sábado, 7 de julho de 2012

A Queda de Berlim: Uma crítica de cinema







         A Queda de Berlim é um filme de duas partes produzido em 1949 produzido pelo cineasta georgiano Mikhail Chiaureli que se mostra entre outras coisas como propaganda escrachada do stalinismo, nascida no seio dos primeiros da Guerra Fria, a obra mostra de forma nada imparcial um enredo cinematográfico.






         Alexei Ivanov era um operário de uma siderurgia que excedeu em muito a sua cota de produção, um adepto do movimento stakhanovita (baseado no caso do operário Stakhanov que sozinho bateu duas vezes estipulada para si na produção de uma fábrica), e por esse motivo é premiado com a Ordem de Lênin e encontra-se com ninguém menos que Stálin.


        Só por si só essa coisa já era difícil de acontecer, um operário simplório encontrar-se o Vojd em sua datcha, mas pra piorar na cena, ele encontra Stalin capinando o mato, uma inserção posterior do hobbie que Stálin adquiriu logo após a guerra, a jardinagem.


Stalin cuidado de seus limoeiros





         Em todo caso, Ivanov não tem muitos problemas para passar pelos seguranças e a unica coisa que tem que enfrentar é o seu nervosismo ao encontrar Stálin, que é foco de uma divinização quase tosca de tudo em que age, e é Stálin que o faz perder o nervosismo e fala naturalmente com o tal Ivanov.






         A atuação Mikheil Gelovani no papel de Stálin, é por demais artificial, nos gestos, na forma de se comportar, de se andar, tudo era bom demais, até pra Stálin, e não à toa que ele era o seu ator favorito.



          Num trecho do filme, Ivanov se encontra com uma professora de escolinha de interior (Natasha) num Congresso do Partido (claro!) e acaba se apaixonando por ela de um jeito muito rápido, só que ela também é cobiçada por um músico, um pianista, e Ivanov fica no dilema de falar que ama ou não Natasha, um drama romântico que parece risível senão trágico, e Ivanov tem um profundo complexo de inferioridade quando está perto do músico.

Natasha no Congresso do Partido


           Eu não sei o quê, mas falta algo na atuação em si que não parece ser muito boa, e o enredo é pior ainda, tem muitas lacunas, parece que o filme foi feito às pressas e o relacionamento de Ivanov e Natasha depois de algumas coisas, Ivanov declara o seu amor, e tanto Natasha quanto Ivanov se beijam num campo de trigo, numa daquelas cenas melosas de filme romântico até que um bombardeio de Stukas rompe tudo e a guerra começa.

Aliocha e Natasha


            Ivanov e Natasha se separam, Ivanov, ferido é levado para retaguarda, onde é tratado, e vem a saber que Natasha foi presa pelos alemães pelo pianista com quem disputava o amor de Natasha, e ao saber que os alemães se aproximam de Moscou, Aliocha (Ivanov) pula da cama onde cambaleava e num sobressalto, como estivesse bem, como se nunca tivesse ficado ferido, seguiu o "chamado do camarada Stálin".

        "Onde está Stálin?", é a primeira pergunta que Aliocha faz.
        "Stalin está em Moscou. Ele é a nossa única esperança", wait, e o Exército Vermelho? Stálin vai sair ao front pisando nos alemães como um titã faria com os humanos? É isso? Dá pra ver uma divinização implícita de Stalin nesse filme, mas também explicita.



          O papel do general Zhukov foi totalmente ocultado, mostrando-o como secundário na Batalha de Moscou, e o de Stálin bastante superestimado, mostrando-o como um líder hábil que levava sempre uma caderneta com os números de soldados nas mãos e decidindo onde e como atacar.


        É bem sabido que Zhukov caiu meio que em desgraça logo após do fim da guerra por ter "ofuscado" a fama de Stálin e por esse fato, nessa altura, foi mandado para comandar o Distrito Militar da Sibéria.


