A
construção de uma sociologia política associada à economia só é possível devido
ao fenômeno do século XVIII e todo o período que escorre sobre a tinta da pena
na primeira metade do século XIX.
A
tentativa de construir uma sociedade nova a partir de padrões técnico-científicos
apresenta uma virada quando o método científico a partir de desdobramentos do
empirismo inglês torna a observação da natureza objeto claro da análise humana.
A sociedade europeia olha com estranhamento para um mundo em
evidente transformação, seja as mudanças dos hábitos de corte, seja mas linhas
de circulação de riquezas ou mesmo os velhos dogmas teológicos/ científicos. A
filosofia se desvencilha da religião com a interpretação de Spinoza, embora o
racionalismo cartesiano tenha inicialmente tido maior impacto ao levar o homem
a cogitar que sua humanidade só pode existir em sua racionalidade e senso
crítico.
O esfacelamento do cógnito religioso do homem científico é
relacionado ao sintagma da destruição das
guerras religiosas que abateram o Sacro Império Romano nas lutas da
Guerra dos Trinta Anos. E nesse
paradigma a filosofia política de uma arte diplomática se formula a partir das elucubrações
de um príncipe maquiavélico (no sentido positivo do termo) que conduziram
esquemas arrojados de lidar com a política sem muitos escrúpulos e honra,
principalmente na arte da teoria política.
As teorias são a grande arma contra o tempo passado, a teoria
newtoniana, os estudos de Nikolas Copernicus e Johannes Kepler sobre as órbitas
elípticas dos planetas levaram ao questionamento se a natureza não poderia ser
estudada como fenômeno de criação divina. Como contemplação da obra celestial e
por fim, o estudo do próprio Deus. “Conhece-te a si mesmo”, diria um filósofo
barbudo do século XIX chamado Friedrich Nietzsche.
O questionamento da forma como enxergamos o mundo levou ao
desenvolvimento de estudos a partir de cadáveres e animais para observar o
funcionamento dos órgãos e assim observar a “máquina mais perfeita da criação
divina”, o Homem. E em sentido estreitos, os estudos de medicina quebraram
tabus paradigmáticos de uma sociedade baseada numa moral cristã. A
cientificização da alquimia levou a uma quebra der supertições e levou ao
nascimento da Química tão importante nos dias atuais; A criação divina
tornou-se cada vez mais racional;
A criação de mecanismos e aparelhos de medição tornaram o estudo da
realidade da realidade concreta da natureza possível, conduzindo que a ideia de
perfeição não estava na Humanidade, mas sim no estudo da natureza. A Ciência.
Deus veio da máquina; “Deus ex machina”.
Não a toa que a religião e a teologia deixaram de ser o foco dessa
sociedade em tentar alcançar Deus a partir dos seus estudos da filosofia da
natureza em contraponto à filosofia religiosa; A física correspondia maiores
chances de compreender o sentido do
funcionamento do Universo e de Deus, do que a própria filosofia como vinha
sendo feita antes. Tanto que física quântica é o máximo que a humanidade
conseguiu chegar no campo da filosofia.
A ciência nasceu da fé cristã, mas terminou na fé da matemática. O
questionamento cartesiano e de Spinoza levou ao florescimento de uma sociedade
técnico-científica. A medicina e a física romperam com o aspecto diletante dos
cursos universitários e o conhecimento passou a ser imediatamente para uso
prático. O racionalismo de Descartes resultou na revolução com que a sociedade
europeia ao criar a Lógica racional e cientifica
A organização de uma metodologia e mais do que isso, uma lei geral
e segura como a Lei da Gravidade conduziu numa fé geral nas leis gerais dos
estudos acadêmicos. Nisso estão as leis da Química, nas teorias sobre a Arte da
Guerra de Clausewitz, na diplomacia, no Direito, nos estudos sobre a Medicina e
do homem e mais do que isso na Antropologia. As tribos do Pacífico passaram a
ser estudadas de uma forma etnocêntrica e supostamente científica por
professores das mais diferentes universidades europeias
.
