terça-feira, 30 de abril de 2013

A graça de haver discussões racionais

       Numa discussão dessas de diletantes prosaicos, tomei nota de discussões deveras relevantes para trejeitos acadêmicos. Vi com meus próprios olhos discussões sobre modelos políticos que resultavam na defesa da Monarquia como forma de governo.

     Nunca fui favorável a um modelo monárquico de governo e sinto que a despeito de suas falhas, a própria noção de República é algo um pouco mais articulado sobre a questão do poder; Entretanto a discussão demonstrou-se produtiva, pois, afinal de contas, apesar das recusas sobre esse tema, existem pontos relevantes para os que defendem a monarquia e até são argumentos que merecem ser levados em consideração.

     Contudo, não imagino um governo onde o povo seja deixado a parte do processo político, e mesmo que integre o processo político, que perdure o direito de hereditariedade do controle de uma nação. É interessante pensar nessas coisas, enfim, a despeito do calor da discussão que chegou a uma crítica total da Revolução Russa de 1917 ( que ao meu ver foi desmedida, afinal de contas, apesar dos eventos radicais associados a Outubro, não se pode esquecer que a Revolução mostrou ao Mundo que questões sociais não podem ser negligenciadas de nenhuma forma da  própria visão política). Vi-me solitário defender pensadores como Bukharin, Vigotsky, Eisenstein, Tsiolkovsky e Maximo Gorky que não mereciam ser totalmente desprezados da História.

       É relevante ressaltar que a despeito dessa discussão, depois todos saíram da sala e foram tomar um café juntos e isso me divertiu, onde mais haveria lugar para uma discussão saudável onde os dois lados se respeitam mutuamente? Diverti-me com isso e deixei meus colegas continuarem o papo e segui dessa forma outros rumos.

      Querendo ou não, é assim que o pensamento crítico se desenvolve.

A malícia dos seus olhos

      Você continua tentando me seduzir com esses olhos glaucos cor de menta. Eu sei bem disso, mas continuo resistindo. Não sou bobo de acreditar que algo surgirá entre nós, afinal somos tão diferentes, contudo eu sei que você quer brincar com mais um coração desafortunado; Seus olhos são tão felinos que chegam a arranhar a alma.

      Sei bem que você tem um namorado e que ele não é lá muito fã de poetas, mas você continua me seduzindo, como se estivesse brincando com um novelo de lã. Mas que malícia! Quem disse que você irá tomar esse coração destroçado? Afinal, de que serviria tudo isso? Qual é o valor em brincar com  os sentimentos das pessoas?

     Você não me conquista e eu sou bem consciente disso. Não adianta tentar, eu sei que você vai me trazer problemas, eu sinto isso, porém você faz parecer tudo muito tentador. Pare de me surrupiar olhares toda a vez que aparece na minha frente e pare de olhar para mim quando não estou reparando, isso me dá até um pouco de medo.

     Seus olhos em verdade não são felinos, são realmente de uma leoa, e você está tentando atrair essa presa descuidada. Você está se divertindo com isso, todos que observam sabem disso, entretanto, não gosto desse tipo de brincadeira, onde eu sou um mero brinquedinho que você  a qualquer hora pode guardar no fundo do baú.

      Ha, prefiro viver brincando de fazer rimas do que cair nesse seu joguete. Largue isso de mim, não me devore com os seus olhares maldosos e não me conquiste com a timidez de suas palavras, isso não tem graça.

Uma sensação de perseguição

      Um dia desse eu  achei que você estivesse me perseguindo, encontrei você umas duas ou três vezes nas minhas caminhadas nos corredores da vida, o que é  algo muito estranho, afinal quem diria que eu gravei o seu rosto no anonimato de toda uma multidão: Sim, eu gravei sem querer.

      É mais estranho ainda pensar que você estava olhando para mim quando eu estava distraindo redigindo algum ensaio que não teria fim, você me pegou desprotegido com o seu olhar de serpente; O que você estaria pensando de mim afinal? Eu realmente não sei e conjecturo não querer saber, afinal de contas a ignorância às vezes é uma benção.

      Entrei numa sala e encontrei meus amigos à porta cantarolando músicas bregas e sorrindo com as maiores trivialidades da vida; A cortina de fumaça do cigarro irritou minhas narinas e decidi tomar um pouco de ar, foi aí que você apareceu de novo: Com sua sandália rasteirinha, uma pulseira no braço esquerdo meio tribal e os cabelos meio à la hippie. Achei meio estranho, não esperava encontrá-la naquele digníssimo antro,  mas fora deveras compreensível pensar que você fora arrastada pelos amigos.

      Fui para a minha aula e conversei com alguns colegas sobre isso; Quando estava indo para casa, vi você correr em direção ao mesmo ônibus do que o meu. Eu estava meio desligado e entrei na frente de maneira um tanto grosseira, não era de se esperar cortesia de alguém que tivera aula o dia todo, mas foi então que ao ir para o meu lugar, você disse com voz angelical um "Boa Noite" bem tímido; Não lembrava que houvesse ainda educação nas palavras das pessoas no cotidiano, mas realmente você foi bem educada.
   
       Fingi não me importar com isso e me sentei junto à janela, foi então que você sentou do meu lado. Só podia ser uma conspiração cósmica, pois aparentemente não havia lugares melhores do que aquele ali; Perguntei a mim mesmo se estava sendo bem galante naquele dia e sorri com a tolice que essa ideia trazia. Coloquei meus fones de ouvido e fechei meus olhos, adormeci com você ao lado admirando as obras do Niemeyer da janela do coletivo.

       Alguns teriam dito que eu devia ter puxado alguma conversa com você, mas a vida é tão cheia de singularidades que meras coincidências não são lá muito aproveitadas por nós, pessoas descuidadas, e afinal de contas, que conversa teríamos nós em comum? Dormi tranquilamente e quando acordei você já tinha saído, nem me importo com isso.

      Calibrei meus olhos à claridade da iluminação pública, retirei o meu fone de ouvido depois de duas músicas, e desci na minha quadra como sempre fiz. Nunca mais te vi, é verdade, e é possível que nunca mais te verei, mas não sinto qualquer coisa sobre isso; É tolice acreditar que existe algo além em meras coincidências.

sábado, 27 de abril de 2013

Cotação de Histórias

      Toda vez que se lança um livro novo, seja do Mário Quintana ou da Bela Adormecida uma árvore de poesia cresce no vendaval obscuro das narrativas literárias, uma conspiração de leitura e escrita na cidade dos sonhos de Carnaval.

        As histórias de pescador tomam forma, são tingidas com cores de amor e no esconde-esconde dos palhaços, o circo filosófico ilumina o rio sereno da cidade dos homens. Quem conta um conto, deve saber brincar, fazer máscaras na Páscoa e de vez em quando brincar de inventar coisas. O picadeiro das palavras mostra a vontade de nossas vidas de tornar o pateta em poeta e no caldeirão de poesias, a mais magricela de todas as palavras, Amor, aventura-se em meio à floresta travessa da confusão sentimental.

      Minha carta literária consulta o limoeiro de narrativas empíricas estruturadas no espírito de liderança das palavras frente ao objeto, uma denúncia à individualidade das palavras sem sentido na Feira Mundial de versos, onde amor, ódio e sabor se autoexplicam no condensado semático de uma palavra.

      É por isso que toda a vez que se  lança um livro sinto como se germinasse uma árvore dos versos narrados e escritos, um espectro fiel às  emoções que carregam o caldo filosófico do qual todos os eruditos deviam beber pelo menos uma vez na semana.

     O que me levou a escrever isso? Uma natureza selvagem com a qual as palavras me conduziram até aqui.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Reflexões sobre dilemas políticos atuais

       A atual postura do congresso em cercear os limites próprios do sistema democrático brasileiro é apenas um passo para uma medida conjectural da própria apropriação do poder ilimitado por alguns grupos partidários.

       Ultimamente os senadores vêm tomando com maior força a ideia de que o poder legislativo poderia revogar as instâncias julgadas pelo Supremo Tribunal Federal, que até o presente momento é o órgão máximo do sistema judiciário brasileiro.

       Não que eu supervalorize os ministros do STF (na verdade eu tenho reticências com um em especial de sobrenome polaco, a que não deva citá-lo), há algumas arbitrariedades na corte assim como em outros organismos sociais; Entretanto o que alguns senadores de bancadas proeminentes no Senado desejam fazer é desestabilizar o equilíbrio (que já não primava tal como uma balança) entre os três poderes, tomando de maneira despótica o poder judiciário.

        Isso é possível em virtude de que de sete ou oito anos atrás o cenário  político nacional anda presenciando uma pauperização crescente, que se inicia com o escândalo do Mensalão, a posse de Severino Cavalcanti no Senado, o escândalo de Renan Calheiros (que usou sua influência junto a lobistas para pagar a pensão alimentar que devia à sua ex-mulher), posteriormente a posse de José Sarney e agora novamente Renan Calheiros.

