sábado, 29 de dezembro de 2012

Vontade escapista

     Bateu uma vontade de fechar esse blog, largar os meus escritos e partir para algum canto no meio do mato;

      Bateu uma vontade incontrolável de desaparecer pelo mundo, no meio do nada, num lugar sem internet e nem wi-fi, onde ninguém pode me achar.


      Ir para uma praia na Santa Catarina, olhar o verde colorido das águas tocarem na areia fina nos meus pés, enquanto subia uma colina e ia para o hotel.

     Bateu essa vontade, mas acho que não seria muito feliz, pois mesmo no paraíso a gente saudade, a gente sente remoço, a consciência é uma tortura aos olhos.


     Estou cansado, estou cansado de tudo; Do calor, do vazio, de Brasília, estou cansado até dos livros. Estou cansado de tédio, cansado de ser cético, cansado de viver sem te olhar. Está na hora de virar hippie, me enfiar no meio do mato, ou então um mochileiro e desaparecer num mundo sem fronteiras onde cada vez que ando eu sinta menos vergonha de ter dito que te amava, e sinta cada vez mais saudade de você.


     Não há fronteiras, não há caminhos desconhecidos; Essa vontade cresce e cresce e desaparece sem dar mostras que irá voltar. A vontade passou...

 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dumoncel

      1. Segredo contado, indiscriminado, travesso; Renascimento da cavalaria.

      2. Infiltração demasiada das nuvens sobre o meio ambiente

      3. Primeiro gorjeio da manhã.

      4. Longo passeio da tarde.

      5. Dumoncel, neologismo latinizado surgido do glossário aleatório do uso de um dicionário.

      No silêncio daquela manhã, surge-lhe um pequeno dumoncel junto ao pé do ouvido, um novo termo, um novo sentido.

     É interessante ficar brincando de neologismos

Um poema qualquer

Estou com frio
Estou doente
Sou quase hipocondríaco

Queria estar de cama
Sob os seus cuidados
Ouvindo a sua voz
E as suas mãos me ajudarem

Tudo é tão vazio
Nesse oriente
Melancólico

Quem mandou me sujar na lama?
Com os ventos tão nublados
De brandir feroz
E as águas passarem

Estou com frio
Estou doente
Mas não é uma doença comum
Estou doente de paixão

Porque eu nessa cama
Sinto cada dia, cada hora
Vontade de ver você

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um conto sobre um soldado chamado Mikhail

          "Cuidado, cuidado; Metralhadora logo à frente"

          Setembro, 1917, Front Oriental

        "O que você está fazendo Ivan? Você enlouqueceu?"

        O estampido brutamontes entrou sem cerimônia no tímpano de Mikhail deixando-o zonzo em meio à trincheira, era mais um daqueles "espremedores de batata" alemães. Mikhail caiu no chão com tanta coisa explodindo ao seu arredor e acabou sujando a sua gimnaterska no chão de terra batida da trincheira.

     Ao seu lado gritava eufórico Ivan, brincando com um pedaço de perna de um morto, próximo ao falconete apontado para as posições alemãs: ""Marechal Ivan, preparar para apontar! — gesticulou com o membro decepado — FOGO!!!"

     BUM!BUM! Pode-se dizer que os alemães ouviram bem o que Ivan falava, embora não entendessem russo:

      — Mas que coisa infernal! Se não mantermos essa posição os alemães vão tomar essa colina, e se tomarem não estarão longe de Petrogrado! — Gritou o coronel.

      O coronel estava certo, os alemães com certeza iria passar daquela colina e não seria difícil eles chegarem na capital. Malditos tempos infernais... Foi quando Mikhail se levantou com o telegrafo de fronte nas mãos.

     — "O Telegráfo, camarada coronel"

     — "Camarada coronel", com quem você acha que está falando, seu infeliz? — olhou-o com repugnância aristocrática — Veja minha patente, como um camponesinho como você pode me chamar de camarada?  Devia mandá-lo fuzilar senão estivéssemos em tão maus lençóis!

      O coronel franziu o seu maxilar e girou a manivela que fazia funcionar o pequeno telegrafo: — Aqui é Krutkin. Nossa posição está sem amparo logístico nenhum, nós não temos mais rifles nem munição. Quais são suas ordens, senhor?

      "Minhas ordens são: RESISTIR! RESISTIR ATÉ O ÚLTIMO HOMEM! Nenhum passo para trás, não vamos perder essa colina!"

      — Nenhum passo para trás... Mas estamos sem rifles.

      "Você tem amor pela sua pátria, coronel? `Por sua mulher e por seus filhos?"
   
      — Sim, general.
       
      "Então cumprirá minhas ordens. Mandem colocar baionetas nos rifles e sorteie os rifles. Quem não tiver rifle segue o que tem, quando o que tiver morrer, aí pega o rifle"

     — O senhor está sugerindo um ataque suicida?

     "Estou sugerindo um ataque patriótico. Que esses paspalhos aprendam como são os russos de verdade!"

     — Certo, general
 
     "Boa sorte Krutkin"
   
      — Não há sorte na morte, senhor.

     Sombrio, o coronel desligou o telégrafo e gritou: "— Preparem os homens"

     Retirou a sua garrafinha de vodka do bolso e bebericou um bocado e o ofereceu ao operador de telegrafo: "— Tome, você também vai precisar, meu chapa". O operador bebeu um pouco e logo em seguida colocou a ushanka na cabeça.

     O coronel subiu para a borda da trincheira e retirou com uma linda Nagant prateada do bolso. Devia ter sido presente de alguém importante, porque ele beijou cerimonialmente o aço gelado do cano.

      O operador de telegrafo guardou o instrumento e conseguiu com muito custo um rifle Mosin Nagant de cinco balas, uma trambolho pesado e bastante incomodo:

     "Colocar baionetas!" — Gritou.

    "Colocar baionetas!"

     O coronel destravou o revolver e logo em seguida bebericou as últimas gotas de álcool que ainda permaneciam em sua garrafinha metálica, uma bela garrafa de bolso de prata que não fez questão ao jogar ela no chão de terra batida recheado de neve. Retirou a espada que tinha junto à cintura e gritou:

    "Quem pela espada vier a nós, pela espada perecerá. Assim é e sempre será enquanto nosso exercito marchar!"

      E saiu da trincheira com a espada gritando URA! URA! em direção à terra de ninguém...


     URA!!!!!!


      O operador de telegrafo seguiu logo atrás, junto com mais outros vinte homens, lado a lado em fila indiana, seguidos por mais outros, sobre o gargalhar das metralhadoras e os gritos histéricos das granadas que cavavam com força o campo de batalha.

      Muitos homens caíram no meio do ataque, alguns do lado do pobre rapaz, mas ele continuava a correr atirando as últimas balas de seu rifle contra os alemães, embora não tivesse mira de nada. Tinha perdido o coronel no meio daquela carnificina, tudo que tinha era a vontade de viver, e ferrar com a vida de um "alemão desgraçado".

       Os apelos revolucionários não eram nada naquela hora, a irmandade dos povos era totalmente esquecida. Tudo o que se tinha era amigo, russo, e inimigo, alemão. Era algo meio maniqueísta  mas no meio do campo de batalha era o que imperava.

     
         Quando estava prestes a entrar na trincheira alemã, com os oponentes gritando: "Achtung! Achtung! Russiches in der berg", tudo o que o simples operador de telegrafo quis fazer foi fatiar o bucho de um daqueles alemães sujos e maltrapilhos que eram parecidos com ele, estavam também sob comando e não queriam lutar essa guerra.

         O operador pensou nisso, sua mão tremeu e ele hesitou. Foi então que ele caiu, com uma bala de uma Walter de um oficial no peito, tremeu perante o "inimigo" erro capital.


       O céu antes tão acinzentado começou a ficar turvo, Mikhail passou a ver tudo com maior dificuldade.. Ali caído na terra de ninguém tudo o que sentia era frio, o frio da terra entrar em seu corpo e um fio gelado correr sobre o seu peito. Tremelicou um pouco, achou tudo aquele tão injusto. Ele era tão jovem, só tinha vinte e poucos anos e ia morrer daquele jeito, num campo de batalha, numa guerra que não era dele e sem ver a Revolução.


       Ouviu o brandir de uma balalaika no meio de todos aqueles tiros e sorriu, pensou no tio Afonya com o seu acordeon tocando no dia de São Nicolau no pequeno vilarejo que ele tinha nascido perto de Poltava... "Oh, meus campos, oh, vida injusta" E caiu ali no chão.


                                                        ...


        Quando acordou, pensou que fosse apenas um pesadelo. E era, ele não era um soldado chamado Mikhail e nem estava na Primeira Guerra. Era outra pessoa e estava na nossa época, dormindo confortavelmente em sua cama quente enquanto Mikhail adormecera para sempre naquele campo gelado de terra batida em algum lugar na Rússia.

       Sentiu pena do pobre Mikhail, embora ele próprio tivesse pensado no sonho ser Mikhail... Mikhail, o pequeno camponês da sua idade, magricelo e sujo que só sabia mexer naquele telégrafo  levado àquela guerra e que por uma infelicidade do destino tremeu ao tentar matar um semelhante e por isso morreu.

       Ele se sentiu como Mikhail, viu que a vida era injusta. Viu como o coronel relutou cumprir as ordens, embora também não fosse bonzinho. Viu o agora insano Ivan gritar com um pedaço de um braço nas mãos ordens para batalhões que não existiam.

       Foi então que o rapaz decidiu escrever, decidiu escrever o drama de Mikhail, desse rapaz, assim como os outros foram levados a uma guerra, e dela não voltaram e dos quais hoje não há mais nenhuma sombra, nenhum grão de pó.

   
   


Um conto de sábado a noite

     Trim! Trim! O tintilar do sino sacolejava como um vento preguiçoso aquela escura estepe de asfalto que varria toda aquela cidade. Trim! Trim! Não havia carros ou pedestres, tudo estava vazio e apenas um pedaço de papelão, de uma caixa qualquer, voava com o vento nervoso que sacolejava a cidade.

     Trim!Trim! Relógio irritante! De uma estação qualquer de trem, se acha especial só por marcar as horas com precisão, quem pensa que ele é? Um relógio atômico?

     Não, não era, era um simples relógio mecânico, daqueles bem antigos do início do outro século abismados com o tempo e tão pontualistas que chegava a irritar. Nem sequer era suíço, uma porcaria inglesa de uns cinquenta centímetros de raio que tinha um sino tão estridente que rompia os tímpanos.

