sexta-feira, 17 de agosto de 2012

As greves ao estilo tupiniquim

       É bem verdade que eu tentei ao máximo não discorrer nada nesses dois meses de greve que de certa forma prejudicam o ensino superior no país, contudo os últimos dias mostraram o quão perdido anda o rumo das coisas.

       Eu enfrentei com tenaz antipatia a ideia de uma greve universitária, até mesmo porque eu não gostei nem um pouco da ideia de perder as aulas e fiquei enrubescido com a dita greve estudantil (considerando que em tese o único papel de um estudante é usufruir do ensino do Estado), entretanto com o passar do tempo adquiri uma postura de neutralidade.

         Enfim, vamos parar pra pensar um pouco:

        Desde maio desse ano, os professores cruzaram os braços por melhores condições salariais, pra mim tudo bem, e por melhores condições de infraestrutura e que o governo destinasse 10% do PIB para a educação, essa sim tornou-se uma coisa mais complicada.
          O Mantega disse que isso era impossível, que quebraria o país e o Brasil não fecharia as contas, mas na verdade, o Brasil podia se quisesse destinar até 15% de suas receitas para a Educação, considerando que no final desse ano a receita deve estar em torno de um trilhão de reais de novo, isso deve dar algo em torno de 150 milhões de reais.

          Sim, o governo se ele quiser ele pode fazer isso, afinal ele destinou mais de 250 milhões para serem gastos com as empreiteiras (que no minimo vem fazendo um trabalho duvidoso) para a construção de estádios e obras de infraestrutura para a Copa. Lembrando que muitos estádios serão inúteis depois, como o de Brasília e de Cuiabá, que não tem grandes times, e só servirão de Elefantes Brancos no final disso tudo.

             Não é problema para o governo suprir as reivindicações dos grevistas, era só fazer um corte orçamentário, privar alguns funcionários inúteis de privilégios absurdos aqui em Brasília, retirar mesmo o quadro de funcionários comissionados e fazer um arrocho mesmo nas verbas pessoais nos Três Poderes.

             Contudo, o governo é mais pão-duro que eu mesmo, não anda tendo qualquer movimento de sentar e negociar com os grevistas de forma ineficiente, e a Dilma nomeou funcionários inadequados para essa negociação, como o Mercadante, ministro da Educação, que a cada dois dias diz que encerrou as negociações com os grevistas, porque não sabe negociar, e a ministra do Planejamento Miriam Belchior, que vem cada vez mais sendo inflexível quanto a isso.

              É horroroso saber que o governo pouco liga para a Educação, pois afinal de contas o que esperar de um governo que ainda permite que crianças estudem ao relento, ou em escolas de lata, com professores ineficazes e livros tristonhos de conteúdo.

             É verdade que o Estado tem outras preocupações, mas deixar que as instituições acadêmicas paradas por quase noventa dias é incompatível para um país que visa ser uma potência, eu duvido mesmo que nos Estados Unidos, que tem poucas universidades públicas é claro, mas a Universidade da Califórnia figura uma delas, deixariam que uma greve se arrastasse por uma semana qualquer, em dois dias estaria o governador dialogando com eles, em três o Obama.

             Está certo quem disser que a Universidade da Califórnia é crucial aos Estados Unidos por ter contratos com a Nasa, pesquisas para o câncer, aids, contratos com o Exército e estar ao lado do Silicon Valley, mas as universidades brasileiras, embora não sejam tão proeminentes, também realizam pesquisas importantes. Porém, antes que eu seja execrado, devo dizer que as pesquisas não foram interrompidas, mas o quadro acadêmico sim.


            Agora vejamos o outro lado, o lado do governo:

            O governo anda tendo problemas com o Orçamento desde a administração Lula e mesmo que a arrecadação venha sido recorde nesses últimos anos, as despesas também e com os compromissos com os quais o Governo Federal se envolveu, como a Copa e as Olimpíadas, o Brasil começou a gastar vultuosas somas em áreas que digamos, dão pouco retorno.

             Alie isso ao programa de incentivos à indústria nacional, que apesar dos esforços de tentar vender as suas tranqueiras, não moderniza seus produtos e ainda ousa vendê-los a preços absurdos com margem de lucros absurdas, mais o Programa de Aceleração do Crescimento, que tenta fazer obras em tudo que é canto do país, como a Transposição do Rio São Francisco, que ninguém nunca mais ouviu falar, e as rodovias sendo recapeadas, e já temos um gasto assustador na economia.