        A base governista, para ser sincero, é uma piada, embora já tenha sido uma piada muito maior em tempos passados, e a oposição devia ser intitulada de "os fracassados sem causa", porque é realmente o que todo mundo enxerga quando pensa na oposição.

        O fato é que, por métodos democráticos de persuasão, tentou-se desfazer todo o embrolho da problemática do julgamento do Mensalão, e tendo em vista que muitos políticos (lideranças do PT, partido que está no poder) foram condenados por corrupção, muitos se refugiaram na tutela da jurisdição da Câmara e do Senado, como José Genoíno (cuja história ainda não foi bem explicada na Guerrilha do Araguaia), tal fato foi sacramentado pela declaração do presidente da Câmara Marco Maia sobre esse acontecimento dando parecer favorável à posse dos ditos réus do Mensalão à legislatura (isso não tem nem um ou dois meses e eu tinha profundo respeito pelo Marco Maia).

         Em todo o caso, por revanchismo, tendo em vista que os juízes do STF se mostraram impassíveis frente a meios de persuasão referentes ao seu julgamento e tendo o ministro Barbosa uma excelente atuação na conjectura do andamento dos processos, algumas lideranças da Câmara, frustradas, decidiram que o Supremo Tribunal tinha poder demais e isso explica a atual ação política desses grupos.

         A tentativa de cerceamento das próprias ações do STF e o questionamento de seus julgamentos fere os princípios democráticos que estabelece que nenhum dos três poderes pode interferir em outro sob nenhuma razão; mas o que se observa é justamente o contrário, o Legislativo desde um pouco antes da Crise do Mensalão, vem se submetendo aos desígnios do Poder Executivo (não que isso fira os interesses de alguns grupos que não ficam sem ter algum ganho nessas relações de poder), e agora o Poder Legislativo quer submeter o Poder Judiciário aos seus desígnios. Está tudo errado.

         Medidas assim dão amparo a regimes autoritários, que pelo o que eu saiba, o brasileiro construiu aversão desde os sangrentos tempos ditatoriais. A questão é que a influência de outros regimes latino-americanos na própria conjectura política nacional associada à popularidade dos próprios líderes (a despeito da máquina de Estado) vem abrindo espaço para esse tipo de coisa.

         Contudo, a popularidade do STF é alta demais para que algo assim ocorra, afinal de contas, não foi o povo mesmo que elegeu o ministro Barbosa herói nacional? Que saía no Carnaval com máscaras com o seu rosto? É complicado, mas se a questão se prolongar resultará em mais um desgaste das instituições democráticas que  vem se arrastando por alguns anos e toda vez que paro para pensar, me pergunto: "Isso é democracia? Não será uma oligarquia escancarada ou mesmo um nascimento de outra ditadura", sou tentado a pensar que a última situação não chega a ser verídica, mesmo assim fico espantado com tudo isso.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Résistance aos seus olhos

     Acho covardia o modo como me olhas com seus olhos glaucos cor de espinafre, por meio dos óculos e da fumaça do cigarro. Olha-me com curiosidade ao mesmo tempo que desprezo, cuidando para moderar suas palavras, mas tentando sem querer conquistar esse coração desvalido.

     Acho uma grande covardia na verdade e serei forte para resistir a ela. Sempre fui a favor da Résistance e resistirei a você nessa  hora, não será olhos lívidos que me conquistarão fácil, nem  sua timidez camuflada nas conversas, nada disso me intimida; Apaixono-me mais por ideias e palavras do que por belos pares de olhos  e um sorriso meio discreto.

      Você tenta ser encantadora e eu fujo de você com toda a vivacidade que eu consigo ter, das situações casuais e cotidianas; Não quero me prender a você, garota, tal como prendi a outras antes de você. Não me conquistará com os seus belos óculos e o seu jeito meio desengonçado a que acho sedutor. Não vou cair nos seus braços como um paraquedas filosófico.

      Não quero você e não me seduza com os seus olhos, "sou bravo, sou forte, sou filho do Norte". Bela vida a ti, querida Evita, ( brincadeirinha) mas puxe seus olhares aos outros que tentam se esconder nas  fracas armaduras de palavras e discursos; São discursos vazios e nada como um tracejar de cabelos, como você bem sabe fazer, para arrebatar vários corações.

     Prefiro que outra mão brinque com suas covinhas nas bochechas do que as minhas, sei que você me causará problemas justo numa hora que os problemas se tornam tão sedutores. Puxe mais uma baforada de seu cigarro, entupa seus pulmões de fumaça, mas não me venha com esse olhar tão desinteressado que chega a ser apaixonante. Tire-me desse olhar, cara M., que não consigo completar o seu nome pois o esqueço quando a vejo olhar a minha maneira de portar: Um tanto desengonçada e arrogante, bem como eu gosto de ser.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Porque eu te amava

      Um dia você me perguntou: "Por que você me ama?". Por que você faz tantas perguntas? Não tinha uma resposta no momento, brinquei com o meu cabelo, como toda a vez faço quando me sinto desconfortável (você entende o porquê), e tentei esboçar uma resposta. Na verdade, a gente não sabe porque ama.

      Amar é deixar de ser lógico, é negar sua própria arrogância e o seu amor próprio, é se rastejar pelos cantos. Não há nada de belo em amar, tudo isso é mentira. Não é conveniente responder todas as perguntas, mas também não gosto de deixar dúvidas suspensas no ar.
  
      Nada mais de amar, o amor é o ópio dos apaixonados, o carvão da inconsequência e a opulenta voz do coração. Retira toda a graça de viver, retira-nos o humor com belas histórias, e tudo o que eu pensei era o amor. Tolice, nada mais amargo do que borra de café.

      O estresse é alto demais, traz fios brancos à cabeça e um pesar no peito. O álcool não é o mais santo dos remédios mas cura a maior parte das doenças. Eu estava  doente da cabeça quando decidi me apaixonar; Isso simplifica muito as coisas, anárquico como eu sou, devia saber que não sirvo para viver sob padrões, eu amo ser independente e nada há de mal em ter esse amor.

       Nada mais dessas coisas, uma garrafa de vodka e um bando de jovens senhoras ao meu lado. Nada mais me importa. Nem mesmo as noites frias, das quais sinto falta de companhia, os rigores da vida, nada devo sentir senão o próprio desconforto de viver com tamanha calmaria. Eu tentei te dizer porque eu te amava, mas a verdade é que passado esse dia, hoje eu não sei e se eu souber, me apaixonarei de novo, mas em todo caso, não nego que te amava, assim como como nego hoje que o amor é uma poça de água no meio do deserto.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Suave narrativa

       Você que me olha toda subversiva,  brincando de anarquista nas ruas da vida, caminha tão maldosamente em minha direção e não arrebata não menos do que cinco corações. Poderosa como é, és tão perversa que acaba com todos a que tem direito. Decidida, faz tudo o que deseja e o que não deseja também e isso é engraçado.

       Você que anda de bicicleta com um vestido de bolinhas superapertado, com os cabelos ao vento e óculos quadrados, manipula a todos com sua voz tão doce quanto fragrância de jasmim, sua favorita, pelo que me lembro, mas na correria do dia a dia, esquece-se de passa-la. Não importa, eu gosto de você desse jeito, rebelde e feminina.

         Conversa sobre tudo e nada ao mesmo tempo, é a mais taciturna das sábias e a mais falante das bobas, e você que me olha com esses olhos de sábado chuvoso tenta convencer a todos que você tem voz, que não quer ser deixada de lado e que nada pode mudar o que você quer. Bonita do jeito que é, irá bem longe, mas não se importa muito com isso, afinal é bastante inteligente.

        Inteligência é a mais afrodisíaca das poções, não vi até hoje quem discutisse Bakunin e Teoria da Relatividade tão bem quanto você, e isso faz a todos sorrir, mesmo que mantenha-se tão séria quanto lhe cabe. Erudita, apresenta-se de forma tão despojada, tão depreendida que difícil esquecer alguém como você. Me sinto meio anárquico esses dias, você deve saber o porquê.

Prosa lápis-lazúli

      Com o gosto de damasco na boca e um último beijo nos lábios, lembro-me daquela noite que te vi partir  naquela profusão de pessoas de todas as cores, credos e gêneros. Era uma noite sem muito destino, mas uma noite que certamente me marcou principalmente por você ter pensado em mim.

      Sorrio pensando naquele dia, você que tanto sorria e me imitava como uma menina sapeca tão bem-humorada, mas que não queria se envolver com a vida e nem comigo. Adoro ver as coisas desse modo, é tão mais divertido! Você de cabelos cor de anil que irradia meus dias quando ouço sua voz e me beija com o seu olhar.