     Trim! Trim! 20h00. E sequer um trem para passar... Pensava consigo se fosse em outra época, tipo a Itália fascista,  Mussolini era tão obcecado com o tempo que com certeza o trem não se atrasaria, mas é claro que ele não queria que os fascistas voltassem a andar por ai com as suas camisas negras gritando "Ave Duce! Ave Duce! Mussolini ha sempre ragione!". Não, realmente não queria.

      Eram outros tempos, outro mundo. Um mundo que não tinha mais espaço para ditaduras, a não ser da beleza: Pessoas usando óculos ray-ban, tênis da Nike e camisas da Adidas perambulando por todo o canto. Ele odiava tudo aquilo e odiava mais ainda os tipos esquisitos que se vestiam como malandros do subúrbio dos Estados Unidos que achavam engraçado bater em mulheres e falar besteiras como roubar pessoas e matar policiais.

     Não que ele fosse melhor, na verdade, ele se achava mesmo melhor; Usava terno risca de giz, uma gravata bordeaux de seda e uma camisa de colarinho branco virtuosa; tinha se esquecido como ficava bonito de terno.

      Fitou mais uma vez o mapa da estação e ajeitou o colarinho da camisa e o nó da gravata; que bela gravata.

      Queria que ela estivesse ali, a menina de quem ele gostava, mas não estava e ele aceitava isso; na verdade acho que ele sabia que ela não gostava muito de engravatados, o que era uma pena, porque ele ficava muito bonito de terno.

       Aquela estação de metrô era um esteio para o silêncio e solidão, ninguém falava entre si e ninguém sorria, tudo que só ouvia era o estridente som dos trilhos latrilhando com o peso e som cada vez mais sonoro do trem se aproximando da estação.

      "Estação Centro Metropolitano, desembarque à direita"

       Esperou o amigo que desembarcava no próximo trem e quando os dois se encontraram, começaram a bater papo no meio daquela estação. Estavam ali os dois como dois papa-defuntos debatendo sobre futebol ou qualquer outra coisa sem importância. Era um casamento que eles deviam ir.

      Um casamento... Tal palavra dava calafrios na espinha do rapaz, na verdade ele nunca gostou muito da ideia, mas tinha sido convidado pelo noivo em pessoa, então tinha que ir, não é mesmo? Fazia tanto tempo que não entrava em uma Igreja Católica, na verdade nem se lembrava, mas tinha a repulsa de pensar nos padres e nos ritos, mas quando entrou, sentiu pena das imagens do Antigo Testamento retratadas. Não, ele não era cristão, ele era ateu, mas tinha alguma educação religiosa e respeito pelo Antigo Testamento pelos anos que tinha sido judeu.

       Um casamento é uma coisa enfadonha, mas ele estava feliz por seu amigo ter encontrado alguém bom, e ainda por cima bonita. Também ficou com um pouco de inveja, quando seria a vez dele de tremer de nervosismo na frente do altar enquanto a esposa se atrasava?

       "Não tão cedo, eu espero", pensou consigo. Na verdade, até cogitou uma vez a hipótese de se ver casado com a menina de quem ele gostava, mas era tolice pensar nessas coisas, casamento não era necessariamente uma coisa boa.

       Ele já tremia de nervosismo pelo noivo, e suspirou aliviado quando a noiva entrou na Igreja e o seu amigo deu um largo sorriso. "Então é mais ou menos assim que um noivo se sente. É, é tensão para toda uma vida!"

       E assim coroando o amor dos dois, a noiva, vislumbrante, entrou na Igreja com a calda do seu vestido arrastando pelo piso de chenile vermelho, a Marcha Nupcial tocava a pleno ressoar dos trompetes. Nunca tinha visto uma execução tão bonita daquela música quanto naquele dia.

      O padre, embora ele não fosse com a cara da maioria dos clérigos, era uma figura simpática, amigável, que tinha uma voz de dar sono. Foi esse padre, baixinho e meio rechonchudo, que conduziu a cerimonia, dando voz a uma penca de preces litúrgicas que o nosso referido em questão não acompanhou.

      Quando ouviu  a prece do amor, descobriu sozinho que não era mera paixão que guiava os homens era mais do que isso, percebeu que era bonito sentir amor por alguém, embora fosse estranho. Ele sorria do jeito meio bobo que o seu amigo olhava para a sua esposa, mas aí se lembrava que fazia a mesma coisa com  a menina que ele gostava, que ele tinha o mesmo olhar e falava as mesmas besteiras.

      Quando o padre falou que amar era mais do que sentir atração física, mas ter uma conexão mental e filosófica com alguém, desejar o bem para a outra pessoa e se predispor a compartilhar, foi aí que o nosso personagem entendeu que ele estava amando, não de maneira romântica, mas sintética.

      Ele aplaudiu quando os dois noivos se abraçaram e se beijaram na frente do altar, mas sentiu um pouco de pena de si por saber que aquilo não era para ele, que ele nunca iria encontrar alguém que o fizesse tão feliz ao ponto de fazer aquela besteira que era se casar. Ou será que ele encontrou?

     Ele se sentiu meio confuso com tudo aquilo: Ele sorrindo e aplaudindo um casamento dentro de uma Igreja e não se importando com isso.

     Desejou em hebraico a felicidade dos dois e saiu despercebido na multidão sem aparecer no banquete em honra aos noivos, tinha ido ao casamento, era mais do que suficiente.

     Pegou o trem de volta, o último por sinal, e teve que lidar com alguns arruaceiros no vagão, mas felizmente nada aconteceu. Nada que o pudesse separar de sua querida e amada moça.

     Foi num comboio da integração e chegou meia noite em casa; Trocou de roupa e foi dormir, mas antes de dormir, rezou:

     "Baruch Adonai,

      Sei que não ando sendo um bom fiel do trato do povo de Israel com o Senhor. Mas Elohin, peço humildemente que leve em consideração uma coisa: acho que estou amando uma pessoa, faça com que ela seja feliz, por favor. Eu acredito no seu julgamento, só permita que ela seja feliz. Baruch ata Adonai, notên hatora"

     Ele tinha se esquecido muita coisa que tinha aprendido de hebraico, mas fez até uma singela prece; Contudo logo depois se resignou, ele tinha se esquecido que era ateu? Por que estava rezando? E estava rezando por outra pessoa e não por si?

      Ele fechou os olhos e se deitou: "O que anda acontecendo comigo?"

      E adormeceu na sombra da noite.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Nas planícies desse deserto

Nas planícies desse deserto
Um vale de lágrimas se afunda
No lodo coberto
A terra a roupa imunda

Nada nesse vale
Nada nessa paisagem
Me faz esquecer
O quanto vale o seu sorriso

Aquela estrela do Céu;
Aquela brilhante em Antares
Na Via Láctea doce
Inunda meus pensamentos

Minha rima patina
Meu amor não termina
Nessa noite escura, tudo que quero
É o ouvir mais uma vez o seu sorriso

Nessa noite de solstício
Abaixo do Cruzeiro do Sul
Isolado e sozinho no quarto
Tudo que penso em ti

Nesse fim de ano
Enquanto as crianças pedem
Carrinhos e boneca de pano
Eu peço um dia mais com você

Na véspera de Natal

         É noite de Natal, enquanto os outros festejam essa festa tão estranha em seu lares com suas famílias, decoram árvores de Natal e retalham em mil pedaços perus de Natal; As criancinhas desembrulham rapidamente o papel laminado dos presentes e agradecem ao Papai Noel por essa graça.

        Passo pelas ruas, vejo tudo tão deserto: Os comércios não abrem, a polícia não faz mais rondas e sequer os bandidos estão com aquele espírito de roubar. Eis um espírito natalino que pairava a noite sem luar do solstício.

       O Hanukkah passou e nem vi passar, a Festa das Luzes não foi a mesma, não teve graça e nem presentes; Foi apenas só uma data, uma dada como outra qualquer. Ano passado eu teria acendido as velas do meu candelabro (menorá), teria feito a reza da Torá e estaria usando o meu kipá, mas hoje... mas hoje nada disso me atraí.

       Não há mais luz em minha vida, não há mais alegria quando começo a pensar que nada mais disso importa, que não me importa se é Natal, Hanukkah ou Ramadan. Tudo o que importa é que sinto saudades, e nessa cosmópole vazia, meu coração se consome, pois a luz da minha vida não é mais o Hannukkah, mas o seu sorriso que vi passar.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Uma hora

      Em uma hora produzi mais do que um mês inteiro; tudo por conta desse estranho sentimento que alguns chamam de amor. Amare em latim, quando declinado fica amo, que é o que eu digo todas as vezes quando estou apaixonado.

     Essa noção filosófica de amor passa por tantas épocas e tantas sociedades que chega  a ser difícil de enumerar onde encontramos o amor: Amor é aquele que Adão teve por Eva, que a despeito de todas as regras, cometeu o pecado quando amava a sua esposa.

    Amor é quando Helena fugiu de Troia por jovem rapaz e sem querer causou uma guerra.

    Amor é quando Platão discursava em um banquete e enumerou uma forma de amor de alguém que nunca seria correspondida que erroneamente é interpretada por alguns stalkers mal amados pela vida.

    Amor é tudo aquilo que te leva a falar besteiras, agir de modo estranho e a sentir seu coração bater de um jeito mais lento e mais doce; É quando você começa a entender músicas melosas e se irrita quando falam de coisas sem a menor graça, e sem o menor vínculo com a pessoa amada... Não, isso é paixão.

     Amor é bem mais do que isso, é um conceito que passa por sentimento, mas que no fim é sentimento, onde uma pessoa se compromete a fazer o bem pela outra e que não permita que nenhuma injúria suje tal desejo de bem fazer. Acaricia os seus cabelos e diz que te ama, quando você chora e sente só. É um sentimento tão puro, tão casto que chega a ser sublime.

      Não se apega a lindos ternos e vestidos elegantes. Afinal o amor é paciente e bondoso, não maltrata e não guarda grande rancor. Se orgulha e se vangloria por amar sem qualquer interesse, pois o que reside no amor é a esperança. A esperança de ser amado.

As coisas que penso quando não estou com você

       Hoje eu senti ciúmes; Não que nunca tenha sentido, mas não me lembrava como era amarga a sensação  na ponta da língua. É como um veneno que amarga a boca, corrói a garganta e dilacera a alma. Não gostei de sentir ciúmes.