            Some ainda os enormes gastos com pessoal, principalmente com funcionários inúteis e ineptos que figuram no quadro burocrático em Brasília (e não são poucos, acreditem) e os salários absurdos com que o governo premia algumas categorias, como o Judiciário, os quadros do Legislativo e afins, e temos um horror para todo o economista.

              E por fim, lembre-se de que é o governo federal que gasta TODA a soma de dinheiro da Bolsa Família para as famílias mais carentes nos mais diferentes cantos do país em troca de apoio e outras coisas mais. Esse é o quadro principal das finanças do Brasil.

            Isso porque eu ainda não citei corrupção, desvio de verbas públicas e outras coisas que sabemos que estão inerentes a essa administração.


            O governo, é bem verdade, tratou com muito carinho o funcionarismo público, concedeu ao longo dos anos muitos direitos e concessões e algumas categorias se viram mais privilegiadas que outras e a cada reajuste do Supremo Tribunal Federal se autoconcedia, leia-se de passagem, o teto salarial só aumentava, e numa bola de neve, os funcionários queriam salários maiores e o governo concedia.

           Agora com a segunda parte da crise de 2008 às portas e a economia em extrema desaceleração, o Brasil vê que não pode conceder mais aumento pra ninguém agora, senão não poderá ter manobra para agir mão de planos fiscais para salvar a economia, mesmo assim boa parte das categorias que fazem greve hoje, querem aumento salarial em 2013.

          Algumas categorias estão mesmo de barriga cheia e tão reclamando porque querem mais, os policiais federais mesmo ganham algo em torno de 14 mil reais, se eu estou certo,  quase quatro vezes o salário padrão de um policial militar (algo em torno de R$ 3 440,00), e desejam ganhar algo em torno de 24 mil reais, um salário de ministro quase, eu sinceramente tenho minhas dúvidas se um agente do FBI ganha essa vultuosa soma.

          Os auditores da Receita vão pelo mesmo caminho, a policia rodoviária nem tanto, o salário não é grande coisa assim e assim vai.

            Os servidores mesmo do quadro burocrático das universidades são os que menos recebem de todo esse bolo, algo em torno de três salários mínimos, e para mim parece ser legítimo que recebam um salário maior.

            Os professores são outros que poderiam ter salário maiores e não tem e o plano de carreira é uma coisa tão hierarquizada que parece ser uma planta dos Três Estados de Luís XIV. Os professores com mestrado e sem exclusividade, na Unb, onde eles recebem maior salário,  ganham algo em torno de 3 400 reais  salário de policial militar, considerando que o camarada teve mestrado e batalhar pra caramba pra conseguir o emprego. E professor em final de carreira, depois de vinte e cinco anos de emprego, com doutorado e até pós-doutorado, ganha quinze mil reais, algo que um policial federal em início de carreira e nem sequer com um mestrado consegue facilmente.

         É claro que tem uma série de bonificações, mas as outras categorias também tem as suas.

         Mesmo com tudo isso mostrado, ainda tem uma série de poréns, como por exemplo:

         O quadro de serviço de um Professor Federal constituiu algo em torno de oito horas semanais de aula, e o resto do tempo dedicados à pesquisa, acompanhamento e afins. Muitos professores sequer dão importância para isso e ponto.

         Outros professores sequer se dignam a entrar na sala de aula um só dia no semestre e mesmo assim recebem seu salário felizes da vida.

        Esses dois exemplos que eu citei, são ironicamente os exemplos dos membros mais ativos do movimento sindical dos professores federais, aqueles que querem entrar em greve por qualquer motivo, e se puder fazerem "uma Cuba mais ao Sul" (Eu simplesmente acho ridículo tudo isso, parece alarmismo do Olavo de Carvalho, mas aí eu fiquei sabendo que alguns tavam falando em tomar o poder e tirar a Dilma do cargo, o que me parece maior babaquice do que as Direita diz).

