sábado, 7 de julho de 2012

O grande imperador



       O que remete a vocês se eu falar o nome de Gêngis Khan?

       Um assassino inveterado das estepes mais longíquas, usando um capacete na cabeça e um monte de peles no corpo, um bárbaro sanguinário que não hesitava em agir sem o menor tipo de escrúpulos e que conquistou meio mundo pela frente... Tudo isso é verdade.





        Mas o Khan Temudji entre outras coisas, além de ter unificado uma das terras mais dispersas do mundo, a Mongolia, com um exército anteriormente formado de caçadores e pastores, ter estabelecido guerras com as nacionalidades vizinhas (como os tártaros, pois uma coisa que descobri que tártaros não são mongóis), ele formou um exército de cavaleiros altamente treinados, um sistema de seguridade bastante eficiente (que estabelecia uma parte dos espólios às viúvas e os orfãos de seus soldados) e uma distribuição dos espólios proporcional ao esforço em uma batalha.


         Gengis Khan, como alguns sabem, nasceu numa porção das estepes da Mongólia mais ao nordeste, próximo ao rio Onon, seu pai raptara sua mãe de outro homem, e com ela Yesugei (pai de Gengis que já tinha uma outra esposa), constituiu uma família um pouco grande.

        Gengis cresceu num panorama de horror e assassinatos, e supõe-se que seu pai tenha sido envenenado pelos tártaros, com a morte de seus pais, Temudji com seus irmãos, teve que sustentar sua família com animais de caça (às vezes eles comiam até ratos e outras iguarias indesejáveis) , e numa das brigas que teve com o seu meio-irmão mais velho, ele o matou, quando já tinha onze anos.

          A ascensão de Gengis Khan é descrita em pormenores no livro: Gengis Khan e a Formação do Estado Moderno, que tive o prazer de ler, da Bertrand Brasil.


         O Khan, quando ascendeu ao poder, após entrar em guerra com o seu antigo irmão de sangue (é explicado no livro) e com o seu antigo protetor, estabeleceu uma campanha de unificação dos povos dispersos da Mongólia, integrando os povos conquistados ao seu, inclusive os tártaros, com quem travara duras guerras (os tártaros, tal como os sabinos como os romanos, eram povos vizinhos aos mongóis que quando perderam a guerra foram integrados ao império de Gengis Khan como seus súditos).

         Governando, o Khan estabeleceu um sistema de leis que se punha acima dele próprio (uma coisa inédita até para o Ocidente), baseado no fato de que a lei é superior a todo inclusive ao rei, proibiu a tortura (ao  contrário dos Ocidentais como o Vlad, o Empalador, tempos depois, que se compraziam em torturar alguns), por considerá-la desonrosa e incabível a um mongol, estabeleceu imunidade diplomática entre os emissários (mesmo os inimigos) e além de ter assegurado a Rota da Seda sob os seus domínios, ele também estabeleceu o uso do papel-moeda, muito mais prático, para trocas comerciais.


            Após ter unificado a Mongolia, um emissário do junche chegou à sua ger (uma tenda feita de feltro, típica na Mongolia) e requiriu que ele se submetesse, o que ele considerou um insulto, porque Gengis Khan nunca aceitou ser vassalo de ninguém, o resultado disso foi nada menos que a tomada de boa parte da China.

            Aos 60 anos, quando já estava na flor da idade de se aposentar, Gengis Khan teve quase um ataque de epifania e decidiu atacar com os seus homens o Oeste, as porções do Oriente Médio, e o resultado que se deu foi o maior império já construído na face da terra.

            Os mongóis eram sim assassinos sem muitos escrúpulos, não tinha códigos de guerra, mas se recusavam terminantemente à tortura e quando faziam era a contra gosto, eles não gostavam do derramamento de sangue, por achar que o sangue continha a alma de um homem, e muitas vezes preferiram enrolar seus prisioneiros em tapetes de feltro para em seguida pisoteá-los.


           Ao contrário dos europeus da época, eles tinham aversão à exposição dos mortos em praça pública, e quando isso lhe aparecia, puniam impiedosamente quem se dedicasse a isso (inclusive alguns monges na Hungria, num caso, em que eles balançaram crânios de mortos para intimidar os mongóis)

         
           O fato é que os mongóis tomaram uma porção de mais de 20 milhões de quilômetros de uma área que saia da Coreia, a China, e o Vietnã, passado pela Mongólia, os países islâmicos da Asia Central, o Paquistão, o Norte da Índia, a Pérsia, o Cáucaso, a Sibéria, os principados russos, até chegarem à Polônia e à Hungria. Isso com liberdade religiosa em todo o seu território e com um sistema de coleta de impostos e de transportes assustadoramente eficiente: Um certo monge cristão levou um ano para sair da França em direção aos domínios da Horda Dourada de Batu Khan (no que seria hoje uma porção da Rússia), um ano para sair da Europa!, e levou algumas semanas para chegar à Mongólia. Isso era uma disparidade absurda!

File:Mongol Empire map.gif

           Mesmo com tudo isso, não vamos nos iludir em dizer que os mongóis eram humanistas e tal, que eram homens à frente, e outras baboseiras que alguns tentam fazer, eles não eram nada disso, mas os europeus também não eram:

            Quando os mongóis ameaçavam tomar por fim a Hungria e daí em diante toda a Europa, os religiosos cristão logo colocaram a culpa das desgraças dos cristão em quem? Nos judeus, acusando-os de serem parentes do mongóis e que agora se compraziam com as desgraças que os tártaros traziam.

              Isso são acusações infundadas, mesmo naquela época já eram, só pra falar da distância que existia entre a Palestina e a Mongólia, já dava pra ver isso, mas em todo caso,  Luis IX da França não hesitou em mandar queimar milhares de judeus em praça pública e por esse motivo foi canonizado como São Luís pela Igreja Católica.


              Em todo caso, esse livro mostra um outro retrato dos mongóis diferente com o qual estamos acostumados, afinal de contas quem não pensou em Gengis Khan como a versão piorada de Atila? (Na verdade os mongóis eram de certa forma parentes dos hunos), e tira a máscara romântica do cavaleiro medieval europeu que alguns têm até hoje!

             Eu recomendo essa leitura de forma até enfática, porque até a narração do corpo do livro é bastante boa.

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