segunda-feira, 11 de abril de 2016

Carta aos meus filhos

      Meus filhos, hoje, se leem essa carta, saibam que eu os amo e espero que estejam felizes e contentes. No passado, poderia dizer que lutei muito para que o mundo fosse um lugar melhor para todos vocês; Desejei maiores oportunidades para vocês, as quais não degustei quando criança. Fui acossado, humilhado e injustiçado. Hoje, não sei o que falo para vocês.

    Roubaram as minhas esperanças, os velhos políticos do passado roubaram meus sonhos. Corromperam minhas lembranças e ainda assim tornam um martírio a vida de meus semelhantes. Meus filhos, como desejei mudar o mundo, mas os velhos não o permitem. O assassinato de uma democracia e o assassinato de um país, tudo isso eu vi. Defendi um novo país, com novas ideias e eleições. O amor e o afeto que tive foram jogados na lata do lixo.

    Meus amigos, morreram ou pereceram às veredas do ódio e da tirania. A maioria deles se venderam, conforme o oportunismo e o ódio. Amei e amarei sempre a vocês mesmo estando tão distante, mesmo que nunca nos encontremos. Meus filhos, intelectualmente estou tão triste por ter desistido tão fácil, por não ter lutado contra essa velha ordem e ainda assim ver todo o nosso esforço sendo jogado na lata do lixo.

     Hoje eu ainda conservo minha juventude, mas não tenho as mesmas forças. Morri e pereci no calvário da política de gabinetes, eu como ex-militante estudantil, ex-presidente de centro acadêmico me enojo de ter visto o pior das pessoas em coisas tão banais. Saibam, meus filhos, que mesmo que não seja  pai,  vocês saberão que fui o melhor que pude. Tentei tanto e não consegui nada, me enojei de ser brasileiro, me enojei em ser jovem e me enojei de ser cidadão.

     Sobre o fim desse país, vi o que não deveria ter visto. Vi a corrupção não somente nos deputados ou políticos, vi a corrupção a face de tudo. Na Academia, na Universidade, nos meus amigos, nos meus conhecidos. Vi no dia a dia, na catraca de um ônibus, num troco roubado, no comércio, e nos desvios das empresas. Estou enojado, sinto de vontade de vomitar.

      Tentei esquecer a podridão do mundo no tabaco e na bebida, a bebida ficou cara e o cachimbo me faz  mal. Estou envelhecendo sem ter visto meus sonhos se realizarem. Cognição e constrição, meu bolso vazio e meu rosto sem expressão, todo dia é um martírio ver meu rosto desgrenhado no espelho.

       Insatisfação ter acreditado no salto falso de um novo país, vi tantos amigos irem embora, fugirem para o exterior, mas fiquei porque acreditei nisso aqui. Nesse sonho frustrado chamado Brasil. Se um dia vocês me conhecerem, e virem uma pessoa diferente, saibam que ela nasceu aqui. Vendo o desemprego, vendo o fim de sonhos, vendo o abuso com que as pessoas infligiram sobre toda a juventude. 

        Guerrilheiros ou políticos profissionais. Não quero sonhar em desistir, mas quero ver que o mundo é nojento e mais nojento ainda é acompanhar a violência com que infligiram ao nosso futuro. Os velhos penhoram nosso futuro, e seremos que pagaremos tudo. Desculpem, meus filhos, devia ter lutado mais para vocês fossem mais felizes do que eu.

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