      Na verdade ando sentido algo parecido durante um tempo, mas consigo controlar esse sentimento. Acho tão estranho tudo isso, pensar que você pode conversar e sorrir com outros homens tal como comigo. Não estou aqui para monopolizar o sorriso.

      Mas é tão bonito o seu sorriso!

      Uma dádiva de Deus é vê-la sorrir tão despreocupadamente, mesmo à distância, às escondidas; E eu sinto inveja dos outros que a fazem sorrir, eu queria contar algo engraçado, tropeçar sobre um palanque, ou mesmo falar uma piada infame, tudo isso para ver o seu sorriso.

      O seu sorriso é tão doce que me deixa diabético, a sua voz é tão deliciosa que parece um favo de mel e o seu olhar é tão fixo que entra na alma, de maneira positiva é claro; Agora entendo o que deve ser tudo isso, acho que a paixão está se transformando em algo mais, mas eu não sei;

      Passamos tão reto esses dias, que até me esqueço de falar com você. Na verdade, eu nem queria falar com você, sua voz é tão doce que me deixa estasiado de tanto lirismo, se eu a deixar falar outra vez, passou dias pensando em você.


      Não tem nem uma semana que não nós vemos e estou com saudades; Que estranho! Tem alguma forma de as férias serem tão aborrecidas do que ficar pensando em outra pessoa? Eu acredito que não. Se você, minha querida, estiver lendo isso, saiba que conto os dias e as horas que eu possa falar com você.

Versos ligeiros

       Abrirei minha mente tal como hoje abro a minha camisa e sigo de peito aberto ao meu futuro. Corro dali para cá, tão rápido, tão ligeiro, sem esquecer que a vida é uma só e é cigana por natureza. Itinerante e traiçoeira, de olhos oblíquos como os de Capitu e tão sedutores quantos os glaucos de Atena.

      A sorte que há de me abraçar forte, mudar os meus destinos e me levar para distante de tudo, até do meu próprio tempo, pois estive aqui, e estarei ali. Não se esqueça, ligue pra mim.

      Estamos tão longe um do outro que chegamos a ter leituras do mundo tão diferentes quanto os nossos versos e ainda assim sorrimos quando pensamos nas bobagens em que dizemos. Sei que você está pensando em tudo, menos no que pensamos quando estamos juntos.

      Pois é, o antidoto para esse meu desespero traduz-se por palavras, palavras tão singelas, tão tolas que você julga como meigas, e eu julgo como infantis. Quando estou perto de ti palavras saem pela minha boca e tomam dimensões cada vez maiores, meu ego infla e me sinto tão arrogante que chego a pensar que você está pensando em mim. 20:20, e o telefone nem tocou;

Na mais escura das noites

         Derrubado no chão um homem deprimido, sentado em sua própria esperança numa daquelas noites tão frias e sem vida observa sem vontade o toque suave que caí do céus, um pequeno cometa, pequenino, e tão distante, que sorri tão gentilmente à terra.

      Era um cometa ou um meteorito? Isso não sabia, mas era tão bonito, tão bonito o rastro do fogo aos olhos, com que os finos raios a brilharem iluminarem através das nuvens aquela cobertura celeste.

      Esperança pura agora irradiava do chão, da terra escura, do chão batido de tantos pés e de tantas pedras. Levantou-se de novo para subir a dura montanha de pedra pura que era o seu coração.  Aquela chuva que caiu aquela noite não serviu de acalanto para a chama que brotava de seu coração.

     Em meio àquela selvageria, aquela escuridão que pairava sobre aquela colina ardia uma vida, tanto quanto um lampião de vidro que o óleo amarelado conduzia o fogo de uma alma. Não era uma chama de ódio, não era um fogo cego que queimava tudo o que tocava, era uma chama que aquecia os ossos naquela triste noite que era uma vida de alguém;

     Sem medo das trevas, dos monstros e dos animais noturnos que rodeiam às pradarias ao longo da floresta da vida, floresce uma nova consciência de força e coragem. "Meu passado é uma bandeira, meu futuro é uma história"; Assim segue a rota da vida.

Para entender a brisa

       Venta à  boro-este no país dos Ivérianos, numa tão distante planície de água tão densa e tão límpida que acaricia as pedras com o lamber de suas ondas, chiando remotamente um adocicado som de voz gorjeante.

       Naquela praia isolada, encrostada nas pedras de um lindo rochedo branco de pedra calcária projetava-se um bolsão sobre a baía com os ciprestes mediterrânico pontuando cada parte daquela falésia ao céu aberto, trazendo alegria ao sol que estava acordando.

       Caminhava sozinho, alegre e contente, cantando um hino desafinado à terra amada; seguia descalço com um chapéu panamá bem surrado e de camisa tão aberta que parecia um pescador:

       "Enche de flores, terra dos jacintos;
        Estenda minha mão sobre a violeta
        Enquanto lírio do campo acorda
        E o botão de rosa floresce"

        Não era um pescador de certo, mas era como se fosse, um pescador de palavras, que inclinara a sua cabeça sobre a brisa e ficava contemplando o céu, tão límpido e tão sedutor, no alto das nuvens distantes uma cotovia voava tão preguiçosamente que o alegre jovem rouxinol, de novo pôs a cantar:

       "Move incansável seus olhos
       Inclina tua cabeça ao sol
       Dispersa a névoa das nuvens sombrias
       Que pairam sobre o seu coração

       Sorri gentil para a terra
       Como faria para amada
       A geleira de acalanto
       A bela musa suave dos céus"

domingo, 16 de dezembro de 2012

Uma síncope vespertina




               Era uma tarde, daquelas meio traiçoeiras nas quais o sol irrompe sobre as nervosas nuvens do céu. Algo tinha de sedutor naquele tom meio acinzentado,quase de asfalto, com o qual o dia havia nascido.

                Tudo era tão estranho, todo mundo estava com roupas de frio, mas tudo o que sentia era calor. Muito calor por sinal. Tentou abrir a janela do comboio, mas nada adiantou, naquele ônibus lotado, sequer podia ouvir a sua respiração.

                Era um calor ardente, ofegante, que vinha do peito e queria sair pela boca junto com o coração. Ninguém notava, ou ninguém queria notar, mas ele transpirava horrores pelas têmporas, fazendo cair o gélido filete de suor pelas magras maçãs do rosto.

               Para piorar, toda hora ele esfregava a língua nos lábios. Sentia uma sede absurda, uma vontade incontrolável por encontrar uma garrafa de água e bebê-la furiosamente. Chegava a ser inexplicável.

                Parecia saudável, embora a palidez do seu rosto fosse algo anormal. O tom opaco de sua pele dava-lhe uma aparência meio póstuma para um jovem. Mesmo assim, parecia ser saudável. Não falava, não sorria, só estava lá, em pé, esperando ansiosamente chegar na estação.

                O ônibus estava lotado; Pessoas no fundo debatiam sobre a última partida de futebol de domingo, mulheres meio obesas fofocavam com gosto a vida alheia, e um casal de namorados se beijava num dos bancos.

                O rapaz viu com palidez tudo isso, parecia sentir algo ruim ao ver os dois se beijando, um pouco de dor, arrependimento e uma pitada de inveja. Quando os dois namorados desceram, sentiu seu ombro relaxar nas costas.

                Um vendedor de doces entrou no ônibus com sua cesta repleta de guloseimas, para deleite das criancinhas e para o desespero das mães: “Olha a paçoca, a paçoquinha bem docinha. 1 real.”

                O vendedor passou por todos os bancos, fustigando os passageiros com o seu grito estridente de vendedor, mas mesmo assim só conseguiu vencer dois dropes e um pacote de chicletes para algumas senhoras. Sendo completamente ignorado pelos outros.

                O cobrador mesmo estava irritado com o jeito meio fanhoso com que o vendedor falava, e deu graças a Deus quando o mascate foi para o fundo do comboio, não antes sem gritar: “Vamos logo, minha gente, que estou descendo”.

                O rapaz fitou meio com agonia a cesta de doces, mas tudo o que conseguiu foi uma olhada grosseira do vendedor com marcas de varíola; Aquele olhar resignava até o mais duro dos homens.

                Logo quando desceu o mascate, uma parada depois, também desceram alguns engravatados com pastas de couro nas mãos próximo ao Banco Central: Era o pessoal do funcionalismo público, arrogante e presunçoso, embora também não tivesse onde cair morto. 

Faltavam umas duas estações para a Rodoviária, e o rapaz se sentia cada vez mais fraco. O coração havia disparado como se tivesse levado uma pancada no meio do peito, o suor escorria pela sua camisa, tomando feições de uma tromba d’água e as pernas já não se aguentavam mais em pé.

Numa das curvas, depois da parada da Galeria dos Estados, no Setor de Autarquias  o braço não segurou, e o jovem se desprendeu na curva, caindo junto ao banco vazio... Felizmente ninguém viu aquilo.

“Vamos, vamos, preciso chegar, preciso chegar LOGO”, pensou consigo o rapaz.


Mas a sinaleira não ajudou em nada e de quebra, o sedutor céu nublado tinha dado seus ares meio perversos naquela proto-selva de pedra. Começou a chover fino no centro da capital, uma chuva tão rala que nem merecia ser chamada de chuva, ainda assim isso não apagara a situação de mal-estar que o rapaz presenciava.

Demorou-se enfadonhos cinco minutos até a sinaleira abrir e o ônibus passar por cima do afamado Buraco de Tatu, chegando assim na plataforma inferior da fedida e suja rodoviária da capital. E isso não era hipérbole alguma, mesmo sendo uma das mais renomadas obras de um famoso arquiteto, a Rodoviária era uma monstruosidade opulenta de pobreza e gente. Nos seus boxes ainda se escondem mendigos e trombadinhas, à espera do último níquel de algum desavisado, e a pedra branca tão suja combinava tão bem com o concreto negro das calçadas mal cuidadas daquela construção.


“Vamos logo, vamos logo”, pensou agora de forma categórica, a ansiedade o corroia por dentro, mais até que a incomoda sensação de queimação que percorria-lhe no peito. De repente ele começou a sentir que estava suando frio.


A lerdeza com que o ônibus se movia só ajudava ainda mais o seu nervosismo, e para piorar, ele começou a ver tudo distorcido, como se tivesse tomado algum psicotrópico que distorcera a sua mente, mas não era nada disso.
Quando o ônibus parou, ele correu para junto da porta que tão rapidamente saiu por ela quando se abriu. Tentou correr, mas tinha muita gente na sua frente, naquelas imundas calçadas, então foi cortar caminho pelo asfalto mesmo.


