" — Alan, você quer ser meu namorado?"
A lua olhava aos dois, ela sorria
frente a inocência dos dois amantes, velha como sempre devia estar a sorrir com
seu deleite de prata; Suas rugas profundas, seus olhos cansados de velha criatura
a pintar o céu, enquanto seu esposo, o sol, não a olha a tanto tempo, devia
estar sorrindo agora com acalanto dos dois apaixonados;
O silêncio daquela noite fria onde o
vento desaparecia preguiçoso, nas tomadas do concreto armado de muito cimento e
areia, martelava vozes que rompiam o coração apaixonado... Devo aceitar? Eu a
amo, mas será que estou pronto? Mas eu a amo e pediria ela em namoro amanhã.
Puxa, foi melhor assim, ela me pedindo em namoro, e como a amo, porque não
aceitar? Ter cuidado para não me machucar? Ela é sorridente e feliz, delicada e
tranquila. Eu a amo de tantas formas diferentes que fica difícil pontuar; Ela é
tudo que eu sempre quis conhecer, bondade e amor. Ela é o amor de muitos dias,
o amor de muitos amores, ela é o amor de uma vida.
Pois olhou para a lua procurando
respostas, a lua enigmática não lhe respondeu. Ele tinha numerosos problemas, e
se perguntava se ela estaria disposta a comprar uma coisa desses. Ele sempre se
sentiu um patinho feio que não serviria pra ser amado, no fim ela via um cisne
branco, ele teimava em não acreditar que fosse cisne, mas adorava olhá-la
abraçar o seu espírito revolto e indomável. Pois esse espírito não era um leão,
era uma lebre machucada que tinha medo da vida e achava que nunca conseguiria
voltar a corrida para a estrada. Mas encontro a luz no fim da escura estrada
quando viu alguém como ela.
Metaforismos à parte, eu olhei para
o seu e imaginei o rosto dela comigo, isso me deixou contente de verdade. Eu olhei
para mim e via que ficava feliz com ela,
podendo ficar mais; Ela era alguém para se dividir uma vida, alguém em quem
acreditava que pudesse dividir os meus segredos e medos, assim como ela faria
tudo isso comigo. Humilde, simples, amorosa e às vezes bastante inocente. Eu me
apaixonava cada vez mais por ela, e nós dois conversávamos sobre tantas coisas
que duvido eu me sentisse tão bem solto e livre do que naquele dia.
— Sim... — Disse bem baixinho quase
ao pé do ouvido — Sim, eu quero ser o seu namorado.
E não me arrependo disso. Isso foi
no dia 15 de outubro, por volta das 18h40. A lua cheia nos olhava misteriosa, o
céu estava um tanto nublado, estávamos num banco de namorados enquanto outras
pessoas na praça jogavam conversa fora. Conversas que nem me esforcei em ouvir,
pois o que tinha para ouvir estava no meu peito. Verdade seja dita, não me
arrependo.
Hoje olho escorrer o filete de
chuva chorar sobre o vidro, enquanto o
calor de várias respirações embaçar a transparência cada vez mais opaca daquela
liga. Ela está no banco ao meu lado, cansada, tentando cochilar um pouco sobre
o meu ombro e eu penso comigo bem baixinho: Como eu consegui ser isso? Como eu
consegui ser tão lindo quanto ela diz? Como consegui viver com olhar querido? Como
consegui ser amado? Nem todo o dinheiro do mundo ou raciocínio empírico responderia
isso, mas eu decidi que não me importava com as respostas, nem mesmo com as
perguntas, eu a abracei junto comigo. Junto ao meu peito, e ela sorriu como uma
criança quando sorri quando recebe um carinho.
Quando a olho, eu me vejo menino.
Sozinho e sujo brincando num canto com um carrinho. Quando eu a vejo, também
olho para uma menina, que se divertia pelas ruas e riachos da vida, sem se
preocupar com o pouco que tinha. Eu vejo nós como duas crianças que cresceram,
um menino e uma menina. Que se completam, que mais que amigos, ou namorados,
são parceiros de uma vida.
Por isso não me arrependo, e espero
nunca ter me arrependido, em dizer sim naquele dia. Pois embora tenhamos ideias
que às vezes sejam diferentes, conversamos sempre conosco. Justo nós que somos
tímidos, ela que não gosta de beijar em público, eu que não gosto de multidões.
Eu que me sinto deslocado em festas, ela que também não se sente confortável em
coisas assim. Nós dois nos encontramos a cada dia que nos vemos e nos perdemos
cada dia que ficamos longe um do outro. Pois nós nos amamos, eu a amo como
pessoa e como mulher. Ela que me ama por me achar fofo e bonito.
Eu que sempre penso no bem dela, ela
que sempre se preocupa do porquê de eu não ter almoçado. Eu que me preocupo
quando ela chega tarde em casa, com as brigas que ela convive. Ela que olha-me
de um jeito diferente, como se quisesse tocar meu peito e dizer bem baixinho “eu te amo”, todos os dias.
Somos dois, somos um. Somos duas
pessoas, duas pessoas que respeitam um ao outro, que pensam que nada deve ser
estático ou forçado. E somos um porque cada um de nós se vê feliz com o outro.
Eu sinceramente acredito que a melhor coisa que eu fiz foi dizer sim.
Os anos poderão passar, as nossas
brigas poderão chegar. Nada é eterno, mas não posso me esquecer do quanto fui
feliz hoje ao lembrar dos momentos que passamos juntos, desde que nós nos
conhecemos até hoje. Eu espero ficar velho um dia e olhar para trás e lembrar: “Puxa,
eu fui muito feliz com a Maíres”. Melhor, eu gostaria de pensar mais alto: “Puxa,
como eu ainda sou feliz com ela”.
“Pois eu sei tudo que eu faço, sei
tudo que passo, paixão não me aniquila”, Noel Rosa toca na minha mente. Eu
lembro bem o que eu já vivi, os erros que já cometi, os amores que já tive ou
já desejei, os amigos que eu perdi. Isso eu não esqueço, mas não esqueço
também os acertos que fiz, os amigos que hoje me acompanham como bons irmãos, e
o amor que está junto comigo.
Esse é um dos motivos pelos quais eu
amo pensar naquele dia sobre o olhar preguiçoso da lua cheia. Aquele dia ficará
na minha memória, pois foi naquele dia que eu me encontrei com uma companheira. Quando fico triste sempre tenho na recordação aqueles bons momentos que passamos juntos.
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