quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reznov

"O câncer podre do  Reich fascista devasta a Europa como uma praga. Sua atuação implacável em nossa pátria rouba a vida de homens, mulheres e crianças. A arrogância de seus líderes é apenas igualada pela brutalidade de seus soldados. Estes são os dias mais sombrios da ocupação nazista de Stalingrado ".

     Quantas manhãs e tardes esse russo de ushanka e barba ajudou a alegrar com o seu sotaque engraçado e suas lutas mais difíceis.


      Viktor Reznov pode ser o mais fictício dos russos, mas mesmo assim não há ninguém que não conheça sua história que não o respeite.

      Afinal, não foi em Stalingrado o seu primeiro batismo de fogo? Quando os nazistas entraram em sua casa e mataram covardemente o seu pai durante à noite com uma navalha. Sim, Reznov tem uma história tão dura quanto os seus compatriotas "verdadeiros".

"Meu pai era músico em Stalingrado. Durante a ocupação alemã, o som de seu violino encheu o ar com uma música magnífica - Korsakov, Stasov - muitos dos grandes compositores nacionalistas. Aos meus compatriotas, era um símbolo de esperança. Para os alemães, era um símbolo de desafio. Mesmo agora, sua música ainda me assombra. Numa noite, os nazistas cortaram sua garganta enquanto ele dormia. Colaborar com qualquer nazista é uma traição, uma traição contra todos da Mãe Rússia" Viktor Reznov sobre o seu pai.   

       Reznov pode ser um personagem de um jogo, mas quantos o foram de um jogo imposto, sem reboot e sem vitória? Reznov é a manifestação de um soldado ideal, um soldado que sofreu os horrores de uma guerra, lutou, sobreviveu e trouxe a glória para a sua terra.

        Foi naquela fonte repleta de corpos, no meio da carnificina que tomou aquela cidade, que Reznov conheceu Dimitri Petrenko. Fingiu-se de morto quando a patrulha alemã passou e um soldado da SS solitário descarregava a sua metralhadora nos que ainda se debatiam no chão.

Fonte Barmaley em Stalingrado


       "Shhh! Faça o que eu disser e nós poderemos vingar esse massacre"; Reznov, com a sua mão mutilada, indicou a Petrenko em quem deveria atirar, em quem deveria se vingar. Um general, um mudak, Heirinch Amsel, arquiteto da miséria de Stalingrado.

         Correndo de prédios em prédios, escapando do fogo e dos tiros. Lutando contra cães enraivecidos e soldados miseravelmente malignos do outro lado, Petrenko e Reznov formaram ali uma amizade, uma amizade forjada entre o sangue e o aço.
"Tudo o que pode-se oferecer é ferro e sangue" Bismarck
        No meio da batalha, com tanques correndo, metralhadoras disparando e homens morrendo, foi ali que Petrenko vingou toda a sua terra mãe, vingou para sempre do sangue derramado pelo infeliz da SS que havia planejado a miséria em Stalingrado.

        "Hahaha. Excelente mira, Dimitri". Excelente mira, Dimitri. Era assim que Petrenko ficaria conhecido, como o Herói de Stalingrado. O herói que se arrastava no chão em um prédio em chamas, que corria das metralhadoras e que se afundou nas águas do Volga. Um herói que conheceu outro numa singela fonte em Stalingrado, uma fonte que perfeitamente poderia ser seu túmulo.

         Três anos depois, eles não lutavam mais na Rússia, eles não lutavam por seu sangue, por sobrevivência, agora estavam na cova dos leões. Eles estavam lutando na terra DELES, pelo sangue DELES, dos nazistas. Só assim sua vingança estaria completa.

         E assim foi de Stalingrado a Berlim, de cidade em cidade, casa por casa, cômodo por cômodo, lutando, brigando, correndo. Até chegarem em Seelow, nas portas de Berlim.

De Stalingrado a Berlim

        Nas fazendas, nas florestas, nos campos de batalha. Essa era sua vida, essa era a sua nova vida. Reznov nunca reclamava, Reznov nunca chorava, era um homem forte, um homem que levava consigo uma navalha enquanto outros apenas uma vodka e uma mortalha.