“Vamos logo, vamos logo, Anda. Anda!”


Sentiu suas pernas ficarem bambas e a garoa fina que caía sobre o seu rosto se afinava cada vez mais até que por fim os seus olhos ficaram turvos e desabou no chão. Sim, ele caiu ali, aos olhos de toda aquela gente que só pensou em seguir em frente, sem que ninguém o ajudasse.

Caiu com o rosto virado para cima, deixando gotejar sobre o seu olho o fino chuvisco do céu de Brasília, um céu escuro e devasso, e olhando para longe, com um pequeno sorriso tentando disfarçar a dor, imaginava ele uma menina, uma linda garota mesmo, até suas vistas apagarem de vez.


“Cidadão! Cidadão! Você está bem?” Gritava uma voz a qual não podia se distinguir, o garoto sequer sentiu ser arrastado pelos policiais até a plataforma da rodoviária.


“Deve ter sido um ataque de glicemia, talvez ele fosse diabético”... Talvez ele fosse.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Niilismo musical

         Pedras rolantes esmagam besouros nas sombras da noite, enquanto a Rainha grita com o arquiduque Francisco Ferdinando nos campos de milho do Kansas colorido meio roseado naquele negro sabá no final do ano.

       Um russo discutia com um Vila Lobbos a problemática que o aborto elétrico causava na sociedade contemporânea ocidental onde no tintilar da ode metálica Justin Bieber é rei e Nirvana é cult.

       Alice sentada nas correntes da vida come o ardente chili de pimenta vermelha enquanto olhava as pérolas se acumularem ao fundo do rio, tão podre, tão sujo, declinado e extorquido por fazendeiros lunáticos munidos de pistolas sexuais.

      Sem entender isso tudo o pequeno cachorrinho Snoop, aos embalos de James Brown, canta ao rei do soul uma música tão estridente que faz até o Clint Eastwood franzir o cenho. E tudo acaba com um Zeppelin luminoso cortando o céu roseado daquele dia enquanto a rainha continua a discutir com Francisco Ferdinando os rumos que toda essa alucinação psicotrópica ser resolvida à base de armas e rosas.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Na mais pesada das chuvas

        O céu se fechou, o vento me abanou... Meu coração gelou.

        Tudo está tão escuro, tão revolto, as nuvens no céu são tão turvas quanto o sedutor traçado do seu cabelo fino. Não, são até mais escuras.

        Turvo também é o pensamento que me consome, sombrio e melancólico, aquele que vem com a chuva e não passa. Arrependimento.

         Mas não é arrependimento do que eu tinha falado, mas de como devia falado, de como devia ter dito palavras melosas ao pé do ouvido, de não ter me calado quando eu tinha voz, de não ter fugido quando devia ter ficado ao seu lado.

         É a chuva que bate na minha janela, gotejando os meus últimos suspiros, os meus últimos choros. É terrível olhar para uma chuva de verão e pensar que não a terei do meu lado, não poderei abraçá-la e sequer poderemos ficar juntos envoltos num cobertor apenas nos aquecendo enquanto eu aninho os seus cabelos e digo que te amo.

        Você sorri, diz alguma besteira, me olha estranho e começa a falar... e eu nem me importo, cada minuto que estou com você me sinto cada vez mais apaixonado.

        Imagino nós dois, velhos e enrugados, com o passar dos anos nas costas, abraçados na mesma cama um olhando pro outro, brincando, sorrindo, sem nos importarmos com a chuva que cai do céu. E que chuva!

        Sim, era na chuva que costumava andar sozinho, no meio da rua, enquanto os carros passam e as pessoas tentam se proteger, é na chuva que posso chorar e ser compreendido sem me mostrar por vencido. É na chuva que deixo meu cabelo molhado tomar formas e abro meu coração apaixonado.

       Naquele frio cortante daquele aguaceiro, é naquele  frio que sinto que tudo se vai, que o vento leva minhas forças e a chuva leva minhas lágrimas.

       Hoje olhei as horas impacientemente, esperando o dia que poderia falar com você de novo, quando bateu 13:13.

        Eu sorri da ideia, não podia ser,ela não podia estar pensando em mim. Eu sorri, mas parte de mim ainda tinha essa esperança. As horas se repetem e quanto mais acredito, acredito que estou perdidamente apaixonado por você.

        O ponteiro do relógio bate, a chuva continua a cair. Eu sozinho nesse quarto escuro, sem uma música de fundo, fico nessa melancolia ridícula de se você me ama ou não. Parte de mim acredita que sim, que um dia ficaremos juntos e seremos felizes, parte de mim acredita que não que você gosta de outro e que não sou adequado pra você. Na verdade, eu não sei o que dizer.

        Nesse dos mais escuros dias, nas mais clara das luas, com a chuva caindo do céu, sinto uma imensa vontade de ficar perto de você.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma vida de sonhos

          Todos nós, pelo menos uma parte da vida, sonhamos com alguma coisa. Sonhamos com uma vida que não poderíamos ter, sonhamos com ideias sedutoras, sonhamos até com o prato de comida do outro dia. Nossa vida é guiada por sonhos.

        Hoje sonhei com uma utopia, uma sociedade tecnológica sem pobreza e miséria  com prédios suntuosos, modernos, carros voadores e trens extremamente rápidos. Não havia pobreza ou fome, sequer violência ou preconceito. Era um mundo de tolerância, respeito e justiça.

        Nesse mundo, homens e mulheres tinham os mesmos deveres e direitos. As máquinas trabalhavam para nós e não contra nós e estávamos nesse futuro conquistando o Espaço, com nossas naves velozes percorrendo distâncias longas e explorando novos mundos, conhecendo novas civilizações.

         Tínhamos conseguido resolver a questão da fome e da distribuição de renda. Controlávamos a fusão nuclear e tínhamos segurança e liberdade. As guerras e as falácias tinham ficado para os museus, museus esses tão completos e tão dinâmicos que davam gosto de ver.

        Essa realidade só foi possível com uma revolução de pensamento da humanidade, que após um cataclisma quase colossal em nossa época, aprendeu que era melhor viver em cooperação mútua. Houve uma revolução cultural, sem o uso do ferro e do sangue, e uma democracia representativa instituiu uma sociedade totalmente diferente das demais.

        Esse sonho era inconclusivo em como se alcançar esse futuro ou que rumos ele próprio levaria, mas foi uma ideia sedutora pensar em algo diferente, algo que pudesse ser perfeito e direcionado para todos nós.

       "A gente tem que sonhar; senão as coisas não acontecem". Niemeyer estava bem certo nesse ponto.
       

domingo, 2 de dezembro de 2012

Conclusões sobre a Primavera Árabe

       No  início desse ano nós tínhamos assistido com tamanho entusiasmo a ressurreição de um povo inteiro contra um estado opressor na Arabia  os espíritos mais imbuídos do pensamento de Locke fundamentavam o seu apoio no fato de que Kadaffi, Mubarak e Al-Assad tinham perdido a sua legitimidade a partir do fato que seu domínio se representava pela violência e não pelo bem-estar de sua população, tudo isso está certo.

         A questão é se valeu à pena? Valeram à pena as mortes na Líbia causadas pela total guerra civil, da qual nós ocidentais tivemos tão pouca informação? Vale a pena morrer agora na Síria para por fim um poder ditatorial opressivo como o de Al-Assad? Eu acredito que sim, mas a minha desilusão quanto a isso é profunda.

            A ditadura na concepção romana se baseava no fato de que se a República estivesse em perigo cabia ao Senado nomear um representante para defender a cidade de Roma nos tempos de crise, sendo plenipotenciário por um período curto. Era um cargo respeitado e de prestígio, até ser usurpado por Mario e Sila, e logo depois por César, e entrar na concepção moderna sinônima de tirania.

            A ditadura dita "oriental" é um tipo até mais singular de Ditadura, é uma Ditadura que fundamentalmente não precisa se basear numa ideologia, na prática elas mesmas já desvirtuaram a própria ideologia concreta, vide a aplicação do marxismo no Vietnã por exemplo, ou na Coreia do Norte.

            As ditaduras no Oriente Médio se fundamentaram num misto de interpretação bastante torpe de algum tipo de socialismo com o elemento religioso embutido, não vou aqui dizer que o Irã é um regime socialista, e que o talibã era uma base de fronteira de Moscou (na verdade era dos EUA), mas quando vemos regimes como a Líbia, a Síria e afins, observamos um discurso falho ideológico carregado de um teor religioso.

             Kadaffi caiu e "que suas bolas sejam cortadas e dadas às cabras para comerem", Mubarak estava definhando no seu cubículo até ser declarado morto clinicamente após uma série de AVCs, o Kim Jong Il morreu de tanto por gel no cabelo, entrando o seu filho viciado em Mc'Donalds. Parecia haver uma esperança mesmo de que no mundo não há espaço mais para ditadores.

            Será? A Venezuela reafirmou o desejo de continuar com Chávez que o latino-americanismo mais exacerbado cultua como um supro defensor da causa libertária, o que é uma profunda balela, considerando que Chávez só anda promovendo medidas assistencialistas e vem se mantendo num populismo tão tristonho que se baseia na venda de barris de petróleo aos Estados Unidos, Chávez é a mistura de um revolucionário fracassado, populista desalmado e charlatão desgraçado.

             O Paraguai, tão bom conhecedor de regimes ditatoriais, afinal formou a primeira ditadura da América do Sul que se tem notícia, foi expulso do Mercosul por causa de golpe ao seu antigo presidente, o bispo comedor de criancinhas (literalmente) Fernando Lugo, e o Brasil com sua política diplomática agora tristonha promovida pelo ministro Patriota, vem se submetendo aos anseios ensandecidos da grã-rainha do populismo latino-americano, Cristina Kichner.

              O Brasil, embora duvide que caía num regime ditatorial, vem amargando de um populismo também arrogante que vem mostrando suas mangas com o escândalo do Mensalão que a direita estúpida usa como argumento, demasiado falho, mesmo sabendo que ela também tem os seus podres. Foi em uma época parecida que ascendeu o bêbado lunático do Janio Quadros que indiretamente causou o Regime Militar.

              A esperança ainda perdura na figura de um líder de um pequeno país na América do Sul, entre o Brasil e a Argentina, José Mujica, ex-guerrilheiro que virou presidente do Uruguai, que ao contrário dos outros, mantém uma postura de humildade, estabelecendo para si um diminuto salário correspondente à 10% do piso presidencial normal, e indo para o trabalho no seu pequeno Fusca azul escuro, além de promover reformas sociais e educacionais importantes nesse país platino.

