Bateu uma vontade de fechar esse blog, largar os meus escritos e partir para algum canto no meio do mato;
Bateu uma vontade incontrolável de desaparecer pelo mundo, no meio do nada, num lugar sem internet e nem wi-fi, onde ninguém pode me achar.
Ir para uma praia na Santa Catarina, olhar o verde colorido das águas tocarem na areia fina nos meus pés, enquanto subia uma colina e ia para o hotel.
Bateu essa vontade, mas acho que não seria muito feliz, pois mesmo no paraíso a gente saudade, a gente sente remoço, a consciência é uma tortura aos olhos.
Estou cansado, estou cansado de tudo; Do calor, do vazio, de Brasília, estou cansado até dos livros. Estou cansado de tédio, cansado de ser cético, cansado de viver sem te olhar. Está na hora de virar hippie, me enfiar no meio do mato, ou então um mochileiro e desaparecer num mundo sem fronteiras onde cada vez que ando eu sinta menos vergonha de ter dito que te amava, e sinta cada vez mais saudade de você.
Não há fronteiras, não há caminhos desconhecidos; Essa vontade cresce e cresce e desaparece sem dar mostras que irá voltar. A vontade passou...
sábado, 29 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Dumoncel
1. Segredo contado, indiscriminado, travesso; Renascimento da cavalaria.
2. Infiltração demasiada das nuvens sobre o meio ambiente
3. Primeiro gorjeio da manhã.
4. Longo passeio da tarde.
5. Dumoncel, neologismo latinizado surgido do glossário aleatório do uso de um dicionário.
No silêncio daquela manhã, surge-lhe um pequeno dumoncel junto ao pé do ouvido, um novo termo, um novo sentido.
É interessante ficar brincando de neologismos
2. Infiltração demasiada das nuvens sobre o meio ambiente
3. Primeiro gorjeio da manhã.
4. Longo passeio da tarde.
5. Dumoncel, neologismo latinizado surgido do glossário aleatório do uso de um dicionário.
No silêncio daquela manhã, surge-lhe um pequeno dumoncel junto ao pé do ouvido, um novo termo, um novo sentido.
É interessante ficar brincando de neologismos
Um poema qualquer
Estou com frio
Estou doente
Sou quase hipocondríaco
Queria estar de cama
Sob os seus cuidados
Ouvindo a sua voz
E as suas mãos me ajudarem
Tudo é tão vazio
Nesse oriente
Melancólico
Quem mandou me sujar na lama?
Com os ventos tão nublados
De brandir feroz
E as águas passarem
Estou com frio
Estou doente
Mas não é uma doença comum
Estou doente de paixão
Porque eu nessa cama
Sinto cada dia, cada hora
Vontade de ver você
Estou doente
Sou quase hipocondríaco
Queria estar de cama
Sob os seus cuidados
Ouvindo a sua voz
E as suas mãos me ajudarem
Tudo é tão vazio
Nesse oriente
Melancólico
Quem mandou me sujar na lama?
Com os ventos tão nublados
De brandir feroz
E as águas passarem
Estou com frio
Estou doente
Mas não é uma doença comum
Estou doente de paixão
Porque eu nessa cama
Sinto cada dia, cada hora
Vontade de ver você
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Um conto sobre um soldado chamado Mikhail
"Cuidado, cuidado; Metralhadora logo à frente"
Setembro, 1917, Front Oriental
"O que você está fazendo Ivan? Você enlouqueceu?"
O estampido brutamontes entrou sem cerimônia no tímpano de Mikhail deixando-o zonzo em meio à trincheira, era mais um daqueles "espremedores de batata" alemães. Mikhail caiu no chão com tanta coisa explodindo ao seu arredor e acabou sujando a sua gimnaterska no chão de terra batida da trincheira.
Ao seu lado gritava eufórico Ivan, brincando com um pedaço de perna de um morto, próximo ao falconete apontado para as posições alemãs: ""Marechal Ivan, preparar para apontar! — gesticulou com o membro decepado — FOGO!!!"
BUM!BUM! Pode-se dizer que os alemães ouviram bem o que Ivan falava, embora não entendessem russo:
— Mas que coisa infernal! Se não mantermos essa posição os alemães vão tomar essa colina, e se tomarem não estarão longe de Petrogrado! — Gritou o coronel.
O coronel estava certo, os alemães com certeza iria passar daquela colina e não seria difícil eles chegarem na capital. Malditos tempos infernais... Foi quando Mikhail se levantou com o telegrafo de fronte nas mãos.
— "O Telegráfo, camarada coronel"
— "Camarada coronel", com quem você acha que está falando, seu infeliz? — olhou-o com repugnância aristocrática — Veja minha patente, como um camponesinho como você pode me chamar de camarada? Devia mandá-lo fuzilar senão estivéssemos em tão maus lençóis!
O coronel franziu o seu maxilar e girou a manivela que fazia funcionar o pequeno telegrafo: — Aqui é Krutkin. Nossa posição está sem amparo logístico nenhum, nós não temos mais rifles nem munição. Quais são suas ordens, senhor?
"Minhas ordens são: RESISTIR! RESISTIR ATÉ O ÚLTIMO HOMEM! Nenhum passo para trás, não vamos perder essa colina!"
— Nenhum passo para trás... Mas estamos sem rifles.
"Você tem amor pela sua pátria, coronel? `Por sua mulher e por seus filhos?"
— Sim, general.
"Então cumprirá minhas ordens. Mandem colocar baionetas nos rifles e sorteie os rifles. Quem não tiver rifle segue o que tem, quando o que tiver morrer, aí pega o rifle"
— O senhor está sugerindo um ataque suicida?
"Estou sugerindo um ataque patriótico. Que esses paspalhos aprendam como são os russos de verdade!"
— Certo, general
"Boa sorte Krutkin"
— Não há sorte na morte, senhor.
Sombrio, o coronel desligou o telégrafo e gritou: "— Preparem os homens"
Retirou a sua garrafinha de vodka do bolso e bebericou um bocado e o ofereceu ao operador de telegrafo: "— Tome, você também vai precisar, meu chapa". O operador bebeu um pouco e logo em seguida colocou a ushanka na cabeça.
O coronel subiu para a borda da trincheira e retirou com uma linda Nagant prateada do bolso. Devia ter sido presente de alguém importante, porque ele beijou cerimonialmente o aço gelado do cano.
O operador de telegrafo guardou o instrumento e conseguiu com muito custo um rifle Mosin Nagant de cinco balas, uma trambolho pesado e bastante incomodo:
"Colocar baionetas!" — Gritou.
"Colocar baionetas!"
O coronel destravou o revolver e logo em seguida bebericou as últimas gotas de álcool que ainda permaneciam em sua garrafinha metálica, uma bela garrafa de bolso de prata que não fez questão ao jogar ela no chão de terra batida recheado de neve. Retirou a espada que tinha junto à cintura e gritou:
"Quem pela espada vier a nós, pela espada perecerá. Assim é e sempre será enquanto nosso exercito marchar!"
E saiu da trincheira com a espada gritando URA! URA! em direção à terra de ninguém...
URA!!!!!!
O operador de telegrafo seguiu logo atrás, junto com mais outros vinte homens, lado a lado em fila indiana, seguidos por mais outros, sobre o gargalhar das metralhadoras e os gritos histéricos das granadas que cavavam com força o campo de batalha.
Muitos homens caíram no meio do ataque, alguns do lado do pobre rapaz, mas ele continuava a correr atirando as últimas balas de seu rifle contra os alemães, embora não tivesse mira de nada. Tinha perdido o coronel no meio daquela carnificina, tudo que tinha era a vontade de viver, e ferrar com a vida de um "alemão desgraçado".
Os apelos revolucionários não eram nada naquela hora, a irmandade dos povos era totalmente esquecida. Tudo o que se tinha era amigo, russo, e inimigo, alemão. Era algo meio maniqueísta mas no meio do campo de batalha era o que imperava.
Quando estava prestes a entrar na trincheira alemã, com os oponentes gritando: "Achtung! Achtung! Russiches in der berg", tudo o que o simples operador de telegrafo quis fazer foi fatiar o bucho de um daqueles alemães sujos e maltrapilhos que eram parecidos com ele, estavam também sob comando e não queriam lutar essa guerra.
O operador pensou nisso, sua mão tremeu e ele hesitou. Foi então que ele caiu, com uma bala de uma Walter de um oficial no peito, tremeu perante o "inimigo" erro capital.
O céu antes tão acinzentado começou a ficar turvo, Mikhail passou a ver tudo com maior dificuldade.. Ali caído na terra de ninguém tudo o que sentia era frio, o frio da terra entrar em seu corpo e um fio gelado correr sobre o seu peito. Tremelicou um pouco, achou tudo aquele tão injusto. Ele era tão jovem, só tinha vinte e poucos anos e ia morrer daquele jeito, num campo de batalha, numa guerra que não era dele e sem ver a Revolução.
Ouviu o brandir de uma balalaika no meio de todos aqueles tiros e sorriu, pensou no tio Afonya com o seu acordeon tocando no dia de São Nicolau no pequeno vilarejo que ele tinha nascido perto de Poltava... "Oh, meus campos, oh, vida injusta" E caiu ali no chão.
...
Quando acordou, pensou que fosse apenas um pesadelo. E era, ele não era um soldado chamado Mikhail e nem estava na Primeira Guerra. Era outra pessoa e estava na nossa época, dormindo confortavelmente em sua cama quente enquanto Mikhail adormecera para sempre naquele campo gelado de terra batida em algum lugar na Rússia.
Sentiu pena do pobre Mikhail, embora ele próprio tivesse pensado no sonho ser Mikhail... Mikhail, o pequeno camponês da sua idade, magricelo e sujo que só sabia mexer naquele telégrafo levado àquela guerra e que por uma infelicidade do destino tremeu ao tentar matar um semelhante e por isso morreu.
Ele se sentiu como Mikhail, viu que a vida era injusta. Viu como o coronel relutou cumprir as ordens, embora também não fosse bonzinho. Viu o agora insano Ivan gritar com um pedaço de um braço nas mãos ordens para batalhões que não existiam.
Foi então que o rapaz decidiu escrever, decidiu escrever o drama de Mikhail, desse rapaz, assim como os outros foram levados a uma guerra, e dela não voltaram e dos quais hoje não há mais nenhuma sombra, nenhum grão de pó.
