sábado, 8 de março de 2014

O que será do mundo daqui em diante?

       Não sei.

       Estranha resposta, não é mesmo? Incômoda, eu diria. Mas a incerteza sempre foi uma lacuna incomoda na história da humanidade. Afinal de contas, o progresso científico se deu por uma inquietação, um incômodo. Incômodo?

      Alguns olham com lentes do passado ao futuro, outros olham para o futuro sem os olhos no presente. A verdade é que ninguém sabe o que será o futuro. Prova disso? Quem esperava à quatro anos atrás a "Primavera Árabe" degringolar em uma nova onda de ditaduras  e uma sangrenta guerra civil na Síria?

       Quem esperava que o Brasil seria esquecido de país-promessa a país-laboratório?

       Mais do que isso, quem esperava a situação na Ucrânia chegar a tamanho ponto que a Rússia e a OTAN pensarem em intervir militarmente (e a Rússia levar a vias de fato).

       As pessoas acham que estamos entrando numa nova guerra fria, mas erram porque não estamos mais num mundo bipolarizado, tampouco num mundo multipolarizado, afinal essa besteira que germinou nos anos 2000 com  o neoliberalismo se demonstrou falha na crise de 2008.

      Estamos no limbo.

      Por isso o que será do mundo daqui em diante? Não sei.

      Diga sem medo, você não sabe se a desgraça de hoje poderá ser a moeda do amanhã ou mesmo que a fortuna de hoje será a pobreza do outro dia. A gente não sabe de nada, na verdade, a gente tem respostas no passado recente, mas sempre seremos surpreendidos por variáveis enormes na equação complicada da vida. Não há cálculos matemáticos que digam quando a China parará de crescer, ou quando os Estados Unidos reagirão mais violentamente às crises internacionais, ou quando a Argentina deixará o seu fiasco inflacionário. Essas são equações muito mais importantes do que saber se a taxa de juros elevou ou se a bolsa despencou. Sabem por quê? Porque estão no domínio do imprevisível.

      Imprevisibilidade. Os homens são presos à realidade imediata, aparente e cotidiana. No preço do pão, do litro da gasolina, da escola ou do imposto de renda. São presos ao tempo, ao atraso do serviço, aos prazos e aos aniversários. Sim, os anos que se passam.

        O mundo não está ao seu serviço como ele quer, é uma luta constante todos os dias para ter um pouco mais de conforto na casualidade da vida, pois ser livre é ter liberdade não só de escolha mas de vivência na vida, nas solicitações que apresentamos às coisas quando queremos interagir com esse novo mundo. Admirável mundo novo. Que mundo é esse? Um mundo despregado de grande ideologias, religiões monoteístas, confortos psicológicos ou aneurismas metodológicos, é um mundo impessoal, escrito por anos cheios de muitas cicatrizes, pelas mãos do homem que hoje não lavra mais o pó da terra com as mãos, mas tecla o seu tablet com a ponta dos dedos.

      Os homens deixaram de usar chapéus, depois as gravatas, os ternos; mas não se esquecem que ainda vivem sobre os sentimentos e os mais intensos dentre eles são os relacionados ao medo, e os mais cegantes são realizados em torno da esperança. O último dos males que não saiu da arca de Pandora, a esperança.

      "Oh! Maravilha! Como muitas criaturas encantadoras que estão aqui!  Quão bela a humanidade é! Oh, admirável mundo novo. Que tem tais pessoas que não são" Tempestade, v.1 William Shakespeare.
       Não vivemos mais sob o jugo meramente do fordismo, de forma alguma, vivemos no domínio conjugado da produção em massa dos produtos em alta capacidade com a propaganda indiscriminadamente aguçada, com a transformação da realidade virtual em um  domínio cada vez mais  real e presente, com a subvalorização do presente em torno de um futuro incerto logo à frente. Estamos regidos não pela necessidade de produzir, muito menos que isso, estamos na ilusória imagem da necessidade de consumir e consumir cada vez mais, até só restar o nosso vício indiscriminado por mais tecnologia e maiores avanços.

       Os mercadores venezianos e florentinos tomavam medidas concentradas para impedir o florescimento do excesso de moeda em suas cidades, o que geraria inflação, lançando o seu capital excedente em capital morto: Arte. Assim germinou um dos períodos mais prodigiosos da mentalidade humana, o Renascimento.Renascimento que tivemos novamente a partir de 1750 e não paramos mais, mas ao invés de se investir só em arte, os grandes industriais perceberam um modo de transformar esse capital morto em um capital crescente e acumulante, tecnologia e tecnologia que gerasse demanda e crescesse exponencialmente. Vivemos num mundo assim. Um mundo cheio e ao mesmo tempo vazio, pois a plenitude de uma boa safra não só encontra em seus frutos o melhor dos adjetivos senão à quantidade, mais nunca a qualidade.

        Está uma era vazia em idéias, tanto minhas quanto suas, pois não temos certeza do que há por vir. Uma guerra nuclear? Uma paz negociada? Fim da crise econômica? Uma nova crise sanitária? O que é a humanidade senão uma profunda solicitação de presença num local onde não podemos provar nada além do licor amargo  do medo e desespero. O homem é espacial e temporal, até que percebe que não está no espaço e o temporiza, gera apenas ansiedade com perguntas que não podem ser respondidas.

      Exige-se mesmo respostas, memórias, verdades, mas não às encontra. Exige ser compreendido, mas ele próprio não se compreende às vezes, pois sua linguagem de como interargir com o mundo o torna histórico. E tão histórico se apresenta que ele se perde no próprio tempo e na traiçoeira memória, até por fim esquece o que diz, e seus nervos somam-se às rugas e ao sangue fino de suas veias, envelhecendo assim sem ter certeza. Ele não tem certeza de nada.

      O que será o mundo daqui em diante? Admirável mundo novo.


     

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