sábado, 28 de março de 2015

Nada a invejar

Preâmbulo

         Nada a invejar. Este artigo é apenas um pequeno ensaio sobre os sentimentos de um jovem que busca o admirável mundo novo ... Como a humanidade é bela! O admirável mundo novo, que tais pessoas nos trazem.

       Minha opção para escrever em português é apenas momentânea, nada acontecendo com minhas idéias sobre o idioma lusitano, mas eu tenho o compromisso de descrever as pequenas situações que ocorreram para mim e para as pessoas do que cercam minha pequena pessoa.

     O que aconteceu com a humanidade nesta época? Terríveis tempos. Eu só preciso saber, ou não? Não, eu não. Sentindo-se o passado é nada a invejar, por isso, como posso lembrar de coisas que não aconteceram para mim? Eu não sei, talvez eu tenha humildade para parar meus pensamentos quando tenho escrito, talvez a minha arrogância é apenas maior do que meus sentimentos tão refinados que uma poesia. Mas nada a invejar.

        Veja o futuro de um sistema operacional que nada tem controlado. O sistema de espírito.





...


         Esses eventos ocorreram na vida suburbana de uma metrópole. Grande, mas não  a maior. Pode ser Nova York, poderia ser Paris, Londres ou Munique. Mas não, isso ocorreu no sul, América do Sul, com precisão.



           20 h 30. Nada aconteceu de novo. Quando lembro todas as noites dos vazios das luzes amarelas que pincelam o asfalto negro, quando o vento martiriza nossos semblantes com um licor congelante em seu sopro, nada é mais do que uma simples miragem no deserto de concreto armado;

                Entrar em casa sempre é uma tarefa que exige um mínimo de esperteza. Não só porque a vida esteja tão cheias de segredos, sobretudo da porta para dentro, mas também os segredos muitas vezes enganam nossos olhos. Como disse, a noite estava arrastando-se e os olhos estavam voltados para o movimento da rua. Não havia ninguém. Pelo menos não achava.


            Cortada a injeção de adrenalina, espera-se que tudo se tranquilize quando se chega em casa. Quando gira-se a maçaneta dourada da porta de madeira e identifica-se a luz pelos vitrais amarelados. Quando se arrastam as dobradiças e se inaugura uma imersão a um novo ambiente que lhe é tão caro.

            O sofá azul marinho de tecido rústico, as cortinas em desenhos florais em verde-água. A parede nua de qualquer arte que não seja os afrescos dos cabidais de gesso no teto. A televisão sempre se torna mais convidativa, à entrada de uma casa, ela sempre reflete a alma de seus moradores. Outrora fora o rádio, e antes disso, a biblioteca; Pensar às vezes é difícil quando você se expõe ao toque negligente do vidro laminado a refletir seus próprios olhos numa porção convidativa de espelho.

               Na frente da televisão, somos todos iguais. Um velho provérbio dizia; Mas não, não era esse o caso. Colocou as chaves na mesinha contígua, um MDF barato que descascava com o tempo e foi pelo corredor no final da sala, estreito e frio, até uma das pilastras junto à escada; Dois quartos se entrelaçavam no caminho, e os cadeados estavam pendurados na parede. Saiu, saiu no frio. De fato , já era 20h 40. A noite continuava se arrastando.


           Passou pelo automóvel na garagem, um sedan qualquer, branco, que nunca fora muito potente. De fato nunca passara dos cem, mas era a sensação da garagem. Olhou para a parede de fora, com as cerâmicas verdes recentemente pintadas, a caixa de correio e a lixeira retráteis e pensou estar seguro num pequeno forte em um terra estrangeira. Fechou o portão com os três cadeados. Não esperava nada demais, e não houve.


          Preparou em um bule, um pouco de água fervente e esquentou a cuia de madeira com um pouco de erva-mate. Era um hábito gaúcho.  Incomum, mas ainda assim rotineiro. Despejou a água na erva e esperou inchar a erva. Da cozinha, passou para a área de serviço, a pequena biblioteca sem livros num quarto contíguo e subiu um escada em caracol; Uma escada de ferro branco, escovado, onde embaixo se escondiam uma bicicleta empenada e alguns caixotes de madeira.


           A escada fazia barulhos estranhos e tremia, a parede escondia uma textura que cortava os cotovelos, e o arrastar da pasta de couro atritava com as ferragens do corrimão. Retirou os sapatos junto ao final da escada e jogou-os junto a um hack onde ficava o rádio. O piso de cerâmica estava frio. Ligou a luz branca que povoava o cômodo e a parede azul começou a limpar sua mente. Cansaço, era o que sentia.


             Jogou a pasta para longe. Entrou num cômodo onde numa estranha sensação de pesar sentiu-se estranhamente confortável. Havia três estantes repletas de livros que envelheciam como vinho meio à poeira e os ácaros, dando um odor estranho de mofo com cravo da índia. Encontrou escrivaninha nova, aquisição recente, onde estavam depositados alguns papéis avulsos, a História de Roma, de Tito Lívio e o laptop preto entreaberto, do lado, conserva-se o conluio entre o antigo e o moderno. O computador de mão e a velha maquina de escrever com uma carta escrita ao meio. Aquele longo deslocamento era proposital.