Setembro, 1917, Front Oriental
"O que você está fazendo Ivan? Você enlouqueceu?"
O estampido brutamontes entrou sem cerimônia no tímpano de Mikhail deixando-o zonzo em meio à trincheira, era mais um daqueles "espremedores de batata" alemães. Mikhail caiu no chão com tanta coisa explodindo ao seu arredor e acabou sujando a sua gimnaterska no chão de terra batida da trincheira.
Ao seu lado gritava eufórico Ivan, brincando com um pedaço de perna de um morto, próximo ao falconete apontado para as posições alemãs: ""Marechal Ivan, preparar para apontar! — gesticulou com o membro decepado — FOGO!!!"
BUM!BUM! Pode-se dizer que os alemães ouviram bem o que Ivan falava, embora não entendessem russo:
— Mas que coisa infernal! Se não mantermos essa posição os alemães vão tomar essa colina, e se tomarem não estarão longe de Petrogrado! — Gritou o coronel.
O coronel estava certo, os alemães com certeza iria passar daquela colina e não seria difícil eles chegarem na capital. Malditos tempos infernais... Foi quando Mikhail se levantou com o telegrafo de fronte nas mãos.
— "O Telegráfo, camarada coronel"
— "Camarada coronel", com quem você acha que está falando, seu infeliz? — olhou-o com repugnância aristocrática — Veja minha patente, como um camponesinho como você pode me chamar de camarada? Devia mandá-lo fuzilar senão estivéssemos em tão maus lençóis!
O coronel franziu o seu maxilar e girou a manivela que fazia funcionar o pequeno telegrafo: — Aqui é Krutkin. Nossa posição está sem amparo logístico nenhum, nós não temos mais rifles nem munição. Quais são suas ordens, senhor?
"Minhas ordens são: RESISTIR! RESISTIR ATÉ O ÚLTIMO HOMEM! Nenhum passo para trás, não vamos perder essa colina!"
— Nenhum passo para trás... Mas estamos sem rifles.
"Você tem amor pela sua pátria, coronel? `Por sua mulher e por seus filhos?"
— Sim, general.
"Então cumprirá minhas ordens. Mandem colocar baionetas nos rifles e sorteie os rifles. Quem não tiver rifle segue o que tem, quando o que tiver morrer, aí pega o rifle"
— O senhor está sugerindo um ataque suicida?
"Estou sugerindo um ataque patriótico. Que esses paspalhos aprendam como são os russos de verdade!"
— Certo, general
"Boa sorte Krutkin"
— Não há sorte na morte, senhor.
Sombrio, o coronel desligou o telégrafo e gritou: "— Preparem os homens"
Retirou a sua garrafinha de vodka do bolso e bebericou um bocado e o ofereceu ao operador de telegrafo: "— Tome, você também vai precisar, meu chapa". O operador bebeu um pouco e logo em seguida colocou a ushanka na cabeça.
O coronel subiu para a borda da trincheira e retirou com uma linda Nagant prateada do bolso. Devia ter sido presente de alguém importante, porque ele beijou cerimonialmente o aço gelado do cano.
O operador de telegrafo guardou o instrumento e conseguiu com muito custo um rifle Mosin Nagant de cinco balas, uma trambolho pesado e bastante incomodo:
"Colocar baionetas!" — Gritou.
"Colocar baionetas!"
O coronel destravou o revolver e logo em seguida bebericou as últimas gotas de álcool que ainda permaneciam em sua garrafinha metálica, uma bela garrafa de bolso de prata que não fez questão ao jogar ela no chão de terra batida recheado de neve. Retirou a espada que tinha junto à cintura e gritou:
"Quem pela espada vier a nós, pela espada perecerá. Assim é e sempre será enquanto nosso exercito marchar!"
E saiu da trincheira com a espada gritando URA! URA! em direção à terra de ninguém...
URA!!!!!!
O operador de telegrafo seguiu logo atrás, junto com mais outros vinte homens, lado a lado em fila indiana, seguidos por mais outros, sobre o gargalhar das metralhadoras e os gritos histéricos das granadas que cavavam com força o campo de batalha.
Muitos homens caíram no meio do ataque, alguns do lado do pobre rapaz, mas ele continuava a correr atirando as últimas balas de seu rifle contra os alemães, embora não tivesse mira de nada. Tinha perdido o coronel no meio daquela carnificina, tudo que tinha era a vontade de viver, e ferrar com a vida de um "alemão desgraçado".
Os apelos revolucionários não eram nada naquela hora, a irmandade dos povos era totalmente esquecida. Tudo o que se tinha era amigo, russo, e inimigo, alemão. Era algo meio maniqueísta mas no meio do campo de batalha era o que imperava.
Quando estava prestes a entrar na trincheira alemã, com os oponentes gritando: "Achtung! Achtung! Russiches in der berg", tudo o que o simples operador de telegrafo quis fazer foi fatiar o bucho de um daqueles alemães sujos e maltrapilhos que eram parecidos com ele, estavam também sob comando e não queriam lutar essa guerra.
O operador pensou nisso, sua mão tremeu e ele hesitou. Foi então que ele caiu, com uma bala de uma Walter de um oficial no peito, tremeu perante o "inimigo" erro capital.
O céu antes tão acinzentado começou a ficar turvo, Mikhail passou a ver tudo com maior dificuldade.. Ali caído na terra de ninguém tudo o que sentia era frio, o frio da terra entrar em seu corpo e um fio gelado correr sobre o seu peito. Tremelicou um pouco, achou tudo aquele tão injusto. Ele era tão jovem, só tinha vinte e poucos anos e ia morrer daquele jeito, num campo de batalha, numa guerra que não era dele e sem ver a Revolução.
Ouviu o brandir de uma balalaika no meio de todos aqueles tiros e sorriu, pensou no tio Afonya com o seu acordeon tocando no dia de São Nicolau no pequeno vilarejo que ele tinha nascido perto de Poltava... "Oh, meus campos, oh, vida injusta" E caiu ali no chão.
...
Quando acordou, pensou que fosse apenas um pesadelo. E era, ele não era um soldado chamado Mikhail e nem estava na Primeira Guerra. Era outra pessoa e estava na nossa época, dormindo confortavelmente em sua cama quente enquanto Mikhail adormecera para sempre naquele campo gelado de terra batida em algum lugar na Rússia.
Sentiu pena do pobre Mikhail, embora ele próprio tivesse pensado no sonho ser Mikhail... Mikhail, o pequeno camponês da sua idade, magricelo e sujo que só sabia mexer naquele telégrafo levado àquela guerra e que por uma infelicidade do destino tremeu ao tentar matar um semelhante e por isso morreu.
Ele se sentiu como Mikhail, viu que a vida era injusta. Viu como o coronel relutou cumprir as ordens, embora também não fosse bonzinho. Viu o agora insano Ivan gritar com um pedaço de um braço nas mãos ordens para batalhões que não existiam.
Foi então que o rapaz decidiu escrever, decidiu escrever o drama de Mikhail, desse rapaz, assim como os outros foram levados a uma guerra, e dela não voltaram e dos quais hoje não há mais nenhuma sombra, nenhum grão de pó.
Um conto de sábado a noite
Trim! Trim! O tintilar do sino sacolejava como um vento preguiçoso aquela escura estepe de asfalto que varria toda aquela cidade. Trim! Trim! Não havia carros ou pedestres, tudo estava vazio e apenas um pedaço de papelão, de uma caixa qualquer, voava com o vento nervoso que sacolejava a cidade.
Trim!Trim! Relógio irritante! De uma estação qualquer de trem, se acha especial só por marcar as horas com precisão, quem pensa que ele é? Um relógio atômico?
Não, não era, era um simples relógio mecânico, daqueles bem antigos do início do outro século abismados com o tempo e tão pontualistas que chegava a irritar. Nem sequer era suíço, uma porcaria inglesa de uns cinquenta centímetros de raio que tinha um sino tão estridente que rompia os tímpanos.
Trim! Trim! 20h00. E sequer um trem para passar... Pensava consigo se fosse em outra época, tipo a Itália fascista, Mussolini era tão obcecado com o tempo que com certeza o trem não se atrasaria, mas é claro que ele não queria que os fascistas voltassem a andar por ai com as suas camisas negras gritando "Ave Duce! Ave Duce! Mussolini ha sempre ragione!". Não, realmente não queria.
Eram outros tempos, outro mundo. Um mundo que não tinha mais espaço para ditaduras, a não ser da beleza: Pessoas usando óculos ray-ban, tênis da Nike e camisas da Adidas perambulando por todo o canto. Ele odiava tudo aquilo e odiava mais ainda os tipos esquisitos que se vestiam como malandros do subúrbio dos Estados Unidos que achavam engraçado bater em mulheres e falar besteiras como roubar pessoas e matar policiais.
Não que ele fosse melhor, na verdade, ele se achava mesmo melhor; Usava terno risca de giz, uma gravata bordeaux de seda e uma camisa de colarinho branco virtuosa; tinha se esquecido como ficava bonito de terno.
Fitou mais uma vez o mapa da estação e ajeitou o colarinho da camisa e o nó da gravata; que bela gravata.
Queria que ela estivesse ali, a menina de quem ele gostava, mas não estava e ele aceitava isso; na verdade acho que ele sabia que ela não gostava muito de engravatados, o que era uma pena, porque ele ficava muito bonito de terno.
Aquela estação de metrô era um esteio para o silêncio e solidão, ninguém falava entre si e ninguém sorria, tudo que só ouvia era o estridente som dos trilhos latrilhando com o peso e som cada vez mais sonoro do trem se aproximando da estação.
"Estação Centro Metropolitano, desembarque à direita"
Esperou o amigo que desembarcava no próximo trem e quando os dois se encontraram, começaram a bater papo no meio daquela estação. Estavam ali os dois como dois papa-defuntos debatendo sobre futebol ou qualquer outra coisa sem importância. Era um casamento que eles deviam ir.
Um casamento... Tal palavra dava calafrios na espinha do rapaz, na verdade ele nunca gostou muito da ideia, mas tinha sido convidado pelo noivo em pessoa, então tinha que ir, não é mesmo? Fazia tanto tempo que não entrava em uma Igreja Católica, na verdade nem se lembrava, mas tinha a repulsa de pensar nos padres e nos ritos, mas quando entrou, sentiu pena das imagens do Antigo Testamento retratadas. Não, ele não era cristão, ele era ateu, mas tinha alguma educação religiosa e respeito pelo Antigo Testamento pelos anos que tinha sido judeu.
