sábado, 23 de novembro de 2013

Liga Coxinha Extraordinária

       A criação de novos "partidos apolíticos" é produto de uma variante esquizofrênica de  um novo tipo de ator político: O coxinha.

       Coxinha é uma expressão utilizada nos círculos políticos recentes para descrever um jovem de classe média, de 18 a vinte cinco anos de condição estável, estando desempregado ou não que vive junto com os pais, frequenta regularmente a academia para obter a hipertrofia desejada (utilizando anabolizantes inclusive), mas não dedica-se a treinar o espírito, tampouco a mente. Lê pouco, frequenta todas as baladas possíveis, bebe whisky Red label, acha que tem a necessidade de pegar todas as meninas da festa.

        Consome camisas polo Lacoste, costumeiramente nunca anda de terno ou engravatado, possui um carro hatch de motor 1.6 e adora falar de futebol. É engraçado como se construiu o termo Coxinha, porque coxinha designa originalmente um salgado em formato cônico à base de farinha de trigo, farinha de rosca e batata com recheio de frango desfiado que é frito e costumeiramente é vendido vencido nas rodoviárias de pé de estrada nos rincões do Brasil; Talvez seja por isso que tenha sido designado de "coxinha", devido ao aspecto estragado de suas ideias, e por demais indigesto.

       Não preciso dizer que os  coxinhas correspondem ao segmento dos marombeiros em alguns casos, pseudointelectuais em outros, filhinhos de papai (vulgo mauricinhos) em todos. A verdade seja dita, coxinha é coxinha que tem dinheiro mas não sabe se portar com o dinheiro, chega a ser a encarnação de um noveau riché, às vezes fala alto, é inconveniente, exige tudo à mão e ainda reclama. Não consegue muitas vezes manter uma conversa nos limites da amistosidade devido a sua impaciência tautológica. 

       No campo político o "coxinha" é "apolítico", se descreve dessa forma. Diz que todos os partidos são sujos e que não merecem o mínimo respeito. Que a política brasileira é assim e nunca irá mudar, mas nem é um pouco disposto a mudar esse quadro. Acredita que a corrupção associa-se à esquerda que pejorativamente chama de "petralhas" (junção entre o nome do PT, Partido dos Trabalhadores, envolvido com esquemas de corrupção, e os Irmãos Metralha do Tio Patinhas), esquecendo-se que os outros partidos brasileiros são tão ruins quanto, estão associados à corrupção, ao coronelismo e à própria Ditadura Militar.

      Nas manifestações os coxinhas não anti-partidários, nada de bandeiras ou bastiões. Isso é digno de briga e de linchamento de segmentos partidários nos protestos. Gritam, esperneiam, gritam Gritos de Guerra monótonos e monolíticos e se recusam veemente a cantar por exemplo a Internacional. Quando a cavalaria ataca, são os primeiros a correr, tentam safar a pele e culpam os "black blocs" e os anarquistas como pessoas que saíram dos limites. Acha que os protestos são bons, mas não queria estar no trânsito porque diz que atrapalham a vida do cidadão.

      Formam a multidão desvairada e como toda a classe média, é babaca. Sim, a classe média é meio babaca mesmo, falo com toda a convicção, não que eu a odeie, só digo que é babaca. É babaca pois é o maior segmento social com possibilidade de instrução, que possui as portas abertas para a política e negligencia tudo isso em virtude do seu pseudo "american way of life". Também deveras, afinal, Marx dizia que a pequena-burguesia está no caminho entre a classe proletária e a burguesia, de modo que a pequena-burguesia com acirramento da luta de classes está fadada ao desaparecimento, tendendo ideologicamente à classe dominante, porque inevitavelmente é a classe que desejaria ser. Marx pode está velho, mas é tão atual quanto você que está nessa poltrona. O sonho do coxinha é ser milionário.

      Não se importa com o pobre, não se  importa com a saúde pública (afinal tem plano de saúde), nem com a educação (afinal, ele estudou em colégio particular), embora ele reconheça que os serviços públicos são uma merda. E pra isso ele ideologicamente (embora essa ideologia esteja escondida em seu subconsciente) é um neoliberal e quer ver um estado mínimo com menos impostos. O coxinha é  coxinha, e qualquer coisa que ronde em torno de cotas sociais e raciais para o ingresso na universidade é totalmente rechaçado pelo coxinha, assim como a ideia de trazer médicos cubanos ao Brasil sabendo-se que os médicos não querem trabalhar nos hospitais públicos.

