Estavam os dois sentados lado a lado, sob a égide da sombra da cúpula máxima do estonteante museu, sob o sol que se despedia do Planalto Central. Desejando apenas mais abraços e mais e mais beijos, que tão elegantemente tracejavam seus corpos. Pois sim, estavam sentados.
Certa altura ficaram taciturnos quando um semblante excêntrico e andar meio desvairado gritou para os dois que teimaram a responder com os olhos. Lembram até hoje o que ele disse:
— Vocês querem chá?
Era óbvio que não era um chá de saquinho Mate-Leão que se vende no supermercado, que precisa ser jogado na água quente para formar a infusão que fica saborosa com um pouco de açúcar, limão e mel. Não, não era isso, pensou o rapaz; Mas a moça, sorriu sem compreender, olhou para o namorado que desconfiava daquilo e disse:
— Chá!? Que chá?
— Chá...
O rapaz meio que se arrependeu com o esse adendo deixado pela moça, teria que ouvir um monólogo agora que no final de tarde não estava interessado de ouvir. Mas que coisa mais enfadonha não? Ver o camarada sentar ao seu lado regojizando o seu mal hálito enquanto coloca um tablete diminuto de cânhamo na sua perna direita e diz as propriedades de um subproduto pseudo-fitoterápico extraído das folhas de uma planta nativa da América do Sul.
Sentiu pois repulsa daquele pedaço de cânhamo posto sobre o tecido de sua calça, sentiu um nojo ao se lembrar que aquelas coisas eram carregadas no meio do mais profundo carrinho de esterco tratado com a amônia que usamos para limpar nossas casas e que para chegar ali, muito sangue deve ter sido derramado por causa daquele singelo tablete de madeira ignóbil.
Pois não tinha uma resposta pronta para aquilo, a tarde vinha sendo boa, mas não tinha gostado daquela parte:
— Isso, meus amigos, nos leva a viajar. Vocês estão interessados? — Disse sorridente e um tanto alucinado o vendedor.
Antes que pudesse dar uma resposta, que sairia da sua bílis certamente, e cortaria o seu semblante de aço. A moça pacientemente, sem mudar o tom de sua voz, olhou para o namorado, e disse calmamente ao vendedor:
— Moço, a gente só viaja na poesia.
"Moço, a gente só viaja na poesia". Essa foi a resposta do dia, confuso, o homem desapareceu sobre o pano o último pedaço de cânhamo que guardava consigo e vendeu para outro casal que também descansava sobre a cúpula do entardecer na capítal.
— Vamos sair daqui? — Sugeriu o rapaz.
— Pois sim.
E os dois se beijaram ali mesmo. "É por isso que eu gosto dela, ela sempre tem uma resposta na ponta da língua. Além de bonita, inteligente e muito simpática. Ainda é poetisa, em forma de verso e dona da rima e da boa poesia". Sorriram-se os dois, ela perguntou curiosa porque ele estavam tão sorridente a olhar para ela, e ele disse:
— Nada... — "Apenas você me faz feliz".
E saíram sobre o crepúsculo do entardecer daquele dia. Cada vez mais apaixonados e cada vez mais felizes, cada um consigo.
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