quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pois é... 2014

      Nunca mais tinha escrito dessa forma. Pois vejamos, 2014. Brasil.Como vai você Brasil?

     Terra mais longa do que o reino de Fez, mas tão demente quanto a louca da rainha de Espanha, Maria, que de louca pouco havia. Não sei vocês, mas o que vocês acham de 2014? Sério, eu estou perguntando sério? Será um bom ano?


     Poderá que sim, para os Estados Unidos, até lá eles poderão produzir petroleo a partir do xisto de uma maneira economicamente viável, estarão saindo da sua própria recessão e voltarão à liderança do mundo. O que é uma pena para outras potências, mas e o Brasil?

     O Brasil está surgindo em torno de uma bolha inflacionária, os preços aumentam de forma até exponencial e como se não estivesse aprendendo com os erros do passado, está se desenvolvendo uma bolha imobiliária que vai estourar a qualquer momento. Sim, o Brasil poderá estar em maus lençóis daqui não muito tempo.

     Mas por quê? Talvez por não ter aprendido com os erros do passado e ter aproveitado suas oportunidades, vendíamos tanta soja no porto que nem nos importávamos em perder uma ou duas sacas, com as demoras no envio pelas estradas; Achávamos que éramos o centro do Mundo, um mundo que tinha ficado  pequeno, mas nada mais éramos do que o celeiro do Mundo. Perdemos nossa indústria de maneira tão custosa quanto foi construída, de forma tão dramática, mas ninguém informa, não vendemos mais roupas como antigamente, carros ou mesmo bugigangas, vem tudo da China.

     Agora que perdemos nossa capacidade industrial, não vendemos nada até mesmo para a Argentina, que está pior que nós, e fechou-se num casulo em si mesma. O Mercosul está se tornando um fiasco, para tristeza de Mitre que tal espertamente tinha visto que uma aliança entre o Brasil e a Argentina era viável a ambos os lados, agora não é nem um pouco feliz ao Brasil.

    Não conseguimos vender e damos muitos privilégios à Argentina, e pior de tudo, deixamos que ela humilhe nossos vizinhos menores, o Paraguai e o nosso tão amigável Uruguai. Não devíamos deixar isso acontecer, mas deixamos.

     Estamos muito preocupados para uma coisa daqui um ano, uma Copa do Mundo. Uma mísera Copa do Mundo fez com que um país desse tamanho se mobilizasse tão rapidamente para obras, coisa que não fazia há pelo menos vinte anos, mas pelos motivos errados. Não era estádios que devíamos construir, mas  escolas e hospitais. Devíamos construir uma reforma educacional e universitária e poupar dinheiro para a Crise que está prestes a nos pegar daqui a pouco, mas achamos que construir um pasto para os ruminantes da bola algo mais importante.

    A maior desgraça que poderia acontecer ao Brasil é uma copa justamente agora, num momento como esse, perdemos a nossa grande chance de sermos uma Austrália ou um Canadá por pensarmos tão pequeno num barroquismo tão latino-americano como o nosso. Ontem vendíamos a ideia dos biocombustíveis, hoje importamos etanol dos Estados Unidos, ontem falávamos contra o protecionismo agrícola, hoje somos protecionistas contra o leite da Nova Zelândia, onde falávamos em bonança, hoje falamos em crise.

     O resultado foi bastante simples, não tivemos administradores decentes. Eu falo sério, não tivemos, o dinheiro que poderia ser investido em melhorias da sociedade está parado numa obra de transposição de um rio que não acaba nunca (a despeito da Grande Seca do Nordeste nesse ano),  numa ferrovia que só avança dois quilômetros por ano, num porto concedido ao Eike Batista que foi adquirido em meios duvidosos, uma hidroeletrica no Norte chamado Belo Monte de Merda que tem sua viabilidade econômica questionada e estádios que custam 1, 5 bilhão de reais (o câmbio do dólar-real está em R$2, 15, então algo perto a US$ 750 milhões), num lugar onde ainda se passa fome.

    Não entendo esse oba-oba, de repente deixamos de ser o Brasil e agora estamos virando a Noruega. Muita calma, essa propaganda toda é perigosa, nosso dinheiro está indo embora todos os meses no arroz, feijão, carne e tomate, e não é a toa. Inflação, a economia não soube acompanhar o nosso ritmo e os preços aumentaram. Aquecemos o mercado interno dando dinheiro aos mais necessitados, isso é certo. Mas deveríamos também poupar nossas receitas, o brasileiro culturalmente gasta o que não pode; Seja numa TV de plasma a setenta prestações ou numa roupa de uma grife que nem sequer vai usar no dia a dia (se bem que normalmente as marcas mais cobiçadas não são nem a Hugo Boss nem a Armani, mas a Lacoste).

     É difícil poupar, é. Mas onde não se poupa, os trigos se estouram mais fácil. Isso não falo só de nós reles cidadãos cumpridores dos nossos direitos, eu falo também do Estado, que está se endividando também a somas excessivamente altas. O Estado é mais do que uma empresa, é uma empresa com um papel social, mas não pode se pautar pelo prejuízo sempre e isso entra a questão da gestão.

     O governo impediu por um ano ou dois artificialmente que o preço da gasolina aumentasse ( a produção brasileira de petróleo está chegando ao seu esgotamento e o Pré-Sal demorará a ser explorado), importando gasolina da Venezuela e mantendo o preço estável para prejuízo para a Petrobrás para não alavancar a inflação. O problema que o preço estável da gasolina acabou inviabilizando o Pró-Álcool, o álcool deixou de ser lucrativo e ninguém mais usa álcool no tanque. Deixou de se desenvolver algo que o Brasil se destacava.

