sábado, 15 de junho de 2013

Protesto sobre o expurgo de nossos sonhos

      O que eu vi hoje foi a supra mostra da capacidade com que o ser humano pode esboçar brutalidade aos seus  semelhantes, nunca duvidei de sua capacidade, mas isso se tornou cada vez mais real. De um simples protesto pacífico converteu-se numa luta, numa batalha campal, pior, num massacre obliterado da maior grosseria contra aquilo que sou mais caro, a liberdade de expressão.

     Vi policiais batendo em manifestantes com cassetetes de madeiras, vi com meus próprios olhos jogarem torrentes de gás lacrimogênio contra nós, simples manifestantes, não se importando com o fato de haver crianças ou não. Dispararam contra a cabeça de alguns, enquanto um helicoptero carregava o cenário hostil circundando o terreno com um franco atirador armado contra nós... Nunca vi tamanha selvageria.

    Aquilo era uma guerra, uma guerra desnecessária: Acabaram por agredir nossos direitos, nossos direitos de fala e nunca perdoarei eles por isso. Nunca. Não era necessário, mas fizeram. Estupraram as nossas ideias, prenderam nossos ideias e cuspiram no nosso rosto enquanto nos batiam sem dó. Pedimos por nada menos que paz, nada de violência, e tudo que houve foi violência. A cavalaria atropelou pessoas, prisões e mais prisões... Vadios, simplesmente assim nos chamaram.

   Perverteram nossas ideias, compraram os jornais, disseram que estávamos errados. Simplesmente nos culparam por um crime deles, nos culparam por queremos falar. Nos culparam por sermos críticos e nos culparam por sermos humanos. Se esconderam no alto de suas fardas, foi isso que eu  vi; no alto de suas dragonas, nos ameaçaram com veículos blindados e com armas tão psicológicas que ainda estão na minha memória.

   Isso tudo para servir de interesse a outros... A turistas de uma Copa fadada a fracasso, fadada ao fracasso não porque não tenham terminado os estádios (eles terminaram, há um alto custo), fadada ao fracasso por não valorizar nós, por nos recusar a cidadania. Eles tratam com desprezo seus cidadãos e enchem de mimos aqueles que só vem para cá em uma temporada. Resultou numa vitória no futebol, mas uma derrota para a democracia.

    Estou em choque por ter na minha mente as imagens da selvageria, estou em choque por dizerem que isso é democracia. Por dizerem que temos ampla liberdade de locomoção, mas nos privar logo desse direito. Violam nossos direitos, ordenam que façamos coisas que não queremos, que não votamos (não consultaram a nós quanto ao fato se queríamos a biometria ou não, ou se queríamos a Copa). Violaram os meus direitos.

    Sim, me disseram que nada mais vale agora, que tudo já foi feito e que não adianta remediar o mal já feito. Se não adianta, tudo que sobrará é a morte do paciente, o paciente povo brasileiro. Não confio mais no governo, não confio em Partidos, e a partir de hoje, não confio na Humanidade... Aquilo foi um prenúncio da morte, se não foi do governo foi do nosso povo, o mesmo povo que insultou-nos quando seguíamos em fileiras. O mesmo povo que falou que não servíamos para nada e que estávamos errados.

    Eu desisti de pensar por essa gente, não por elitismo, mas por cansaço. Cansei-me de querer ajudar o futuro das pessoas, e cansei-me de me sentir tão desconfortável com a artificialidade dessa cidade. Agora eu quero me livrar desses entraves e talvez viver tão sobriamente quanto um presidente de uma banda oriental nas águas do Prata.

   Desilusão. Permitam-me dizer que encontrei pessoas boas nessa vida, encontrei pessoas honestas e caridosas. Um repórter que me deu um pouco de vinagre para enfrentar o lacrimogênio, um desconhecido que me ofereceu água quando estava com sede. Uma amizade que acabou nos livrando de graves apuros. E sim, eu vi também beleza nesse movimento, uma certa moça de colete que protestava de maneira tão discreta e elegante.

   Brasília é odiosa, essa cidade me  enoja. Enoja-me mais do que isso é o fato de desconsiderarem a caridade que eu vi em todas essas três horas no mais intenso sol infernal, e nos insultarem por estarmos sendo pacíficos. Pacificidade agora é coisa errônea, não se pode mais lutar por seus direitos. A vanguarda sempre apanha, mas hoje eu vi que toda uma legião de pessoas desconfortáveis com esse tipo de vida foi insultada pelos comentários infelizes dos mais diferentes demagogos. Não há democracia aqui e tudo o que eu vejo é uma ditadura se formando...

    Queria terminar dizendo que tudo vai melhorar, mas não tenho mais tanta certeza. Espero que aqueles que lerem o que eu escrevi saibam que tudo que faço e agi é com as melhores intenções e sempre estive disposto a fazer sacrifícios, assim como acredito que muitos dos que conheci também estavam com as mesmas intenções. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...