      Lenin dizia que é fácil iludir o povo com promessas de liberdade e democracia (LENIN, Vladimir Ilyich. Como iludir o povo) e isso é usado pelos segmentos mais reacionários para confundir o proletariado e sobretudo o campesinato com promessas que não seriam cumpridas. Assim, acredita o coxinha que  o voto representa o maior poder do cidadão, que embora exista meios de burlar a legislação eleitoral, a culpa é do povo por não saber votar direito, mesmo sem saber que há elementos como o fator partidário que fazem eleger junto com um candidato outros três, ou que o voto é do partido, assim se o candidato mudar de legenda, a vaga fica para outro membro do Partido, assim vai. o coxinha é um iludido por natureza.

     Iludi-se com o sistema democrático americano que apesar de ser o mais funcional no mundo é imperfeito e incompleto e deseja ardentemente que o seu país se torne um bastião da democracia e do capitalismo tal como os Estados Unidos, que São Paulo vire New York, que o Rio vire São Francisco e que Miami seja logo ali, sem perceber que o Brasil é diferente desde que nasceu.

     O coxinha quando quer se inteirar lê o Guia Politicamente Incorreto de Leandro Narloch, que nem sequer era historiador, mas ex-jornalista da Veja e também o 1808 do também jornalista Laurentino Gomes. Engraçado que cita trechos desses livros e os nomeia como historiadores, para profundo desespero dos acadêmicos, acredita que esses livros trazem a Verdade Suprema. Sim, eles acreditam numa VERDADE SUPREMA (faço questão de por Caps Lock), e que essa verdade é somente dada por Deus.

       Os coxinhas são um tipo estranho de religiosos, eles acreditam em Deus, frequentam a igreja (católica ou protestante, tanto faz), acreditam que deva existir bondade no mundo, mas fazem tudo ao contrário. Bebem, prevaricam, desejam a mulher do  próximo, clama o nome de Deus em vão, deseja que Deus atenda os seus desejos numa oração e se não atende, reclama. São um jeito estranho de fiel, são cristãos McDonald's, que desejam o retorno imediato de suas preces.

       Os coxinhas não vou parar de dizer são conservadores, às vezes reacionários, do tipo querer voltar ao passado. Vez em quando riem das  piadas do Felipe Neto, Danilo Gentilli e outros, assistem o podcast do Olavo de Carvalho falar mal dos "petralhas" e comentam a página do Uol sobre o Mensalão com comentários de pouco teor político.

      Os coxinhas também são machistas, nisso eu falo no seguinte sentido, desejam ardentemente ficar com várias garotas na festa, contam numa calculadora o número de ficadas, desejam fazer sexo ali mesmo na passarela, entretanto enxergam com maus olhos quando uma mulher sai com mais de um homem por semana. Estranham quando elas têm apetite sexual e as chamam de vadias quando não querem ficar com eles.

      Os coxinhas odeiam as feministas e as lésbicas, dizendo que "não foram bem comidas" e associa que o feminismo é um lesbianismo disfarçado, mas muitos coxinhas desejariam ter duas mulheres em sua cama. E é estranho como os coxinhas se relacionam, são quase Stormtroopers, andam sempre em grupos e acotovelando os que passam, são quase uma confraria de profundas ligações emocionais.

      No Facebook são ativos e são os que mais fazem comentários desnecessários. São esses os coxinhas que a gente observa ultimamente.

       Coxinhas, agora os coxinhas que sempre foram um grupo grande, diverso, tentam se organizar, juntar os marombeiros com os filhinhos de papai e pseudointelectuais, estão querendo formar partidos que variam de um falso senso apolítico até um neoliberalismo escrachado da Escola de Frankfurt. Eles que são reacionários, que vem as mulheres como objeto e feministas como vadias, socialistas como Petralhas, o paraíso como Miami, tentam se organizar, formar uma Liga Coxinha Extraordinário para o fascínio da Veja e da Globo. 

       Eles são os "bom-moços" da revista Veja, eles são os filhinhos queridos da mamãe que nunca desobedeceram em casa, mas aprontaram todas na escola. Eles se acham especiais por serem felizes no seu jardim do Éden artificial,  são filhos da nova geração medíocre de "homem-médio" brasileiro, esvaziado de ideologias, ideias, conhecimento filosófico e de mundo, mas travado em seus músculos, bebedeiras e gritos despreocupados.Eles um dia formarão uma Liga Coxinha Extraordinária, e quando formarem estaremos em maus lençóis. Não por serem competidores sérios, mas por ser uma constatação que a política virou um circo ambulante qualquer.

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