              Enquanto temos esse sopro de esperança na América Latina, o mesmo não se assiste no Oriente Médio, afinal de contas o Irã está nas portas de um regime fascista pautado no fundamentalismo islâmico que de certa forma está desenvolvendo o seu programa nuclear não de maneira inocente, tal como Ahmadinejad tenta nos convencer, mas sim por meio de negócios no mercado negro (porque a espionagem deles deve ser uma coisa tristonha de se pensar).

               A Síria está em plena Guerra Civil, com tropas do governo massacrando crianças a seu bel-prazer, embora  a imprensa tenha perdido um pouco do seu interesse, mas Al-Assad  continua governando um dos regimes mais ditatoriais do mundo, que foi passado como se fosse por herança de seu pai. E hoje mesmo tropas do governo tinham anunciado uma ofensiva contra os rebeldes, que espero que resulte em um fracasso para Damasco.

               A Palestina é a velha vedete desse quadro hostil no Oriente Médio, primeiramente porque o problema se estende desde 1947, com a criação do Estado de Israel, que para muitos foi pautado a partir de um erro (eu também penso assim), mas que tem origens bem mais antigas. O anterior status de não reconhecimento da Autoridade Palestina decretava um obstáculo legal, mas abria um precedente, permitia que qualquer grupo extremado pudesse atacar Israel sem inculpar diretamente a Autoridade em si, tal como aconteceu no lançamento dos misseis promovido pelo Fatah.

             Israel respondeu de sua forma costumeira, hostil, bombardeando casas, passando com os tanques, matando civis inocentes, incluindo mulheres e crianças. Nunca sairá da minha cabeça a cena de um repórter correspondente da BBC na Palestina, em prantos, levando o corpo de seu filho, um garoto de pouco mais de um ano, enrolado num pedaço de pano branco, perguntando-se o porque daquilo. Não tem um porque, realmente não tem, a não ser a sede pelo sangue que os dois lados têm por si.

             Israel e a Palestina parecem literalmente dois irmãos que brigam por que não gostam um do outro, esquecendo-se que têm o mesmo pai, Abraão, e que portanto são povos irmãos, pois também são da casa de Sem. Na minha época esse tipo de coisa se resolvia batendo nos dois, mas não é o que acontece.

             Israel é quase um estado vassalo dos Estados Unidos, e todas as lideranças mais ou menos de esquerda do Mundo parecem ter um fascínio pela figura do estado palestino, tendo em vista que parece ter uma inversão de papéis, agora Israel não é mais a figura do rei Davi, e sim a de Golias, e os Palestinos foram carregados com esse teor de guerreiros armados de fundas contra o gigante "filisteu".

             Devo dizer que me oponho às duas visões, tanto a política internacional estado-unidense está errada quanto essa visão um pouco reducionista também. O problema todo se resolve com o internacionalismo, se suportamos um ou outro nacionalismo, somos injustos. O Fatah não é inocente e o Estado de Israel também não.

             E mais uma coisa, o Estado de Israel não é supro representante do povo judeu, ele é um estado como outro qualquer e tem seus próprios interesses, e os leva muitas vezes à frente dos de seu povo. A guerra atual ajudou a crescer a popularidade do partido de Nethanyahu que havia sido abalada com os efeitos nefastos da crise mundial em Israel (ou você acha que Israel é só apogeu econômico), mas continua ainda incógnito o fato deles terem conseguido dinheiro para uma guerra assim do nada.

            Se a situação da guerra não parecia dar mostras de esperança, a ONU finalmente agiu de uma forma decente, ao reconhecer na Autoridade Palestina o status de nação, embora não membro efetivo da Assembleia, isso sim é um grande passo, embora Israel ainda aja de maneira hostil a tudo isso, como um valentão do Oriente Médio.

            Não adianta, só com o mútuo reconhecimento que podemos estancar essa hemorragia que faz jorrar todo o nosso vestígio de humanidade para o ralo.

            A primavera em si foi um movimento em prol da democracia, foi um suspiro de um povo que foi à rua para destronar ditadores e impor uma nova maneira de pensar, tudo isso fundamentada entre outros fatores de ordem econômica, afinal, todas as revoluções ocorreram pela falta de pão.

           Entretanto, o que vemos no Egito e na Líbia é instabilidade, na Síria nem se fala. Na Líbia, ocorreu há não muito tempo atrás o assassinato de um embaixador norte-americano o que pelas regras diplomáticas sacramentadas pela Convenção de Genebra é uma mostra de falta de controle político, e no Egito, o presidente mesmo tendo limite de mandatos, pela constituição não reconhece por exemplo o direito das mulheres, levando novamente à população à Praça Tahit, onde tudo começou.

            Usurpadores do poder do povo não faltam, principalmente no Egito, mas ainda há um sopro de esperança quando vemos o reconhecimento da Autoridade Palestina como uma nação, e esse sopro de liberdade de um povo é que nos faz pensar, que mesmo com os intemperes a luta do povo está dando largos passos em prol de um novo mundo, melhor que esse antigo, da dita "Nova Ordem".


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Monologo de uma madrugada

    Eram 5: 34 da manhã e eu me peguei pensando em você. Senti saudades da sua voz, de suas risadas, de suas loucuras.

   Senti uma vontade maluca de conversar com você e imediatamente fui pro Facebook, mas novidade: Você estava dormindo.

    Você estava certa, que tipo de pessoa acorda às 5: 34 da manhã pra pensar em alguém e ainda quer conversar no Facebook? Essa pessoa sou eu.

     Na verdade eu não queria conversar no Facebook, eu queria conversar pessoalmente, nós dois, no meio daqueles bancos naquele prédio principal onde costumamos nos reunir, só nós dois, mas nada igual como um encontro, só uma conversa. Trocar conversa fiada, falar coisas impensáveis, falar  com certa liberdade.

       Foi aí que eu percebi que eu sou um bobo de querer me afastar de você, porque acordar às cinco da manhã pra escrever essas coisas é ferro. Enquanto outros dormem você se levanta pra escrever besteiras.

        Besteiras, quantas besteiras eu disse, algumas não eram besteiras é claro, mas a maioria era, de certa forma eu sinto vergonha das barbaridades que já disse perto de você e com você. Idealmente eu não queria fazer essas coisas, mas no fim, eu fiz.

        São 5: 42 da manhã e ainda quero falar com você, mas eu não me emendo mesmo. Vontade chata de querer acordar os outros no meio da madrugada pra no fim ficar contido e não falar nada, é vergonhoso, bastante vergonhoso.
 
          Quando estou com você, conversando, ouvindo, eu sinto que fico mais calmo, mais tranquilo, qualquer coisa que tenha estragado o meu dia é apagada no momento, mas quando ficamos calados é um silêncio constrangedor que me consome e todo um peso caí diante os meus ombros.

          São 5: 46 da manhã e ainda tenho vontade de escrever mais baboseiras, acordá-la no meio da madrugada. Vou caçar alguma coisa pra fazer, sei lá assistir um filme brega na TV ou ver a inutilidade dos canais religiosos, eu tenho que tentar esquecer essa vontade absurda de querer conversar com você.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

X de nexo

       Sinto-me mal.

       Sinto-me mal por ficar calado, sinto-me mal por passar direto, sinto-me mal quando não a olho de modo  singelo. Estou distante, estou frio, muito frio, me sinto mal com isso.

        Eu reclamo da vida, desejo que um simples mês acabe para que outro mês venha, sem saber que é dor que ronda esse dia... Me sinto mal, me sinto terrível, me sinto triste. Triste por não poder abraçá-la, por não ser um bom amigo, não afagar o seu cabelo e dizer que tudo está bem. Não, não está.

       Eu me sinto egoísta, egoísta por fingir não me importar com isso, por fingir fugir de você, mas no final eu não consigo sequer me afastar de você. Aí, hoje eu vejo o quanto você é forte e eu sou fraco, como você é boa e eu sou ruim e percebo que nada pode haver entre nós;

       Eu estou triste com tudo isso, triste por vê-la sofrer, triste mesmo... Nenhuma palavra pode descrever o que estou sentido agora, tampouco o que deve sentir ao lembrar da perda de alguém tão próximo. Eu não sei como deve ser isso, eu realmente não sei, e ainda não quero saber, por mais egoísta que possa parecer.

       Tudo o que eu sei é que não suporto vê-la sofrer, parte de mim desmorona quando vejo você triste e o pior de tudo é não fazer nada, é não falar nada. Será que isso é altruísmo, será isso o amor verdadeiro? Eu não sei e não me importo em não saber, só sei que eu queria ter mais a te oferecer do que singelas palavras.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Uma tarde numa praia



         Olho para o mar, numa praia qualquer em Santa Catarina; encontro as águas revoltas e o céu cinzento, nublado.
         Encontro um banquinho, um banquinho qualquer, e nesse banquinho de concreto está sentado um velhinho. Estranho, o velhinho está de casaco e boina, nunca imaginaria encontrar alguém vestido assim de frente pro mar.

        Tenho vontade de entrar no mar, mas tenho medo da água me levar, tudo o que faço é pisar com os pés descalços na areia fina da praia. Percebo o velhinho, meio corcunda, me fitar com uma amargura no rosto, certamente devia estar pensando em como eu era jovem ou algo parecido; Eu senti pena quando pensei nisso.

         Nas pedras próximas à praia, um casal se aninhava numa toalha de praia, não faziam nada demais, mas mesmo assim me senti mal com aquilo, me senti tão mal que fui andar pela orla da praia. Florianópolis é a ilha da magia, desde que você não esteja triste.

       Caminhei ao lado das ondas revoltas daquele dia e encontrei um turista argentino correndo sem camisa na praia, eu nem sequer dei bola e continuei a andar pela orla da praia... As águas não eram mais tão verdes quanto costumavam ser, agora tinham uma coloração azul tão escura, tão desprovida de vida, que chegava a dar medo.

         O céu não estava melhor, acinzentado, sombrio, cheio de nuvens carregadas,  não ia demorar para chover... e não demorou. Caiu um temporal digno das narrações de Lusíadas e eu fiquei parado na praia. O casal saiu correndo, tentando se proteger debaixo da toalha de praia, o velhinho também desapareceu. Só fiquei eu e as águas revoltas de Santa Catarina.

