Era tarde, uma daquelas tristes tardes em que as pessoas não tem nada para fazer, mesmo assim apressam o passo para chegar mais cedo em casa...
Não havia ônibus ou sequer carros na rua, o dia parecia ser sombrio, pois até agora o sol não irrompera as grossas nuvens do céu, ventava e ventava muito, parecia que ia chover.
Não há dia mais triste do que aquele em que nós andamos sem ter nada para fazer, e eis era um dia daqueles... Caminhando só pelo viaduto, o rapaz, de casaco e um olhar triste nos olhos, sentia solidão ao passar por ali, embora não se visse só por ali.
Havia um ou dois mendigos brigando por um punhado de pinga, ou algo parecido, vendedores sem força ou disposição na voz, sequer anunciavam seus produtos estendidos naquele sujo e acinzentado chão de concreto.
Foi ele abordado por um ambulante qualquer, que ao ter visto as suas roupas, uma camiseta de botão azul marinho e um sobretudo pardo, achou que tivesse ele posses... Ofereceu-lhe um celular, provavelmente roubado:
— Sabe quanto? — Abordou-lhe o vendedor;
— Não e nem quero saber quanto — Disse ele com uma grosseria não costumeira.
Na verdade, ele se ofendera com a postura daquele homem que lhe abordou daquele jeito, segurando-o pelo braço unicamente para lhe fazer mostrar um celular, de último tipo é claro, com certeza roubado... Todos lhe queriam tirar dinheiro naquele dia.
Ele não era feliz, nem de sombra talvez um dia o fora... Era triste, vazio de coração, sabia tudo sobre muito, mas nada sobre o mais que tudo: o amor.
Ele amava, sim, ele amava, tinha no seu coração paixões obscuras, mas quando tentava expressá-las, sua língua travava... Ele amava a uma moça, não era de certo a mais bela de todas as moças, nem das mais amáveis, mas ele a amava desse jeito.
Queria ele ter um dia a sós com ela para dizer tudo o que pensava, queria ele contar tudo em nela que reparava, queria falar o porquê de seu coração palpitava, mas nunca tinha tempo, nunca tinha tempo a sós com ela, de fato, ele até julgava que ela o odiava.
É complicado esse sentimento em que um se dedica ao bem de uma pessoa e a outra dedica-se a humilhá-lo, ao insultá-lo.
Queria ele declarar o que sentia, beijá-la ele queria, mas enquanto descia as escadarias, pegar um onibus como iria, pensou ele como se entristecia ao pensar no que ela diria, com certeza ela não amava, com certeza não se apaixonava, e percebeu ele o quão triste era situação.
Deixou o ônibus passar, pôs-se lentamente a caminhar... A chuva agora caia, o vento batia nos ossos, mas ele sequer se importava em ficar ensopado dos pés à cabeça, pois a chuva lhe revelava um sentimento que era tanto conhecido: tristeza.
Queria chorar ele com certeza, mas não conseguia lágrima qualquer sem a força da bebida, e enquanto caminhava, ele via quão vazia era sua vida... Pensara ele em se matar, mas quão franqueza seria fazer algo assim. Pensou em ir ao bar, mas era cedo demais para se embriagar... Apenas foi caminhar.
A tarde prosseguia triste e à medida em que prosseguia, menos feliz ela ficava.... Numa certa altura, quando seu chapéu a tanto se encharcara, ele sentou-se num banco, ao relento, olhando para rua, onde um carro solitário passava, queria ele chorar...
Chorou, como chorou, sentiu-se feliz por uma lágrima cair sobre sua face, e como um sussurro da noite disse fracamente:
— Bia, por quê você não me ama?
Sabia ele o motivo, ele era frio, difícil, intratável e bastante destrutível... Olhou para si, e se achou imundo, sujo, deformado, não era mais feliz assim, e quanto mais a tarde prosseguia, mas a chuva caía e assim a tristeza o consumia.
Tomou-se uma hora de uma força estranha naquele momento, pôs-se de pé e voltou a caminhar, alheio a tudo e a todos, ele era desligado do mundo e o mundo a ele, sempre fora assim, sempre será, isolou-se naquele momento na sua cápsula egocêntrica que há tanto o protegia das dores da vida e voltou a caminhar sem mais nenhuma lágrima no rosto.
Enquanto dormia, caía-lhe uma lágrima na noite fria, e tão triste era o sonho que verdade se fazia, amor não é uma bela esperança, amor é uma triste constança.
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