          Eu entendo o ponto de vista do governo, afinal "porque vou dar aumento a alguém que nem se digna a aparecer na aula? Que não tenta se especializar e ainda fica me enchendo o saco com essa papagaiada toda?". Se formos lembrar que tem gente aí que passa fome, não tem casa para morar, e muito menos emprego, o governo não está errado.

           Aí me vem essa coisa de greve estudantil, que eu acho uma das coisas mais anormais que existem, notavelmente inspirada nos movimentos estudantis do Chile, a greve estudantil se difere do modelo chileno porque lá eles estão lutando para que o ensino continue público e que não tenham que pagar para estudar, enquanto aqui, eles querem maiores investimentos em programas assistencialista, mais habitações estudantis e maior número de bolsas para os estudantes. Nada fora muito do normal, é até consistente lutar por isso.

          O problema é que por vezes o movimento estudantil passa para o radicalismo, atrapalha as aulas e os estudantes que estão bastante interessados em aprender (pois afinal, nem todos os professores aderiram a greve e muito menos os alunos, porque o movimento estudantil não é tão forte quanto já foi) e ainda vem com essa ideia de invadir reitorias, impedir gente de trabalhar e fazer mesmo a algazarra.

           Eu imagino o governo pensando sobre esse pessoal: "Bando de maconheiros, acham mesmo que vou dar todo o meu dinheiro para que gastem com as suas porcarias, vá estudar bando de pseudo-esquerdistas de merda". Em verdade, uma parcela significativa, mas não a maioria, parece sim fazer consumo de substâncias entorpecentes (me perdoem, mas é verdade) e boa parte está mesmo imbuída de um certo fanatismo trotskista de pseudo-esquerda com um discurso muito fraco e tenho até tenho minhas dúvidas se boa parte do pessoal leu Marx, Lênin e afins.

          É claro que não estou generalizando, não são de todo pessoas assim, mas essas pessoas existem é claro.

          Enfim, vamos ao lado mais prejudicado de toda essa história, o meu. Brincadeira, o lado mais prejudicado dessa história, é sem dúvida o dos estudantes (que eu também figuro nas fileiras). Além de muitos terem férias forçadas no meio do semestre e não lembrarem mais de nada do que aprenderam, terão que enfrentar agora um calendário corrido sem descanso satisfatório até meados do meio do ano que vem.

          Muitos tiveram que paralisar suas pesquisas de iniciação científica e até tiveram seus intercâmbios interrompidos por causa dessa gracinha (como eu, que estava pensando em ir para a Polônia no meio desse ano) e não se viram felizes com tudo isso.

          Além disso, as eleições estão próximas e o uso político que essa greve terá trará dores de cabeça para todos nós, se bem que o uso político já está sendo feito. Afinal de contas, o candidato do governo para a prefeitura de São Paulo, Haddad, foi anteriormente o Ministro da Educação!

          A única coisa que me importa é estudar, para quê fazer revolução agora, eu posso ajudar muito mais gente se eu tiver diploma e sair ensinando as pessoas por aí e é claro que não sou o único a pensar que essa greve tem acabar logo, eu não aguento mais essa porra.

         O governo não vai ceder em nada pelo que estou vendo, ele está pouco querendo saber da greve, e mais sobre as eleições estaduais nesse meio de ano e na Copa de 2013, isso é triste, porque mostra o quanto a educação é subvalorizada em seu potencial como vem sendo.

           E mesmo que o governo conceda o aumento, foi o que eu falei, muitos professores vão pouco se importar com isso, e vão continuar sem trabalhar como faziam antigamente, mas os outros, os que realmente trabalhavam irão compensar isso.

          Como meu pensamento vermelho que rodeava minha cabeça anteriormente, digo que sou simpático à luta de algumas categorias, mas quanto a outras, como a dos policiais federais, me mostro com certa forma de estranhamento, pois além de receberem altos salários, ainda atrapalham a luta dos outros que recebem salários menores.

          E quanto a imprensa, a imprensa fez seu julgamento, com suas reportagens inteiramente tendenciosas, mostrando que o "país vem sendo prejudicado que a economia não aguenta isso, e outras baboseiras", mas esquece que a luta de muitas categorias é legitima e que o governo não tem se mostrado sério para negociar. Eu diria que até é criminosa essa participação da imprensa ao lado do Governo, mas isso acontece várias e várias vezes que se tornou prática.


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