A outra metade
Quando este corpo meu esfacelado
Baixar á leiva húmida da cova,
Hão de os jornais carpir a infausta nova,
Taxando-me de sábio consumado.
Estalará na imprensa enorme brado,
Pedindo a ressurgência d’um Canova
Que a morta face em mármore renova
Para insculpir meu busto laureado.
E algum dos imbecis necrologistas,
Com soluçantes vozes de saudade,
Dirá em ricas frases nunca vistas:
“Esse génio imortal, rei dos artistas,
No céu pede ao Senhor que a outra metade
Reparta por vocês, ó jornalistas!”
(Camilo Castelo Branco)
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