      Não quero mais nada além disso, nem prosa, nem lira, nem namoro, nada. Sinto-me bastante feliz dessa forma, diferente, é claro, de tudo o que eu fiz. Cantarolo pelos cantos, mas hoje não é uma canção de amor, é uma canção de alegria, com um maior vigor na fala, sem medo, sem temer. Adoro tudo isso, realmente adoro, é tão despreocupado.

      Toda vez que você mexe os seus cabelos, mexe comigo, de uma forma positiva, é claro. Não entendo porquê e prefiro não entender; quando me esforço a entender tais coisas, tudo que me resta são apenas decepções. Na vida coletamos tantas decepções que devíamos vendê-las a atacado, mas hoje não vendo nada além desta prosa.

     Você que me tirou o fôlego quando beijou meus lábios com o seu olhar, e agora partiu tão despreocupada para algum canto da cidade, bem longe de onde escrevo tais palavras, e deve ser mesmo assim. Não me apaixono tanto quanto antes, mas um burburinho surge quando lembro daquele gosto de damasco que adentra no meu coração. Sou tão romântico quanto um contador de palavras, suave e tolo, e nada mais me abala tanto quanto antes. Licor de damasco e cabelo cor de lápis-lazúli, que bela combinação! 

Pequena borboleta

      Veja como essa pequena borboleta circunscreve bem aos seus olhos tão delicado voo. Veja como ela tão delicada pousa em sua mão e confia em seus dedos, ela é tão bela, tão singela, quanto nenhuma criatura antes conseguiu ser. Não entendo porque passa tudo tão depressa, ontem era um dia normal, hoje já não é mais, vive-se por relógios e horários e ninguém pára um só momento para pensar nas coisas bonitas da vida.

      Talvez por isso esqueçam quão belas são as músicas no rádio, de se virar quando vêm belas moças de cabelo vermelho ou simplesmente de um azul tão sedutor quanto o céu do Planalto Central. As pessoas deixam de se divertir com o modo com  que a chuva cerrilha do céu e gera poças no asfalto.

      As pessoas são tão frívolas, parando para pensar, consomem-se em vias de falsidade enquanto esquecem de que nem tudo é eterno, tudo é passageiro e nada poderá mudar esse momento, tanto melhor, são essas pessoas que perdem o seu tempo no rigor acadêmico, em conversas sem sentido e numa vida pautada pela inveja da qual nem teimo mais participar. A essas pessoas me afasto, assim como de paixões antigas e passistas de Carnaval.Tudo que veio se desmancha como pó no ar e é tão gostoso pensar dessa forma.

        Meu avô dizia que nada pode ser eterno para sempre a não ser a honra e a justiça; Espero que ele esteja certo, não há maior vigor do que viver dessa maneira, e justiça seja feita, pessoas frívolas só tomam nosso tempo. Levanto-me hoje para perseguir essa borboleta, que de tão delicada, rascunha minha lira, não que sinta raiva disso, me diverto quando ela toma a bebericar o meu chá e uma valsa de Chopin toca no gramofone.

        Arte pela arte? Eu não sei dizer, nunca fui fã de tais prosas tão parnasianas, entretanto não quero continuar de onde parei, quero continuar de onde comecei. Assim a vida é transitória tal como uma borboleta que quando o Inverno chega morre congelada de tanto frio. A primavera acabou e o meu amor levou...

sábado, 20 de abril de 2013

Crônicas de sábado a tarde

    Uma caneta marca a página de um pequeno bloco de notas rascunhado de versos e reflexões sob po olhar eufórico de um pequeno relógio de pulso dourado, à direita do quadrilátero onde se desenvolve a madeira de uma pesada mesa.

     À esquerda, um pequeno caderno sem pautas está a par da atual historiografia em questão e discute Braudel e Paul Veyne com o disco do Villa-Lobos logo abaixo de si, sem contar que um texto do Hobsbawn se prolonga próximo ao teclado sob o som do jazz que ecoa do radio e atinge o pequeno tabuleiro de xadrez feito todo de vidro, o qual se prolonga em torno da multidão de livros e papéis que se prolongam em torno da mesa.

      Os óculos estão largados na estante, assim como o Ipod e o celular, os sapatos estão largados em algum canto, enquanto uma bela reprodução de Van Gogh ergue vigorosa na parede. O relógio de areia marca todas as palavras sem muito compasso e termina por dizer o que mais é preciso escrever.

      Passados alguns minutos, as escadas vão circunscrevendo degraus sinuosos, e os pés levam os passos para fora daquela construção, avista o sol se esconder timidamente sob as nuvens e uma bela moça de vermelho correr para não ser apanhada pela chuva. Pensa em sair, mas tudo o que faz é pegar o jornal e voltar para dentro. Tenho medo do mundo e da sociedade, só hoje mesmo, amanhã tenho que enfrentar tudo de novo.

      Muito bem, é hora do chá.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Caminhada filosófica

       Uma abelha zumbe no meu sapato; duas pessoas passam por mim: um cosmonauta e um acrobata. E dizem entre si que a voz da vida emana das conversas pueris.

       Ando mais um pouco e encontro uma bela moça de rosa lendo a xerox dos textos atrasados, ela é tão  bonita e tão serena que intimida até o mais afoito dos galãs com tamanha erudição. Ah! Como adoro erudição, não há nada mais sensual do que orquestrar palavras e ideias de forma tão harmoniosa.

       Esbarrei em minhas palavras com duas garotas que estudam Arquitetura, que apresentavam traços tão bem trabalhados quanto as obras do Niemeyer. Encontro um banco de xadrez defronte o retrato do Silvio Santos, penso em hebraico, até encontrar um amigo que tenta compreender aquela atividade tão incomum: andar pelos cantos anotando tudo num caderninho.

       A abelha continua a me seguir, mas me abandona rápido quando encontra uma lata de lixo. Percebo que sou tão doce que ela volta a me seguir de novo. Paro na frente de um banco e encontro uma garrafa de água desgarrada, certamente algum desavisado teria a esquecido enquanto ficava debatendo questões triviais nos corredores daquele antro de conhecimento.

      Cruzo um belo jardim, um casal conversa entre si, mas em vez de reparar em sua conversa, escuto um pequeno animal se esgueirar nos galhos das plantas decorativas. Será um gato? Não creio que fosse um felino.

       Uma  moça conversa ao telefone a plena voz, acho aquilo meio vulgar e paro para ver o modo como as flores cor de violeta se projetam nos galhos retorcidos de tal maneira que chegam a ser espinhosos, tal como a vida.

        Continuo caminhando nessa reflexão solitária até encontrar um amigo ao pé da escada, desço calado e num sobressalto encontro meus camaradas e assim termina a minha caminhada.

         Entro numa sala e abro a gaveta de uma bela escravinha: encontro duas fichas de pôquer e duas caixas de som se projetavam sob o olhar atento do misterioso Darth Vader rodeado com as crônicas de alguns quadrinhos de uma infância que desapareceu.

          Beleza americana tece um relutante novilho de rosa por seu corpo e Níquel Nausea projeta  um mal estar ao lembrar daquele dia em que comprei um sorvete de chiclete de banana a uma paixão de outro verão passado.

         Ao lembrar disso, fujo para um espaço aberto, o ar estava tão abafado que estava me dando até mesmo asma, sou asmático de ideias. Penso em ir conversar com aquela moça que estava solitária lendo os seus textos no meio da multidão, talvez fosse ela tão solitária quanto eu, talvez ela tivesse namorado.

         Lembro-me que estou tão isolado como nunca estive, mas me sinto bem com isso, por incrível que pareça, pois não há nada que esteja tão acostumado do que fazer essas jornadas sozinho e me sentir isolado como sempre estive.
     

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Àquela moça a quem tanto amei

        Sinto-me culpado hoje e um estúpido inconsequente em ter-lhe negado um beijo de amizade e ignorado seus olhares fraternos que me remetiam a um "Oi" amigável. Sinto-me zangado comigo mesmo por ter virado esse crápula sem  querer.

        Sou um idiota vestido de gênio, que segue pelos cantos com pressa e cabelos desgrenhados enquanto você segue sozinha dentre os demais, devia ser mais do que um simples estranho para você, devia ser menos estranho para o que senti por nós. Não sei o que devo dizer, não posso sentir desculpas se me sentia mal em passar por você e me lembrar dos erros que eu cometi, mas sem querer cometi erros mais crassos; Sou realmente terrível, hoje percebo isso.

      Não queria ter brincado com os nossos sentimentos, com nossas amizades do modo que as palavras brincaram quando saíram da minha boca: Eu sou um idiota, Carol. Saiba bem disso. Um idiota que teima em ser idiota.

       Não mereço clemência aos meus erros, cometi tantos que agora eu sei a razão de sempre terminar assim, desse modo, sozinho no escritório escrevendo em  finas palavras um dos mais difíceis pedidos de desculpas. Será orgulho? Medo? Eu não sei. Realmente eu sou um idiota.

