a lata se abrisse e sujasse o rosto do rapaz.
Desastrado, o rapaz golfou uma porção absurda de tinta que pintava sua língua e manchava seu paladar... Seus olhos ficaram encobertos pela grossa camada de tinta e ardiam com a reação com o pigmento, foi quando inconscientemente ele passou uma das mãos nos olhos para tentar limpá-los e como a outra não suportou bem o peso, acabou caindo escada abaixo.
No chão, após um estrondo pavoroso que surgira enquanto ele rolava pela escada em caracol de metal, o infeliz soltara um grito de dor absurdo que pudera ser ouvido até pelos vizinhos e caído, ali no chão, olhava para cima sem acreditar na sorte infeliz que lhe fora reservada:
"Maldita escada..."
Estava agora imóvel no chão, rodeado de pregos e taxinhas, numa poça de tinta nas bordas e um punhado de madeira que havia se quebrado na queda... Havia batido as costas no corredor central da escada e não mais sentia as pernas naquele momento, talvez fosse melhor assim.
Agora não seria um móvel que ele teria que consertar, mas uma coluna inteira por causa de uma maldita escada.
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