         Eu gosto de chuva, sempre gostei de chuva. Lava a alma e libera minha mente, nada melhor do que numa praia isolado de todo mundo. É na chuva que posso sentir me libertar, é que posso ver que alguém ao menos "sente pena de mim", mesmo que figurativamente o mundo chorasse da minha infelicidade.

        Infelicidade? Infelicidade maior devia ter o velho com todos os seus anos de vida, ou o casal quando tinha suas brigas, eu infeliz? Sim, eu sou infeliz.

        Fui para perto do banco, me sentei no concreto úmido pela água da chuva... Comecei a pensar, pensar, refletir. Era aquilo o que eu queria? Viver sozinho para sempre, passar o resto dos meus dias como aquele velho, fitando com tristeza a juventude que se foi e que não se regenera.

        Eu queria ser mais do que isso, eu queria ser feliz, encontrar alguém com que eu pudesse repartir meus sentimentos, abraçar numa tarde como aquela, alguém que sorrisse de minhas besteiras e não se importasse com o que eu dissesse. Ah, essa pessoa não existe.

       Sozinho, nesse pedaço de paraíso ainda conseguia me sentir triste... Me sentia tal como o velho, sentado num banco olhando para a vida sem agir, deixando a chuva passar.

        — Senhor, não é seguro. Queira se abrigar! — Gritou um salvavidas de longe.

        Não, não a vida não era mesmo segura, sempre tinha os seus altos e baixos, e esse era um dos baixos. Mesmo assim quando eu vi os relâmpagos no céu, senti vontade de ir para o hotel, antes que o deus do trovão martelasse contra a terra a sua fúria. Como alguém consegue ser infeliz no paraíso?

Um violino


          Eu sempre tive uma admiração sincera por violinos, uma admiração que eu conservava desde criança... Quando criança eu mesmo queria tocar um violino, tal como nos filmes, numa noite gelada enquanto as pessoas pessoas passavam e me ignoravam, eu não estaria só pedindo esmolas, eu estaria tocando para mim.

          Eu sempre quis ser esse garotinho triste, com as roupas esfarrapadas com a aparência frágil meio adoentada. Eu queria ser o rapazinho sujo de lama, que tremia ao frio, e que tinha só um violino; Um lindo violino, vermelho-acastanhado, uma peça estridente de paixão e tristeza.

         Não, eu nunca fui esse garotinho, nunca tive um violino, nunca saí de casa para tocar uma música sequer, nem poderia, mas a paixão ficou.

         Eu ainda hoje me sinto como esse menino, sozinho e desolado tocando um singelo violino num terminal de ônibus, sendo ignorado por todo mundo. Eu me sinto esse doente garotinho que só tem o violino como amigo, que apanha dos outros garotos malvados e tem que enfrentar o pai alcoólatra todos os dias. Eu me sinto como esse garotinho.

        Toda  a vez que passo por uma loja de instrumentos musicais numa decadente rua da cidade, eu não consigo retirar os olhos dos violinos... Coisas tão lindas, tão graciosas, eu realmente não consigo tirar os olhos, até encontrar o preço. 200 reais por um violino vagabundo! Não pagaria nem metade por isso, sem falar que os meus dedos iriam com certeza calejar.

        Violinos são peças tão bonitas que sequer deveriam ter preço, é o que eu acho.

         Eu não sei, a minha paixão por violinos é tão absurda que até com uma violinista já me envolvi, mas não com o seu violino. Foi aí que entendi que um violino não é só um instrumento musical que ao mesmo tempo pode ser romântico e triste, ele é uma extensão da alma, uma falange do coração. Um violino nunca é só um violino.

        O som do violino é seu eterno companheiro nas noites mais tristes, é o seu parceiro nos dias mais difíceis... Toda a vez que vejo agora um violino penso nisso, num pequeno e delicado pedaço de madeira tão fino que quando tocado pode ser tão romântico e tão triste, é como eu me sinto no dia a dia.

        Um homem com o peso de uma vida tocando tristemente um simples violino, é assim que me sinto hoje. Sequer tive chance de ser aquele menino; Hoje as minhas palavras substituem as melodias tristes e estridentes, hoje minha caneta é o meu arco e a minha voz é o meu violino.

        E minha vida é a tragédia a ser contada...


Sopro da Realidade

Agora que você me conhece
Agora que sabe o que sinto
É hora de dizer adeus

Não que não a ame
Não que não a deseje
Mas porque a realidade chegou

Era difícil me abrir assim
Era difícil dizer tudo aquilo
Difícil mais é saber que nada valeu
Que nada teve efeito

Triste? Triste estou
Mas sou um realista
Não haverá nada entre nós
Nem hoje, nem amanhã

Queria mais do que te oferecer
Um abraço, um beijo na testa
Mas tudo o que eu disse na festa
Não está para se perder

Quero que seja feliz
Eu quero mesmo
Não desejo maldades
Apenas felicidades

Vou sumir por um tempo
Queria até sair da cidade
Mas isso não muda nada
Que só terei você na amizade

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Me perdo

Acho que me perdi

Me perdi no seu sorriso
Me perdi no seu olhar
Me perdi no seu cabelo
Me perdi na sua boca

Me encontrei ao te olhar
Me encontrei ao te chamar
Me encontrei ao te amar

Me sinto bem, me sinto feliz
Como nunca antes me senti,
acho, só acho

Quero me encontrar
Contigo e comigo
Quero vê-la, quero ouvi-la
Quero ser mais que amigo

Tenho coração antigo
Apaixono fácil
Perco comigo

Minha vida não é um paraíso
Você é o paraíso
E sinto isso
Vivo nisso

Dizendo que te amo
Flertando como bobo
Dançando torto

Desajeitado no amor
Sem sentir o seu calor
Tremendo de dor

Fico triste
Isso persiste
Atuam contra o que sinto
E estão vencendo

Te amo, eu te amo
Piegas e meloso
De clamor horroroso
É tudo isso que chamo

Minha querida, minha doce querida
Eu estou em paz quando estou contigo

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Pressa

Estou com pressa
Atrasado
Nem falo direito
Atrasado

Queria ter falado
Queria ter dito
Estou com pressa
Muita pressa

Queia ter me afastado
Queria ter sumido
Cedo depressa
Bem depressa

Estou agitado
Vento dormido
Tire-me dessa
Festa

Estou apaixonado
Devia ter bebido
Tire-me dessa
Festa

Estou com pressa
Atrasado
Mau humorado
Revoltado

Eu sou chato
Eu falo e falo
Não calo a boca
Só falo

Digo besteiras,
Me sinto nas nuvens
E tudo o que sei
São virtudes

Uma segunda de novembro

          Queria escrever sobre a leveza dessa pena
          Queria escrever sobre o lírio do campo
           Queria fazer uma longa cena
           Tal como um saltimbanco

           Tudo o que penso,
            tudo o que sinto.
            Não é nada.
            Nada

            Vida devassa
             A vida passa
             E não vivo
             Sem você

              Ditadura da palavra
              Rima bem parva
              Dizer que te amo
              Repetidas vezes

              Você não acredita mais
              Não acredita mais em mim
              Não a culpo, repeti tantas vezes
              Que se cansou de me ouvir falar

              Dizer que amo
              Sequer nos conhecemos
              Sequer nos olhamos
              Vamos nos conhecer?

              Meu nome é um qualquer
              Meu pronome é o que houver
              Romântico tolo e embriagado
              Com o papo sussurrado

              Gosto de ouvi-la falar
              Gosto de vê-la sorrir
              Gosto de sentir
              Que posso amar

               Mas não é verdade é?
               Você não me quer
               Ninguém me quer

               Esse é o mau das coisas
               O mau dolorido da vida
               O mau de amar e
               Não ser correspondido

                Obrigado pela elegância
                Obrigado por  ouvir
                Toda minha extravagância
                 Que lhe fiz sentir

                 Minha vida é assim
                 Uma coisa sem sal
                 Um conto sem fim
                  Um sonho frugal

                  Não sou mais do que antes
                  Não sou hoje, não sou amanhã
                  Nunca serei além disso
                  Essa é a minha carcaça, minha vida

                  Teria sido fácil se tivesse me calado
                  Teria sido rápido se tivesse me fechado
                  Mas não consigo, é algo  comigo
                 

                    Esse é o meu destino:
                   Uma garrafa vazia
                    Um sonho perdido
                    E uma vida fria

                    Que triste melodia!

domingo, 18 de novembro de 2012

O Xadrez da vida




        Minha vida sempre foi como uma partida de Xadrez, em que o meu oponente é o mundo e eu sou só um mísero peão.

        O meu oponente tem todas as peças: Torres, Bispos, Cavalos. E eu ainda só tenho um peão.

       Não sei porque magia o meu peão resiste, luta, passa de casa em casa, mata bispos, cavalos e torres, andando bem lentamente, uma casa por vez, sempre pra frente. Às vezes vai pra diagonal, mas nunca volta para trás, um único peão solitário.

       Quanto mais ele anda, mais difícil fica a partida e mais peças eu consigo. Agora não é mais só um peão, agora tenho uma torre, um cavalo; escudeiros a serem usados numa jogada, perdidos em outra. E assim continua a partida de xadrez.

       Meu inimigo me frustra, me engana, me encurrala, mas eu sempre consigo salvar meu mísero peão.

       Agora que estou prestes de conseguir a minha Rainha, eis que o meu oponente me atrapalha mais uma vez, coloca uma misera peça no meu caminho, na última casa, na H1, e não sei o que fazer... Será que corro? Não é truco para você correr. Será que volto? É xadrez, peão não volta. Será que enfrento? E se for uma torre?

         Sim é uma torre, uma torre de uma muralha intransponível, uma muralha que guarda o meu amor, e foi muito bem defendida. O que devo fazer? Enfrentar? Sim, enfrentar.

        Depois que você enfrenta é tudo ou nada, ou você perde ou você ganha, não há meio termo. Vamos ao ataque.

        Xadrez é um jogo tão simples, tão simplório, que chega a ser difícil, depois que você vence a torre, a torre da Muralha da Timidez, tudo fica mais fácil, tudo fica mais simples. Agora você não tem só um peão, agora você também tem uma rainha, e a rainha muda o jogo.

        No fim você percebe que você não era um mísero peão e sim um rei.

        Pena que a vida não é uma partida de xadrez, está mais para uma pôquer, com os seus altos e baixos.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Máquina de escrever



    Foi-se o tempo em que escrever era um evento tedioso, de calejar as mãos e metralhar a cabeça.

