Escondido no meio da multidão de
livros e textos, na bagunça de um escritório mal-arrumado com a luz fraca piscando,
um pequeno roedor corria pelos montes de tralha, fugindo da luz e dos seus
incômodos seres humanos.
Corria com medo e uma velocidade de
foguete, correu de um lado para outro
como nunca iria imaginar. E essa criatura sabe como agir. Maldito, correu atrás
de conforto e conseguiu, passou por debaixo das minhas pernas e começou a roer
a capa dos livros. Como te odeio ratinho!
Te deram um nome, Baltazar. Nome de
demônio, nada mais justo sua bola de pelos de menos de quinze centímetros que
rói a quina da minha mesa e faz suas necessidades em papéis deveras
importantes. Como te odeio, ratinho.
Seu rato excomungado! Onde te
escondestes! Fostes mais para longe que o meu antigo amor partiu tempos atrás?
New York? Nem lembro mais direito, nem me esforço a lembrar. Mas eis que lembro
que você voltou, meu caro engodo, meu companheiro parasita. E se eu comprasse
um gato?
Felinos são preguiçosos e duvido que ele correria atrás de ti. Além do mais que nome daria para ele? Batatinha se fosse azul escuro ou Manda-chuva se fosse amarelo com chapéu. Esse felino preguiçoso iria acabar fazendo amizade contigo só para me enganar.
Sua cabeça vai ficar a prêmio, seu roedor infeliz. Vou por o seu retrato em
todas as paredes possíveis e vou dar como prêmio um maço de cigarros. Porque
você não vale mais do que isso, fumaça;
Pior que você conseguiu a simpatia
da mulheres, não entendo isso, talvez porque você não tenha corrido para
morde-lhes o pé da saia; Nisso foste esperto, além disso os homens tem receio
de te matarem no mano a mano. Vou ter que comprar uma caixa e te jogar para bem
longe. Que acha do Alaska? O Alaska é muito frio e acolhedor, um bom lugar para
um ratinho que nem você.
Ou mesmo as veredas do sertão, para que você
queime no sol e vire um churrasquinho de rua.
Como odeio seu aspecto impessoal,
ratinho, como eu odeio sua inconveniência de entrar sem pedir licença, como te
odeio por ser mais alegre e popular do que eu. Como eu te odeio, ratinho.
Meu amor me largou numa noite dessas
e fiquei a ver navios, junto com os outros que eu perdi, mas você se vê
confortável sob minha presença, escondido na soleira dos papéis avulsos e dos
livros perdidos. Baltazar, seu ratinho de sorte! Quem diria que você seria tão
amado!
Estou com os olhos perdidos
esperando o dia que você vai partir, e perderei sua companhia inconveniente
perto de mim, escutando meus pensamentos, ouvindo minhas lamúrias, e ficarei
novamente sozinho como sempre fui. Adeus Baltazar! Ratinho que só me trouxe
azar.
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