quarta-feira, 14 de maio de 2014

Um rato



         Escondido no meio da multidão de livros e textos, na bagunça de um escritório mal-arrumado com a luz fraca piscando, um pequeno roedor corria pelos montes de tralha, fugindo da luz e dos seus incômodos seres humanos.


          Corria com medo e uma velocidade de foguete, correu  de um lado para outro como nunca iria imaginar. E essa criatura sabe como agir. Maldito, correu atrás de conforto e conseguiu, passou por debaixo das minhas pernas e começou a roer a capa dos livros. Como te odeio ratinho!

          Te deram um nome, Baltazar. Nome de demônio, nada mais justo sua bola de pelos de menos de quinze centímetros que rói a quina da minha mesa e faz suas necessidades em papéis deveras importantes. Como te odeio, ratinho.

           Seu rato excomungado! Onde te escondestes! Fostes mais para longe que o meu antigo amor partiu tempos atrás? New York? Nem lembro mais direito, nem me esforço a lembrar. Mas eis que lembro que você voltou, meu caro engodo, meu companheiro parasita. E se eu comprasse um gato?

               Felinos são preguiçosos e duvido que ele correria atrás de ti. Além do mais que nome daria para ele? Batatinha se fosse azul escuro ou Manda-chuva se fosse amarelo com chapéu. Esse felino preguiçoso iria acabar fazendo amizade contigo só para me enganar.

            Sua cabeça vai ficar a prêmio,  seu roedor infeliz. Vou por o seu retrato em todas as paredes possíveis e vou dar como prêmio um maço de cigarros. Porque você não vale mais do que isso, fumaça;
  
             Pior que você conseguiu a simpatia da mulheres, não entendo isso, talvez porque você não tenha corrido para morde-lhes o pé da saia; Nisso foste esperto, além disso os homens tem receio de te matarem no mano a mano. Vou ter que comprar uma caixa e te jogar para bem longe. Que acha do Alaska? O Alaska é muito frio e acolhedor, um bom lugar para um ratinho que nem você.

             Ou mesmo as veredas do sertão, para que você queime no sol e vire um churrasquinho de rua.

            Como odeio seu aspecto impessoal, ratinho, como eu odeio sua inconveniência de entrar sem pedir licença, como te odeio por ser mais alegre e popular do que eu. Como eu te odeio, ratinho.


               Meu amor me largou numa noite dessas e fiquei a ver navios, junto com os outros que eu perdi, mas você se vê confortável sob minha presença, escondido na soleira dos papéis avulsos e dos livros perdidos. Baltazar, seu ratinho de sorte! Quem diria que você seria tão amado!
  




              Estou com os olhos perdidos esperando o dia que você vai partir, e perderei sua companhia inconveniente perto de mim, escutando meus pensamentos, ouvindo minhas lamúrias, e ficarei novamente sozinho como sempre fui. Adeus Baltazar! Ratinho que só me trouxe azar.

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