      Sou um idiota por muitas coisas e em muitos níveis diferentes, deixei-me tomar por um sentimento ruim que não desgarra mais das minhas costas e foi por essas semanas reflexo de minhas ações, não sei lhe dizer que sentimento foi esse, mas eu queria ter sido menos cínico do que eu já fui. Estou muito triste e desesperançoso, mas não se preocupe, vai passar. Queria poder dizer-lhe tudo pessoalmente, mas como nos tornamos estranhos um ao outro, acho conveniente deixar tudo de lado.

       Eu sou um idiota, principalmente por continuar sentindo alguma coisa por você. Talvez no fundo eu ainda goste de você e por essa razão tenha sido tão idiota nesses últimos dias... O trem veio e passou, numa pequena estação no caminho de Kalach e não há palavras que mudem o que acho.

     A curva do meirinho, a descida do pelourinho, a granada do vestido de pétalas que enrubesci de xistosas palavras, sinto tudo isso menor frente a essa loucura maso-emocional a que chamo de amor desesperançado. Refiro-me a à prosaica lira da vida guiada pela sua maliciosa dialética , como eu disse, abandonei minhas lembranças e referências líricas à sua beleza, por entender que nada trazem a não ser desconforto a nós dois;

      Peço-lhe que não me tenha como um inimigo, pois assim não a vejo, só andava meio zangado com a vida e zangado comigo mesmo. Sou burro feito uma porta por pensar que você lerá tais palavras, bem como entenderá todos esses motivos fracos que uso para esconder algo irracional que cresceu dentro de mim: Se eu te amo, um daqueles dias eu te odiei, odiei tê-la conhecido e ter me apaixonado, mas depois acabei me odiando por ter odiado uma criatura tão serena quanto você;

       Como disse outrora, não mova sentimentos por tais palavras idiotas e nem compreenda tudo o que eu disse. Sigamos em frente, só queria desabafar e lembrar que virei o crápula a quem tanto abominei. Adeus, minha querida, seja feliz e serena, como sempre foi. Adeus.

sábado, 13 de abril de 2013

A favor do Humanismo aplicado aos hospitais

      A real conjectura dos hospitais é uma nota ignóbil para a questão da própria humanidade, em todo caso, mesmo efetuando gastos com planos de saúde, as mesmas desculpas esfarrapadas pontuam o cenário hospitalar. De tal forma, não é visível a humanidade do atendimento médico e sim sua total confusão em assuntos de âmbito burocrático, na maneira em que, o individuo continua enfermo e sendo tratado como uma reles peça de um sistema qualquer, um consumidor muito mal-tratado, que apenas deseja ter sanadas as suas enfermidades.

       A total incompetência dos organismos responsáveis pela saúde é o que gera a precarização do nosso tempo, que poderia ser aproveitado da melhor forma possível, bem como alastra em nossas veias as mais vis doenças ao longo dos corredores dos hospitais.

      Dessa forma, devo declarar em linhas gerais que a estupidez organizacional do sistema médico não resolve os dilemas sociais presentes e muito pelo contrário, apenas traz mais desconforto aos pacientes e torna todo o tratamento humano uma mercadoria.

     Declaro em linhas gerais também que as Revoluções Médicas que assistimos nos últimos 50 anos fracassam bem aos nossos olhos, nas mãos de burocratas estúpidos e atendentes risonhas e diletantes que só nos dão respostas vazias.

    Inflamo mais minhas palavras quando o descaso com que são tratados os pacientes consome ainda mais o imaginário dos hospitais em virtude do charlatanismo de alguns médicos, além da total falência do sistema público de saúde. Dessa forma estou tentado a pensar, mesmo pagando um plano de saúde incipiente, no sofrimento daqueles que agora mesmo enfrentam situações ainda mais difíceis e degradantes das que reles conveniados possuem ao esperarem o ócio moribundo das salas de espera. A estes, a estes se pode muito bem colocar a supra definição de "pacientes".

     A arrogância e a falta de uma prática humanista no tratamento dos enfermos leva-me a escrever tais linhas e me encaminha a daqui alguns meses escrevinhar os preceitos de um manifesto a favor do humanismo.

     Camaradas e irmãos, de todas as gentes, gêneros e costumes, é ignóbil pensar que tal tirania possa continuar a existir, é preciso fazer uma autocrítica de tal realidade, para que possamos realizar mais do que uma simples Revolução, mas uma total mudança de tal realidade na saúde. Não será por armas que trataremos os doentes e feridos, mas será por nossas palavras e ideias, dessa forma, pensai naqueles que hoje nada tem para que lhes possa sarar. Pensai nesses.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O outro século

Yuri Gagarin
      No dia 12 de abril se comemora o Dia do Cosmonauta pela simples razão que nesse mesmo dia o homem conquistou as fronteiras da Terra e caminhou rumo ao Espaço, Yuri Gagarin em 12 de abril de 1961 na nave Vostok I realizava a prodigiosa façanha de ser o primeiro homem a orbitar a Terra.


     Esse fato, associado com o fato de os soviéticos terem lançado o primeiro satélite no Espaço e o primeiro ser vivo levaram à iniciativa de ambos os lados, soviéticos e americanos, à Corrida Espacial. Depois de finda tal Corrida, os Estados Unidos desperdiçaram a oportunidade de utilizar-se dos esforços de  seu antigo inimigo, e conseguir tornar viável a conquista espacial, hoje tal honraria só é empreendida pelo capital norte-americano, o que é algo muito triste, pois resulta a venda de nossos sonhos a alguns poucos banqueiros e milionários.

      Desde que Julio Verne escreveu Viagem ao Redor da Lua, o imaginário humano rondou em torno do espaço, de tal maneira que o físico russo Tsiolkovsky inspirado em outras leituras, recitou as proféticas palavras: "A terra é o berço da humanidade, mas não se deve viver no berço eternamente".

                                           Trecho do filme de 1902 (Viagem ao redor da Lua)
                                                           inspirado em Jules Verne


        Em seus dois livros:  Sonhos de Terra e céu e Além da Terra. Tsiokovsky elaborou um artigo amigável com extraterrestres para o desenvolvimento humano, à época a astronomia ainda era uma ciência um pouco marginalizada frente à física e a química, e beirava a um pensamento um pouco utópico, mas as equações de Konstantin Tsiolkovsky sobre os foguetes embasaram posteriormente o desenvolvimento do programa espacial soviético, bem como o programa militar do Exército Vermelho na Segunda Guerra, as Katyushas foram inspiradas em suas ideias.

File:Циолковский за работой.jpg
Tsiolokvsky em foto
       A terra se tornou um lugar muito pequeno para  a grandeza da Humanidade, Tsiolkovsky mostrou isso junto com outros pensadores que nortearam o programa espacial de ambos os lados: Von Braun (do lado dos americanos) e Korolev (no lado soviéticos).


       "Os homens são fracos agora, contudo transformam a superfície terrestre. Em milhões de anos o seu poder aumentará até ao limite em que irão mudar a superfície da Terra, os oceanos, a atmosfera e eles próprios. Eles irão controlar o clima e o sistema solar como controlam a Terra. Eles irão viajar para além dos limites do nosso sistema planetário; eles irão alcançar outros Sóis e utilizar a sua energia vibrante ao invés da energia do seu astro moribundo." (Tsiolkovsky in Тхе универсе анд цивилисатион‎ - Página 104, Виталий Иванович Севастьянов, Аркадий Дмитриевич Урсул, Юрий Андреевич Школенко - Прогресс Публишерс, 1981)

       Yuri Gagarin provou que mais do que qualquer coisa, a terra era singela demais, vulnerável demais, para mais guerras e destruição. Era um planeta minúsculo com "seus vales e rios" tecendo o manto azul na frente de sua minúscula janela na orbita da Vostok I.



      Gagarin é um herói, não só por ter conseguido sua façanha, mas por ter se mantido humilde frente a ela, coberto de louros, ainda se percebia a simplicidade do jovem rapaz da aviação soviética que perdeu os irmãos no horror da guerra, e ainda sorria e acenava para pessoas desconhecidas. Gagarin transportava as emoções, as esperanças de toda uma noção humanidade; ele foi usado como veículo de propaganda soviética, mas ele parecia estar além disso: era recebido em Moscou, na Praça Vermelha, na Casa Branca, em Washington, na França, Inglaterra e até no Brasil! O seu discurso não era o mesmo uníssono: "A decadência degenerada do Ocidente não era páreo ao triunfo do socialismo", não, sua mensagem era de paz.
Vostok I
     A morte de Gagarin retirou a força do discurso em prol da defesa da frágil humanidade, mesmo assim seu espírito não morreu, ecoa toda a vez que se pensa em falar sobre o Espaço, toda a vez que um cosmonauta se lança ao Espaço para passar meses na Plataforma Orbital.

