Era uma tela sobre um cavalete de carvalho, ou talvez fosse jacarandá. Era um quadro sobre o suporte de madeira trípede pintado à óleo por algum artista. As cores vibrantes, em tonalidade dissonantes, o ocre, o Azul da Prússia, o Vermelho Van Dyk, a sombra verde-oliva, o branco e o amarelo misturado, poderia ser um Cezánne, ou uma tela qualquer de Van Gogh, mas era de um pintor desconhecido.
Contrastando com as outras telas que remetiam a paisagens abstratas e a mundos desconhecidos, tinha algo de hispânico naquela tela. Algo de ibérico, como se fosse um capricho de Picasso depois de uma noite de bebedeiras, não era uma obra italiana, nunca chegaria perto do Renascimento de Boccacio ou das grandes telas dos artistas florentinos. Não seria uma peça do Hermitage, mas poderia ser uma tela de algum museu latino-americano.
Um muralismo em pequena escala, ou um minimalismo em larga escala, a tela tinha 50x30 e foi desenhada sob a balada de um jazz romântico, ou um acorde instrumental de Noel Rosa, sob as batucadas de um saxofone, e quem dera sob alguns tragos de conhaque, mas aquela tela era virgem de qualquer inspiração etílica, ela veio na cabeça.
Uma moça, uma jovem moça bonita aparentemente, de grossos lábios vermelhos, longos cabelos negros e pele amarelada de tantos sóis. Com uma camisa azul colada sob os seios pequenos de seu tronco e uma saia vermelha com um pouco de mostarda. Uma obra experimental, diferente das outras, feia pelo traço disforme,sem proporções de áureas e bonita pelo arranjo de cores e tonalidades; Nada valeria aquela peça, nenhum museu aceitaria recebê-la, de fato, nem queria o seu autor isso; Era uma tela de despedida, uma tela para ser rasgada ao meio. Uma tela que não merecia ser chamado de quadro, apenas de um vômito criativo.
O pincel foi a falange da mente, a tinta foi o sangue da ideia, e a tela foi o corpo a ser esculpido. Era uma tela que poderia ser de Cézanne ou de um Capricco Español de Picasso, mas era uma tela de um autor desconhecido, esquecida num cavalete de carvalho ou jacarandá, no fundo de uma biblioteca abafada onde a luz branca no teto não favoreceria a pintura de nenhuma maneira.
sábado, 18 de janeiro de 2014
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