quarta-feira, 28 de maio de 2014

Jardim dos pensamentos

               A noite estava mais escura e densa do que o habitual, uma fraca fonte de luz iluminava o pequeno jardim subterrâneo de modo que as folhas pontiagudas de um bambu chinês e a pedra lascada sobre a grama esverdeada conferiam uma aparência estranhamente acolhedora e confortável que se defrontava com o olhar de censura e austeridade de um pesado cipreste negro.

               Um vaso contendo uma muda de palmeira da Arábia decorava as pesadas paredes de concreto envelhecido e acinzentado, preenchendo o vazio com o toque minimalista de sua arquitetura modernista. As flores vermelhas do jardim, as crisálidas cantantes, o grilo solitário que saltitava pela grama, a terra negra onde cresciam filetes de grama, tudo isso era apenas uma parte anterior de um jardim de um abeto transtorno, que tombava em seu próprio eixo. Essa natureza cada vez mais delicada e cada vez mais negligente era sedutora aos olhos à noite.

             As grades escuras das salas contíguas ao jardim traziam amarras aos simples objeto de reflexão que saltava aos olhos enquanto os muros nus de tijolos vermelhos acariciavam de maneira um tanto agressiva o contorno dos olhos; O silêncio fúnebre de melancólicas formas preenchia esse vazio existencial e o medo saltou sob a bílis trazendo um refluxo que vinha do estômago até a glote. Esse silêncio, nada mais que silêncio brindava a noite com um suave sossego, e tal sossego me dava medo, bastante medo.

           De nada adianta ficar falando sobre o nada se tudo o que há a admirar é o suave silêncio da noite consumida em trevas e um pouco mais que meras reflexões?

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