     Esse é o espírito que fundamentou em 1983 a execução do documentário НАШ ВЕК, de Artavazd Pelechian, para homenagear o próprio programa espacial de ambos os países, mostrando as dificuldades, as proezas e os fracassos do desenvolvimento tecnológico humano até a chegada ao desenvolvimento do programa espacial de ambos os países, é uma homenagem aos que morreram, bem como uma forma de lembrar aqueles que tanto pensaram no Espaço como o seu lar.

     
       "Nosso Século", é o documentário que tenta nos passar tal espírito. Ele é vibrante ao mesmo tempo em que é triste, ele nos conforta ao mesmo tempo que nos deixa melancólicos. Ele é mais do que um simples documentário, é uma sinfonia aos próprios olhos, na forma como foi elaborado, organizado e pensado. Tal como o programa espacial no início tinha sido imaginado, no imaginário de Jules Verne, Konstantin Tsiolkovsky e na paixão de Korolev em olhar para as estrelas e imaginar outras realidades.


         Extras:

        Primeira Missão de Yuri Gagarin


   Preparação para a Primeira Missão de Gagarin




Áudio de Korolev conversando com Gagarin na primeira missão da Vostok I



                                                         Em homenagem a Yuri Gagarin

Pois é...

        Longe de mim se conserva meu amor de maneira fluida na sofrasia das palavras, se apaixona pelas palavras de pedagogos de ensaio e pensa na vida de forma tão inconstante que é deveras estranho pensar nessa sua característica mais angelical.

          Não, não era angelical. Mas mesmo assim conservo-lhe algumas emoções, confesso, embora eu fique hoje calado. Melhor assim, nesse maldito jogo emocional não é conveniente expressar tudo o que se pensa, tal como o pôquer é um jogo bastante irritadiço.

      Perto de mim, conservam-se as lembranças. Lembranças felizes e tristes, penso que nem tudo foi tristeza, baixo a cabeça quando lembro das besteiras que cometi, mas continuo caminhando. Meus pés hoje são livres e não mais dançam por ela.

       Se às vezes sinto culpa? Claro que sim, mas deixo-a bem para trás. A culpa é um fardo muito grande frente aos livros que tenho que carregar dali para cá todos os dias. Prefiro me dedicar  a escrever algumas páginas sozinho enquanto observo a vida passar de maneira melancólica sentado na cadeira do meu escritório.

       Deixo a tristeza e a depressão um pouco de lado. Puxei o meu colarinho de lado quando percebi que quase estava apaixonado de novo, felizmente, como tudo nesse mundo, tudo se cura quando se previne. Sim, essa é uma tiragem pessoal, mas não há nada de anormal, logo depois escreverei uma postagem bem racional para compensar essa tomada filosófica enquanto penso em seu sorriso angelical. Bem, ao passado deixo as teias das aranhas.

domingo, 7 de abril de 2013

A forma da escrita




       A forma da escrita


      Bem vejamos, como deve ser a forma da escrita senão a escrita pelo prazer da própria escrita. A escrita  de um texto deve ser uma coisa alheia ao rigor técnico de palavras impronunciáveis sem que suas ideias sejam totalmente expressas. A tecnicidade do texto transformada no rigor formalista destrói a magia da própria matéria da escrita. O autor deve ser claro e conciso.

      Em todo caso, nem por isso a escrita do texto deve ser relaxada, dando amparo a litigiosas anomalias escritas, aberrações linguísticas e assassinatos ortográficos. O rigor total deve ser evitado na grafia do texto, mas o total desleixo  deve ser abolido da criação do texto. Um bom redator é aquele que escreve pelo simples prazer de calejar as mãos e de passar horas a fio sentado defronte a um pedaço de papel, a escrita nunca deve se tornar ultrapassada, e um escritor que se preze deve se atualizar sempre.

      A montagem do texto não necessariamente precisa ser feita de forma linear, mas se desejas inovar na montagem, é conveniente ter a habilidade para tal. Deve-se esquecer a influência de alguns pós-modernos na escrita dos textos, afinal de contas, a total negação da lógica redacional arrasa  por completo a  estima do leitor pelo texto.

       A escrita de um texto requer o pleno domínio sobre o assunto, não se deve arriscar a escrever algo que você tenha total desconhecimento, dessa forma, se desconheces o tema, limita-te à ideia. O estudo deve ser a matriz que irá trazer a base da própria prática de um escritor diligente. Agora, se conheces o tema, estude-o cada vez mais até ficar totalmente farto do conteúdo.

      Não estou dizendo que a prática da escrita é fácil porque, afinal de contas, não é, entretanto a prática da escrita nos ensina magistralmente os nossos próprios erros e com eles aprendemos a totalidade dos nossos ritmos de escrita. Um escritor de boa capacidade escreve desde o passarinho que gorjeia no alto de uma árvore distante até os deleites mais particulares da existência humana.

      O movimento do texto deve ser constante e presente, o texto não pode ser tornar algo estático e sem movimento, de forma que represente sempre um ritmo narrativo que imponha um movimento ao próprio leitor. Se as palavras não indicarem um movimento na narração o tédio consumirá por completo o seu texto.

       O conceito de humor deve ser moderado, um texto de boa formação, pode conter humor, mas um humor inteligente e sutil, nada muito escrachado ou mesmo pesado. Quando o humor se torna rude, o resultado inevitável é a pauperização do próprio texto.

        Comparações devem ser ministradas com cautela em virtude do próprio modo com o qual o texto está sendo redigido, nunca escreva  que "os seus olhos eram tão amarelos como a música do Camaro amarelo",   isso é remover toda a narração prodigiosa que foi ou poderia ter sido feita.

        A escolha das palavras deve ser pensada  de forma consciente, não só por considerar que uma obra escrita deve ser comparada a uma sonata bem articulada, mas para trazer até mesmo um suporte ao leitor, a musicalidade das palavras ou das ideias deve emanar na mente do leitor e enraizar suas próprias palavras, dessa forma ele poderá até mesmo cantarolando suas palavras.

        Ao repassar ideias não force o leitor a ter leituras iguais às suas, explique bem a própria forma do seu pensamento, mas não force também nesse aspecto, afinal de contas, o leitor também não é burro. A tomada de ideias no texto deve ser trabalhada de forma refinada e totalmente bem pensada, assim como o uso de conceitos e argumentos. O ativismo político deve ser utilizado com cautela bem como enxertos pessoais do autor.

        O olhar do leitor nem sempre deve ser desfocado, mas vários pontos de vista sobre o fato podem ser colocados em questão, desde que se saiba ministrar bem tal coisa. Personagens secundários nunca devem ter seu  ponto de vista ministrado à frente dos personagens principais, afinal de contas, os personagens principais são o foco do próprio livro.

        A forma da escrita, seguindo tais parâmetros, pode levar a uma escrita boa e concisa  e até mesmo o aprofundamento da própria noção da passagem de ideias por meio das palavras, em todo caso, é conveniente que aquele que deseja dedicar-se a tal ofício compreender a total complexidade do próprio ato em si de escrever, bem como sempre ler sobre o papel da escrita quanto forma de arte. A escrita é uma arte antes de ciência, lembre-se bem disso que muitos problemas podem ser minimizados.

        Seguindo tais conselhos, é possível que alguém que ame escrever possa se tornar um bom escritor de textos.

Conselhos de um mero caçador de palavras

       Pode-ser que o tempo tenha marcado melodias risonhas sobre as  epopeias do grande caçador de palavras, que tenta entender os mistérios dos sorrisos meio encabulados e as rimas solenes das lágrimas mais desesperadas e suprimidas junto ao peito. Em todo caso é tão estranho pensar na narração dessas palavras sobre um fato tão recente quanto é  o passado presente.

       Passado presente, o  passado não definido, algo mais do que o pretérito imperfeito, que de imperfeito não tem nada, já que não está acabado. Tudo pode ser modificado é claro, penso nisso como uma lei existencial da própria ciência contemporânea. 

       Perdido nesse teor físico-filosófico tento entender os motivos da ilusão, da falsa felicidade, seguidas do desespero e da tristeza, em doses tão cavalares que trazem ao peito axiomas impensáveis a momentos atrás.   Logicamente falando, a existência de emoções representa um dos paradoxos da própria vida contemporânea onde, parando para pensar, a logicidade de nossa própria cultura, bem como de nossa sociedade não dá amparo a sentimentos tênues ou propriamente bem emocionais.

     Não creio que a lógica desse pensamento ressoe aos brados retumbantes de corações em pleno processo de desalento como o meu, em todo caso, o silêncio é tão taciturno que me leva a dedilhar por sobre tais teclas, afinal de contas, que mal há em filosofar?

      Não é maior que o mal de se amar, logicamente, pois as injeções de endorfina nos conferem um prazer tão incomum e tão viciante que é como se essa droga produzida pelo nosso próprio corpo consumisse o nosso raciocínio e reduzisse nossos pensamentos, deixamos de pensar em termos lógicos quando estamos apaixonados e isso cria metade dos problemas relacionados a isso.

