Nunca confie no seu próprio sorriso, pois felicidade não é um estado natural do ser humano. A dor e melancolia acompanham nossa existência na seguinte medida que saímos da barriga de nossa mãe e somos enjaulados dentro de uma encubadora ou um berço. Artificialmente pensam que nossos pais tratam a criança como um todo, sendo que na realidade a criança é apenas uma parcela do todo, é um objeto da vida dos pais.
Eles o mimam para externar os seus desejos psicológicos de sua própria vontade, eles criam a criança como um boneco que chora, suja a frauda e brinca. Mas nada disso é verdade, não é um ser humano que eles desejam criar, mas um robozinho; Exatamente isso, a criança é criada para seguir comandos, como não correr, não gritar, não ser feliz; E se for fazer todos os seus desejos ela é punida, seja pela cinta corretora do pai seja por um deus que ela é forçada a acreditar;
Não existe meio termo aos filhos, os filhos são um objeto. São oprimidos pelos próprios pais, eles que criam boa parte dos traumas da infância de uma criança. Eles que controlam a vida dos filhos por pelo menos catorze anos quando a criança começa a contestar os pais e vira adolescente, e tenta controlar os filhos pelo resto das suas vidas; Pois o poder de mandar é bom, de ser obedecido também. Por isso os pais normalmente não ouvem, não sentem o que os filhos sentem. Eles sempre estão numa hierarquia maior, pensam que os filhos têm o dever de obedecer, afinal de contas os pais trabalham para sustentá-los, entretanto, os próprios pais pensam nos filhos como uma pensão para a posteridade, de crianças que trabalharão para sustentá-los.
Não há mentalidade mais conservadora do que a de ser um pai ou uma mãe. Freud tinha razão ao estabelecer que as mães possuem um complexo de Jocasta em relação aos filhos, elas não os desprende do seu "amor maternal" que nada mais se traduz de um amor de um dono para com seu bichinho, a ligação emocional pode existir, mas a mãe realmente não tem amor por seu filho, ela ama o fato de ter um filho e comandar a vida de uma criança e seu desenvolvimento, tanto que quando ela perde o controle, ela é a primeira a punir o filho.
O perdão de uma mãe ao filho não é legítimo, pois é um meio de manter o status quo da situação de submissão da criança aos pais. Isso é horrível do ponto de vista humano, mas é ancorado pelo ponto de vista legal, afinal de contas a lei não vê a criança como um ser humano completo.
Não é felicidade que os pais buscam trazer aos filhos, eles buscam a própria felicidade nos filhos, é uma coisa diferente, é quase tautológica. A procura da própria felicidade por uma parte, um bem seu, é quase um fetichismo na concepção marxista da criança. A criança, repito, é vista como um objeto e não um ser vivo completo. Tanto que se ignora que a criança possa ter voz, mesmo que se ache engraçado ensinar a criança a falar e ler o ABC, a criança pode ter pés e aprender a caminhar, mas não pode andar fora do domínio dos pais.
O seu sorriso infantil não é um sorriso de graça, é um sorriso de uma droga, um ópio paternal e maternal de que sua felicidade só é possível se você obedecer cegamente os seus pais.
Quando crescemos isso também acontece, quando começamos a ter uma vida plena, primeiramente com um estudo (submissão ao professor e ao sistema de ensino) e um emprego (nesse caso ao mercado de trabalho), começamos a ter um carro, uma casa e uma parceira (ou parceiro). Pois bem o fruto da sua felicidade está na aquisição de bens (carro e uma casa) e de uma companhia, no caso uma parceira. Mas a sua felicidade só é possível diante a sua submissão ao mercado de trabalho, ao conjunto de leis e normas e a todo um estamento hierárquico. Caso você descumprir isso, você estará desempregado, seus bens, a casa e o carro, serão confiscados, sua companheira pode desistir de você e você pode até ser preso se descumprir sua submissão às leis.
De verdade, sua felicidade não é de graça, é um produto que você compra ao se submeter ao sistema, porque é natural ao ser humano não ser feliz. É isso mesmo, pode parecer absurdo, mas desde que somos retirados da placenta de nossas mães somos criados para sermos isolados dos outros, no caso, das outras famílias, de pessoas de outras classes, etc. Assim, o isolamento cria um ambiente psicológico de submissão, e uma submissão embora produza uma felicidade artificial, produz um profundo grau de tristeza.
A anomalia de toda uma vida é o sorriso, pois tamanhos são os sofrimentos para que um único sorriso seja praticado. Somos ceifados de nossa liberdade quando somos obrigados a ir à escola, apanhamos, ou somos repreendidos pelos professores. Somos ceifados de nossa felicidade quando nossos pais impõe certos limites, nos castigam e impõe regras que não compreendemos. Somos ceifados de nossos desejos quando a moral da sociedade impede que possamos namorar como gostaríamos de fazer, que o nosso patrão começa a roubar-nos o tempo que usaríamos para nossos desejos e assim vai.
A vida é uma profunda tristeza, é um triunfo ao mesmo tempo uma tragédia. Por isso um sorriso é uma traição ao próprio caráter do indivíduo, de ser infeliz. Acredito que a profunda felicidade não existe, pois a felicidade não é algo natural do ser humano, a sua tristeza e sua submissão moldada pelo sistema acabam por produzir uma necessidade psicológica por momentos de prazer que são confundidos por felicidade, mas não representam a real felicidade que seria a vida humana sem a profunda regulamentação da vida.