sexta-feira, 13 de abril de 2012

A vida de um jovem (conto do blogueiro)

         Era uma manhã, uma daquelas manhãs preguiçosas de verão,  onde até os pássaros tinham preguiça em recitar sua cantoria nos galhos das árvores; O sol, uma pintura ao mesmo sólida e fluida de um laranja amarelado, em tom de cobre.

          O vento fracamente batia nas estrebeiras das janelas, e sem forças os galhos de uma árvore, uma amoreira de dois metros, um tanto enrugada para a sua idade, arranhavam o vidro da janela.

         Com alarde, sem muita cerimônia toca uma sirene estrondosa, daquelas que ouvimos nas situações mais impropícias, quando estamos na guerra, e ouvimos a estridente canção alertando para um ataque áereo pesado. Era impossível manter-se imóvel quanto a isso.

        Levantando-se da cama, desastradamente o ainda sonolento repousante, caiu no chão e com o impacto, sentiu uma dor próximo à costela. Não era nada demais.
        Enrolado numa coberta, um edredon na verdade, branco e cinza, ele tentara andar através do pano, mas tropeçara no próprio tecido, parecia um fantasma. Um fantasma que bateu a testa no criado-mudo.

       — Diabos! — Esbravejou.
  
        Arrastou-se no chão até uma mesinha de cama e tateou a madeira da mobília, até com a mão encontrar o telefone que estava a badalar.

        — Já chega! Eu odeio acordar às segundas de manhã!
        Tocou no teclado do telefone e enfim, retirou do modo despertador o dispositvo:

         — É hora de acordar, meu caro! Acorde!
         
          Seguiu ao banheiro daquela pequena suíte e despiu-se preguiçosamente, até por fim girar a chave do chuveiro... Enquanto a água do chuveiro caía-lhe nos ombros, ele pensava:

         — Que noite terrível! Não consegui nem dormir direito!
         Era manhã, bem cedo, mas tão logo ele sairia que logo depois de se vestir nem se deua o trabalho de fazer sua refeição matutina.

        O primeiro ônibus que ele pegava, um daqueles tipo sucuteados, de motor ruídoso e chassi quadrado, era ônibus das oito horas, que o levava quase todos os dias para a rodoviária central da cidade... Ele era realmente frio para com a cobradora, mas enfim, ele tinha aprenddo uma lição da maneira mais ruim... Não dava para ser íntimo dos cobradores.
        Visto isto porque numa dada situação, ainda naquele ano, quando formulara amizade com um cobrador de ônibus da linha costumeira com a qual voltava para casa, ele estivera enrolado em maus lençóis, afinal de contas, quando ele perdera o seu primeiro celular, eis que esse tipo dignou-se de não avisá-lo, não entregá-lo, não fazer nenhuma menção a isso, e ainda utilizar a linha para alguns fins sem grandes detalhes... 

       Ele, que já não confiava na sua própria sombra, partiu a confiar menos ainda... Nunca mais quis saber daquilo.

        Sentando-se junto à janela, na parte da locomotiva sobre rodas, ele observava o sol bater-lhe ao rosto, mas os seus raios quentes eram repelidos pelo seu vistoso chapéu de palha branca, fato esse que o permitia a ler um pouco naquela ocasião.

       Não que não soubesse, mas ele lia aquilo sem qualquer pretensão, um livro pequeno de bolso, de capa vermelha, em inglês, um daqueles manuais de História que nós historiadores temos orgulho de esconder. Era algo sobre a União Soviética, ou algo assim. Nem sequer se importava em ler um manual ali.

        O sacolejar do veículo junto aos buracos da estrada ajudava a treinar sua ergonomia junto a leitura, e contente ele apreciava um pouco àquela leitura, que caracterizara como burguesa.

          Dado a dois engarrafamentos, o ônibus tão logo se encheu, o que antes estava só, eis que fica mal acompanhado... Um daqueles tipos chatos, de boné e bermuda longa, ouvindo um funk pesado junto ao ouvido pelo autofalante de seu aparelho de celular.

           Obviamente se incomodou o jovem rapaz, que desejava enfiar aquele dispositivo dos infernos junto a uma região não muito nobre do seu incômodo vizinho, mas dignou-se a ficar calado (na verdade, ele notou que o infeliz era maior que ele).