Um casamento é uma coisa enfadonha, mas ele estava feliz por seu amigo ter encontrado alguém bom, e ainda por cima bonita. Também ficou com um pouco de inveja, quando seria a vez dele de tremer de nervosismo na frente do altar enquanto a esposa se atrasava?
"Não tão cedo, eu espero", pensou consigo. Na verdade, até cogitou uma vez a hipótese de se ver casado com a menina de quem ele gostava, mas era tolice pensar nessas coisas, casamento não era necessariamente uma coisa boa.
Ele já tremia de nervosismo pelo noivo, e suspirou aliviado quando a noiva entrou na Igreja e o seu amigo deu um largo sorriso. "Então é mais ou menos assim que um noivo se sente. É, é tensão para toda uma vida!"
E assim coroando o amor dos dois, a noiva, vislumbrante, entrou na Igreja com a calda do seu vestido arrastando pelo piso de chenile vermelho, a Marcha Nupcial tocava a pleno ressoar dos trompetes. Nunca tinha visto uma execução tão bonita daquela música quanto naquele dia.
O padre, embora ele não fosse com a cara da maioria dos clérigos, era uma figura simpática, amigável, que tinha uma voz de dar sono. Foi esse padre, baixinho e meio rechonchudo, que conduziu a cerimonia, dando voz a uma penca de preces litúrgicas que o nosso referido em questão não acompanhou.
Quando ouviu a prece do amor, descobriu sozinho que não era mera paixão que guiava os homens era mais do que isso, percebeu que era bonito sentir amor por alguém, embora fosse estranho. Ele sorria do jeito meio bobo que o seu amigo olhava para a sua esposa, mas aí se lembrava que fazia a mesma coisa com a menina que ele gostava, que ele tinha o mesmo olhar e falava as mesmas besteiras.
Quando o padre falou que amar era mais do que sentir atração física, mas ter uma conexão mental e filosófica com alguém, desejar o bem para a outra pessoa e se predispor a compartilhar, foi aí que o nosso personagem entendeu que ele estava amando, não de maneira romântica, mas sintética.
Ele aplaudiu quando os dois noivos se abraçaram e se beijaram na frente do altar, mas sentiu um pouco de pena de si por saber que aquilo não era para ele, que ele nunca iria encontrar alguém que o fizesse tão feliz ao ponto de fazer aquela besteira que era se casar. Ou será que ele encontrou?
Ele se sentiu meio confuso com tudo aquilo: Ele sorrindo e aplaudindo um casamento dentro de uma Igreja e não se importando com isso.
Desejou em hebraico a felicidade dos dois e saiu despercebido na multidão sem aparecer no banquete em honra aos noivos, tinha ido ao casamento, era mais do que suficiente.
Pegou o trem de volta, o último por sinal, e teve que lidar com alguns arruaceiros no vagão, mas felizmente nada aconteceu. Nada que o pudesse separar de sua querida e amada moça.
Foi num comboio da integração e chegou meia noite em casa; Trocou de roupa e foi dormir, mas antes de dormir, rezou:
"Baruch Adonai,
Sei que não ando sendo um bom fiel do trato do povo de Israel com o Senhor. Mas Elohin, peço humildemente que leve em consideração uma coisa: acho que estou amando uma pessoa, faça com que ela seja feliz, por favor. Eu acredito no seu julgamento, só permita que ela seja feliz. Baruch ata Adonai, notên hatora"
Ele tinha se esquecido muita coisa que tinha aprendido de hebraico, mas fez até uma singela prece; Contudo logo depois se resignou, ele tinha se esquecido que era ateu? Por que estava rezando? E estava rezando por outra pessoa e não por si?
Ele fechou os olhos e se deitou: "O que anda acontecendo comigo?"
E adormeceu na sombra da noite.
Trim!Trim! Relógio irritante! De uma estação qualquer de trem, se acha especial só por marcar as horas com precisão, quem pensa que ele é? Um relógio atômico?
Não, não era, era um simples relógio mecânico, daqueles bem antigos do início do outro século abismados com o tempo e tão pontualistas que chegava a irritar. Nem sequer era suíço, uma porcaria inglesa de uns cinquenta centímetros de raio que tinha um sino tão estridente que rompia os tímpanos.
Trim! Trim! 20h00. E sequer um trem para passar... Pensava consigo se fosse em outra época, tipo a Itália fascista, Mussolini era tão obcecado com o tempo que com certeza o trem não se atrasaria, mas é claro que ele não queria que os fascistas voltassem a andar por ai com as suas camisas negras gritando "Ave Duce! Ave Duce! Mussolini ha sempre ragione!". Não, realmente não queria.
Eram outros tempos, outro mundo. Um mundo que não tinha mais espaço para ditaduras, a não ser da beleza: Pessoas usando óculos ray-ban, tênis da Nike e camisas da Adidas perambulando por todo o canto. Ele odiava tudo aquilo e odiava mais ainda os tipos esquisitos que se vestiam como malandros do subúrbio dos Estados Unidos que achavam engraçado bater em mulheres e falar besteiras como roubar pessoas e matar policiais.
Não que ele fosse melhor, na verdade, ele se achava mesmo melhor; Usava terno risca de giz, uma gravata bordeaux de seda e uma camisa de colarinho branco virtuosa; tinha se esquecido como ficava bonito de terno.
Fitou mais uma vez o mapa da estação e ajeitou o colarinho da camisa e o nó da gravata; que bela gravata.
Queria que ela estivesse ali, a menina de quem ele gostava, mas não estava e ele aceitava isso; na verdade acho que ele sabia que ela não gostava muito de engravatados, o que era uma pena, porque ele ficava muito bonito de terno.
Aquela estação de metrô era um esteio para o silêncio e solidão, ninguém falava entre si e ninguém sorria, tudo que só ouvia era o estridente som dos trilhos latrilhando com o peso e som cada vez mais sonoro do trem se aproximando da estação.
"Estação Centro Metropolitano, desembarque à direita"
Esperou o amigo que desembarcava no próximo trem e quando os dois se encontraram, começaram a bater papo no meio daquela estação. Estavam ali os dois como dois papa-defuntos debatendo sobre futebol ou qualquer outra coisa sem importância. Era um casamento que eles deviam ir.
Um casamento... Tal palavra dava calafrios na espinha do rapaz, na verdade ele nunca gostou muito da ideia, mas tinha sido convidado pelo noivo em pessoa, então tinha que ir, não é mesmo? Fazia tanto tempo que não entrava em uma Igreja Católica, na verdade nem se lembrava, mas tinha a repulsa de pensar nos padres e nos ritos, mas quando entrou, sentiu pena das imagens do Antigo Testamento retratadas. Não, ele não era cristão, ele era ateu, mas tinha alguma educação religiosa e respeito pelo Antigo Testamento pelos anos que tinha sido judeu.
Um casamento é uma coisa enfadonha, mas ele estava feliz por seu amigo ter encontrado alguém bom, e ainda por cima bonita. Também ficou com um pouco de inveja, quando seria a vez dele de tremer de nervosismo na frente do altar enquanto a esposa se atrasava?
"Não tão cedo, eu espero", pensou consigo. Na verdade, até cogitou uma vez a hipótese de se ver casado com a menina de quem ele gostava, mas era tolice pensar nessas coisas, casamento não era necessariamente uma coisa boa.
Ele já tremia de nervosismo pelo noivo, e suspirou aliviado quando a noiva entrou na Igreja e o seu amigo deu um largo sorriso. "Então é mais ou menos assim que um noivo se sente. É, é tensão para toda uma vida!"
E assim coroando o amor dos dois, a noiva, vislumbrante, entrou na Igreja com a calda do seu vestido arrastando pelo piso de chenile vermelho, a Marcha Nupcial tocava a pleno ressoar dos trompetes. Nunca tinha visto uma execução tão bonita daquela música quanto naquele dia.
O padre, embora ele não fosse com a cara da maioria dos clérigos, era uma figura simpática, amigável, que tinha uma voz de dar sono. Foi esse padre, baixinho e meio rechonchudo, que conduziu a cerimonia, dando voz a uma penca de preces litúrgicas que o nosso referido em questão não acompanhou.
Quando ouviu a prece do amor, descobriu sozinho que não era mera paixão que guiava os homens era mais do que isso, percebeu que era bonito sentir amor por alguém, embora fosse estranho. Ele sorria do jeito meio bobo que o seu amigo olhava para a sua esposa, mas aí se lembrava que fazia a mesma coisa com a menina que ele gostava, que ele tinha o mesmo olhar e falava as mesmas besteiras.
Quando o padre falou que amar era mais do que sentir atração física, mas ter uma conexão mental e filosófica com alguém, desejar o bem para a outra pessoa e se predispor a compartilhar, foi aí que o nosso personagem entendeu que ele estava amando, não de maneira romântica, mas sintética.
Ele aplaudiu quando os dois noivos se abraçaram e se beijaram na frente do altar, mas sentiu um pouco de pena de si por saber que aquilo não era para ele, que ele nunca iria encontrar alguém que o fizesse tão feliz ao ponto de fazer aquela besteira que era se casar. Ou será que ele encontrou?
Ele se sentiu meio confuso com tudo aquilo: Ele sorrindo e aplaudindo um casamento dentro de uma Igreja e não se importando com isso.
Desejou em hebraico a felicidade dos dois e saiu despercebido na multidão sem aparecer no banquete em honra aos noivos, tinha ido ao casamento, era mais do que suficiente.
Pegou o trem de volta, o último por sinal, e teve que lidar com alguns arruaceiros no vagão, mas felizmente nada aconteceu. Nada que o pudesse separar de sua querida e amada moça.
Foi num comboio da integração e chegou meia noite em casa; Trocou de roupa e foi dormir, mas antes de dormir, rezou:
"Baruch Adonai,
Sei que não ando sendo um bom fiel do trato do povo de Israel com o Senhor. Mas Elohin, peço humildemente que leve em consideração uma coisa: acho que estou amando uma pessoa, faça com que ela seja feliz, por favor. Eu acredito no seu julgamento, só permita que ela seja feliz. Baruch ata Adonai, notên hatora"
Ele tinha se esquecido muita coisa que tinha aprendido de hebraico, mas fez até uma singela prece; Contudo logo depois se resignou, ele tinha se esquecido que era ateu? Por que estava rezando? E estava rezando por outra pessoa e não por si?
