Nossos amigos são diferentes uns dos outros, mas perpetradores de histórias que somente nós podemos nos lembrar. Até eles também se esquecem de todas as vezes que saímos em bebedeiras, corremos atrás de ônibus, conversamos, brincamos e sorrimos; Nisso uma pequena discussãozinha começa do nada, e vira uma megapole de argumentos, para no fim terminar: "Você bebeu todas, seu puto, saía do Facebook." "Para de falar assim, seu vascaíno de merda". "Eu gosto de você, seu desgraçado", "De boa, seu merda. Até mais".
Amizade é algo tão estranho que mesmo se xingando as pessoas se sorriem e brincam-se consigo. Jogam cafunés, falam histórias, trocam piadas e conseguem ficar sérias quando preciso. Ser amigo é ser amigo, mas antes de tudo, ser amigável.
Um mero pedido de um livro já abre uma discussão:
"Meu livro!"
"O livro dele", abre-se uma segunda voz ao coro.
"Dele o livro", surge uma terceira, mais grave, na discussão"
"Livre delo é", constrói-se uma quarta.
"O dele livro", diz uma quinta pessoa.
"Ode lê livre", corresponde novamente a quarta pessoa.
"Livro dele é", repete
Os amigos sorriem-se com os significados, mas pacientemente o amigo volta à discussão inicial:
"Devolve meu livro"
"Devolve o livro dele", diz a segunda voz do coro;
"Dele o livro devolve", surge a quinta amiga na conversa novamente.
"Dê-lhe o livre volve", a quarta pessoa comenta novamente sobre o assunto.
Não há coerência na conversa, e o livro continua longe de seu dono numa prateleira numa casa distante , mas a amizade continua entre os significantes e significados. Pois sem querer, numa discussãozinha qualquer cria-se um poema pós-moderno.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
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