       A lógica é o caminho pelo qual, acredita-se, levar o bem de alguma forma. Pelo tratamento lógico, não há motivos para a existência de guerras tampouco de diferenciações, mas quando as emoções afloram, tais ignomínias estão em aberto. 

       Não deve-se deixar levar exclusivamente por emoções, mas no meu caso, não se deve ter emoções por si só, as emoções trazem inúmeros infortúnios desconfortáveis os quais nem merecem ser mencionados. A apatia nem sempre é uma coisa que deva ser repudiada, ela pode fazer parte de uma corrente filosófica, onde a própria recusa em se importar com os outros demonstra a seriedade com que tal individuo encara a vida.

     A empatia traz sentimentos perigosos, como a pena e a culpa. A clemência é algo honroso, mas esses dois sentimentos não. Em todo caso, não estou dizendo que a ciência deva guiar o homem  para o futuro, não sou um louco tecnocrata, mas eu digo que a lógica tenta controlar meus atos frente a outros puramente emocionais.

      Um caçador de palavras deve se desculpar por tais deleites filosóficos, mas se acompanhou até aqui tais palavras, deve ter havido algo de interessante nessas linhas que não lhe fez rejeitar tal postagem. Lógica, emoção, ou empatia. Isso não importa muito. Há coisas inacabadas nessas linhas que não se resolvem com o passar dos dias, mas não devo frustrá-los com conversas pessoais de tolos como eu que possuem problemas em expressar a totalidade de suas  ideias.

      Verbetes condensados, digo que as emoções devem ser escusadas em virtude das próprias manias pessoais do redator despreocupado com a forma do texto que sou eu. Penso que se tivesse agido de  forma menos emotiva, menores seriam as tristes lembranças que me assolam todos os dias: Baixo a cabeça quando lembro disso, mas sigo em frente. Conselhos se fossem bons seriam vendidos que nem água, mas penso, caro leitor, que a despeito dessas divagações, você compreenda a personalidade que escreve tais textos da forma como eu tento entender aqueles que se dedicam à leitura de tais textos.

        Esse estilo tão pessoal de escrita está tomando vertentes tão vertiginosas que até Saramago teria problemas para se fazer entender aqui, em todo caso, creio que é conveniente me despedir de uma forma diferente de "Caro leitor, muito obrigado por sua leitura", mas sim como: "Caro amigo, boa sorte nos dias que estão por vir".

         Pareço meio depressivo? Não da maneira que enxergo minhas palavras, mas saiba você que eu agradeço ter desabafado, mesmo que não de maneira lógica, tais palavras. Até mais, caro amigo. Boa sorte nos dias que estão por vir.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Asilo de quadrinhos

       Sempre fui fã de histórias em quadrinhos, de tal forma que não mais me  contenho em simplesmente chamá-las de Histórias em Quadrinhos e sim HQs.  A minha primeira revista em quadrinhos, pasmem, foi de ninguém menos que o Capitão América: o mascarado em cores vibrantes que usava um escudo e lutava por "democracia, liberdade e pelo mundo livre". O Capitão América, sem dúvida, era o meu herói, bem antes de minhas paixões ideológicas e pensamentos avulsos.

       O número daquela pequena revistinha mal impressa, de folhas amareladas, datava de meados da década de 1970, no meio da Guerra Fria, não que eu fosse dessa época, eu, filho do Plano Real, nunca soube como pensar um mundo totalmente dividido, mas aquela não era só uma revistinha: Era um número especial, embora não entendesse por quê: Era quando o Steve Rogers deixava de ser Capitão América e passava a ser o solitário Nômade, "o herói sem pátria".


       Era tudo em consequência do Escândalo Watergate, mesmo assim, eu achei um pouco estranho uma revistinha daquele jeito, mas foi daí que nasceu me vínculo com o Capitão América. Em verdade, eu não sei se os senhores sabem que além de um grande símbolo do norte-americanismo, o próprio Cap. América possui uma parábola de um modelo de americano ideal: de família irlandesa que conviveu com os dilemas da Grande Depressão, que era fraco e ignorado pelas mulheres e apanhava dos mais "velhos", mas que no cumprimento do dever se torna um personagem sobrehumano, tal como os Estados Unidos, que de um pequeno país isolado e ignorado no início agora tomava para si o papel de superpotência.

     O próprio uso do escudo é simbólico, representa o papel "defensivo" dos Estados Unidos, onde o inquebrável escudo de vibranium seria tão inquebrável quanto o "escudo da democracia". O Capitão América é sem dúvida um herói ideológico, mas também um personagem de valores: Ele luta por um ideal, trabalha de modo justo e tenta não se prender a governos posteriormente.

    Como antigo membro de setores de esquerda latino-americano, eu sempre era inquerido por essa questão, mesmo assim, eu não via dicotomia em ser de esquerda e gostar do Capitão América, em todo caso, não me prendo só a isso.

      O Batman era outra revista que eu gostava muito quando criança, afinal de contas, o Batman era um personagem que se via deslocado na própria sociedade, mesmo sendo bilionário com uma penca de negócios, Bruce Wayne continuava a ser uma das figuras mais solitárias nas histórias em quadrinhos, talvez seja por isso que tenha me identificado com ele. Os comentários espirituosos do Alfred, as travessuras do Coringa, isso prendia minha atenção.

      Com o tempo passei a olhar o Batman com maior atenção, Bruce Wayne era uma paráfrase para que um milionário poderia também ser um herói, o que na época em que o Batman foi criado (década de 30) era importante, tendo em vista que a situação social decorrente da Crise de 29 aumentou os ânimos contra os grandes investidores americanos.

        Sociologicamente falando, a questão fica ainda mais difícil. Bruce Wayne centraliza a renda de Gotham em torno da sua mansão durante o dia, e à noite ele saí à caçada aos delinquentes que "supostamente" eram levados "ao crime" por causa dessa concentração de renda.

        Entretanto, deve-se comensurar que essa análise sociológica causa também distorções à análise sobre a figura de Bruce Wayne, afinal, ele era famoso no mundo dos quadrinhos por ser justamente um grande filantropo.

       Em todo o caso, eu continuo gostando do Batman, e sempre quando posso, eu leio suas Hqs.
      
       Dizer que Hqs não são o símbolo máximo de doutrinação e propaganda é reduzir bem as coisas, mas nem por isso elas deixam de servir ao entretenimento do público infanto-juvenil, e mais, elas também são manuais educativos para as crianças.

       Mesmo assim, as mães malvadas, quando veem que os filhos começaram a crescer (ou fizeram uma travessura muito grande) não hesitam em jogar as famosas revistinhas em quadrinhos fora. Um crime contra a infância de muitas crianças, e mais ainda contra a arte, tendo em vista que as  revistas em quadrinhos possuem em seus quadradinhos expressões diferentes de várias situações igualmente diferente, com narração e enredo.

         Não, mas não lembram desses detalhes. Não às culpo, as revistas concorrentes que plantam essas ideias, a Fuxico podia estar com a inveja da tiragem 900 do Batman e fez uma matéria mirabolante "dos malefícios da leitura das histórias em quadrinhos". Uma ação de inveja contra os próprios gibis.

           Gibi, esse termo tão coloquial e ao mesmo tão bonito que designa todas as histórias em quadrinhos. É deveras antigo, é verdade, data da década de 40, e designava nada menos do que "moleque, garoto", nada mais apropriado para época, afinal, nos anos 40 as revistas em quadrinhos eram realmente voltadas para o público infantil masculino, só na revolução dos quadrinhos na década de 70 que começaram a aparecer com força personagens femininas nas histórias, mesmo assim, ficou a um público muito restrito.

         Eu acho deveras triste quando num acesso de raiva os pais se desfazem das lembranças dos filhos, isso só alimenta a ideia de Freud, de que os maiores traumas decorrentes na vida adulta, são produto das ações descabidas dos pais na infância. Os quadrinhos contam uma história, uma trajetória de uma vida, e mais do que isso, uma trajetória e um pensamento de uma sociedade, por esse motivo eu milito em favor dos quadrinhos. 

        Se são ideológicos. Claramente que são, afinal de contas, são produto da cultura de massas, tal como os filmes de Hollywood e as músicas estridentes de cantores de segunda que desaparecem com o passar do tempo.

      Por isso que eu milito pela ideia de um asilo de quadrinhos, não um sebo, mas um asilo. Onde as crianças que cresceram, ou as mães em pleno acesso de raiva depositem os gibis para doação, para que as outras gerações conheçam o que se passava na época, e o que se pensava também. Essa falta de tato que até agora tivemos só serviu para apagar histórias das infâncias de várias pessoas, incluindo eu, não à toa, corro a sebos, para tentar garimpar as minhas revistinhas antigas, que foram também num acesso de raiva, jogadas fora.