Ele fechou os olhos e se deitou: "O que anda acontecendo comigo?"
E adormeceu na sombra da noite.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Nas planícies desse deserto
Nas planícies desse deserto
Um vale de lágrimas se afunda
No lodo coberto
A terra a roupa imunda
Nada nesse vale
Nada nessa paisagem
Me faz esquecer
O quanto vale o seu sorriso
Aquela estrela do Céu;
Aquela brilhante em Antares
Na Via Láctea doce
Inunda meus pensamentos
Minha rima patina
Meu amor não termina
Nessa noite escura, tudo que quero
É o ouvir mais uma vez o seu sorriso
Nessa noite de solstício
Abaixo do Cruzeiro do Sul
Isolado e sozinho no quarto
Tudo que penso em ti
Nesse fim de ano
Enquanto as crianças pedem
Carrinhos e boneca de pano
Eu peço um dia mais com você
Um vale de lágrimas se afunda
No lodo coberto
A terra a roupa imunda
Nada nesse vale
Nada nessa paisagem
Me faz esquecer
O quanto vale o seu sorriso
Aquela estrela do Céu;
Aquela brilhante em Antares
Na Via Láctea doce
Inunda meus pensamentos
Minha rima patina
Meu amor não termina
Nessa noite escura, tudo que quero
É o ouvir mais uma vez o seu sorriso
Nessa noite de solstício
Abaixo do Cruzeiro do Sul
Isolado e sozinho no quarto
Tudo que penso em ti
Nesse fim de ano
Enquanto as crianças pedem
Carrinhos e boneca de pano
Eu peço um dia mais com você
Na véspera de Natal
É noite de Natal, enquanto os outros festejam essa festa tão estranha em seu lares com suas famílias, decoram árvores de Natal e retalham em mil pedaços perus de Natal; As criancinhas desembrulham rapidamente o papel laminado dos presentes e agradecem ao Papai Noel por essa graça.
Passo pelas ruas, vejo tudo tão deserto: Os comércios não abrem, a polícia não faz mais rondas e sequer os bandidos estão com aquele espírito de roubar. Eis um espírito natalino que pairava a noite sem luar do solstício.
O Hanukkah passou e nem vi passar, a Festa das Luzes não foi a mesma, não teve graça e nem presentes; Foi apenas só uma data, uma dada como outra qualquer. Ano passado eu teria acendido as velas do meu candelabro (menorá), teria feito a reza da Torá e estaria usando o meu kipá, mas hoje... mas hoje nada disso me atraí.
Não há mais luz em minha vida, não há mais alegria quando começo a pensar que nada mais disso importa, que não me importa se é Natal, Hanukkah ou Ramadan. Tudo o que importa é que sinto saudades, e nessa cosmópole vazia, meu coração se consome, pois a luz da minha vida não é mais o Hannukkah, mas o seu sorriso que vi passar.
Passo pelas ruas, vejo tudo tão deserto: Os comércios não abrem, a polícia não faz mais rondas e sequer os bandidos estão com aquele espírito de roubar. Eis um espírito natalino que pairava a noite sem luar do solstício.
O Hanukkah passou e nem vi passar, a Festa das Luzes não foi a mesma, não teve graça e nem presentes; Foi apenas só uma data, uma dada como outra qualquer. Ano passado eu teria acendido as velas do meu candelabro (menorá), teria feito a reza da Torá e estaria usando o meu kipá, mas hoje... mas hoje nada disso me atraí.
Não há mais luz em minha vida, não há mais alegria quando começo a pensar que nada mais disso importa, que não me importa se é Natal, Hanukkah ou Ramadan. Tudo o que importa é que sinto saudades, e nessa cosmópole vazia, meu coração se consome, pois a luz da minha vida não é mais o Hannukkah, mas o seu sorriso que vi passar.
sábado, 22 de dezembro de 2012
Uma hora
Em uma hora produzi mais do que um mês inteiro; tudo por conta desse estranho sentimento que alguns chamam de amor. Amare em latim, quando declinado fica amo, que é o que eu digo todas as vezes quando estou apaixonado.
Essa noção filosófica de amor passa por tantas épocas e tantas sociedades que chega a ser difícil de enumerar onde encontramos o amor: Amor é aquele que Adão teve por Eva, que a despeito de todas as regras, cometeu o pecado quando amava a sua esposa.
Amor é quando Helena fugiu de Troia por jovem rapaz e sem querer causou uma guerra.
Amor é quando Platão discursava em um banquete e enumerou uma forma de amor de alguém que nunca seria correspondida que erroneamente é interpretada por alguns stalkers mal amados pela vida.
Amor é tudo aquilo que te leva a falar besteiras, agir de modo estranho e a sentir seu coração bater de um jeito mais lento e mais doce; É quando você começa a entender músicas melosas e se irrita quando falam de coisas sem a menor graça, e sem o menor vínculo com a pessoa amada... Não, isso é paixão.
Amor é bem mais do que isso, é um conceito que passa por sentimento, mas que no fim é sentimento, onde uma pessoa se compromete a fazer o bem pela outra e que não permita que nenhuma injúria suje tal desejo de bem fazer. Acaricia os seus cabelos e diz que te ama, quando você chora e sente só. É um sentimento tão puro, tão casto que chega a ser sublime.
Não se apega a lindos ternos e vestidos elegantes. Afinal o amor é paciente e bondoso, não maltrata e não guarda grande rancor. Se orgulha e se vangloria por amar sem qualquer interesse, pois o que reside no amor é a esperança. A esperança de ser amado.
Essa noção filosófica de amor passa por tantas épocas e tantas sociedades que chega a ser difícil de enumerar onde encontramos o amor: Amor é aquele que Adão teve por Eva, que a despeito de todas as regras, cometeu o pecado quando amava a sua esposa.
Amor é quando Helena fugiu de Troia por jovem rapaz e sem querer causou uma guerra.
Amor é quando Platão discursava em um banquete e enumerou uma forma de amor de alguém que nunca seria correspondida que erroneamente é interpretada por alguns stalkers mal amados pela vida.
Amor é tudo aquilo que te leva a falar besteiras, agir de modo estranho e a sentir seu coração bater de um jeito mais lento e mais doce; É quando você começa a entender músicas melosas e se irrita quando falam de coisas sem a menor graça, e sem o menor vínculo com a pessoa amada... Não, isso é paixão.
Amor é bem mais do que isso, é um conceito que passa por sentimento, mas que no fim é sentimento, onde uma pessoa se compromete a fazer o bem pela outra e que não permita que nenhuma injúria suje tal desejo de bem fazer. Acaricia os seus cabelos e diz que te ama, quando você chora e sente só. É um sentimento tão puro, tão casto que chega a ser sublime.
Não se apega a lindos ternos e vestidos elegantes. Afinal o amor é paciente e bondoso, não maltrata e não guarda grande rancor. Se orgulha e se vangloria por amar sem qualquer interesse, pois o que reside no amor é a esperança. A esperança de ser amado.
As coisas que penso quando não estou com você
Hoje eu senti ciúmes; Não que nunca tenha sentido, mas não me lembrava como era amarga a sensação na ponta da língua. É como um veneno que amarga a boca, corrói a garganta e dilacera a alma. Não gostei de sentir ciúmes.
Na verdade ando sentido algo parecido durante um tempo, mas consigo controlar esse sentimento. Acho tão estranho tudo isso, pensar que você pode conversar e sorrir com outros homens tal como comigo. Não estou aqui para monopolizar o sorriso.
Mas é tão bonito o seu sorriso!
Uma dádiva de Deus é vê-la sorrir tão despreocupadamente, mesmo à distância, às escondidas; E eu sinto inveja dos outros que a fazem sorrir, eu queria contar algo engraçado, tropeçar sobre um palanque, ou mesmo falar uma piada infame, tudo isso para ver o seu sorriso.
O seu sorriso é tão doce que me deixa diabético, a sua voz é tão deliciosa que parece um favo de mel e o seu olhar é tão fixo que entra na alma, de maneira positiva é claro; Agora entendo o que deve ser tudo isso, acho que a paixão está se transformando em algo mais, mas eu não sei;
Passamos tão reto esses dias, que até me esqueço de falar com você. Na verdade, eu nem queria falar com você, sua voz é tão doce que me deixa estasiado de tanto lirismo, se eu a deixar falar outra vez, passou dias pensando em você.
Não tem nem uma semana que não nós vemos e estou com saudades; Que estranho! Tem alguma forma de as férias serem tão aborrecidas do que ficar pensando em outra pessoa? Eu acredito que não. Se você, minha querida, estiver lendo isso, saiba que conto os dias e as horas que eu possa falar com você.
Na verdade ando sentido algo parecido durante um tempo, mas consigo controlar esse sentimento. Acho tão estranho tudo isso, pensar que você pode conversar e sorrir com outros homens tal como comigo. Não estou aqui para monopolizar o sorriso.
Mas é tão bonito o seu sorriso!
Uma dádiva de Deus é vê-la sorrir tão despreocupadamente, mesmo à distância, às escondidas; E eu sinto inveja dos outros que a fazem sorrir, eu queria contar algo engraçado, tropeçar sobre um palanque, ou mesmo falar uma piada infame, tudo isso para ver o seu sorriso.
O seu sorriso é tão doce que me deixa diabético, a sua voz é tão deliciosa que parece um favo de mel e o seu olhar é tão fixo que entra na alma, de maneira positiva é claro; Agora entendo o que deve ser tudo isso, acho que a paixão está se transformando em algo mais, mas eu não sei;
Passamos tão reto esses dias, que até me esqueço de falar com você. Na verdade, eu nem queria falar com você, sua voz é tão doce que me deixa estasiado de tanto lirismo, se eu a deixar falar outra vez, passou dias pensando em você.
Não tem nem uma semana que não nós vemos e estou com saudades; Que estranho! Tem alguma forma de as férias serem tão aborrecidas do que ficar pensando em outra pessoa? Eu acredito que não. Se você, minha querida, estiver lendo isso, saiba que conto os dias e as horas que eu possa falar com você.