        Perdeu muitos homens, tornou-se frio e vazio. Brigava com um soldado, que "escrevia mais do que lutava" e não tinha o "estômago" de lutar, Chernov, pobre Chernov.

         No metrô de Berlim, Viktor conheceu todas as facetas de um império em decadência, um império em ruínas, com oficiais desesperados, túneis intermináveis e água, sim muita água! "Eles tentaram nos afogar. Eles tentaram nos matar, mais uma vez, eles falharam!"

         Seu humor estava abaixo do esperado, em Stalingrado ele havia perdido camaradas e também amadas, em Berlim ele estava para vingá-los. Quando viu Chernov retirar do bolso um bloquinho, Reznov explodiu:

"O que você acha que vai nos levar para casa? Escrevendo sobre esta guerra ou lutando-a!? Ninguém nunca vai ler isso! Se você não tiver estômago para matar pelo seu país, pelo menos, mostre-me que está disposto a morrer por ele!"

           Pobre Chernov, levou um esporro sem merecer. Viktor sentia-se mal com tudo aquilo, ele só queria a sua vingança, ele só queria ter a honra e o privilégio de acabar com tudo aquilo.

         Não estavam muito longe do Reichstag, a sede decadente desse "câncer que tomou a Europa", e Reznov ficou contente quando o comissário o designou para essa missão. Era mesmo fazer parte da História, era mesmo uma oportunidade de conseguir sua vingança.

         Nas ruas, nos prédios, mais homens morriam, principalmente os alemães, todos moleques. Será que eles ao menos sabiam manejar uma arma? Reznov não se importava, tudo o que queria era a sua vingança, sua tão esperada vingança.

         Agora estavam no coração do Reich e nada os faria parar.

         Nada.

         No meio de todos aqueles livros expostos nas estantes, em chamas num edifício parcialmente destruído, poderia se pensar a que ponto a humanidade havia chegado, a que nível de barbárie chegou. Sim, eram eles mesmos que em 38 estavam queimando livros em praça pública, agora era a sua tão estimada biblioteca do Reich que estava em chamas.

         Foi Petrenko que liderou o ataque semi-suicida em direção ao Reichstag, de peito aberto, destruindo uma por uma as peças de artilharia, enquanto Chernov, um pouco mais atrás, carregava a tal estimada bandeira da Mãe-Pátria. Dimitri queria tal honra, mas foi Reznov que havia decidido de última hora que Chernov iria carregá-la, assim o garoto lutaria com mais amor por seu país.

        Reichstag, o ínício do fim.

File:CoDWWReichstag.jpg













        Não foi fácil, não foi nada fácil, mas depois de tanto tempo, todos agora parecia contentes em chegarem próximo às pilastras que sustentavam aquele edifício.

       Foi ali que tudo começou, para falar a verdade, em 36, quando os nazistas secretamente incendiaram o edifício do Parlamento e colocaram a culpa nos vermelhos, foi assim que essa corja subiu ao poder.

       No meio das explosões e dos tiros, uma pilastra inteira foi ao chão, assustando a todos com o estrondo, Dimitri ficou meio tonto, Reznov também, mas Chernov... Chernov seguiu em disparada, subindo os degraus da escadaria. Reznov estava certo, Chernov lutou mesmo com maior louvor. A bandeira rubra do sangue dos trabalhadores tinha o seu efeito.

         Mas não do jeito esperado. Um SS saiu do seu esconderijo com um lança-chamas e lançou o fogo contra o pobre recruta, o pobre Chernov.

        "Chernov!!! NÃO!" Dimitri descarregou sua arma contra o infeliz, fazendo explodir o tanque de gasolina. Tudo o que Reznov fez foi correr em direção ao "estúpido escritor".

         Chernov estava no chão, se contorcendo de dor, e em vão o sargento tentou confortá-lo e acabou encontrando no bolso de sua farda o pequeno caderninho, um pouco chamuscado. "Alguém devia ler isso"

        Era um dia terrível para Reznov, dez dias depois do seu aniversário, era isso que recebia de presente, um soldado, um amigo, morto aos pés do Reichstag, tão perto do seu objetivo.

