sábado, 7 de julho de 2012

A partícula de Higgs


         Sim, faz muito tempo em que não redijo nenhum texto e parece ser estranho que ao redigir seja justamente sobre física, eu particularmente, nunca fiz isso, embora por um decurso do destino quase caí na Engenharia.

         Eu lembro da primeira vez que ouvi sobre a partícula de Deus, foi em 2010, quando me contaram sobre o megaprojeto do acelerador de partículas na fronteira entre a França e a Suíça.

          Na época havia o alvoroço de que se encontrassem a dita partícula de Deus, ela seria de difícil controle e resultaria na própria destruição da Terra, um alarmismo sem precedentes, estamos em 2012 e o mundo ainda não acabou.

          O estudo dessa partícula idealizada pelo físico nuclear com mesmo nome, Higgs, tem quase sessenta anos, sessenta ininterruptos anos, ela é a procura do homem para aquela clássica pergunta: De onde viemos?

          Todo o ser humano se pergunta de onde viemos, alguns dizem que foi do pó (não é de todo errado, nós também somos algum tipo de poeira cósmica do Big Bang), outros dizem que fomos criados do barro pelo sopro divino, eu respeito essa concepção, mas aí tem a questão, de onde surgiu Deus? E Nietzsche provavelmente diria: O homem criou Deus!

           Em todo caso essa busca pelas origens move homens desde os tempos remotos, mas tem um surto quase revolucionário em meio ao século XIX, quando os movimentos nacionalistas pela Europa afora tentavam se identificar como filhos destes, sobrinhos daqueles, retomando aqueles discursos velhos de: "Nós, helenos", "Irmãos de espadas, teutônicos", "Cidadãos e pais discursantes, romanos".


             A busca por identidade é uma necessidade humana de tentar se identificar com algo, de tentar retirar o seu vazio existencial, de tentar pelo menos entender o porquê do mundo é assim, do homem de ser desse jeito, não é uma busca ideológica, é uma busca existencial.

             Os comunistas lembram com orgulho os velhos revolucionários, os "pais marxistas", Marx, Engels e Lenin, alguns Trotsky, Stálin e Mao, outros, como eu, além da tríade superior marxista (alguns vão ter calafrios ao recorrer-me a essa quase heresia), lembram-se de revolucionários menores que tiveram sua importância na primeira revolução, Bukharin, Reed e afins.

              Essa é uma tentativa de se identificar com os antigos e os pioneiros da escola marxista, e essa tentativa de se identificar como "seguidor de Lênin", "trotskysta" (embora isso seja até um insulto em alguns ramos comunistas), maoista, é também uma tentativa de ser como Lênin, pensar como Lenin, agir como Lenin (ou nos outros casos, como Trotsky ou Mao).


              A identificação faz você pertencer a um grupo social, a uma classe em que você queira ou não se inserir, e como todos os homens se sentem mais ou menos confortáveis com a sensação de um pertencimento a um grupo ( tendo em vista que o homem é indivíduo social), que remonta desde os imemoráveis tempos de caçador, quando ser de um grupo de caçadores significava a vida ou a morte, dependendo da ocasião.

              A busca pela partícula de Higgs é a busca de se identificar com o Universo ou para alguns mais crentes, para se encontrar com Deus e identificar-se com ele, tal como um órfão tenta fazer com a foto de sua mãe ou um abandonado a procurar o pai.


             Esse é o propósito que vejo ao se procurar por essa partícula "divina", provavelmente ela irá reforçar a velha e boa conhecida teoria do Big Bang (ou mesmo refutar, pois em matéria de ciência, mais se refuta do que se prova), irá talvez abrir caminho para novos caminhos na ciência, tal como a Teoria da Relatividade abriu tempos atrás.

              A ideia da obtenção dessa partícula é tão similar a um processo de fissão que acho até que não vale a pena explicar, as partículas de prótons são jogadas umas contra as outras em altíssima velocidade, tal como uma criança faz quando brinca de bolinha de gude, e essas partículas se desintegram em partículas menores, que por sua vez podem colidir entre si ou não e assim forma-se uma ação em cadeia.

             
              Mas como aprendi que perguntas as vezes são mais importantes que respostas (nas Humanidades isso é regra), eu devo inquirir:

             De que vale saber sobre as origens senão se sabe para onde se vai?
             De que adianta tentar encontrar respostas se nem boas pergunta se fazem?


              A questão maior não é de onde viemos, a questão maior é  pra onde vamos, e como nós não temos grande controle sobre o futuro, sequer nos dedicamos a pensar sobre isso (nem se quer na verdade, afinal pode-se cair no perigo da futurologia).

             Temos pleno domínio do presente e mesmo assim o ignoramos, imaginem o futuro, em todo caso, a busca humana deve ser empreendida não só na busca das origens, mas na busca por um futuro melhor, e nisso, não só (mas também) a ciência entra no jogo, mas como também o conhecimento humano sobre si, e mais que isso o pensamento humanístico que o homem deve ter consigo e com outros.

             Se o futuro não for pautado na tecnologia a serviço do homem ou mesmo no papel do homem como gestor responsável de si e de seu futuro, nada teremos um bom futuro, e sim apenas mais uma repetição maligna do passado.


            Pareceu confuso esses dois trechos, mas o que eu digo é que o homem, mais do que se importar com a sua origem, deve se importar com o seu futuro, deve trabalhar para que não haja mais guerras, fome, ou injustiças, deve trabalhar para que a tecnologia que hoje é tão bem empregada na morte de seus semelhantes ou no consumismo desesperado, seja usada em prol de todo o corpo da humanidade.

           É uma utopia? Até pode ser, mas antes utópico que distópico!

             



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