Versos ligeiros
Abrirei minha mente tal como hoje abro a minha camisa e sigo de peito aberto ao meu futuro. Corro dali para cá, tão rápido, tão ligeiro, sem esquecer que a vida é uma só e é cigana por natureza. Itinerante e traiçoeira, de olhos oblíquos como os de Capitu e tão sedutores quantos os glaucos de Atena.
A sorte que há de me abraçar forte, mudar os meus destinos e me levar para distante de tudo, até do meu próprio tempo, pois estive aqui, e estarei ali. Não se esqueça, ligue pra mim.
Estamos tão longe um do outro que chegamos a ter leituras do mundo tão diferentes quanto os nossos versos e ainda assim sorrimos quando pensamos nas bobagens em que dizemos. Sei que você está pensando em tudo, menos no que pensamos quando estamos juntos.
Pois é, o antidoto para esse meu desespero traduz-se por palavras, palavras tão singelas, tão tolas que você julga como meigas, e eu julgo como infantis. Quando estou perto de ti palavras saem pela minha boca e tomam dimensões cada vez maiores, meu ego infla e me sinto tão arrogante que chego a pensar que você está pensando em mim. 20:20, e o telefone nem tocou;
A sorte que há de me abraçar forte, mudar os meus destinos e me levar para distante de tudo, até do meu próprio tempo, pois estive aqui, e estarei ali. Não se esqueça, ligue pra mim.
Estamos tão longe um do outro que chegamos a ter leituras do mundo tão diferentes quanto os nossos versos e ainda assim sorrimos quando pensamos nas bobagens em que dizemos. Sei que você está pensando em tudo, menos no que pensamos quando estamos juntos.
Pois é, o antidoto para esse meu desespero traduz-se por palavras, palavras tão singelas, tão tolas que você julga como meigas, e eu julgo como infantis. Quando estou perto de ti palavras saem pela minha boca e tomam dimensões cada vez maiores, meu ego infla e me sinto tão arrogante que chego a pensar que você está pensando em mim. 20:20, e o telefone nem tocou;
Na mais escura das noites
Derrubado no chão um homem deprimido, sentado em sua própria esperança numa daquelas noites tão frias e sem vida observa sem vontade o toque suave que caí do céus, um pequeno cometa, pequenino, e tão distante, que sorri tão gentilmente à terra.
Era um cometa ou um meteorito? Isso não sabia, mas era tão bonito, tão bonito o rastro do fogo aos olhos, com que os finos raios a brilharem iluminarem através das nuvens aquela cobertura celeste.
Esperança pura agora irradiava do chão, da terra escura, do chão batido de tantos pés e de tantas pedras. Levantou-se de novo para subir a dura montanha de pedra pura que era o seu coração. Aquela chuva que caiu aquela noite não serviu de acalanto para a chama que brotava de seu coração.
Em meio àquela selvageria, aquela escuridão que pairava sobre aquela colina ardia uma vida, tanto quanto um lampião de vidro que o óleo amarelado conduzia o fogo de uma alma. Não era uma chama de ódio, não era um fogo cego que queimava tudo o que tocava, era uma chama que aquecia os ossos naquela triste noite que era uma vida de alguém;
Sem medo das trevas, dos monstros e dos animais noturnos que rodeiam às pradarias ao longo da floresta da vida, floresce uma nova consciência de força e coragem. "Meu passado é uma bandeira, meu futuro é uma história"; Assim segue a rota da vida.
Era um cometa ou um meteorito? Isso não sabia, mas era tão bonito, tão bonito o rastro do fogo aos olhos, com que os finos raios a brilharem iluminarem através das nuvens aquela cobertura celeste.
Esperança pura agora irradiava do chão, da terra escura, do chão batido de tantos pés e de tantas pedras. Levantou-se de novo para subir a dura montanha de pedra pura que era o seu coração. Aquela chuva que caiu aquela noite não serviu de acalanto para a chama que brotava de seu coração.
Em meio àquela selvageria, aquela escuridão que pairava sobre aquela colina ardia uma vida, tanto quanto um lampião de vidro que o óleo amarelado conduzia o fogo de uma alma. Não era uma chama de ódio, não era um fogo cego que queimava tudo o que tocava, era uma chama que aquecia os ossos naquela triste noite que era uma vida de alguém;
Sem medo das trevas, dos monstros e dos animais noturnos que rodeiam às pradarias ao longo da floresta da vida, floresce uma nova consciência de força e coragem. "Meu passado é uma bandeira, meu futuro é uma história"; Assim segue a rota da vida.
Para entender a brisa
Venta à boro-este no país dos Ivérianos, numa tão distante planície de água tão densa e tão límpida que acaricia as pedras com o lamber de suas ondas, chiando remotamente um adocicado som de voz gorjeante.
Naquela praia isolada, encrostada nas pedras de um lindo rochedo branco de pedra calcária projetava-se um bolsão sobre a baía com os ciprestes mediterrânico pontuando cada parte daquela falésia ao céu aberto, trazendo alegria ao sol que estava acordando.
Caminhava sozinho, alegre e contente, cantando um hino desafinado à terra amada; seguia descalço com um chapéu panamá bem surrado e de camisa tão aberta que parecia um pescador:
"Enche de flores, terra dos jacintos;
Estenda minha mão sobre a violeta
Enquanto lírio do campo acorda
E o botão de rosa floresce"
Não era um pescador de certo, mas era como se fosse, um pescador de palavras, que inclinara a sua cabeça sobre a brisa e ficava contemplando o céu, tão límpido e tão sedutor, no alto das nuvens distantes uma cotovia voava tão preguiçosamente que o alegre jovem rouxinol, de novo pôs a cantar:
"Move incansável seus olhos
Inclina tua cabeça ao sol
Dispersa a névoa das nuvens sombrias
Que pairam sobre o seu coração
Sorri gentil para a terra
Como faria para amada
A geleira de acalanto
A bela musa suave dos céus"
Naquela praia isolada, encrostada nas pedras de um lindo rochedo branco de pedra calcária projetava-se um bolsão sobre a baía com os ciprestes mediterrânico pontuando cada parte daquela falésia ao céu aberto, trazendo alegria ao sol que estava acordando.
Caminhava sozinho, alegre e contente, cantando um hino desafinado à terra amada; seguia descalço com um chapéu panamá bem surrado e de camisa tão aberta que parecia um pescador:
"Enche de flores, terra dos jacintos;
Estenda minha mão sobre a violeta
Enquanto lírio do campo acorda
E o botão de rosa floresce"
Não era um pescador de certo, mas era como se fosse, um pescador de palavras, que inclinara a sua cabeça sobre a brisa e ficava contemplando o céu, tão límpido e tão sedutor, no alto das nuvens distantes uma cotovia voava tão preguiçosamente que o alegre jovem rouxinol, de novo pôs a cantar:
"Move incansável seus olhos
Inclina tua cabeça ao sol
Dispersa a névoa das nuvens sombrias
Que pairam sobre o seu coração
Sorri gentil para a terra
Como faria para amada
A geleira de acalanto
A bela musa suave dos céus"
domingo, 16 de dezembro de 2012
Uma síncope vespertina
Era uma
tarde, daquelas meio traiçoeiras nas quais o sol irrompe sobre as nervosas
nuvens do céu. Algo tinha de sedutor naquele tom meio acinzentado,quase de
asfalto, com o qual o dia havia nascido.
Tudo
era tão estranho, todo mundo estava com roupas de frio, mas tudo o que sentia
era calor. Muito calor por sinal. Tentou abrir a janela do comboio, mas nada
adiantou, naquele ônibus lotado, sequer podia ouvir a sua respiração.
Era um
calor ardente, ofegante, que vinha do peito e queria sair pela boca junto com o
coração. Ninguém notava, ou ninguém queria notar, mas ele transpirava horrores
pelas têmporas, fazendo cair o gélido filete de suor pelas magras maçãs do
rosto.
Para piorar, toda hora ele esfregava a língua nos lábios. Sentia uma sede absurda, uma vontade incontrolável por encontrar uma garrafa de água e bebê-la furiosamente. Chegava a ser inexplicável.
Parecia
saudável, embora a palidez do seu rosto fosse algo anormal. O tom opaco de sua
pele dava-lhe uma aparência meio póstuma para um jovem. Mesmo assim, parecia
ser saudável. Não falava, não sorria, só estava lá, em pé, esperando
ansiosamente chegar na estação.
O
ônibus estava lotado; Pessoas no fundo debatiam sobre a última partida de
futebol de domingo, mulheres meio obesas fofocavam com gosto a vida alheia, e
um casal de namorados se beijava num dos bancos.
O rapaz
viu com palidez tudo isso, parecia sentir algo ruim ao ver os dois se beijando,
um pouco de dor, arrependimento e uma pitada de inveja. Quando os dois
namorados desceram, sentiu seu ombro relaxar nas costas.
Um
vendedor de doces entrou no ônibus com sua cesta repleta de guloseimas, para
deleite das criancinhas e para o desespero das mães: “Olha a paçoca, a paçoquinha
bem docinha. 1 real.”
O
vendedor passou por todos os bancos, fustigando os passageiros com o seu grito
estridente de vendedor, mas mesmo assim só conseguiu vencer dois dropes e um
pacote de chicletes para algumas senhoras. Sendo completamente ignorado pelos
outros.
O
cobrador mesmo estava irritado com o jeito meio fanhoso com que o vendedor
falava, e deu graças a Deus quando o mascate foi para o fundo do comboio, não
antes sem gritar: “Vamos logo, minha gente, que estou descendo”.
O rapaz
fitou meio com agonia a cesta de doces, mas tudo o que conseguiu foi uma olhada
grosseira do vendedor com marcas de varíola; Aquele olhar resignava até o mais
duro dos homens.
Logo
quando desceu o mascate, uma parada depois, também desceram alguns engravatados
com pastas de couro nas mãos próximo ao Banco Central: Era o pessoal do funcionalismo
público, arrogante e presunçoso, embora também não tivesse onde cair
morto.
Faltavam umas duas estações para
a Rodoviária, e o rapaz se sentia cada vez mais fraco. O coração havia
disparado como se tivesse levado uma pancada no meio do peito, o suor escorria
pela sua camisa, tomando feições de uma tromba d’água e as pernas já não se
aguentavam mais em pé.