          Na parede havia dois ou três quadros, todos impressionistas, um primeiro em perspectiva de uma avenida desconhecida de calçado pé-de-moleque, cheia de pinheiros em direção a um Arco do Triunfo. O segundo, uma paisagem floral ao redor de um rio de onde podiam se ver montanhas distante. E o terceiro, um retrato de uma moça morena, de cabelos negros, trajando uma camisa de gola que parecia ter um efeito especial na tela, embora estivesse encolhida atrás de uma das estantes.  Havia nessa estranha composição um arco e flecha indígena, meio retorcido e novamente bonito, que tinha um estranho efeito belicoso num cômodo tão artístico e de novo um relógio de areia que brandia o descontentamento e ansiedade quando nada mais parecia dar certo.



          Esse cômodo era escondido e fechado, só para si. Num espaço de reflexão, o rádio tocava uma música, mas o teclar das teclas era o que povoava sua mente. Difícil ser criativo hoje em dia quando tudo o que era genial já foi escrito. Entretanto era uma tarefa que se dedicava todos os dias, o nariz parecia estar pesado, tencionou cheirar um pouco de rapé. Mas eis que o celular vibrou na madeira da mesa. Aquilo foi um foco de desconcentração.


        Decidiu sair da cadeira, com a ideia resoluta na cabeça de que estava com fome. Seu estômago parecia inchado e depois, concluiu que precisava ir ao banheiro. A casa estava vazia nessa hora, e solitária. Confortável. O cômodo cheirava a um estranho cheiro de lavanda e urina, mas de todo não era agradável. À pia estavam alguns cremes para o cabelo, a pasta de dentes, o desodorante e um rolo de papel-higiênico. O cesto perto, do chuveiro, estava cheio e o vaso parecia ter sido polido recentemente. As paredes conservavam uma cerâmica cor de mármore que era bonita aos olhos e a pequena janelinha de metal no alto era a única fonte de ar daquele cômodo.

        Depois de dada a descarga, saiu da suíte. E olhou o corredor que crescia sobre os seus olhos, sentia uma fraqueza. Não era de fato fome ou queda de pressão, mas vontade de escrever.


        Voltou ao ateliê escondido e fechado. Entrou e lembrou-se que tinha que apresentar um projeto. Tinha prazo curto. Bem curto. Precisava de um orientador e sabia disso. O telefone tocou outra vez e serviu como arma de tortura. Era o Whatsapp, impossível trabalhar assim. Desceu. Foi para a parte de fora da casa, procurou espairecer as ideias e lembrou que tinha roupas no varal.


        Ventava, estava frio e úmido. Tocou uma roupa e ao notar que estava molhada, soltou um palavrão surdo. Chovia mais de uma semana e nenhuma roupa estava seca. Ia ficar sem roupas para sair. Isso foi frustante. Saiu e foi para a sala, onde tudo começou de novo. A tentação da televisão, o sofá de tecido rústico, a mesinha de MDF e as cortinas em temas florais.  Seu nariz atrapalhava, pesava, e percebeu que estava ficando doente.


         Quis se cobrir de mimos, edredons e remédios. Mas no fim, desistiu da ideia e foi para o ateliê. O celular continuava atrapalhando, tocava toda a hora. Em meio a trechos importantes, nada poderia ser escrito. A curiosidade surgiu com o que se passava, digitou a senha no teclado touchscreen e tudo o que viu foi: "KKKKK". Ah, não, não acreditava nisso. Quarenta minutos perdidos para nada.


       KKK. Ku Klux Klan? Pensou, só se for para me desconcentrar. Riu de sua piada sem graça e foi para o quarto descansar. O banheiro da suíte fedia, deu uma segunda descarga e aparentemente tudo melhorou. Fechou a suíte que se tornou hermética aos seus olhos. Ali estavam suas coisas pessoais, seus livros de cabeceira, alguns cadernos avulsos, alguns de seus filmes e a televisão que parecia cada vez mais convidativa. Olhou para o armário e quase não encontrou roupas, vociferou.


      Mesmo assim deitou na cama e olhou para o alto. Eram quase dez da noite. Seis da manhã teria que estar de pé de novo, teria que ir trabalhar. Que rotina! Procurou um livro para ler, deu uma olhada em três palavras e desistiu. Não tinha mais ânimo para isso, o cansaço apareceu. Mas isso nem lhe preocupava. Realmente olhar para o teto era uma sensação reveladora.


      Solidão. Esperança. Medo. Desejo. Sensações rotineiras, mas que às vezes circundam à mente. A noite estava escura e fria. Cada vez mais amarga e sem qualquer indício de animação. A televisão parecia cada vez mais convidativa, a luz vermelha que emanava por baixo de seu vidro risonho parecia hipnotizar a alma. E num lampejo de fraqueza desejou assistir televisão, desejou beber alguma coisa, ou chorar. Mas por quê? Será que o mundo só se traduzir a necessidades e desejos? Será que somos criaturas tão vis que nos rendemos ao nosso individualismo? A reflexão metafórica tomou sua consciência.

        E no fim desejou adormecer, mas eis que a insônia apareceu. As memórias do passado surgiram. Culpa, remorso. Medo. Solidão. A mente é um castelo de cartas, a casa é um castelo da mente. O corpo é uma fortaleza da alma. A alma é uma fortaleza da vida. Metáforas e mais metáforas. Dúvidas de coração vazio nem sempre respondem as grandes perguntas da vida.


      Sentiu vontade de comprar um gato, pelo menos para fazer companhia, mais eis que ela desistiu de qualquer uma dessas ideias, pois afinal. Era só mais um dia difícil numa cidade cosmopolita no meio do nada do sul da América do Sul.


       Ela. Porque teria que ser ela e não ele? Porque não importa o gênero nossos tempos são tão novos que as crescentes dúvidas não escolhem gênero, classe ou grupo social.
        

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