        Enquanto Stálin era a figura controlada (isso era com certeza) e decidida, firme em seu caminhar, que raramente elevava a voz, Hitler era tudo ao contrário, era um louco ensandecido que falava alto, com uma voz de foinha, andava encurvado, dava mostras de loucura (ele era mesmo, mas foi exagerado esse aspecto), com ele andando de forma desforme e sempre nervosa.

Hitler e o seu séquito


       Goering é apresentado como o fanfarrão que se pintava como admirador das artes, mas que não tinha pudores em roubar coleções pela Europa afora (tudo isso é verdade), mas ele próprio também foi apresentado de forma muito caricatural.


        As batalhas mesmo passaram de forma muito rápida, e embora o papel de personagens importantes, como Chuikov em Stalingrado, tenha sido mencionado, a coisa passou de forma muito batida até, mesmo assim não dá pra sentir pena de Ivanov quando ele cai de joelhos diante a sua casa em chamas em Stalingrado.


           A Conferência de Teerã, a última cena da primeira parte do filme mostra um autocontrole imenso de Stálin nas negociações, Roosevelt é mostrado como uma figura simpática e bastante controlada, embora enferma (essa foi justamente a visão que os soviéticos tinham de FDR e não foge muito da realidade) e Churchill, esse sim é a figura mais risível e caricatural de todo o  filme, é mostrado como um obeso que mal se encaixa na sua cadeira, com um maxilar agressivo, voz engraçada e tom fanfarrão em suas palavras, quando ele fala, você sabe que não dá pra levar ele a sério e tem vontade de rir, e mais que isso ele é mostrado como um velho rabujento.

              Devido a Mosfilm ter solicitado os direitos do filme, eu apenas posso fornece o link da parte 1 do filme no Youtube:  http://www.youtube.com/watch?v=t-hZam8dXHU



               A parte 2, é a continuação da guerra mesmo, cortando muitas batalhas importantes da Segunda Guerra e nesse filme já encontramos Aliocha, Ivanov, batendo nos alemães nas montanhas de Seelow, e Hitler definha cada vez mais em sua loucura e embora pareça caricatural a atuação de Hitler, nessa parte ela corresponde ao mais próximo da realidade, com ele tremendo já as mãos, tomado pelo nervosismo e a histeria.


           As tropas soviéticas são recebidas como libertadoras num campo de prisioneiros e tratam em liquidar cada um dos nazistas, e Aliocha que estava no meio disso tudo tem a sensação de estar próximo de Natasha, que coincidentemente por uma sorte muito absurda estava no mesmo campo de concentração e deu a sorte de não ter sido fuzilada pelos alemães, mesmo assim os dois não se encontram.



            Com a vitória das tropas soviéticas mais próxima, Hitler em seu bunker decide se casar com Eva Braun, e a marcha nupcial é executada durante em meio a tiros e à destruição da batalha.

            Segundo o próprio filme, Hitler teria matado a força Eva Braun e depois se suicidado.

              Enquanto essas coisas todas, Aliocha, em meio a batalha é convocado junto com Kataria e outros oficiais, para a missão especial, levar a bandeira soviética para o alto da cúpula do Reichstag, nessa concepção, Ivanov estava na clássica foto tirada do soldado soviético pendurando a bandeira no Reichstag.



           No meio da tomada do Reichstag, o pianista (Kostya), que agora lutava lado a lado com Aliocha é liquidado no meio da batalha e assim abrindo definitivamente para Aliocha de algum jeito.

          Ao fim da tomada do Reichstag quando Aliocha estava para erguer a bandeira junto com Kataria e outros, todos os seus companheiros acabaram morrendo e no final só sobrou Alioucha...


          No fim do filme, quando o Reichstag já está tomado, surge quem?

         Stálin




          Esse é o trecho final do filme, com legendas em inglês a trilha sonora composta por Shostakovich à "glória de Stálin".

         A trilha sonora por si só já é uma mostra da divinização que o filme tenta passar, e Shostakovich, que há muito tempo vivia balançando diante do sistema, a regiu como forma de provar que era leal ao comunismo e a Stalin (muito embora ele próprio não fosse stalinista).