Numa das curvas, depois da parada
da Galeria dos Estados, no Setor de Autarquias o braço não segurou, e o jovem
se desprendeu na curva, caindo junto ao banco vazio... Felizmente ninguém viu
aquilo.
“Vamos, vamos, preciso chegar,
preciso chegar LOGO”, pensou consigo o rapaz.
Mas a sinaleira não ajudou em
nada e de quebra, o sedutor céu nublado tinha dado seus ares meio perversos naquela
proto-selva de pedra. Começou a chover fino no centro da capital, uma chuva tão
rala que nem merecia ser chamada de chuva, ainda assim isso não apagara a
situação de mal-estar que o rapaz presenciava.
Demorou-se enfadonhos cinco
minutos até a sinaleira abrir e o ônibus passar por cima do afamado Buraco de
Tatu, chegando assim na plataforma inferior da fedida e suja rodoviária da
capital. E isso não era hipérbole alguma, mesmo sendo uma das mais renomadas
obras de um famoso arquiteto, a Rodoviária era uma monstruosidade opulenta de
pobreza e gente. Nos seus boxes ainda se escondem mendigos e trombadinhas, à
espera do último níquel de algum desavisado, e a pedra branca tão suja
combinava tão bem com o concreto negro das calçadas mal cuidadas daquela construção.
“Vamos logo, vamos logo”, pensou
agora de forma categórica, a ansiedade o corroia por dentro, mais até que a
incomoda sensação de queimação que percorria-lhe no peito. De repente ele
começou a sentir que estava suando frio.
A lerdeza com que o ônibus se
movia só ajudava ainda mais o seu nervosismo, e para piorar, ele começou a ver
tudo distorcido, como se tivesse tomado algum psicotrópico que distorcera a sua
mente, mas não era nada disso.
Quando o ônibus parou, ele correu
para junto da porta que tão rapidamente saiu por ela quando se abriu. Tentou
correr, mas tinha muita gente na sua frente, naquelas imundas calçadas, então
foi cortar caminho pelo asfalto mesmo.
“Vamos logo, vamos logo, Anda.
Anda!”
Sentiu suas pernas ficarem bambas
e a garoa fina que caía sobre o seu rosto se afinava cada vez mais até que por
fim os seus olhos ficaram turvos e desabou no chão. Sim, ele caiu ali, aos
olhos de toda aquela gente que só pensou em seguir em frente, sem que ninguém o
ajudasse.
Caiu com o rosto virado para
cima, deixando gotejar sobre o seu olho o fino chuvisco do céu de Brasília, um
céu escuro e devasso, e olhando para longe, com um pequeno sorriso tentando
disfarçar a dor, imaginava ele uma menina, uma linda garota mesmo, até suas
vistas apagarem de vez.
“Cidadão! Cidadão! Você está bem?”
Gritava uma voz a qual não podia se distinguir, o garoto sequer sentiu ser
arrastado pelos policiais até a plataforma da rodoviária.
“Deve ter sido um ataque de
glicemia, talvez ele fosse diabético”... Talvez ele fosse.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Niilismo musical
Pedras rolantes esmagam besouros nas sombras da noite, enquanto a Rainha grita com o arquiduque Francisco Ferdinando nos campos de milho do Kansas colorido meio roseado naquele negro sabá no final do ano.
Um russo discutia com um Vila Lobbos a problemática que o aborto elétrico causava na sociedade contemporânea ocidental onde no tintilar da ode metálica Justin Bieber é rei e Nirvana é cult.
Alice sentada nas correntes da vida come o ardente chili de pimenta vermelha enquanto olhava as pérolas se acumularem ao fundo do rio, tão podre, tão sujo, declinado e extorquido por fazendeiros lunáticos munidos de pistolas sexuais.
Sem entender isso tudo o pequeno cachorrinho Snoop, aos embalos de James Brown, canta ao rei do soul uma música tão estridente que faz até o Clint Eastwood franzir o cenho. E tudo acaba com um Zeppelin luminoso cortando o céu roseado daquele dia enquanto a rainha continua a discutir com Francisco Ferdinando os rumos que toda essa alucinação psicotrópica ser resolvida à base de armas e rosas.
Um russo discutia com um Vila Lobbos a problemática que o aborto elétrico causava na sociedade contemporânea ocidental onde no tintilar da ode metálica Justin Bieber é rei e Nirvana é cult.
Alice sentada nas correntes da vida come o ardente chili de pimenta vermelha enquanto olhava as pérolas se acumularem ao fundo do rio, tão podre, tão sujo, declinado e extorquido por fazendeiros lunáticos munidos de pistolas sexuais.
Sem entender isso tudo o pequeno cachorrinho Snoop, aos embalos de James Brown, canta ao rei do soul uma música tão estridente que faz até o Clint Eastwood franzir o cenho. E tudo acaba com um Zeppelin luminoso cortando o céu roseado daquele dia enquanto a rainha continua a discutir com Francisco Ferdinando os rumos que toda essa alucinação psicotrópica ser resolvida à base de armas e rosas.
domingo, 9 de dezembro de 2012
Na mais pesada das chuvas
O céu se fechou, o vento me abanou... Meu coração gelou.
Tudo está tão escuro, tão revolto, as nuvens no céu são tão turvas quanto o sedutor traçado do seu cabelo fino. Não, são até mais escuras.
Turvo também é o pensamento que me consome, sombrio e melancólico, aquele que vem com a chuva e não passa. Arrependimento.
Mas não é arrependimento do que eu tinha falado, mas de como devia falado, de como devia ter dito palavras melosas ao pé do ouvido, de não ter me calado quando eu tinha voz, de não ter fugido quando devia ter ficado ao seu lado.
É a chuva que bate na minha janela, gotejando os meus últimos suspiros, os meus últimos choros. É terrível olhar para uma chuva de verão e pensar que não a terei do meu lado, não poderei abraçá-la e sequer poderemos ficar juntos envoltos num cobertor apenas nos aquecendo enquanto eu aninho os seus cabelos e digo que te amo.
Você sorri, diz alguma besteira, me olha estranho e começa a falar... e eu nem me importo, cada minuto que estou com você me sinto cada vez mais apaixonado.
Imagino nós dois, velhos e enrugados, com o passar dos anos nas costas, abraçados na mesma cama um olhando pro outro, brincando, sorrindo, sem nos importarmos com a chuva que cai do céu. E que chuva!
Sim, era na chuva que costumava andar sozinho, no meio da rua, enquanto os carros passam e as pessoas tentam se proteger, é na chuva que posso chorar e ser compreendido sem me mostrar por vencido. É na chuva que deixo meu cabelo molhado tomar formas e abro meu coração apaixonado.
Naquele frio cortante daquele aguaceiro, é naquele frio que sinto que tudo se vai, que o vento leva minhas forças e a chuva leva minhas lágrimas.
Hoje olhei as horas impacientemente, esperando o dia que poderia falar com você de novo, quando bateu 13:13.
Eu sorri da ideia, não podia ser,ela não podia estar pensando em mim. Eu sorri, mas parte de mim ainda tinha essa esperança. As horas se repetem e quanto mais acredito, acredito que estou perdidamente apaixonado por você.
O ponteiro do relógio bate, a chuva continua a cair. Eu sozinho nesse quarto escuro, sem uma música de fundo, fico nessa melancolia ridícula de se você me ama ou não. Parte de mim acredita que sim, que um dia ficaremos juntos e seremos felizes, parte de mim acredita que não que você gosta de outro e que não sou adequado pra você. Na verdade, eu não sei o que dizer.
Nesse dos mais escuros dias, nas mais clara das luas, com a chuva caindo do céu, sinto uma imensa vontade de ficar perto de você.
Tudo está tão escuro, tão revolto, as nuvens no céu são tão turvas quanto o sedutor traçado do seu cabelo fino. Não, são até mais escuras.
Turvo também é o pensamento que me consome, sombrio e melancólico, aquele que vem com a chuva e não passa. Arrependimento.
Mas não é arrependimento do que eu tinha falado, mas de como devia falado, de como devia ter dito palavras melosas ao pé do ouvido, de não ter me calado quando eu tinha voz, de não ter fugido quando devia ter ficado ao seu lado.
É a chuva que bate na minha janela, gotejando os meus últimos suspiros, os meus últimos choros. É terrível olhar para uma chuva de verão e pensar que não a terei do meu lado, não poderei abraçá-la e sequer poderemos ficar juntos envoltos num cobertor apenas nos aquecendo enquanto eu aninho os seus cabelos e digo que te amo.
Você sorri, diz alguma besteira, me olha estranho e começa a falar... e eu nem me importo, cada minuto que estou com você me sinto cada vez mais apaixonado.
Imagino nós dois, velhos e enrugados, com o passar dos anos nas costas, abraçados na mesma cama um olhando pro outro, brincando, sorrindo, sem nos importarmos com a chuva que cai do céu. E que chuva!
Sim, era na chuva que costumava andar sozinho, no meio da rua, enquanto os carros passam e as pessoas tentam se proteger, é na chuva que posso chorar e ser compreendido sem me mostrar por vencido. É na chuva que deixo meu cabelo molhado tomar formas e abro meu coração apaixonado.
Naquele frio cortante daquele aguaceiro, é naquele frio que sinto que tudo se vai, que o vento leva minhas forças e a chuva leva minhas lágrimas.
Hoje olhei as horas impacientemente, esperando o dia que poderia falar com você de novo, quando bateu 13:13.
Eu sorri da ideia, não podia ser,ela não podia estar pensando em mim. Eu sorri, mas parte de mim ainda tinha essa esperança. As horas se repetem e quanto mais acredito, acredito que estou perdidamente apaixonado por você.
O ponteiro do relógio bate, a chuva continua a cair. Eu sozinho nesse quarto escuro, sem uma música de fundo, fico nessa melancolia ridícula de se você me ama ou não. Parte de mim acredita que sim, que um dia ficaremos juntos e seremos felizes, parte de mim acredita que não que você gosta de outro e que não sou adequado pra você. Na verdade, eu não sei o que dizer.