    Foi-se o tempo em que escrever era sentir um texto se formar à sua frente, ao martelar das teclas, da tinha se imprimindo e você se sentir mais forte frente aquele monstro de metal.

     Era simples, bastava por o papel, rodar uma manivela e pronto, já dava para escrever. Se você errava, apertava uma tecla e o papel se borrava, ou pior rasgava a folha e fazia de novo, mesmo assim eu gostava da minha máquina de escrever.

      Eu era criança quando a vi pela primeira vez, na mesa de meu pai, no seu pequeno escritório nos fundos de nossa casa. Era uma coisa robusta, imensamente funcional, sem charme, sem design, que fazia barulho quando se teclava e mais  barulho quando se desligava. Servia apenas para contabilidade, registros e pedidos, mesmo assim eu era fascinado naquela coisa.

      Uma vez, numa tarde chuvosa, eu entrei de gaiato no escritório do meu velho e abri a velha Olivetti com as minhas mãos, fiquei tentado, e coloquei o papel naquele mecanismo, tal como eu vi minha mãe fazer. Era simples, tão simples quanto uma criança de  oito anos como eu podia fazer.

      Escrevi minhas primeiras palavras no papel, errei duas vezes e percebi que a tecla de apagar estava estragada. Puxei o papel e fiz de novo.

      Escrevi besteiras, piadas sem graças, coisas meio pueris, mas quando vi minha mãe no escritório ela parecia ter orgulho de mim. Não sei porquê, não sei pra quê, mas ela se sentou ao meu lado e ficou me olhando escrever naquelas teclas.

       Foi assim a tarde toda, até que uma hora meu pai chegara e eu tive que ir embora, mas o meu fascínio por aquela máquina não parou por ali. Já tínhamos um computador na época, um Windows 98 de monitor de tubo e memória de 256 megas, um trambolho sem fim, mas não era fino, nem de perto tão delicado quanto escrever naquela Olivetti 201.

        Meu pai nunca deixava eu brincar naquela máquina, assim como não gostava que eu mexesse em sua vitrola. "São minhas coisas! Você vai estragar tudo, menino desastrado!". Ele tinha razão.

       Meu primeiro computador, um trambolho maior do que o primeiro, retirou por algum tempo a minha vontade daquela velha máquina de escrever, que agora estava empoeirada e guardada na estante da sala por um defeito qualquer.

       Cresci vendo os horrores da internet e também as proezas, mas nada me tirava da cabeça aquela velha máquina de escrever Olivetti.

        Comprei o meu primeiro Notebook, um da Dell  bem bonito, todo preto, que até hoje uso, mesmo com o teclado meio estragado e a touchpad sem funcionar... Comprei meu primeiro smartphone, meu primeiro tablet. Mas nada tirava a magia daquela máquina de escrever.

         Um dia, mexendo nas coisas aqui em casa, eu encontrei uma verdadeira relíquia, um óculos Ray Ban de meu pai com a capa original, e a velha máquina de escrever sem uso, tomando poeira na estante. Fiquei comovido ao encontrar essa relíquia da minha infância, essa criatura cinza que martelava  com o seu estrondo ensurdecedor as tardes da minha infância.

          Liguei a máquina na tomada, coloquei o papel tal como lembrava e martelei a primeira tecla. Surpresa, a máquina escrevera normalmente, sequer estava estragada. Eu a peguei com as duas mãos, subi as escadarias e a coloquei em cima da minha mesa. Passei uma tarde inteira escrevendo um texto qualquer de umas cinco páginas, até eu ver que o refil tinha acabado. Minha Olivetti funciona, e agora é a minha Olivetti, não a de meu pai, é minha agora. Não sabem como eu fico feliz em saber que ela ainda funciona!

           Relíquias da minha infância.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Uma bela tarde em Novembro

          Chovia, chovia fino
         Batia o vento contínuo
         Sentia o badalar do sino
         Triste destino

         Era uma tarde...
         Muito sem graça
         Tudo veio, tudo passa
         Numa rodoviária qualquer

         Uma chama arde
         E não há o que desfaça
         Parece amor, mas é amor
         Isso digo pra quem quiser

         Não queria sair de casa
         Sequer falaria com ninguém
         Tudo o que pensava
         Tudo que sentia era por alguém

        Aquela menina, aquela doce menina
        De cabelos escuros, sorriso engraçado
        Que pulava nas folhas e brincava
        Queria falar com ela, queria conversar com ela


        Estava perdido, não sabia o que iria dizer
        Não sabia o que fazer, sequer sabia se iria
        Ali, naquela Rodoviária, sozinho, sempre sozinho
        Ele sempre foi sozinho, desde criança é verdade

        Encontrou um amigo, bateu papo
       Conversou vivo como sapo
       Não queria falar.
       Não queria se atrasar
       Se atrasou

      Entrou num ônibus,
      ele e os outros
     Conversavam entre si
      Ele taciturno

     Chovia sobre o lago.
     Alguém chorava no lado.
     Era ele mesmo

    Perderam-se no caminho
    Estavam atrasados
    Tudo que tinham era o verbo
    e o vinho

    "Não quero me atrasar
    Não posso me atrasar.
    Ela vai embora, e eu sequer
    irei vê-la"

   Andaram dois quilômetros.
   Se perderam de novo
   Ele sequer lembra como chegou lá
   Naquela festa

   Perdeu-se junto com a rima
   Olhou logo de cima
   Todos os que fitavam
   "Cadê ela?"

   Deram-lhe um pouco de vodka
   Não queria beber, não queria
   "Cadê ela?"
   Ela não veio

   Ela não veio
   Sentiu-se triste.
   Abriu a bebida
   Bebeu ali mesmo

   Ela não veio
   Sentou-se na mesa
   Baixou a cabeça
   Lutou consigo

   Foi jogar dominó
   mas queria mesmo chorar
   "Ela não veio"

    Ganhou algumas
     Perdeu outras
     Mas no fim,
     Ela não veio

      Estava quase para ir
      tava quase pra fugir
      Quando algo lhe fez sorrir

      "Ela veio"
       Correu até ela
       Falou tudo o que queria
       E disse que a amava
                         
       "Ela veio"
        Sorrisos, carinhos
        Batia mais rápido o coração
        Estava consumido de paixão"

        Uma bela tarde de novembro
        Para quem venceu outubro
        E tem aulas em janeiro
        Um belo novembro
             
        "Ela veio"

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tão distantes, tão próximos

      Nunca nos conhecemos e ainda assim acho que entendo tudo o que ela diz... Quando leio o que ela escreve, sinto meu coração bater mais forte, sinto vê-la chorar, sinto vê-la triste e percebo que não sou só eu que me sinto assim.

       Todas as tarde em que a encontro, vejo-a sorrir, conversar, brincar, mas quando mais penso nela, mais vejo tristeza em mim. É estranho isso, bastante estranho, nunca senti algo assim pelo que me lembre.

      Estudamos na mesma escola e eu nunca a vi, nunca a olhei, sequer sabia que ela existia. Tudo que conseguia pensar naquela época era no raio de vida que tinha a enfrentar, uma vida sem esperanças e repleta de medos, como vivi sem ter conhecido ela?

       Eu não sei, parece que a vida se molda com as marteladas do destino, tal como espada incandescente é moldada pelo martelo de Hefesto.

        Raras são as vezes que me sinto bem com alguém, principalmente nesses tempos, mas quando acontecem, acontecem com ela. Um sorriso, uma brincadeira, uma conversa. É algo mais intelectual do que sexual, mas mesmo assim sinto que é forte.


        Queria ser tão belo quanto ela, tão enérgico como ela, mas sou sombrio e tão taciturno quanto a Batcaverna.

        Poderia dizer que estou amando... De novo?Não basta o que aconteceu no passado? Mas o "amor é quando seu coração bate tão depressa que chega a doer. E você não se importa". Não me importo em estar amando, não dessa vez, não importo de não tê-la do meu lado, nada disso importa, quando sinto essa coisa por ela.

         Não sei se é amor ou pura amizade, mas eu sei que sinto alguma coisa com ela, alguma coisa boa, será magia? Sim, a felicidade que ela transpassa chega a ser mágica. Minha doce feiticeira de sonhos.

        Olho para a sua página, leio suas postagens antigas e vejo quanto você sofreu. Talvez tanto quanto eu, a dor de um amor perdido, a tristeza de ser rejeitado e não ter forças para seguir em frente. Minha querida, eu te entendo, eu realmente te entendo.

         Um lado fatalista meu sempre dirá que nunca dará certo, que nunca seremos felizes, porque eu sou mau e você é boa. Você é linda e eu arrogante. Você sorri, eu choro. Somos como água e vinho, mas dizem  que já fizeram tais milagres.


         Ja lubię ty, moja Jemtchujina. Não sei como, não sei porque, e eu sou um tolo por dizer tais coisas que não deveriam sequer sair do coração.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reznov

"O câncer podre do  Reich fascista devasta a Europa como uma praga. Sua atuação implacável em nossa pátria rouba a vida de homens, mulheres e crianças. A arrogância de seus líderes é apenas igualada pela brutalidade de seus soldados. Estes são os dias mais sombrios da ocupação nazista de Stalingrado ".

     Quantas manhãs e tardes esse russo de ushanka e barba ajudou a alegrar com o seu sotaque engraçado e suas lutas mais difíceis.


      Viktor Reznov pode ser o mais fictício dos russos, mas mesmo assim não há ninguém que não conheça sua história que não o respeite.

      Afinal, não foi em Stalingrado o seu primeiro batismo de fogo? Quando os nazistas entraram em sua casa e mataram covardemente o seu pai durante à noite com uma navalha. Sim, Reznov tem uma história tão dura quanto os seus compatriotas "verdadeiros".

"Meu pai era músico em Stalingrado. Durante a ocupação alemã, o som de seu violino encheu o ar com uma música magnífica - Korsakov, Stasov - muitos dos grandes compositores nacionalistas. Aos meus compatriotas, era um símbolo de esperança. Para os alemães, era um símbolo de desafio. Mesmo agora, sua música ainda me assombra. Numa noite, os nazistas cortaram sua garganta enquanto ele dormia. Colaborar com qualquer nazista é uma traição, uma traição contra todos da Mãe Rússia" Viktor Reznov sobre o seu pai.   

       Reznov pode ser um personagem de um jogo, mas quantos o foram de um jogo imposto, sem reboot e sem vitória? Reznov é a manifestação de um soldado ideal, um soldado que sofreu os horrores de uma guerra, lutou, sobreviveu e trouxe a glória para a sua terra.