        Reznov pegou o pequeno caderninho e entrou no Reichstag junto com os outros.

"30 de abril de 1945: Quando ele falou pela primeira vez de Dimitri, Reznov disse histórias de um herói. Alguém em que todos nós deveríamos aspirar a ser. A sua bravura no campo de batalha está fora de questão, mas ele também tem mostrado misericórdia em meio a brutalidade do Exército Vermelho. Ele é realmente um herói".

          A leitura na voz surda do sargento comoveu a todos, principalmente a Dimitri, que sequer tinha um dia conversado com o rapaz, ouvir o que ele havia a dizer... "Ele é realmente um herói".

          Agora o único objetivo era subir as escadarias e eliminar qualquer infeliz que estivesse na frente. Foi ali que Reznov pôde ver a selvageria com que alguns de seus soldados mostravam ao encontrarem os infelizes indefesos. Reznov sequer se importava, não agora, agora era eliminar de uma vez por todas a tirania  fascista que havia causado tanto mal na Mãe-Russia.

          No saguão do Reichstag, nas escadarias, nos camarotes do plenário. Tudo era decidido sobre o cobre das balas e o ferro do sangue. Não havia mais clemência, esse tempo já tinha acabado há muito tempo.

          A madeira escura que decorava o interior do edifício estava em chamas e o espírito de Reznov também. Sequer lhe importava se aquele edifício tinha sido o mesmo onde Bismarck proferira os seus discursos ou onde os senadores de Weimar debatiam entre si o destino da Alemanha, tudo o que ele via era a sua vingança.

          Na cúpula do Reichstag, destruída pelo bombardeio inglês durante os últimos dias, os soldados do Exército Vermelho e do que restou do Wermarcht disparavam suas últimas balas, até que uma rajada de artilharia das Katyushas, os "orgãos de Stálin", varrer por fim a virtuosa varanda que se projetava sobre o rio Spree.

          Dimitri tomou para si a responsabilidade de erguer o estandarte glorioso sobre a varanda daquele prédio, mas foi alvejado traiçoeiramente por um um SS sobrevivente com uma pistola Walter na mão.

           "Dimitri! Não"

            Reznov sacou sua machadinha de açougueiro e retalhou o quanto pode aquele infeliz até ele soltar um grito tão agudo que Reznov teve usar a perna para retirar a lâmina fria das costas do nazista. O corpo imóvel caiu sobre os degraus da escadaria externa.


          O sargento Reznov correu até a bandeira hasteada no Reichstag, uma bandeira solitária totalmente rasgada, com a suástica tremulando lentamente. Com um golpe, ele cortou a corda que a sustentava e voltou  para o amigo que havia caído no chão.

         "Você pode fazer isso, meu amigo. Você sempre sobrevive!"

        E ajudou Dimitri a ficar de pé, segurando com o braço o peso do corpo moribundo. Sobre gritos eufóricos de "URA" ("Viva!"), Dimitri mancou até o cume do telhado e enfim colocou a bandeira, o rubro bastião dos trabalhadores e camponeses na varanda.

        " A honra será nossa... Enquanto você viver, o coração deste exército jamais poderá ser quebrado. As coisas mudaram, meu amigo. Como heróis vamos voltar aos braços da Rússia ..."

       
          Esse é o tipo do herói fictício que te faz viver com ele, lutar com ele, faz ser amigo dele, mesmo que não exista, mesmo que não seja real. É um herói que luta e você sabe que ele luta, você sabe que tem os seus defeitos, mas ainda assim você gosta dele.

        Não é a toa que Viktor Reznov é com certeza o personagem mais bem trabalhado na série inteira do Call of Duty e ainda assim, tiveram a audácia de matá-lo de uma forma tristonha no Black Ops, o que me deixou revoltado, porque foi o único personagem da série inteira com o qual fiquei realmente apegado e essa postagem foi para mostrar realmente isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...