      Isso sem falar que a inovação científica brasileira sofre barreiras na própria estrutura burocrática do ensino superior, onde o sistema de bolsas do CNPQ é defasado e até atrapalha o desenvolvimento de tecnologia, assim, o retorno das universidades não é o esperado e cria-se o Ciência sem Fronteiras, que será talvez um grande fiasco, afinal de contas grandes mentes serão produzidas, mas não haverá laboratórios  de ponta, não haverá condições de trabalho favoráveis nem mesmo uma estrutura organizacional da própria educação que comporte esses especialistas, muitos ficarão no exterior mesmo.

      Isso sem falar nas medidas do governo usadas apenas por fins eleitoreiros, como o uso do ENEM, um teste que (convenhamos) é ridículo como padrão de avaliação na entrada dos estudantes e que mais parece uma cruzada de domingo. Ou mesmo questões mais ditas sociais, como o Bolsa Família.

      O Bolsa Família incha realmente o erário público, embora seja necessário ao Estado cuidar para que a disparidade social se reduza, não é simplesmente dando dinheiro que isso resolverá. Vale lembrar, que a questão deve ser dar emprego. Sim, formação ao pessoal que recebe benefício para se inserir no mercado de trabalho; Ninguém de bom grado (em condições normais) deve desejar receber dinheiro sem trabalhar.

     Voltando ao panem et circus. Acaba que temos um problema presente, a Copa não trouxe obras relevantes de infraestrutura (excetuando no Sul). A expansão dos aeroportos abarcará um seleto grupo, a malha rodoviárias interestadual e inttracitadina teve poucas alterações (com obras até embargadas pelo desvio de dinheiro de alguns governantes)  e até mesmo situações surreais acontecem.

     Por ocasião da Copa, todos os dias de jogos serão feriados. Como se não houvessem feriados demais no Brasil, colocou-se essa cláusula para que não se trabalhasse nos dias de jogo para não inchar o trânsito das grandes cidades. Verdade seja dita, os nossos dias estão sendo dados aos turistas.

    Criou-se linhas de ônibus especiais aos turistas para que eles não percam os jogos. Não sei vocês, mas não acho justo que exista ônibus para inglês vê enquanto eu vou expremido num ônibus caindo aos pedaços.

    Algumas obras mexem com a vida cotidiana dos cidadãos. O Estádio de Brasília: Não pode ser usado em sua plena capacidade, mesmo havendo placas solares de energia em sua armação, pois comprometeria o fornecimento de energia para pelo menos um terço do Plano Piloto. Isso quer dizer que numa suposta lotação do estádio, haveria gente, moradores que ficariam sem energia por causa do jogo.

    Fica a pergunta, o Estado governa para nós ou para os turistas. Engraçado que o Aldo Rabelo chegou até mesmo declarar que o Brasil está apto a sediar grandes eventos desde a vinda da família Real Portuguesa ao Rio (fugida de Napoleão) em 1808. Não sei vocês, mas expropriar casas de moradores para nobres "estrangeiros" (eram portugueses tanto no Rio como em Lisboa por ainda não existir brasileiros) ser uma mostra de ser apto de sediar um grande evento (a fuga de uma corte que perdeu uma guerra), algo muito forte.

    Eu acho surreal que ninguém realmente esteja interessado em observar os contratos das grandes construtoras das obras da Copa. Olhem com atenção para o nome das empresas que receberam concessões e as empresas que doam dinheiro para um partido X que está no governo. Tirem suas próprias conclusões e me digam se não é incomum.

     Ninguém olha atentamente para as finanças, é como se tivéssemos dinheiro eternamente. Economia é a gestão de bens que são escassos, a economia trabalha pela escassez.  E se não temos dinheiro para construir um hospital ou uma escola, como teríamos dinheiro para construir um estádio?

     Sim um estádio que talvez nem seja usado direito. Estádio de Brasília, vide. Grande encontro futebolístico dos times tradicionais do futebol candango: Dom Pedro x Ceilândia. Recorde de público pagante para vinte mil lugares (utopia), ou mesmo dar dinheiro a clubes cujas gestões não são tão índoles como deveria (sou corintiano, mas não confiaria a minha carteira à direção do Corinthians).


     Essas reflexões não estão postas como supras verdades, mas geram  reflexões. Pense que enquanto você reclama do preço do seu cafézinho, o governo gasta o seu dinheiro para uma coisa que talvez você nem usará. Já viu o preço dos ingressos?

    A economia está frágil demais para um evento como esse, a sociedade sofre desde a construção do Brasil e vai sofrer mais ainda por nada. Afinal, qual foi o retorno da Copa de 50 ao Brasil. Foi no Rio, não foi? Nós até perdemos a Copa para o Uruguai (e com a seleção que temos hoje, vamos perder de novo). Belo investimento mesmo, hein.

    Mas o Charles de Gaulle estava errado ao dizer que "O Brasil não era um país a ser levado a sério", na verdade ele é para ser levado a sério, seríssimo, mas apenas nos contos de fada. Não se pode imaginar que cometemos tantos erros e ainda assim voltamos a cometer de novo.

   PS: Antes que me acusem de antipatriotismo eu digo o seguinte: O Brasil é feito de brasileiros, e são os brasileiros que fazem o Brasil. Não estou batendo contra o meu povo, estou batendo contra o meu governo, se queres me por como antipatriota, lembre-se, não sou eu que estou deixando com que sofram mais da conta pessoas que não terão ganho nenhum com a Copa. Só estou sendo sensato

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