        Foi naquela fonte repleta de corpos, no meio da carnificina que tomou aquela cidade, que Reznov conheceu Dimitri Petrenko. Fingiu-se de morto quando a patrulha alemã passou e um soldado da SS solitário descarregava a sua metralhadora nos que ainda se debatiam no chão.

Fonte Barmaley em Stalingrado


       "Shhh! Faça o que eu disser e nós poderemos vingar esse massacre"; Reznov, com a sua mão mutilada, indicou a Petrenko em quem deveria atirar, em quem deveria se vingar. Um general, um mudak, Heirinch Amsel, arquiteto da miséria de Stalingrado.

         Correndo de prédios em prédios, escapando do fogo e dos tiros. Lutando contra cães enraivecidos e soldados miseravelmente malignos do outro lado, Petrenko e Reznov formaram ali uma amizade, uma amizade forjada entre o sangue e o aço.
"Tudo o que pode-se oferecer é ferro e sangue" Bismarck
        No meio da batalha, com tanques correndo, metralhadoras disparando e homens morrendo, foi ali que Petrenko vingou toda a sua terra mãe, vingou para sempre do sangue derramado pelo infeliz da SS que havia planejado a miséria em Stalingrado.

        "Hahaha. Excelente mira, Dimitri". Excelente mira, Dimitri. Era assim que Petrenko ficaria conhecido, como o Herói de Stalingrado. O herói que se arrastava no chão em um prédio em chamas, que corria das metralhadoras e que se afundou nas águas do Volga. Um herói que conheceu outro numa singela fonte em Stalingrado, uma fonte que perfeitamente poderia ser seu túmulo.

         Três anos depois, eles não lutavam mais na Rússia, eles não lutavam por seu sangue, por sobrevivência, agora estavam na cova dos leões. Eles estavam lutando na terra DELES, pelo sangue DELES, dos nazistas. Só assim sua vingança estaria completa.

         E assim foi de Stalingrado a Berlim, de cidade em cidade, casa por casa, cômodo por cômodo, lutando, brigando, correndo. Até chegarem em Seelow, nas portas de Berlim.

De Stalingrado a Berlim

        Nas fazendas, nas florestas, nos campos de batalha. Essa era sua vida, essa era a sua nova vida. Reznov nunca reclamava, Reznov nunca chorava, era um homem forte, um homem que levava consigo uma navalha enquanto outros apenas uma vodka e uma mortalha.

        Perdeu muitos homens, tornou-se frio e vazio. Brigava com um soldado, que "escrevia mais do que lutava" e não tinha o "estômago" de lutar, Chernov, pobre Chernov.

         No metrô de Berlim, Viktor conheceu todas as facetas de um império em decadência, um império em ruínas, com oficiais desesperados, túneis intermináveis e água, sim muita água! "Eles tentaram nos afogar. Eles tentaram nos matar, mais uma vez, eles falharam!"

         Seu humor estava abaixo do esperado, em Stalingrado ele havia perdido camaradas e também amadas, em Berlim ele estava para vingá-los. Quando viu Chernov retirar do bolso um bloquinho, Reznov explodiu:

"O que você acha que vai nos levar para casa? Escrevendo sobre esta guerra ou lutando-a!? Ninguém nunca vai ler isso! Se você não tiver estômago para matar pelo seu país, pelo menos, mostre-me que está disposto a morrer por ele!"

           Pobre Chernov, levou um esporro sem merecer. Viktor sentia-se mal com tudo aquilo, ele só queria a sua vingança, ele só queria ter a honra e o privilégio de acabar com tudo aquilo.

         Não estavam muito longe do Reichstag, a sede decadente desse "câncer que tomou a Europa", e Reznov ficou contente quando o comissário o designou para essa missão. Era mesmo fazer parte da História, era mesmo uma oportunidade de conseguir sua vingança.

         Nas ruas, nos prédios, mais homens morriam, principalmente os alemães, todos moleques. Será que eles ao menos sabiam manejar uma arma? Reznov não se importava, tudo o que queria era a sua vingança, sua tão esperada vingança.

         Agora estavam no coração do Reich e nada os faria parar.

         Nada.

         No meio de todos aqueles livros expostos nas estantes, em chamas num edifício parcialmente destruído, poderia se pensar a que ponto a humanidade havia chegado, a que nível de barbárie chegou. Sim, eram eles mesmos que em 38 estavam queimando livros em praça pública, agora era a sua tão estimada biblioteca do Reich que estava em chamas.

         Foi Petrenko que liderou o ataque semi-suicida em direção ao Reichstag, de peito aberto, destruindo uma por uma as peças de artilharia, enquanto Chernov, um pouco mais atrás, carregava a tal estimada bandeira da Mãe-Pátria. Dimitri queria tal honra, mas foi Reznov que havia decidido de última hora que Chernov iria carregá-la, assim o garoto lutaria com mais amor por seu país.

        Reichstag, o ínício do fim.

File:CoDWWReichstag.jpg













        Não foi fácil, não foi nada fácil, mas depois de tanto tempo, todos agora parecia contentes em chegarem próximo às pilastras que sustentavam aquele edifício.

       Foi ali que tudo começou, para falar a verdade, em 36, quando os nazistas secretamente incendiaram o edifício do Parlamento e colocaram a culpa nos vermelhos, foi assim que essa corja subiu ao poder.

       No meio das explosões e dos tiros, uma pilastra inteira foi ao chão, assustando a todos com o estrondo, Dimitri ficou meio tonto, Reznov também, mas Chernov... Chernov seguiu em disparada, subindo os degraus da escadaria. Reznov estava certo, Chernov lutou mesmo com maior louvor. A bandeira rubra do sangue dos trabalhadores tinha o seu efeito.

         Mas não do jeito esperado. Um SS saiu do seu esconderijo com um lança-chamas e lançou o fogo contra o pobre recruta, o pobre Chernov.

        "Chernov!!! NÃO!" Dimitri descarregou sua arma contra o infeliz, fazendo explodir o tanque de gasolina. Tudo o que Reznov fez foi correr em direção ao "estúpido escritor".

         Chernov estava no chão, se contorcendo de dor, e em vão o sargento tentou confortá-lo e acabou encontrando no bolso de sua farda o pequeno caderninho, um pouco chamuscado. "Alguém devia ler isso"

        Era um dia terrível para Reznov, dez dias depois do seu aniversário, era isso que recebia de presente, um soldado, um amigo, morto aos pés do Reichstag, tão perto do seu objetivo.

        Reznov pegou o pequeno caderninho e entrou no Reichstag junto com os outros.

"30 de abril de 1945: Quando ele falou pela primeira vez de Dimitri, Reznov disse histórias de um herói. Alguém em que todos nós deveríamos aspirar a ser. A sua bravura no campo de batalha está fora de questão, mas ele também tem mostrado misericórdia em meio a brutalidade do Exército Vermelho. Ele é realmente um herói".

          A leitura na voz surda do sargento comoveu a todos, principalmente a Dimitri, que sequer tinha um dia conversado com o rapaz, ouvir o que ele havia a dizer... "Ele é realmente um herói".

          Agora o único objetivo era subir as escadarias e eliminar qualquer infeliz que estivesse na frente. Foi ali que Reznov pôde ver a selvageria com que alguns de seus soldados mostravam ao encontrarem os infelizes indefesos. Reznov sequer se importava, não agora, agora era eliminar de uma vez por todas a tirania  fascista que havia causado tanto mal na Mãe-Russia.

          No saguão do Reichstag, nas escadarias, nos camarotes do plenário. Tudo era decidido sobre o cobre das balas e o ferro do sangue. Não havia mais clemência, esse tempo já tinha acabado há muito tempo.

          A madeira escura que decorava o interior do edifício estava em chamas e o espírito de Reznov também. Sequer lhe importava se aquele edifício tinha sido o mesmo onde Bismarck proferira os seus discursos ou onde os senadores de Weimar debatiam entre si o destino da Alemanha, tudo o que ele via era a sua vingança.

          Na cúpula do Reichstag, destruída pelo bombardeio inglês durante os últimos dias, os soldados do Exército Vermelho e do que restou do Wermarcht disparavam suas últimas balas, até que uma rajada de artilharia das Katyushas, os "orgãos de Stálin", varrer por fim a virtuosa varanda que se projetava sobre o rio Spree.

          Dimitri tomou para si a responsabilidade de erguer o estandarte glorioso sobre a varanda daquele prédio, mas foi alvejado traiçoeiramente por um um SS sobrevivente com uma pistola Walter na mão.

           "Dimitri! Não"

            Reznov sacou sua machadinha de açougueiro e retalhou o quanto pode aquele infeliz até ele soltar um grito tão agudo que Reznov teve usar a perna para retirar a lâmina fria das costas do nazista. O corpo imóvel caiu sobre os degraus da escadaria externa.


          O sargento Reznov correu até a bandeira hasteada no Reichstag, uma bandeira solitária totalmente rasgada, com a suástica tremulando lentamente. Com um golpe, ele cortou a corda que a sustentava e voltou  para o amigo que havia caído no chão.

         "Você pode fazer isso, meu amigo. Você sempre sobrevive!"

        E ajudou Dimitri a ficar de pé, segurando com o braço o peso do corpo moribundo. Sobre gritos eufóricos de "URA" ("Viva!"), Dimitri mancou até o cume do telhado e enfim colocou a bandeira, o rubro bastião dos trabalhadores e camponeses na varanda.

        " A honra será nossa... Enquanto você viver, o coração deste exército jamais poderá ser quebrado. As coisas mudaram, meu amigo. Como heróis vamos voltar aos braços da Rússia ..."

       
          Esse é o tipo do herói fictício que te faz viver com ele, lutar com ele, faz ser amigo dele, mesmo que não exista, mesmo que não seja real. É um herói que luta e você sabe que ele luta, você sabe que tem os seus defeitos, mas ainda assim você gosta dele.

        Não é a toa que Viktor Reznov é com certeza o personagem mais bem trabalhado na série inteira do Call of Duty e ainda assim, tiveram a audácia de matá-lo de uma forma tristonha no Black Ops, o que me deixou revoltado, porque foi o único personagem da série inteira com o qual fiquei realmente apegado e essa postagem foi para mostrar realmente isso.

Haber e o uso da ciência para o "bem" e para o "mal"

A figura mais controversa pra mim na história da Ciência não é Oppenheimer (pai da bomba nuclear), nem Alfred Nobel (criador da di...