           O ruídoso som daquela música parecia sujar a seus tímpanos com palavras indecentes e palavrões em demasia, e tão logo se fez, a leitura impraticável se tornou. Largou o óculos, fechou o livro, desistiu de ler, foi então ver pela janela o que se havia.

         Manhã clara, ensolarada, salve, salve. Um imenso sonho vivo e o gigante sol por natureza, a imagem do Colosso terra desce, eis que sua terra adorado toma sua voz e sobre o solo que ali reina, exala um cheiro de capim.

         O trânsito estava ruim... Costumeiros congestionamentos se seguiam, mas por sorte, fortuinamente, o infeliz com o funk ao ouvidos havia desaparecido junto à multidão. O rapaz se jactava disso.

         Eis que depois de quarenta minutos no trânsito, num congestionamento de vinte, o rapaz enfim chega a seu destino, onde pega o seu segundo ônibus, mais cheio e lotado...

         Desastradamente, devido á demora do primeiro ônibus, o rapaz não consegue um lugar para repousar junto ao ônibus, mas eis que ele se espreme junto à multidão,à massa e sente naquilo um coletivo o qual o assusta. Ele tinha medo dps muitos, e sentia confortável com oc poucos.

         Em pé, apertado junto aos quarenta que tiveram a infelicidade de também irem em pé, o rapaz percebe que agora mesmo não daria para ler uma só página daquele livro.

        O ônibus parte, sem muita cerimônia, após longa demora parte, e eis que pelo vidro da janela, os olhos castanhos daquele jovem rapaz se vislumbram ao verem as maravilhas do concreto armado... Aquela cidade realmente sabia se pintar com monumentos sinuosos, totalmente modernos.

         Eis que nosso protagonista, oprimido junto à massa, tenta encolher o seu corpo magro e um tanto longo, mas não consegue nem mesmo espaço para isso e quando a viagem se lança na demasia, pensa ele quão bom seria não ter aquilo de novo. Seria bom mesmo.

        O ônibus não demora, e sem dificuldades, o rapaz enfim chega à campus da universidade, e desembarca rapidamente daquele expresso de carga de pessoas. Tal é  a linha 110!

       Caminhando em passos robotizados, eis que tenta apressar seus passos para chegar cedo à sua aula e conversar com seus colegas sobre futebol, política, ou alguma coisa assim, mas ele nunca consegue...

        Tem agora uma aula boa sobre períodos medievalescos da História, a qual o mais impressiona... Mas logo segue o dia, e quanto mais se profunda o dia, mais aulas chatas tem... Não que eles a odeiem, mas também não as ame.

         Aquilo retira-lhe sua inspiração, aquela rotina chata e cansativa, mas ele não se prostra diante a isso e continua a ir todos os dias por um só motivo... A última aula daquele dia.

        Por quê? Porque eu não sei, talvez seja porque ele conclua que o dia enfim tenha acabado, que ele enfim poderá descansar em plena aula ( o que o faz com maestria), ou porque ele encontra a quem está apaixonado.

        Sim, ele não se orgulha sobre esse sentimento, cospe volta em meia nessas soluções amorosas, e atira no próprio Cupido, mas ele mesmo é uma criatura apaixonada.

         Estranham vocês que ele é mudo na maior parte do tempo narrativo, mas em verdade ele o é na maior parte do tempo, faz comentários apenas pontuais, muitas vezes não muito bons, é triste e oprimido, e não tem um amor correspondido.

          Certa vez ele amou, amou tanto que foi r rejeitado com sorrisos maldosos e traições inconsequentes, mas hoje ele ama outra, uma jovem que ele gosta justamente por ser como ele: Ela é grossa, por vezes maldosa, e cáustica; mas ele julga que como ele, é por necessidade. 

          "Ela gostava de três coisas nesse mundo:
           Brincar orgulhosa, sorrir dos contos
           e contar contos já bem gastos.
           Não gostava de me ver falando,
           nem de ficar recitando sua beleza.
            Nem de Marx e dialética,
            ... e eu a amava."

            Eis que ele cresce, deixa sua juventude, e toma voz à sua paixão

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