Hoje
é uma daquelas tardes preguiçosas de domingo, onde nunca desejo sair da minha
própria cama. Pela janela fito a mangueira que cresce robusta no terreno do
vizinho, que vagarosamente se arrasta ao passar do vento no céu azulado.
Olho para o azul do meu quarto, fito a parede em frente à minha cama tentando reconhecer um rosto no meio do tom pálido dos tijolos pintados. Meus casacos pendurados no cabide estão de testemunha, além da bagunça despojada de roupas ao redor da cama. A televisão continua em stand by, esperando para que eu assista um filme, ou procure uma série na Netflix, mas não hoje.
Tentei
jogar no videogame pela manhã, mas a agonia do coração me tomou de uma forma
tão sujeita que tive que tomar um tempo para mim mesmo. Se eu amo, amo intensamente.
Se detesto, detesto completamente. Nisso meu amor é napoleônico, deixo isso
para mim mesmo. Mas megalomaníaco em coisas amorosas, tento procurar no espelho
o seu reflexo e não encontro.
Onde
está você, porque não te encontro? Na poesia de tantas formas eu encontro o seu
corpo, lânguido e sinuoso a beijar meus lábios no calor de sua cama, com o seu
sorriso sempre branco, e os olhos sempre tão coloridos. Sinto vontade de
bagunçar o seu cabelo, ver a sua reclamação no pé do ouvido e morder-lhe a ponta
dos seus lábios.
Brincar
com o seu nariz me diverte assim como cheirar o seu pescoço perfumado. Suas
roupas, bem, depende. Não sou fã dessa naftalina que coloca no armário, me faz
sentir meio velho. Mas na nudez sutil de seus ombros imagino o olhar adolescente
que sai dos meus olhos quando a vejo. Você sente medo que eu te devore, mas
creio ser tão gentil, que você se diverte com o meu rosto.
Na
noite você roubou a minha coberta, passei um pouco de frio, mas não reclamei.
Estava abraçado junto ao seu corpo quente. Vislumbrei na sua estante um livro
de cabeceira, desde então ele não sai da minha cabeça. Inferno... Era esse o nome,
e imagino que o inferno deva ser assim, ficar longe da pessoa amada, olhando
para uma parede na tarde preguiçosa de um domingo.
Eu
não sou dado a detalhes, mas as vezes lembro de como você amarrava o cabelo,
colocava o brinco, ou brincava de fechar meus olhos. E os seus gritinhos em
meio aos sorrisos, no calor de um silêncio pausado, sinto que sou o que sou,
mais contente e feliz contigo. Você me faz tornar a ser o que tinha perdido,
uma inspiração antes de mais nada. Mas te desejo, não porque te ache bonita,
mas te ache decidida, mesmo que esteja indecisa, que te ache segura mesmo no
meio de sua insegurança, e completa mesmo no frio de sua solidão.
O
seu quarto é quente, menor do que o meu. Mais pardo, e brando. Tem um espelho,
o qual o olha como um tique, ou uma claquete, no seu estrelismo narcisista que
se torna encantador para quem te conhece melhor. Sobre homens que te desejam,
eu sinto que eu fui o mais franco, mas meus enigmas deixam-te confusa quando não
consigo encontrar respostas às suas perguntas.
Preferia
escrever em terceira pessoa, escrever um conto sobre uma jovem heroína que sem
querer me tirou desse marasmo de esquecimento. Mas não consigo fazê-lo. Eu acho
mais justo com meu próprio consciente escrever-te uma carta que nunca será lida
nem enviada.
No
frio da chuva, encolhidos nos bancos estofados, eu fitei o vidro embaçar... Naquele vidro embaçado você
escreveu uma pequena frase em francês com a mão... Je t’aime .
Estava
frio, o limpador de para-brisas balançava. As árvores trelimicaram enquanto o
lago ficava revolto. Se eu pudesse, teria feito amor contigo ali... Mas não, o
desejo tem que ser controlado, pois o que temos não é luxurioso ou algo
depravado, mas algo simples e porque não tão banal?
Nossa
relação ainda está no começo, e tenho minhas dúvidas do que você realmente
deseja. Não sei como me portar ou agir, se estou nervoso é porque é algo novo
para mim. Mas não quer dizer que eu seja
um covarde, mas quer dizer que eu quero fazer tudo direito; Olho para o meu
celular, sobre a cama ainda bagunçada... (Meu Deus, são 13:30) e espero ainda
uma única mensagem sua no Whatsapp. Saber se você está bem ou só querer falar
um pouco contigo, mas estou tão completo de dúvidas que desejo ficar quieto por
mais um tempo. Mas o nervosismo me consome.
As
horas passam na badalada de um minuto. Minha cabeça fica a mil, e não sei o que
pensar nesse minuto. Será que você não me ama, ou será que tudo é uma ilusão. A
grande ilusão. É tudo tão simples e ainda assim tão complicado, um mundo cheio
de regras para as pessoas que não querem ser rotuladas.
Eu
te amo intensamente no meio desses silêncios, pois traduzem o que sou em parte.
Inquieto, e cheio de calafrios, mas ainda assim intenso. Posso ser tímido às
vezes, ou muito teimoso, mas quero que saiba que não é por mal. Mas por te amar
um pouco, escondo o que te junto a mim.
No
fim, quero que saiba que isso são só
palavras. Tolas palavras de um homem que ainda tem uma paixão adolescente, e
que sem querer deixou isso vazar, um seguro segredo. Não sei se é mais seguro o
afastamento ou a indecisão, mas fico com a agonia de pensar que esse tédio vai
ser arrastar por mais um segundo.
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