domingo, 26 de maio de 2019

Félicette, a primeira gatonauta


           Em 24 outubro de 1963, os pesquisadores aeroespaciais franceses lançaram uma gata de rua, Félicette, ao Espaço. Os russos já tinham lançado Laika no Sputnik II, em 1957 e os americanos tinham lançado dois chimpanzés ao cosmos, no mesmo período.



         Os franceses, no contexto de negação tanto aos americanos quanto aos soviéticos, resolveram desenvolver uma bomba atômica própria e um programa espacial próprio. O módulo subiu 210 quilômetros acima da Terra no foguete francês Véronique AG1, voando alto no deserto do Saara argelino. Félicette voltou quinze minutos depois, já condecorada como heroína de sua nação.
            Após seu pouso, cientistas franceses do Centro Educacional para Aviação e Pesquisa Médica (CERMA) estudaram as ondas cerebrais de Félicette para ver se elas tinham sido alteradas na sua viagem. Embora não se saiba muito sobre suas descobertas, ou sobre o destino final de Félicette, o CERMA disse que ela fez uma “contribuição valiosa para a pesquisa”.     

A tentativa dos franceses de entrarem na corrida espacial e a bomba H tem muita a ver com as desavenças de  De Gaulle com o Eisenhower (depois com o Kennedy) no início dos anos 60; Os franceses ainda achavam que eram uma grande potência e deveriam ser tratados como tal no plano diplomático mundial.
       O presidente De Gaulle era tão ousado que tirou a França da OTAN em plena Guerra Fria , refletindo os atritos que os franceses tinham com países anglófonos, primeiro a Inglaterra depois os Estados Unidos. Com a Guerra da Argélia e da Crise do Canal de Suez, as relações entre a França e os Estados Unidos pioram e os franceses acabam construindo conversações com o bloco soviético. O programa espacial francês inclusive pode ser relacionado à tentativa de fazer misseis para demonstrar aos americanos (e também aos soviéticos) o poderio tecnológico francês.

                                                 Vídeo sobre o voo de Félicette

        A Crise de Suez e a Guerra da Independência da Argélia mostraram que o orgulho francês permaneceu intacto mesmo após a humilhação dada pela Alemanha Nazista na Segunda Guerra, mas os soviéticos e americanos mostraram que a Europa não dava mais as cartas no mundo e aos poucos a França percebia que era uma idiossincrasia  manter um programa espacial dispendioso enquanto as colônias africanas se tornavam independentes.

          Félicette foi tratada como heroína pelo povo francês e foi lembrada como uma peça importante do orgulho nacional nos anos 60, mas o destino foi trágico e ela acabou esquecida. Logo após a viagem, a gatonauta já apresentava sequelas, ela acabou ficando cega e foi exposta a níveis de radiação fora do recomendado durante o voo orbital; Em virtude disso, ela sofreu uma eutanásia para que o seu cérebro fosse dissecado pelos cientistas aeroespaciais.





Sobre a diplomacia francesa no pós-Guerra, indico a série Au service de la France, disponível na Netflix, que mostra a Guerra Fria sob a perspectiva francesa.




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