         O asilo de quadrinhos seria o local onde as crianças poderiam visitar os "velhinhos", tal como em tese seria nos asilos de verdade, e se divertir com as revistinhas com o passar da noite. É uma ideia, mas que se fosse praticada, provavelmente daria muito certo.

As crônicas do Imperador Kim Jong Un (III)



Ele é um pássaro? ele é um avião? Ele é um míssil em processo de emagrecimento? Não, ele é Super Kim, o Pancho Vila sem o pancho nem a vila, o Superman depois de um dia no Mc Donalds. O Batman das frias e escuras madrugadas da Coreia do Norte.

As crônicas do imperador Kim Jong Un (II)


         O imperador Kim Jong Un tentando explicar o fato de ser imperador e ainda comunista

Enquanto isso na Coreia do Norte



PS: Esse pequeno quadrinho é de minha própria autoria: "As crônicas do Imperador Kim Jong Un".

terça-feira, 2 de abril de 2013

Tiras do Malgradado pensador

          Na longa epopeia de espírito lusitano tece o pequeno e delicado tecido de pano trabalhado. Vigor tomado de licor acabado, na longa conjectura da Hemingway Street quem toma Pessoa por nome rima como condenado, e na lira sem nexo procura trazer lógica ao desleixo musical da sinfonia gramatical.


        Gigante Adamastor é o malgradado dicionário que de maneira tão tristonha foi abandonado num imenso rochedo de desolação e de falta de conhecimento, cego de um olho, Camões, enquanto deixava a amada se ensopar nas águas salgadas, esqueceu-se de olhar para o deleite de covil ardil no panaceia tropical chamada Brasil, sabe-se que Portugal tem olhos para o Mar e mesmo assim não é de admirar que Camões se fez cegar ao enxergar a onerosa lógica de se ignorar as letras e as ciências.

       Do Tejo a Alegrete, escusado será dizer que na vinha coral afaga-se o âmago cultural e científico de uma simples questão vertical: quem me entende, entende; quem não me entende, que se entenda.

      Bruta prática filósofica de ignorar tudo à sua volta e o niilismo pontual tomaria de arrepios os longos e amaranhados fios das longas barbas retrançadas do velho Friedrich, que só tinha no nome um vernáculo imortal: Nietzsche.

      Niilista puro, era tão niilista que chegava a odiar o próprio niilismo. Anarquismo teórico de vigor errático é pensar que a despeito disso tudo o fosso mediático do âmago das letra toma tais formas que a total negação do estudo é uma forma de protesto.

      De total forma termino na lontra portenha o trio do pensamento: ler, ouvir, sentir. Nas profundas águas do mar salgado se esconde os mais fracassados navegadores e contornam o Cabo das Tormentas aqueles que enfrentarem corajosamente o gigante Adamastor, para enfim chegarem às Ilhas dos Prazeres portugueses.

Espírito de cromo

      Tão forte é o metal que faz tinir os nossos pensamentos depois do imenso carnaval, vem e vão com um grande vendaval, nessa lúdica memória dos tempos passados a grande história de longo traçado desenha-se em singelas palavras: Deverá ser escusar o lirismo prosopopeico dos vernáculos diletantes  na velha sincronia a rima que se prolonga em quadrilhas e sextetos quando digo o que tenho a dizer.

       Devo dizer que hoje é um dia como um outro qualquer, e tal como um dia qualquer espero que compreendam a natureza incomum dessa longa história sem muita harmônia musical, era mais uma Pathétique de Tchaikovsky do que uma serenata de Beethoven, mesmo assim nas curvas retílinas das músicas mais eruditas prolonga-se o tinir das letras nessa tristonha versão da findada máquina de escrever.

       Peço desculpas pela prosa meio poética e do fado circunstancial que veio do meu sangue lá de Portugal.

       Muito bem, hoje, como eu disse não é um dia a se levar em consideração, já que de excepcional não há de nada a não ser o nome de "hoje", nesse futuro passado o pretérito se alonga nas boas prosopopeias tempranas que surgem como persianas nas cortinas do conhecimento.

       O amor retira a graça de se brincar com as palavras, retira-nos o escudo do ponto e desentorta a interrogação para a mera e simples exclamação filosófica; EU TE AMO, nada mais expressa que um sentimento qualquer sem muita graça. Amar é apenas uma chama que se inventa como particípio de verbo incondicionalmente intransitivo. Os gramáticos não posssuem tão propriedade em escrever tais coisas, afinal tudo o que amam são as palavras.

      Eu também as amo, mas amo mais brincar com elas de vez em quando, quando não estou com nada para fazer, fico divagando sozinho o peso que cada palavra exprime a cada um de nós: Felicidade, tristeza, cobiça. Um sussurro no ouvido esconde um grande segredo ou se entrega à lascívia. Um gemido pode ser ao mesmo tempo de dor ou de prazer. O grito é o arquétipo da pura alegria ou da fúria.

       As palavras conectam mais do que simples sentimentos inexpressos na razão de nossa sociedade diferenciada, um beijo não pode ser mais do que um beijo, não pode ser mais do que uma forma de carinho, um choro é uma lágrima que circunscreve a face e explode o peito, e assim prossegue.

        Sorrio em pensar que antigamente a mais linda das expressões: A epistemologia da lógica, tenha sido deixado em desuso por deleites tolos de um jovem ainda apaixonado por ideais ou valores, ou carente de amor e reconhecimento, seja o que for, a verdade é que a epistemologia voltou e com ela se dilapida um longo ciclo passado.

        O espírito de cromo se insere mais uma vez, sobre os homens de ouro, prata e bronze e filósofos desvairados que nada mais fazem do que especular, tem agora uma faixa rígida e laminada, tem uma face espelhada e nessa família de metais de transição o passado se deixa levar, o que antes era permeável à falta de ar de alguns suspiros, hoje é resistente até mesmo à ferrugem das novas ideias.

        O espírito cromado é duro, mas muito maleável, de tão maleável pode ser sensível, e no curtimento filosófico cai por terra a ideia de que a fusão em liga metálica com pessoas de ouro e prata trará maior valor ao pobre cromo prateado que se prolonga na mente aborrecida pela hecatombe amorosa de tempos passados.

         O cromo se prolonga é o revestimento da grande armadura do homem de aço, que não se ilude com besteiras e está a par da própria dinâmica das coisa, e, por isso, é um pária para si e para os outros. Filosoficamente falando o cromo deveria ser um metal tão nobre quanto o ouro é hoje, laminado por fora, frágil por dentro. Até que entendo o porque  da lírica tornar veredas tão sinuosas que abstraiam o real sentido das palavras e reflitam nada mais do que liras ao invés dos focos de luz que a cobertura metálica arrasta consigo.

          Na proselitista filosofia do amor, não há fiéis que não façam autoflagelação, cobrem de ouro as amantes, mas esquecem a importância de ter um espírito de cromo, e no fim de todas as coisas, nada mais lhes caem do que os louros corrosivos da ferrugem do amor ultrapassado. Moldado a esse tempo, digo que agora penso da forma como desejo ao pequeno fio de cromo que escoa pela dialética da própria vida.

        Não sei se me fiz entender, textos filosóficos são tão longos e tão cheios da falta de sentido que atraem o leitor de tamanha forma que chega a causar até uma grande repulsa, devo dizer que antes que me digam algo, falo em nome de mim e de minha escrita, que eu gosto de brincar com as palavras tanto quanto gostava de brincar com dialética indecorosa do amor, e talvez seja por isso que eu pense ser mais do que um simples gramático, afinal de conta a ferrugem das palavras não afetam xistosos espíritos cobertos com a face espelhada do clarividente cromo do passado.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

"Olá, eu me chamo fulano. E essa batata não me representa"

"Olá, eu me chamo fulano. E essa batata não me representa

      Não fui eu que a elegi como minha representante de calorias e ácidos graxos e ela não me representa. Ela faz mal a saúde e entope as artérias, ela não me representa".

     
      É claro que isso não é verdade, quem afinal não gosta de batata? Seja frita, purê ou na vodka. Todo mundo gosta de batata, mas não é de batata que eu estou trabalhando aqui, estou falando do jeito como os movimentos antis estão surgindo aparentemente do nada.


      A UNE nunca me representou assim como boa parte das lideranças estudantis, eu não os elegi, assim eles não me representam, mas ainda sim eles acham que me representam e promovem panelaços em nome dos estudantes e greves estudantis. Mesmo sem eu reconhecer a legitimidade que eles têm sobre mim. 

       Qual é a legitimidade que os nossos pais têm sobre nós? Parando para pensar, eu sou humano e eles também. Então porque eles mandam e nós temos que obedecer. Simplesmente por serem nossos pais, mas não escolhemos nossos pais.