As consequências dessa revolução estão na arte da Economia, o
sistema monopolista é primeiramente questionado na Riqueza das Nações, de Adam
Smith, que concluíra que a causa da pobreza das nações europeias é a má gestão
dos seus recursos e na sua capacidade de explorar os recursos de maneira
reduzida, além da intervenção maciça do Estado régio. O nascimento de um
liberalismo inglês ainda pautado pela ideia de uma gestão sem intervenção
direta da monarquia, mas de milhares de “Josés do Egito” levou a um
florescimento do ideário de que o Leviatã é grande demais para saber controlar
o dia-a-dia das atividades cosmopolitas e a ciência complicada da arte do
dinheiro; A lei da oferta e da procura ou a mão divina conduziriam a autorregulação
do mercado em prol do bem comum, e mais do que isso para o bem individual.
A livre iniciativa dos mercadores levou a um completo paradigma
para alterações chave doo sistema financeiro, com a tabelação de regras fiscais
e o fim da intervenção régia em determinadas atividades econômicas. Quando o
governo não se apercebe dessas mudanças, há revoluções. Tanto na América quanto
na França.
A Revolução Francesa é talvez marcante, tanto quanto a Americana,
por quebrar a velha ordem. A segunda quebrou com o Pacto Colonial enquanto a
primeira quebrou a aliança dos Três Estados numa sociedade estamental que se
viu questionada pela sua incapacidade em suprir o rombo das contas públicas e a
carestia que se abatia sobre o trigo francês; É o início da submissão da
política à economia e não o contrário, a política nunca mais terá forças para
controlar a economia de maneira convincente (tirando nos regimes de economia
planificada).
O nascimento da representatividade do Terceiro Estado surgiu com os
ingleses da América, mas se tornou marcado pelo modelo representativo francês,
e nos dez anos de Revolução Francesa se ensaiou vários modelos representativos, seja a Assembleia Geral,
seja a democracia direta, seja a tirania de um Partido hegemônico. A Revolução
Francesa nasceu a partir do experimentalismo empírico de uma sociedade
científica na tentativa de gerir uma sociedade na melhor forma possível, mas se
deformou pelo descontrole com que os eventos revolucionários acabaram sendo
conduzidos com o passar dos meses.
O controle de uma nova época levou ao nascimento de uma ideologia cientificista
de culto ao Estado como garantidor das liberdades individuais que destruiu a “bagunça
do Antigo Regime”. A Assembleia Nacional impôs novas normatizações e um
conjunto jurídico que se alterava conforme as atividades políticas do período.
A Antropologia do Homem desenvolvida em épocas anteriores
sacramentalizou um evolucionismo histórico que propiciou uma amoralidade do
homem europeu no trato com seus semelhantes, levando à cientificização do
extermínio a possíveis opositores ao Progresso. Seja no fio da guilhotina do
Terror jacobino, seja no neocolonialismo, seja os campos de extermínio
nazistas; O nascimento da banalidade do Mal.
O conservadorismo ressurgiu após a Revolução da França, mas a roda
da História já tinha girado. O nascimento do mundo ideológico está na dialética
entre a querela entre os girondinos e jacobinos. Mas o que observamos é que o
materialismo francês nascido no circulo intelectual de cortes do dito “iluminismo”
levou a um enraizamento do pensamento racional, concreto e científico sobre
todas as atividades humanas existentes de 1789 até agora.
E o materialismo francês não só foi base de desenvolvimento no
pensamento de Karl Marx na sua interpretação filosófica a partir da filosofia
de Hegel, como também fez germinar o desenvolvimento do Positivismo de Auguste
Comte, do liberalismo renovado do século XIX, como a gérmen da tecnocracia
atual de nossos tempos, o mundo é diferente do de 1789 porque os indivíduos (agora
posso usar esse termo) não temem mais a tirania, agora é o medo à liberdade;
Pois nesse mundo, milhares de pessoas não sabem o que querem da vida senão pela
fé irracional de um progresso material desumanizado da filosofia empírico do
estudo do próprio homem.
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