quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Perdi

           Perdi meu bloquinho de anotações. Perdi meu bloquinho com suas reflexões, eu perdi; Perdi meu companheiro de todas as ocasiões, amigo de todas as horas, com minha letra trêmula e os meus horários cortados. Perdi meu bloquinho com o telefone da minha namorada, com minhas liras apaixonadas; Não sei onde perdi, será me abraçando mais uma vez a você ou será que perdi nesse gramado após aquele acidente de trânsito?

         Perdi no caminho para casa? Não acredito que perdi, meu bloquinho, estimado bloquinho; Meu velho e bom amigo de todos os dias, perdi em tudo que eu queria; Tudo que eu queria que era escrever mais uma vez, mas perdi no meio do caminho, logo o meu bloquinho? Eu não vou superar aquilo, mas que merda! Meu bloco de notas, com as minhas anotações e dilemas, largado em algum canto, alguém achará que é uma carteira, e quererá levá-lo, mas quando perceber que é só papel o jogará no lixo. Malditos.

      Conheci minha namorada talvez por causa daquele bloquinho; Maldição, nem tive tempo em guardá-lo direito, meu bloquinho. Estou com uma dúvida existencial, ser ou não ser, onde será que andam as folhas de seu papel? Eu não sei, te perdi na aula? Claro que não, isso não seria possível, mas eu não lembro onde eu possa ter te deixado. Será que eu peguei o bloco e quis mostrar para alguém. Pera, eu quis, eu ia escrever alguma coisa, mas esqueci. Esqueci de novo, já não bastassem as mil vezes que esqueço meus óculos e agora esqueci meu bloco de notas! Idiota! Pathétique.

      O outono se adensa. Onde estará você, bloquinho. Onde você estará? Jogado em mais algum canto? É apenas um bloco de notas, não merece ser tratado desse jeito; Vão jogá-lo no lixo com certeza, com todas as minhas emoções e reflexões, desde Marx até Hegel, até os versos apaixonados que eu escrevi quando estava frustrado. Igual aconteceu com os óculos de meu pai, relíquias de trinta anos atrás que despencaram do alto pelo esgoto da Universidade, levando a linda história de como meus pais se conheceram; Minha mãe que trabalhava na ótica, meu pai que era só um comprador. Isso não era algo que eu gostaria de perder, mas perdi.

      Perdi tantas coisas nesses tempos, por estar tão esquecido, mas não esqueço que mais do que isso, perdi minha tristeza; Principalmente quando estou junto de você, taí uma coisa boa que eu perdi, minha timidez. Bom, sou apenas mais um objeto achado, e você me achou no meio do nada, engraçado não; Numa fila do ônibus, numa conversa no banco, comentários e sorrisos. Um piquenique na grama, e beijos. Doces beijos. FOCO. Cadê o nosso foco?  Não faz falta quando estou com você.

     Perdi meu caderninho em algum lugar, claro que vou comprar outro, mas foi com esse caderninho que eu peguei o seu telefone e nos conhecemos; Espera, não peguei o seu telefone, peguei o seu nome no Facebook. Bom agora me senti menos culpado, mas foi naquele caderninho que mostrei como se usa uma caneta tinteiro.

      Pô, perdi parte de mim quando perdi aquele bloquinho, mas ganhei mais de mim quando passei a conhecer você; Com minhas minúcias e as suas também. Com meus versos falhados e nossos beijos apaixonados, nossos abraços e os seus sorrisos; Meus olhares pidões e seus olhos sempre tão amáveis que conquistam cada vez mais o meu coração. Não, não perdi, ganhei. Parando pra pensar, mais alguém para conversar.  Alguém para sentir e amar, isso um simples papel não pode expressar.

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