       A representatividade não é uma questão tão simples assim. Respeitamos os nossos pais, pois culturalmente é desejável respeitá-los, mesmo que não tenham mais do que a autoridade de nos ensinar (eles não têm legitimidade nenhuma para nos matar, afinal, não somos posse deles), assim, como os políticos não têm maior autoridade do que legislar.

         Assim como os nossos pais nos ensinam errado de vez em quando (para Freud, tudo é culpa dos pais), os legisladores também legislam errado. Mas a questão é que diferentemente dos nossos pais, eles não podem legislar errado, porque eles são eleitos por nós, eles têm que prestar contas ao que pensamos e fazer tudo pelo bem comum.

          O problema é que são poucos que pensam na coletividade e apenas legislam por alguns grupos que lhe são caros, como os ruralistas que agem em prol dos latifundiários e produtores agrícolas, os líderes sindicais que agem em prol das suas bases nas fábricas, alguns líderes agem em prol da intelectualidade, de movimentos sociais, ou mesmo do Exército e assim vai. É um erro pensar que os políticos agem em prol do bem comum, pois não agem, eles agem no mínimo em favor dos seus grupos de base.

        Mas a questão fica cada vez pior quando as lideranças políticas param de agir conforme os interesses dos seus eleitores e agem em favor dos seus próprios interesses, a isso se dá o nome de corrupção. Mas não seria já corrupção, agir conforme os interesses de alguns poucos de um grupo frente ao interesse coletivo?

        Essa é a dialética da própria política como um todo, tão complicada como a questão do ovo e da galinha, mas a questão é que na democracia os mecanismos dessa engrenagem operam dessa forma e acaba que a democracia não é um governo de todos, mas o governo de alguns grupos que entre si legislam sobre todos.

           A despeito de todo esse papel de legitimidade, um problema incorre, a separação entre o Estado e a Religião. E essa questão não vem sendo muito respeitada, por sinal. É vedado ao Estado ter uma religião, legislar a partir de uma religião e propagá-la entre os seus cidadãos, contudo, é visível que algumas leis operam conforme os princípios religiosos de alguns legisladores.

          Não estou falando da questão do aborto, pois antes de ser uma questão religiosa, é uma questão teórica e filosófica. O que é vida? A questão é sobre os interesses de alguns grupos religiosos impõe sobre as leis do coletivo:
   
       Casamento entre pessoas do mesmo sexo. Hoje é proibido. Porque é proibido? Até agora por conceitos morais, é claro. A própria sociedade se recusava a tomar iniciativa sobre tais questões, era vedado até mesmo que alguns se apresentassem como partidários de tais opções. Mas tudo como na História muda, e hoje, a própria sociedade civil vê com um pouco mais de liberalidade essa questão, por essa razão ela está em discussão em muitos países, como na França e nos Estados Unidos.

            Entretanto, mesmo que essa discussão esteja sendo posto em aberto, isso não quer dizer que esteja sendo discutida de maneira séria. Oradores e argumentadores expressam sua desaprovação a essa matéria (do casamento homossexual) devido a isso "ferir as leis de Deus" e a Bíblia  o problema que na esfera de um Estado Laico, a própria Bíblia não pode ser interpretada como uma lei, é alheia ao organismo jurídico do próprio estado e deve continuar a sê-lo.

          A Bíblia não deveria ser levada à discussão por esse motivo, pelo menos em minha visão. Questões culturais sim, mas só se aplicarem aos próprios cidadãos em questão: Um judeu não deve ter ferido o seu shabat por ele próprio fazer parte de sua própria identidade, os islâmicos não devem ser obrigados a abrir mão de suas preces em árabe e assim vai. Mas os gays não necessariamente fazem parte de uma comunidade religiosa, dessa forma, não pode-se aplicar os estatutos das religiões a todos os indivíduos na sociedade.

         A discussão tem que ser coerente: Por que não ou sim à união de casais homoafetivos?  Quais são os motivos lógicos para a aversão aos homossexuais? Não estou falando em empíricos, estou falando em lógicos. Atentam contra a moral? Mas a moral muda com o tempo, assim como mudou no passado, em Esparta, bem como em Roma era aceito o infanticídio, hoje é moralmente inaceitável a agressão à crianças sobre qualquer forma.

     Motivos biológicos? Assim acaba com o surgimento de outras gerações? Não creio se essa argumentação teria tanta força assim, afinal de contas, a própria questão da explosão populacional anda ameaçando a própria dinâmica humana em relação ao mundo, seria até preferível advogar a favor dessa modalidade de casamento.

        Eu sou contra o casamento homoafetivo, assim como sou contra o casamento heterossexual, pelo simples motivo de ser contra o casamento como instituição social, julgo-a como uma modalidade de controle social demasiado repressiva, principalmente por prender os indivíduos a realidades artificiais e rígidas, deve ser o desejo dos dois indivíduos em mantê-los juntos que deve pautar a relação e não um pedaço de papel.  

          Entretanto não estou advogando para que todo mundo se separe e largue suas responsabilidades a pessoas que se constituíram na realidade do casamento. Quero dizer: os filhos. Não é porque não se está casado que você poderá negá-los, nesse caso os laços de sangue, bem como a ética como ser humano, levam ao compromisso do sustento e da educação dos filhos, mas não a sua propriedade, tendo em vista que é um erro bastante grosseiro considerar outra pessoa como propriedade sua: A escravidão acabou legalmente já tem muito tempo.

          Esse é o perigo do casamento de fazer pensar que o seu parceiro (ou parceira) é propriedade sua e você pode fazer o que bem entender. Isso não é verdade, a construção de nossa sociedade atual se baseia que todos os seres humanos nascem originalmente livres e devem assim se manter até o último dos seus dias, se não cometerem algum delito aos seus iguais.

          Considerando que homens e mulheres possuem direitos e deveres iguais, porque não estender tais direitos à outras modalidades de relacionamento e organização sociais? Se os gays (ou as lésbicas) querem contrair matrimônio, constituir famílias, é melhor deixar que façam, embora eu questione qual deva ser o lucro em se estar casado.

       Deve-se permitir que adotem filhos, desde que se demonstrem bons (ou boas) educadores(as), e saibam ser responsáveis por outras vidas. É inútil impor restrições a isso, é como varrer um vendaval. Entretanto é conveniente que tenham direitos iguais, e não privilégios acima dos outros, ou seja, cotas, pensões ou outras parafernálias jurídicas que rompem com a dialética da igualdade.

         E também não deve se exceder muito na questão, legalmente os homossexuais devem ter direitos de matrimônio assegurados, mas na esfera religiosa, isso não pode ser garantido, pois para algumas culturas isso seria dado como uma afronta e uma violação de seus próprios valores. Não pode também haver excessos na questão, ela tem que ser pensada de maneira lógica.

           
           Se existem argumentos lógicos para se opor ao casamento homoafetivo, que se expressem, mas que não se espelhem em paradigmas e preconceitos marginais, afinal de contas isso apenas tange ao discurso principal como um todo.

          É por isso que julgo perigoso que entidades religiosas se envolvam de maneira ativa na política, como o lobby existente das bancadas religiosas em várias democracias e sistemas pseudo-democráticos ao redor do mundo: Isso se torna visível nas bancadas protestantes nos Estados Unidos, na bancada evangélica do Brasil e a bancada da Igreja Ortodoxa na Rússia, e assim vai.

         O Estado deve ser alheio à religião para não se corromper como um Estado. Ele próprio deve ser ateu, tendo em vista até mesmo que ele não é um organismo vivo, ele é uma figura estática e por isso não deve ter crenças alheias além do seu papel de governar as pessoas, essa é a única legitimidade do Estado como Estado, legislar sobre os seus cidadãos enquanto deve assegurar-lhes direitos em contrapartida.

         Entretanto a própria racionalidade de alguns cidadãos é alheia a esse papel, ministra que um bom governante deve ser um "bom cristão", "bom judeu", ou "bom servo de Alá", isso é equivocado, nesse caso não é um governo de todos, mas um governo que uma maioria deseja sobre todos. Enquanto tais cidadãos não tiverem a mentalidade enraizada que o Estado não pode ser porta de entrada da Religião, surgiram mais Felicianos, Macedos e etc.

         A História se move e nem uma vassoura é capaz de varrer um temporal. Querendo ou não enquanto forem eleitos políticos representando grupos particulares, tais questões irão ressurgir com recorrência cada vez maior, isso poe em xeque se o Estado deve continuar como organismo controlador da sociedade, considerando a forma como ele é manipulado.

           Enquanto não paramos de fazer o discurso: "Olá, eu me chamo fulano. E essa batata não me representa", a mudança não haverá de vir. A lógica do nosso discurso se pauta pela lógica de nossas ideias, dessa forma, é conveniente fazer mais do que o discurso passivo da "não-representatividade" e lutar pela total representação dos  direitos dos homens como cidadãos.

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

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