Poderia descrever o lirismo dos beija-flores ao baterem suas asas para trás, mas isso iria quebrar a graça do que vem por vir.
De certo, observava que o semáforo se fechava com dificuldade, e quanto menos eu me continha de pressa, mais tempo demorava... O sol parecia fechar-se mais cedo do que aquela sinaleira.
Eis que me fita um mendigo maltrapilho e diz:
— Hey! Hey! Cara senhorzinho que boas praças anda aqui — Decerto não disse isso, mas também não escutei o que ele havia dito.
O silêncio é mais revelador que muitas palavras, mantive-me calado.
— Quero que você se deite aí no chão pra eu ver como fica — Disse o maltrapilho.
O odor transpassado de um bafo sólido tornou-se repulsivas tais palavras... Ao que parece o odor condensado em palavras tortas era apenas comparável ao escuro chorume em decomposição. Pois eis o que prestei atenção:
— O quê?
— Isso que você ouviu.
— Tolice! Tenho mais que fazer.
— Faz aí! — Disse em tom coercitivo.
— Não! — Rebati de maneira enfatica.
Eis que a sinaleira se fecha e o andarilho se afasta de mim, passados alguns metros, vejo um daqueles tipos "fodões" sairem daquelas caminhonetas no meio do trânsito...
— Hey, meu irmão — Abordou-lhe o mendigo junto à pista.
— O quê? — Disse o bombadão com voz de fuinha, todo estupefado.
— Quero que você se deite aí no chão pra eu ver como fica — Repitiu o maltrapilho novamente a lorota.
Não sei o que deu naquele bombadão, não sei o que diabo deu nele, mas ele fez tudo que o mendigo quis... Talvez estivesse com medo, talvez achasse que ele estava com uma arma, a resposta é que ele caiu no chão feito um paquiderme.
— Mas que merda é isso? — Olhei do outro lado da travessia.
O mendigo simplesmente passou por cima do bombadão e fugiu com sua carteira, em meio a protestos de: "Pega ladrão!" "Pega ladrão".
Definitivamente não precisa ser mágico para fazer com que as pessoas as maiores asneiras possíveis, basta intimidá-las com o medo, ou ter um bafo do cão. Vai entender...
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