sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Desemprego: dilema do século XXI

Eu acho que vai ter uma época que vamos ter que aceitar que o desemprego como fato consolidado. Não teremos mais espaço para realocar milhares de pessoas no mercado de trabalho e nisso fica a pergunta: O que faremos?
A proposta revolucionária visivelmente não encontra mais respaldo como tinha no século passado, o mundo está se deteriorando rapidamente por consequência do modelo de reprodução do capital que ao mesmo tempo que não distribui riquezas, inibe as novas gerações em terem posições garantidas no mercado de trabalho. O aquecimento global e a deterioração do nosso meio-ambiente são fatos consolidados. Vamos admitir que as pessoas realmente não tenham mais oportunidade, mesmo com vários diplomas e especializações, porque cada vez mais os robôs entrarão em cena, ou vamos usar a tecnologia para criar um sistema de isonomia social em que todos os membros da nossa sociedade terão direito a três refeições ao dia, educação de qualidade, habitação e aos recursos básicos de subsistência? Já é possível fazer algo assim, temos safras recordes todos os anos, temos superávit na construção civil, crescimento na produção industrial a partir da automatização. Mas se aceitarmos isso, temos que ver que o neoliberalismo e a acumulação de riquezas com alta concentração de capitais necessariamente vai ter que parar. Se o sistema capitalista quer ainda sobreviver por mais outro século, então, é hora de se reinventar. A questão é: como? Pois bem, tendo em vista que nos próximos anos, entre dez a vinte anos, a participação de robôs e computadores será significativa, inclusive substituindo profissões consolidadas, como advogados, psicólogos, operários da construção civil, médicos, taxistas, comerciantes. Tudo isso será substituído por consultórias jurídicas feitas por softwares de inteligencia artificial, que irão ser capazes de interpretar o sistema de leis, inteligências artificiais que passarão a fazer consultória e aconselhamento psicológico, robôs que irão fazer construções baseados em projetos feitos sobre o computador, montando tijolos e placas de concreto assim como se monta automóveis.


Nem para plantar precisasse mais de mão humana


         Robôs cirurgiões que irão fazer incisões com nanotecnologia e muitas vezes com raios laser em células cancerosas ou mesmo realizando partos. Automóveis autônomos, identificadores de tendência e softwares formadores de opinião que passarão a exercer o trabalho de comerciantes e catapultaram o comércio eletrônico. Todas essas são tendências e o que será  feito dessas profissões?


Não será mais necessário um motorista do Uber pra te levar pra casa, o carro te leva sozinho

Balconistas realmente serão substituídos por funcionários autômatos, assim como faxineiras, garis ou mesmo policiais. As guerras serão cibernéticas, envolvendo bolsas de valores, mortes virtuais e aparelhos eletrônicos sendo destruídos. A verdade é que nesse novo panorama até a nossa moeda se tornou virtual, podemos fazer transações de crédito em segundos e todo o lastro que temos hoje com o dólar poderá ser agora indexado numa nova moeda, o bitcoin.




Escrevo isso em 2017 numa economia estagnada e com problemas sérios de concentração econômica, os bolsões de pobreza estão ressurgindo e as gerações mais jovens não estão conseguindo se reinserir no mercado de trabalho, ao contrário das gerações anteriores que tinham mais oportunidades de acumular capital através da especialização, ter um futuro profissional e uma carreira, o que constatamos no século XXI é que nenhum diploma realmente garante um emprego exatamente pelo caráter fluído da especialização, cada vez mais as pessoas são obrigadas a fazer cursos específicos em áreas cada vez mais complexas e sendo menos remuneradas do que antes. A única exceção é a indústria tecnológica. Teremos que admitir uma hora que não haverá mais emprego como antes, repartições públicas poderão ficar obtusas, assim como a prestação de serviços, a indústria e o setor primário. Esses dois já substituíram boa parte dos seus empregados por máquinas, inclusive hoje já existem colheitadeiras autônomas que não precisam sequer de condutor para colher as safras recordes. O mesmo para as indústrias, sobretudo a automobilística que usa agora robôs para montar componentes, indexar os blocos dos motores, soldar chapas de aço e montar até mesmo pára-brisas.


Construção civil a partir de robôs já  é realidade


Assim como o robô cirurgião


A impressora 3D vai acabar com o trabalho manual dentro de dez anos, isso é um fato, não será mais necessário você sair para comprar uma panela ou mesmo um prato para a sua casa, basta ter o software, ter o modelo de uma panela ou um prato e mandar a impressora produzir. Simples assim. É nisso que entra tudo isso.


Uma das impressoras 3D fez o molde de um motor de combustão interna

       O maior capital do século XXI não será o dinheiro e sim o conhecimento. 