Nesse dos mais escuros dias, nas mais clara das luas, com a chuva caindo do céu, sinto uma imensa vontade de ficar perto de você.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Uma vida de sonhos
Todos nós, pelo menos uma parte da vida, sonhamos com alguma coisa. Sonhamos com uma vida que não poderíamos ter, sonhamos com ideias sedutoras, sonhamos até com o prato de comida do outro dia. Nossa vida é guiada por sonhos.
Hoje sonhei com uma utopia, uma sociedade tecnológica sem pobreza e miséria com prédios suntuosos, modernos, carros voadores e trens extremamente rápidos. Não havia pobreza ou fome, sequer violência ou preconceito. Era um mundo de tolerância, respeito e justiça.
Nesse mundo, homens e mulheres tinham os mesmos deveres e direitos. As máquinas trabalhavam para nós e não contra nós e estávamos nesse futuro conquistando o Espaço, com nossas naves velozes percorrendo distâncias longas e explorando novos mundos, conhecendo novas civilizações.
Tínhamos conseguido resolver a questão da fome e da distribuição de renda. Controlávamos a fusão nuclear e tínhamos segurança e liberdade. As guerras e as falácias tinham ficado para os museus, museus esses tão completos e tão dinâmicos que davam gosto de ver.
Essa realidade só foi possível com uma revolução de pensamento da humanidade, que após um cataclisma quase colossal em nossa época, aprendeu que era melhor viver em cooperação mútua. Houve uma revolução cultural, sem o uso do ferro e do sangue, e uma democracia representativa instituiu uma sociedade totalmente diferente das demais.
Esse sonho era inconclusivo em como se alcançar esse futuro ou que rumos ele próprio levaria, mas foi uma ideia sedutora pensar em algo diferente, algo que pudesse ser perfeito e direcionado para todos nós.
"A gente tem que sonhar; senão as coisas não acontecem". Niemeyer estava bem certo nesse ponto.
Hoje sonhei com uma utopia, uma sociedade tecnológica sem pobreza e miséria com prédios suntuosos, modernos, carros voadores e trens extremamente rápidos. Não havia pobreza ou fome, sequer violência ou preconceito. Era um mundo de tolerância, respeito e justiça.
Nesse mundo, homens e mulheres tinham os mesmos deveres e direitos. As máquinas trabalhavam para nós e não contra nós e estávamos nesse futuro conquistando o Espaço, com nossas naves velozes percorrendo distâncias longas e explorando novos mundos, conhecendo novas civilizações.
Tínhamos conseguido resolver a questão da fome e da distribuição de renda. Controlávamos a fusão nuclear e tínhamos segurança e liberdade. As guerras e as falácias tinham ficado para os museus, museus esses tão completos e tão dinâmicos que davam gosto de ver.
Essa realidade só foi possível com uma revolução de pensamento da humanidade, que após um cataclisma quase colossal em nossa época, aprendeu que era melhor viver em cooperação mútua. Houve uma revolução cultural, sem o uso do ferro e do sangue, e uma democracia representativa instituiu uma sociedade totalmente diferente das demais.
Esse sonho era inconclusivo em como se alcançar esse futuro ou que rumos ele próprio levaria, mas foi uma ideia sedutora pensar em algo diferente, algo que pudesse ser perfeito e direcionado para todos nós.
"A gente tem que sonhar; senão as coisas não acontecem". Niemeyer estava bem certo nesse ponto.
domingo, 2 de dezembro de 2012
Conclusões sobre a Primavera Árabe
No início desse ano nós tínhamos assistido com tamanho entusiasmo a ressurreição de um povo inteiro contra um estado opressor na Arabia os espíritos mais imbuídos do pensamento de Locke fundamentavam o seu apoio no fato de que Kadaffi, Mubarak e Al-Assad tinham perdido a sua legitimidade a partir do fato que seu domínio se representava pela violência e não pelo bem-estar de sua população, tudo isso está certo.
A questão é se valeu à pena? Valeram à pena as mortes na Líbia causadas pela total guerra civil, da qual nós ocidentais tivemos tão pouca informação? Vale a pena morrer agora na Síria para por fim um poder ditatorial opressivo como o de Al-Assad? Eu acredito que sim, mas a minha desilusão quanto a isso é profunda.
A ditadura na concepção romana se baseava no fato de que se a República estivesse em perigo cabia ao Senado nomear um representante para defender a cidade de Roma nos tempos de crise, sendo plenipotenciário por um período curto. Era um cargo respeitado e de prestígio, até ser usurpado por Mario e Sila, e logo depois por César, e entrar na concepção moderna sinônima de tirania.
A ditadura dita "oriental" é um tipo até mais singular de Ditadura, é uma Ditadura que fundamentalmente não precisa se basear numa ideologia, na prática elas mesmas já desvirtuaram a própria ideologia concreta, vide a aplicação do marxismo no Vietnã por exemplo, ou na Coreia do Norte.
As ditaduras no Oriente Médio se fundamentaram num misto de interpretação bastante torpe de algum tipo de socialismo com o elemento religioso embutido, não vou aqui dizer que o Irã é um regime socialista, e que o talibã era uma base de fronteira de Moscou (na verdade era dos EUA), mas quando vemos regimes como a Líbia, a Síria e afins, observamos um discurso falho ideológico carregado de um teor religioso.
Kadaffi caiu e "que suas bolas sejam cortadas e dadas às cabras para comerem", Mubarak estava definhando no seu cubículo até ser declarado morto clinicamente após uma série de AVCs, o Kim Jong Il morreu de tanto por gel no cabelo, entrando o seu filho viciado em Mc'Donalds. Parecia haver uma esperança mesmo de que no mundo não há espaço mais para ditadores.
Será? A Venezuela reafirmou o desejo de continuar com Chávez que o latino-americanismo mais exacerbado cultua como um supro defensor da causa libertária, o que é uma profunda balela, considerando que Chávez só anda promovendo medidas assistencialistas e vem se mantendo num populismo tão tristonho que se baseia na venda de barris de petróleo aos Estados Unidos, Chávez é a mistura de um revolucionário fracassado, populista desalmado e charlatão desgraçado.
O Paraguai, tão bom conhecedor de regimes ditatoriais, afinal formou a primeira ditadura da América do Sul que se tem notícia, foi expulso do Mercosul por causa de golpe ao seu antigo presidente, o bispo comedor de criancinhas (literalmente) Fernando Lugo, e o Brasil com sua política diplomática agora tristonha promovida pelo ministro Patriota, vem se submetendo aos anseios ensandecidos da grã-rainha do populismo latino-americano, Cristina Kichner.
O Brasil, embora duvide que caía num regime ditatorial, vem amargando de um populismo também arrogante que vem mostrando suas mangas com o escândalo do Mensalão que a direita estúpida usa como argumento, demasiado falho, mesmo sabendo que ela também tem os seus podres. Foi em uma época parecida que ascendeu o bêbado lunático do Janio Quadros que indiretamente causou o Regime Militar.
A esperança ainda perdura na figura de um líder de um pequeno país na América do Sul, entre o Brasil e a Argentina, José Mujica, ex-guerrilheiro que virou presidente do Uruguai, que ao contrário dos outros, mantém uma postura de humildade, estabelecendo para si um diminuto salário correspondente à 10% do piso presidencial normal, e indo para o trabalho no seu pequeno Fusca azul escuro, além de promover reformas sociais e educacionais importantes nesse país platino.
Enquanto temos esse sopro de esperança na América Latina, o mesmo não se assiste no Oriente Médio, afinal de contas o Irã está nas portas de um regime fascista pautado no fundamentalismo islâmico que de certa forma está desenvolvendo o seu programa nuclear não de maneira inocente, tal como Ahmadinejad tenta nos convencer, mas sim por meio de negócios no mercado negro (porque a espionagem deles deve ser uma coisa tristonha de se pensar).
A Síria está em plena Guerra Civil, com tropas do governo massacrando crianças a seu bel-prazer, embora a imprensa tenha perdido um pouco do seu interesse, mas Al-Assad continua governando um dos regimes mais ditatoriais do mundo, que foi passado como se fosse por herança de seu pai. E hoje mesmo tropas do governo tinham anunciado uma ofensiva contra os rebeldes, que espero que resulte em um fracasso para Damasco.
A Palestina é a velha vedete desse quadro hostil no Oriente Médio, primeiramente porque o problema se estende desde 1947, com a criação do Estado de Israel, que para muitos foi pautado a partir de um erro (eu também penso assim), mas que tem origens bem mais antigas. O anterior status de não reconhecimento da Autoridade Palestina decretava um obstáculo legal, mas abria um precedente, permitia que qualquer grupo extremado pudesse atacar Israel sem inculpar diretamente a Autoridade em si, tal como aconteceu no lançamento dos misseis promovido pelo Fatah.
Israel respondeu de sua forma costumeira, hostil, bombardeando casas, passando com os tanques, matando civis inocentes, incluindo mulheres e crianças. Nunca sairá da minha cabeça a cena de um repórter correspondente da BBC na Palestina, em prantos, levando o corpo de seu filho, um garoto de pouco mais de um ano, enrolado num pedaço de pano branco, perguntando-se o porque daquilo. Não tem um porque, realmente não tem, a não ser a sede pelo sangue que os dois lados têm por si.
Israel e a Palestina parecem literalmente dois irmãos que brigam por que não gostam um do outro, esquecendo-se que têm o mesmo pai, Abraão, e que portanto são povos irmãos, pois também são da casa de Sem. Na minha época esse tipo de coisa se resolvia batendo nos dois, mas não é o que acontece.
Israel é quase um estado vassalo dos Estados Unidos, e todas as lideranças mais ou menos de esquerda do Mundo parecem ter um fascínio pela figura do estado palestino, tendo em vista que parece ter uma inversão de papéis, agora Israel não é mais a figura do rei Davi, e sim a de Golias, e os Palestinos foram carregados com esse teor de guerreiros armados de fundas contra o gigante "filisteu".
Devo dizer que me oponho às duas visões, tanto a política internacional estado-unidense está errada quanto essa visão um pouco reducionista também. O problema todo se resolve com o internacionalismo, se suportamos um ou outro nacionalismo, somos injustos. O Fatah não é inocente e o Estado de Israel também não.
E mais uma coisa, o Estado de Israel não é supro representante do povo judeu, ele é um estado como outro qualquer e tem seus próprios interesses, e os leva muitas vezes à frente dos de seu povo. A guerra atual ajudou a crescer a popularidade do partido de Nethanyahu que havia sido abalada com os efeitos nefastos da crise mundial em Israel (ou você acha que Israel é só apogeu econômico), mas continua ainda incógnito o fato deles terem conseguido dinheiro para uma guerra assim do nada.
