quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os desafios da República

      Cícero repousa nas mentes dos críticos como aquele que cedia às pretensões da demagogia e da corrupção do Senado, entretanto, Cícero era meramente um salvador da República. As tentativas frustradas de Catilina em perverter a juventude com promessas e mentiras tortuosas traziam insegurança para Roma e assim para o crescente império que nascia.

     Como autoridade consular, Cícero conseguiu conter a conspiração de Catilina que levaria ou ao fim do Senado, ou à uma Ditadura, mas não conseguiu vencer o surto de ascensão e demagogia de  César.E é isso que vivemos desde então, a crescente luta de César contra Cícero. Do poder executivo contra o poder legislativo, contudo isso é no plano hipotético.

     Num país distante e estranho, onde o ano começa em Março e termina praticamente em Novembro, nada é mais canceroso que o poder legislativo, isso porque a Res pública, a coisa pública não é inteiramente dissociada da coisa privada. O sistema democrático brasileiro ainda é incompleto de tal forma que o paternalismo, clientelismo e outras distorções da ordem democrática produzidas pelo populismo dilapidam as estacas de madeira da Democracia como cupins. A armação se apodrece e se finda num estampido de verão.

     A democracia foi interrompida com uma Ditadura. Não obtivemos um Péricles, mas lecionamos e gestamos muitos Demóstenes, populistas  e corrompidos que levam o povo à luta contra os macedônios, influindo sua ira contra esse poderoso vizinho (Estados Unidos) e ganham ao mesmo tempo o ouro dos persas para trair o seu próprio povo. Não são guerreiros e fogem à primeira luta sangrenta como covardes que sempre foram. A batalha pelas ideias só se dará por uma completa Zeitgeist que não virá agora, ou em 15 anos, pois os desagrados do Lula-petismo continuaram agindo para dilacerar ainda mais o sistema democrático em torno da profunda centralização política. Isso não é culpa exclusivamente do lula-petismo, mas da conjugação de uma vertente progressista (com ideias não muito claras de como se transformar o Brasil e encarar os problemas existentes) com as velhas elites políticas que continuam a atuar nos altos escalões do governo com sua cancerosa inércia alicerçada pelas redes clientelares. Assim, o movimento que nasceu das massas se esqueceu do seu berço no ABC Paulista e passou a apenas a circular nos altos cafés de Brasília.

    Os "trabalhistas" eram excelentes na oposição, excelentes fiscalizadores e questionadores, mas como governantes, embora tenham dado grandes mudanças ao país, acabaram perdendo seu vigor revolucionário e questionador que tinham inicialmente e acabaram seguindo uma tendência aguçada ao nacional-populismo e ao centralismo político.

    O Brasil sempre foi um país com uma tendência de centralismo, e essa tendência acaba envelopando o seu sistema disforme e hipertrofe de burocracia que com seus curtos tentáculos acaba não chegando aos rincões do Brasil. A corrupção é absorvida por esse mostro em forma de Leviatã e a única opção que temos é a formação de um sistema parlamentarista desvencilhado das grandes famílias do interior do Brasil.

    O Brasil é um grande Portugal, sempre foi, sempre será e a sua tendência ao autoritarismo não desaparecerá tão cedo enquanto seu sistema democrático for completamente incompleto como é hoje. As transformações de hoje irão desaparecer na preguiça de amanhã e o grande momento que tivemos para mudar foi jogado foi em virtude da nossa incapacidade dos dois modelos políticos que já se esgotaram, o neoliberalismo e o nacional-populismo.

     As Três Romas caíram; (Roma, Constantinopla, Moscou) Brasília é a quarta e não haverá uma quinta. Será? Precisamos desses embates cancerígenos entre César e Cícero? Das conjurações de Catilina? Precisamos passar pelo horror do assassinato dos irmãos Graco? Entramos no Declínio e Queda do "Império" Brasileiro, que antes tentava se inserir internacionalmente, tinha uma força dentro do próprio continente latino-americano e na África e hoje não tem força nem mesmo dentro de sua  própria porteira.


    A imensa fazenda que se formou em torno da Ilha de Vera Cruz e do Monte Pascoal está para virar cinzas nas areias da História. A grande oportunidade de construirmos um admirável mundo novo, mais justo e igualitário tornou-se uma distopia digna de Huxley. Não sei em caminho estamos seguindo, mas acho que é para fora do socialismo ou mesmo para o desenvolvimento econômico. O desemprego cresce e  não sabemos mais em confiar,  só sabemos que não podemos confiar na propaganda eufórica do Governo. Há mais igualdade social nas ruas, mas o dinheiro não compra mais comida como antes.

   A inflação cresce, o desemprego também. O custo de vida sobe, as oportunidades diminuem. Muitos se especializam, mas aos poucos compreendem que isso não lhes conferem grandes vantagens, se deprimem e esquecem dos sonhos de antes. O Brasil é um grande Portugal e entrará em falência quer digam que sim ou não. Falência moral e financeira.

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