          Isso já é uma tendência do século XX, quem tinha conhecimento sempre tinha maiores oportunidades para acumular dinheiro e também conseguir postos de trabalho avançados, mas agora, eis a diferença. O dinheiro virtualmente não irá existir na sua forma de valor de trabalho-braçal, ou mais leigo, tempo de trabalho desempenhado por um trabalhador para fazer um produto, tudo agora dependerá apenas do conhecimento para fazer o produto.


            Se formos ao pé da letra, o software necessita de um desenvolvimento, um cálculo matemático preciso, horas de trabalho, desenvolvimento de tecnologia de informação e tudo mais. Para você produzir a panela na sua casa, você vai precisar do software na sua impressora 3D. Assim como nos apps do seu celular, você é obrigado a pagar por um determinado produto para usufrui-lo (exemplo, você paga para jogar Angry Birds), e assim a empresa ganha dinheiro, se mantem e gera lucro.


              Como será feito quando não tivermos empregos suficientes para todos? Quando não tivermos mais médicos, policiais, dentistas, garis ou taxistas?


Policiais robô já são realidade

   Temos duas opções: 


         Primeira, aumentar os bolsões de pobreza com a maior parte da humanidade recebendo ajuda do Estado enquanto toda a cadeia de produção e reprodução das riquezas alimenta uma casta cada vez mais diminuta de pessoas, que terão acesso a todos os serviços, todos os bens e à ponta da tecnologia, usufruindo de alimentação saudável de ponta e água potável. (Cenário perverso e mais provável).


        Segunda, iniciar uma sociedade onde todas as funções de trabalho serão feitas por máquinas,  ou uma "escravidão" dos robôs, em favor do bem-estar da humanidade, em que todos os materiais e compostos serão feitos por robôs, desde a colheita dos alimentos, a extração dos recursos naturais, produção de produtos de consumo, construção de casas e automóveis. Isso seria a democratização plena dos meios de produção, todo mundo teria em tese acesso a uma educação de qualidade, alimentação digna, habitação, teria acesso a meios tecnológicos com variações de niveis sociais. Ou seja, uma sociedade ancorada na tecnologia. Mas qual seria a  moeda dessa sociedade? 


         Nos dois casos fica a pergunta: Qual a moeda desse sistema?

         No primeiro caso, senão houver emprego para todos a moeda será restrita, apenas  a elite terá acesso ao dinheiro tendo em vista que as necessidades básicas da população não serão supridas e não haverá consumo. Ou seja, crise, fome e revoltas sociais (a não ser que tenha um controle sistemático das mídias sociais, que já existe, e se caia no terreno do paternalismo, com o Estado dando pensões para todos sobreviverem em condições mínimas enquanto a elite sobrevive sendo beneficiada por toda a cadeia produtiva).


            Segundo caso, o capital será intelectual. Explico: Únicas limitações de uma economia alicerçada por robôs, embora exista a Inteligência Artificial, é necessária ainda a presença de um ser humano para pensar, realizar os cálculos, inventar. Nisso temos uma coisa séria, precisa-se do trabalho intelectual humano para se desenvolver softwares e máquinas.



                 Não só isso, robôs não produzem cultura. Cultura é uma coisa que só existe em seres humanos.



               Eis as duas únicas coisas que robôs não podem fazer e que é exclusivo a seres humanos: Um robô precisa do exemplo de um ser humano para exercer um trabalho manual, seja uma tela, uma música ou mesmo uma partida de xadrez: exemplifico Bob Fischer contra um computador (Bob Fischer perdeu a segunda partida, mas o computador só pode vencer porque alguém colocou na programação as regras de uma partida de xadrez).
Bob Fisher contra um computador
  Nós conferimos valor à nossa própria inteligencia e a nossa própria cultura e numa economia onde as pessoas não exercem um trabalho mais braçal, elas serão obrigadas a exercer um trabalho intelectual. O maior capital da nossa nova sociedade é a inteligencia.

             De toda forma, no primeiro caso, a elite também será a elite intelectual e não exclusivamente financeira, e eis o problema: Essa elite investe maciçamente na pauperização da educação regular, corta os incentivos da educação pública, segrega e fecha os espaços para que as pessoas possam se especializar ao mesmo tempo em que cria distrações para as massas com mídias sociais, Instagram, tabloides e exploração da imagem de celebridades. Eis o que acontece, os ricos não apenas estão ficando mais ricos, os pobres estão ficando mais burros justamente porque não percebem que está se criando um fosso intelectual.