          Logo no início dessa cena, encontramos um erro, um avião vem sendo escoltado por uma esquadrilha de caças, e quando pousa, quem abre a porta, quem? Stálin

         A questão é que Stalin tinha medo de viajar de avião, a única vez em que ele viajara nesse veículo em toda a sua vida foi quando foi para a Conferência de Teerã, e ele, como outros dirigentes da administração soviética se sentiu desconfortável quando o avião sofreu uma turbulência em uma zona de baixa pressão.

          Stalin foi para Berlim de trem e muito bem escoltado.

           Além disso, essa cena desse bando de pessoal saindo correndo feito doidos do Reichstag até o aerodromo é por demais utópica, a própria brigada do NKVD iria conter a multidão até mesmo para a segurança do líder.

           Depois, Stálin cumprimenta Chuikov, Konev, Rokossovsky pela batalha e tal... mas cadê Zhukov? Sumiu, nenhuma menção ao conquistador de Berlim, nada.

           Uma mulher, uma prisioneira (Natasha), fura o bloqueio (que bloqueio?) e fica diante de Stalin e pede para beijá-lo. Onde já se viu uma prisioneira fugir do esquema de segurança do NKVD, correr em direção a Stalin sem grandes problemas, e ele consentir com aquilo e aceitar que ela o abrace e o beije na bochecha, quando na verdade a própria União Soviética duvidava muito da lealdade de seus prisioneiros enquadrando-os como um perigo à segurança nacional até. O NKVD nuca permitiria que uma mulher, principalemente uma prisioneira que "potencialmente pudesse oferecer riscos ao líder" o abraçasse.

          Miraculosamente, no meio daquela confusão toda Aliocha encontra Natasha, os dois abraçam-se e vivem felizes para sempre, e assim acaba o filme.

           Link para  a parte 2 no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=1AHUQ1QRVn4&feature=fvwrel


          A Queda de Berlim, as duas partes, são a parte maior de um filme de propaganda, como eu já disse, e ele totalmente de viés stalinista é usado como exemplo escrachado por alguns de como a propaganda soviética podia produzir tais absurdos e a disparidade com a realidade na União Soviética.

          Stalin nunca foi a uma única fábrica durante o seu governo inteiro, raramente encontrava-se com trabalhadores, até mesmo por uma questão de tentar se proteger (e também um pouco de vergonha de sua aparência, afinal ele tinha marcas de varíola que a propaganda se dignou a não mostrar) e sempre se mostrou de certa forma distante de sua população (assim vemos o caso do abraço até como absurdo).

           A trilha de Shostakovich, apesar de ser totalmente, como filme, stalinista, ela é boa, muito boa mesmo em forma de orquestração e coro, mas o filme, as atuações e mesmo enredo deixam muito a desejar.

          A Queda de Berlim é o supro exemplo do realismo socialista em aplicação no cinema, e como essa arte oficial desejava mais que a arte tivesse uma função coletiva, de educar as massas, do que uma função só de ser arte, de ser bonito, de ter enredos pessoais e coisas e tal... a narração realmente peca em função do coletivo.

           Esse filme é bem atual para sua época, a omissão de Zhukov do filme foi proposital, já que o marechal havia ofuscado Stálin com a sua fama, os aliados são mostrados como traiçoeiros e não confiáveis (tirando FDR, por quem Stalin tinha grande admiração), a divinização de Stalin, que ele próprio no início se recusara e agora acabou acreditando mesmo que fosse essa coisa "divina".

              Embora toda vez que eu vejo esse filme, tenho a vontade de rir de muita coisa, ele mostra bem como era a questão do culto de personalidade na União Soviética. Esse não é um filme de Aliocha ou de Natasha, que até são deixados em segundo plano, esse é um filme de Stalin e de como Stalin é grande, de como Stalin derrotou Hitler, aquele louco insano e assassino, essa é a ideia do filme mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...