Se a situação da guerra não parecia dar mostras de esperança, a ONU finalmente agiu de uma forma decente, ao reconhecer na Autoridade Palestina o status de nação, embora não membro efetivo da Assembleia, isso sim é um grande passo, embora Israel ainda aja de maneira hostil a tudo isso, como um valentão do Oriente Médio.
Não adianta, só com o mútuo reconhecimento que podemos estancar essa hemorragia que faz jorrar todo o nosso vestígio de humanidade para o ralo.
A primavera em si foi um movimento em prol da democracia, foi um suspiro de um povo que foi à rua para destronar ditadores e impor uma nova maneira de pensar, tudo isso fundamentada entre outros fatores de ordem econômica, afinal, todas as revoluções ocorreram pela falta de pão.
Entretanto, o que vemos no Egito e na Líbia é instabilidade, na Síria nem se fala. Na Líbia, ocorreu há não muito tempo atrás o assassinato de um embaixador norte-americano o que pelas regras diplomáticas sacramentadas pela Convenção de Genebra é uma mostra de falta de controle político, e no Egito, o presidente mesmo tendo limite de mandatos, pela constituição não reconhece por exemplo o direito das mulheres, levando novamente à população à Praça Tahit, onde tudo começou.
Usurpadores do poder do povo não faltam, principalmente no Egito, mas ainda há um sopro de esperança quando vemos o reconhecimento da Autoridade Palestina como uma nação, e esse sopro de liberdade de um povo é que nos faz pensar, que mesmo com os intemperes a luta do povo está dando largos passos em prol de um novo mundo, melhor que esse antigo, da dita "Nova Ordem".
A questão é se valeu à pena? Valeram à pena as mortes na Líbia causadas pela total guerra civil, da qual nós ocidentais tivemos tão pouca informação? Vale a pena morrer agora na Síria para por fim um poder ditatorial opressivo como o de Al-Assad? Eu acredito que sim, mas a minha desilusão quanto a isso é profunda.
A ditadura na concepção romana se baseava no fato de que se a República estivesse em perigo cabia ao Senado nomear um representante para defender a cidade de Roma nos tempos de crise, sendo plenipotenciário por um período curto. Era um cargo respeitado e de prestígio, até ser usurpado por Mario e Sila, e logo depois por César, e entrar na concepção moderna sinônima de tirania.
A ditadura dita "oriental" é um tipo até mais singular de Ditadura, é uma Ditadura que fundamentalmente não precisa se basear numa ideologia, na prática elas mesmas já desvirtuaram a própria ideologia concreta, vide a aplicação do marxismo no Vietnã por exemplo, ou na Coreia do Norte.
As ditaduras no Oriente Médio se fundamentaram num misto de interpretação bastante torpe de algum tipo de socialismo com o elemento religioso embutido, não vou aqui dizer que o Irã é um regime socialista, e que o talibã era uma base de fronteira de Moscou (na verdade era dos EUA), mas quando vemos regimes como a Líbia, a Síria e afins, observamos um discurso falho ideológico carregado de um teor religioso.
Kadaffi caiu e "que suas bolas sejam cortadas e dadas às cabras para comerem", Mubarak estava definhando no seu cubículo até ser declarado morto clinicamente após uma série de AVCs, o Kim Jong Il morreu de tanto por gel no cabelo, entrando o seu filho viciado em Mc'Donalds. Parecia haver uma esperança mesmo de que no mundo não há espaço mais para ditadores.
Será? A Venezuela reafirmou o desejo de continuar com Chávez que o latino-americanismo mais exacerbado cultua como um supro defensor da causa libertária, o que é uma profunda balela, considerando que Chávez só anda promovendo medidas assistencialistas e vem se mantendo num populismo tão tristonho que se baseia na venda de barris de petróleo aos Estados Unidos, Chávez é a mistura de um revolucionário fracassado, populista desalmado e charlatão desgraçado.
O Paraguai, tão bom conhecedor de regimes ditatoriais, afinal formou a primeira ditadura da América do Sul que se tem notícia, foi expulso do Mercosul por causa de golpe ao seu antigo presidente, o bispo comedor de criancinhas (literalmente) Fernando Lugo, e o Brasil com sua política diplomática agora tristonha promovida pelo ministro Patriota, vem se submetendo aos anseios ensandecidos da grã-rainha do populismo latino-americano, Cristina Kichner.
O Brasil, embora duvide que caía num regime ditatorial, vem amargando de um populismo também arrogante que vem mostrando suas mangas com o escândalo do Mensalão que a direita estúpida usa como argumento, demasiado falho, mesmo sabendo que ela também tem os seus podres. Foi em uma época parecida que ascendeu o bêbado lunático do Janio Quadros que indiretamente causou o Regime Militar.
A esperança ainda perdura na figura de um líder de um pequeno país na América do Sul, entre o Brasil e a Argentina, José Mujica, ex-guerrilheiro que virou presidente do Uruguai, que ao contrário dos outros, mantém uma postura de humildade, estabelecendo para si um diminuto salário correspondente à 10% do piso presidencial normal, e indo para o trabalho no seu pequeno Fusca azul escuro, além de promover reformas sociais e educacionais importantes nesse país platino.
Enquanto temos esse sopro de esperança na América Latina, o mesmo não se assiste no Oriente Médio, afinal de contas o Irã está nas portas de um regime fascista pautado no fundamentalismo islâmico que de certa forma está desenvolvendo o seu programa nuclear não de maneira inocente, tal como Ahmadinejad tenta nos convencer, mas sim por meio de negócios no mercado negro (porque a espionagem deles deve ser uma coisa tristonha de se pensar).
A Síria está em plena Guerra Civil, com tropas do governo massacrando crianças a seu bel-prazer, embora a imprensa tenha perdido um pouco do seu interesse, mas Al-Assad continua governando um dos regimes mais ditatoriais do mundo, que foi passado como se fosse por herança de seu pai. E hoje mesmo tropas do governo tinham anunciado uma ofensiva contra os rebeldes, que espero que resulte em um fracasso para Damasco.
A Palestina é a velha vedete desse quadro hostil no Oriente Médio, primeiramente porque o problema se estende desde 1947, com a criação do Estado de Israel, que para muitos foi pautado a partir de um erro (eu também penso assim), mas que tem origens bem mais antigas. O anterior status de não reconhecimento da Autoridade Palestina decretava um obstáculo legal, mas abria um precedente, permitia que qualquer grupo extremado pudesse atacar Israel sem inculpar diretamente a Autoridade em si, tal como aconteceu no lançamento dos misseis promovido pelo Fatah.
Israel respondeu de sua forma costumeira, hostil, bombardeando casas, passando com os tanques, matando civis inocentes, incluindo mulheres e crianças. Nunca sairá da minha cabeça a cena de um repórter correspondente da BBC na Palestina, em prantos, levando o corpo de seu filho, um garoto de pouco mais de um ano, enrolado num pedaço de pano branco, perguntando-se o porque daquilo. Não tem um porque, realmente não tem, a não ser a sede pelo sangue que os dois lados têm por si.
Israel e a Palestina parecem literalmente dois irmãos que brigam por que não gostam um do outro, esquecendo-se que têm o mesmo pai, Abraão, e que portanto são povos irmãos, pois também são da casa de Sem. Na minha época esse tipo de coisa se resolvia batendo nos dois, mas não é o que acontece.
Israel é quase um estado vassalo dos Estados Unidos, e todas as lideranças mais ou menos de esquerda do Mundo parecem ter um fascínio pela figura do estado palestino, tendo em vista que parece ter uma inversão de papéis, agora Israel não é mais a figura do rei Davi, e sim a de Golias, e os Palestinos foram carregados com esse teor de guerreiros armados de fundas contra o gigante "filisteu".
Devo dizer que me oponho às duas visões, tanto a política internacional estado-unidense está errada quanto essa visão um pouco reducionista também. O problema todo se resolve com o internacionalismo, se suportamos um ou outro nacionalismo, somos injustos. O Fatah não é inocente e o Estado de Israel também não.
E mais uma coisa, o Estado de Israel não é supro representante do povo judeu, ele é um estado como outro qualquer e tem seus próprios interesses, e os leva muitas vezes à frente dos de seu povo. A guerra atual ajudou a crescer a popularidade do partido de Nethanyahu que havia sido abalada com os efeitos nefastos da crise mundial em Israel (ou você acha que Israel é só apogeu econômico), mas continua ainda incógnito o fato deles terem conseguido dinheiro para uma guerra assim do nada.
Se a situação da guerra não parecia dar mostras de esperança, a ONU finalmente agiu de uma forma decente, ao reconhecer na Autoridade Palestina o status de nação, embora não membro efetivo da Assembleia, isso sim é um grande passo, embora Israel ainda aja de maneira hostil a tudo isso, como um valentão do Oriente Médio.
Não adianta, só com o mútuo reconhecimento que podemos estancar essa hemorragia que faz jorrar todo o nosso vestígio de humanidade para o ralo.
A primavera em si foi um movimento em prol da democracia, foi um suspiro de um povo que foi à rua para destronar ditadores e impor uma nova maneira de pensar, tudo isso fundamentada entre outros fatores de ordem econômica, afinal, todas as revoluções ocorreram pela falta de pão.
Entretanto, o que vemos no Egito e na Líbia é instabilidade, na Síria nem se fala. Na Líbia, ocorreu há não muito tempo atrás o assassinato de um embaixador norte-americano o que pelas regras diplomáticas sacramentadas pela Convenção de Genebra é uma mostra de falta de controle político, e no Egito, o presidente mesmo tendo limite de mandatos, pela constituição não reconhece por exemplo o direito das mulheres, levando novamente à população à Praça Tahit, onde tudo começou.
Usurpadores do poder do povo não faltam, principalmente no Egito, mas ainda há um sopro de esperança quando vemos o reconhecimento da Autoridade Palestina como uma nação, e esse sopro de liberdade de um povo é que nos faz pensar, que mesmo com os intemperes a luta do povo está dando largos passos em prol de um novo mundo, melhor que esse antigo, da dita "Nova Ordem".
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