            

            É apocalíptico o que irei falar, mas é possível que as diferenças sociais possam se  tornar diferenças biológicas. Não no sentido racial, mas no sentido biológico. Os ricos poderão ter acesso à medicina de ponta, com a nanotecnologia ao seu favor, uso da biomedicina para impedir doenças congênitas, usar inclusive a medicina para promover a melhoria da sua capacidade neurológica e ficarem ainda mais inteligentes. Sem contar que pessoas que ingerem alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, costumam ser mais saudáveis e mais inteligentes ao mesmo tempo.
Nanotecnologia usada para o tratamento do câncer


Se o cenário apocalíptico se concretizar, os pobres além de não conseguirem ter acesso ao melhor tratamento, morrerão mais cedo, terão a capacidade neurológica prejudicada primeiramente porque não terão uma educação de qualidade, segundo porque a sua alimentação deficiente, e munida de agrotóxicos poderá levar a um retardo mental que poderá se alastrar para outras gerações. Então nesses dois casos, o que é inevitável? O Estado. Eis a questão, o Estado desaparecerá ou não? Eu acredito que não, o Estado é mais que necessário para manter as disparidades sociais, ele é um regulador de tensões. Mas eis que numa sociedade do primeiro caso, o Estado será obrigado a distribuir alimentos de baixa qualidade, instituir uma ajuda financeira maciça para impedir que os bolsões de riqueza façam com que leve à extinção na forma do genocídio programado em uma parte que não terá acesso a alimentos, nem a dinheiro, moradia ou saúde de qualidade. Segundo caso, se o Estado existir, ele será o garantidor de educação de qualidade e saúde para todos os seus cidadãos. Eu não estou falando que no segundo caso não existirá classes sociais, de fato existirão, mas o Estado iria eliminar boa parte da desigualdade social garantindo educação de qualidade e saúde, alimentação dignas e moradia para que todos os seus cidadãos possam investir em suas próprias concepções, seja serem desenvolvedores de tecnologia ou desenvolvedores de cultura. Na sociedade do século XXI a tecnologia e a cultura estarão diretamente interligadas e eis que fica dois apontamentos: O conservadorismo sempre gerará fracasso. Explico, um modelo que favorecer a plataforma conservadora que acredita que todos podem ter emprego nos moldes clássicos e que a tecnologia não irá impedir isso, é simplesmente acreditar que a máquina a vapor não substituiu o trabalho manual na era vitoriana. O conservadorismo se aplicado só irá favorecer o primeiro modelo de brutal estratificação social, um modelo em que toda a cadeia produtiva será feita por robôs, grande parte da sociedade estará à margem em completo desemprego, enquanto a elite terá acesso ao melhor da alimentação, da saúde e da educação, tornando diferenças sociais em biológicas. O segundo apontamento é que o capital não existirá mais como antes. Então as Bolsas de Valores, os bancos, e todas as estruturas de capital artificial uma hora inevitavelmente irão acabar e serão substituídas por algo muito simples: Capital intelectual. Duas coisas podem acontecer e que podem mudar o modelo: Primeiro: Corrida Espacial, nesse caso, imigração. Os bolsões de pobreza terão inevitavelmente que procurar outros caminhos para a sobrevivência, nesse caso, a população da Terra, mais pobre, terá que procurar outros planetas para sobreviver, nisso plantar, desenvolver outras sociedades e culturas a partir disso tudo. É plausível, eu diria que a Corrida Espacial sempre foi a nossa aposta mais confiável nesse panorama geral.

Dez maneiras dos humanos colonizarem o Espaço

Segundo: Genocídio. Esse o lado mais triste de tudo. O lado em que os bolsões de pobreza irão se somar e as elites intelectuais irão usar a tecnologia para promover a morte de populações inteiras, seja pela fome, seja pelo desemprego, seja pela ausência de apoio médico de qualidade, ou pior ainda, usar a tecnologia a seu favor para matar seres humanos. Nesse caso, usar máquinas para o extermínio sistemático ou a propagação de doenças. É o panorama mais triste de todos e que mostraria o lado perverso que o ser humano sempre teve desde o seu nascimento como espécie. O desemprego é algo inevitável nos próximos 10, 20 anos. A corrida espacial pelo curso pode ocorrer entre 2040-2050 se realmente tiver a proposta de colonização. Mas se não, se nós não aceitarmos que é realmente necessário usarmos a tecnologia a favor de toda a espécie humana e promover a isonomia das classes sociais, dando o mínimo para que esse bolsão de pessoas possa se desenvolver, o único apontamento que teremos é que no final do século teremos um futuro perverso tal como o descrito por Black Mirror e outras distopias futuristas; O tempo-trabalho não será mais o nosso motor e agente econômico das nossas interações sociais, ao invés disso, a humanidade precisará reinventar o seu sistema produtivo ao mesmo tempo que produz em larga escala coisas como alimentos e produtos, terá que se adaptar à distribuição disso numa sociedade que conviverá com o desemprego como um fato consolidado. As soluções podem mudar, o panorama também, mas seja como for, podemos aproveitar a tecnologia ao nosso favor ou simplesmente usá-la para reforçar ainda mais a desigualdade social. Desde o neolítico até hoje, duvido que tenhamos passado por um desafio tão grande para a nossa sociedade como agora.

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